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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

09.05.24

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Com a possível excepção das gerações 'Z' e Alfa – que parecem preferir 'wallpapers' ou fundos para telemóvel, por oposição às tradicionais fotos em papel reforçado – os 'posters' têm, tradicionalmente, sido apanágio da formação identitária das crianças e adolescentes de todo o Mundo desde, pelo menos, o último quarto do século passado; uma evolução natural das fotografias de ídolos laboriosamente coladas ou pregadas à parede pelos jovens da primeira metade do século XX, os retratos ampliados de actores, desportistas, músicos, personalidades sociais ou até personagens de desenhos animados eram presença quase obrigatória em qualquer quarto juvenil de finais do Segundo Milénio e inícios do seguinte. Era, portanto, mais do que natural que, eventualmente, surgissem as primeiras publicações comerciais dedicadas apenas e tão-sómente ao agrupar de fotos deste tipo, que eram depois veiculadas, nas bancas, aos ávidos fãs das personalidades em causa.

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Anúncios de época aos especiais de 'posters' da revista Super Jovem.

Em Portugal, este tipo de revistas surgiu, sobretudo, como complemento ou edição especial de publicações pré-existentes; a Super Jovem, por exemplo, lançava periodicamente números 'fora-de-série', em formato maior do que a revista habitual (geralmente A4 ou até A3) compostos apenas por 'posters', muitos deles inéditos em relação aos que saíam nos números semanais, justificando assim o investimento. Outros exemplos desta mesma prática, estes importados, incluíam as icónicas Bravo e Super Pop, para todos os efeitos revistas de fotos, mas que vincavam ainda mais essa vertente com os seus especiais de 'posters'.

Ao longo dos anos, no entanto, foi-se verificando, também, o aparecimento de um segundo tipo de publicação deste género, ainda mais esporádica (muitas eram mesmo edições únicas) e com um formato tão apelativo quanto contra-intuitivo: embora parecessem, à vista desarmada, revistas 'normais', cada um destes especiais se desdobrava de fora para dentro, revelando um 'poster' gigante no interior. O problema deste tipo de apresentação tornava-se óbvio assim se desejasse ler os (poucos mas existentes) textos sobre o artista em causa que justificavam o epíteto de 'revista', os quais eram situados nas costas da imagem central, tornando o acesso aos mesmos impossível uma vez pendurado o 'poster' na parede. Este acabava, no entanto, por ser um mal menor, já que é duvidoso até que ponto os jovens que adquiriam este tipo de publicação especial estavam verdadeiramente interessados nos textos...

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Exemplo do segundo tipo de revista-'poster'.

Hoje em dia, tal como tantos outros formatos de que vimos falando nesta e noutras rubricas, também as revistas de 'posters' se encontram obsoletas, podendo o seu propósito ser realizado, de forma gratuita, com uma rápida pesquisa de imagens na Internet, não sendo mesmo necessário imprimir a imagem, que pode ser aplicada como fundo de ecrã no computador ou telemóvel e 'admirada' em qualquer altura e em qualquer local, e não apenas na parede do quarto. Ainda assim, quem teve no coleccionismo e exibição de 'posters' parte importante do seu desenvolvimento pessoal e identitário certamente recordará com alguma nostalgia aqueles especiais gigantes da revista favorita, repletos de imagens de ídolos prontinhos a serem colados à parede e admirados diariamente durante os meses e anos seguintes, até a fita-cola secar ou serem preteridos em favor do novo artista favorito...

04.08.22

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

O mercado nacional para periódicos semanais, quinzenais ou mensais era, nos anos 90, suficientemente vasto para englobar todo o tipo de publicações, desde revistas especializadas a vários tipos de bandas desenhadas, passando pelas revistas de 'fofocas', guias de televisão, jornais temáticos, revistas didácticasedições em fascículos e outras publicações de teor mais generalista; existia, no entanto, um denominador comum entre a maioria destes títulos, nomeadamente, o facto de a esmagadora maioria dos mesmos se dirigirem a um de dois públicos – o infanto-juvenil ou o feminino, quer jovem, quer mais maduro.

De facto, mais ainda do que às publicações para jovens, era às revistas 'para senhoras' que cabia a maior fatia do mercado nacional de revistas da época, sobretudo pela diversidade de títulos que acabavam por caber dentro dessa denominação, os quais iam das referidas revistas de 'fofocas' a publicações especializadas sobre moda (das quais, aliás, paulatinamente aqui falaremos), passando pelo título de que falamos nesta visita ao Quiosque, e que era algo único no panorama português da época.

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Nem revista 'cor-de-rosa', nem título especializado, e muito menos compilação de 'posters' para adolescentes, a 'Guia' deixava o seu intuito bem explícito no subtítulo: 'a revista prática'. De facto, esta publicação – lançada mesmo no dealbar da década, anos antes da sua congénere mais próxima, e que tinha como base a espanhola 'Mia' – pretendia afirmar-se como uma fonte de conhecimento sobre temas relevantes para a vida quotidiana de uma mulher portuguesa da época, os quais podiam passar tanto pelas habituais tendências de moda ou guias de presentes como por sugestões de trabalhos manuais ou conselhos sobre etiqueta e segurança em espaços públicos (nos 'Guias da Mulher', editados à parte e totalmente dedicados a esta vertente) ou até crédito à habitação (!)

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De cima para baixo: a espanhola 'Mia', base para a 'Guia' portuguesa, um exemplar do 'Guia da Mulher', publicado periodicamente pela revista, e o 'dossier' para arquivar as edições da mesma

Como era hábito nas revistas da altura, não podia também faltar uma vertente 'aspiracional', no caso representada pelo foco e destaque dado, em cada edição, a uma 'beldade' nacional ou internacional de renome, que tinha – como também é óbvio – honras de capa nessa semana.

Uma publicação, portanto, ao mesmo tempo única e bastante típica para o padrão português de inícios de 90, que sobreviveria até meados da década seguinte (contando mesmo, embora brevemente, com um espaço televisivo na RTP, nos primeiros anos da mesma) e ajudaria a abrir caminho para a chegada de revistas tão ou mais inovadoras e revolucionárias - que viriam a incluir versões portuguesas das principais publicações internacionais de moda da época – ao mesmo tempo que ocupava, sem destoar, lugar na habitual 'pilha' dos consultórios médicos ou cabeleireiros, ao lado das 'Nova Gentes' e 'TV7 Dias' desta vida. Certo é, no entanto, que nas mais de três décadas desde o seu desaparecimento, não tornou a haver título semelhante lançado no mercado português, restando saber se tal se deveu a redundância e falta de procura, ou simplesmente incapacidade de recriar uma fórmula, à época, totalmente inovadora e única...

 

06.01.22

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

O segmento adolescente é, tradicionalmente, um dos mais directamente desejados pela maioria das companhias de venda e criação de produtos, seja qual for o sector. Armados com dinheiro próprio, ao contrário do público infantil, e sem despesas obrigatórias em que o gastar – além dos impulsos e desejos ainda por refrear e das emoções constantemente à flor da pele – este segmento de mercado é um dos que mais gastos não-essenciais faz, pelo que não é de admirar que, ano após ano, surjam inúmeros produtos exclusivamente a eles dedicados.

Nos anos 90, antes do advento da Internet e do subsequente acesso directo a toda e qualquer informação desejada (bem, excepto imagens de certos produtos de época que ninguém se lembrou de registar...) um dos mais prolíferos sectores no que toca a produções dirigidas em específico a adolescentes era a imprensa. Ainda sem 'smartphones' nem 'websites' de onde extrair a informação (o píncaro da tecnologia móvel no final dos 90s ainda eram os telemóveis Nokia, e os sites ainda consistiam de 'layouts' básicos, em cores berrantes, e com muitos 'gif's à mistura) os adolescentes procuravam nas bancas as últimas novidades sobre os temas que mais lhes interessavam – e a imprensa oferecia-lhes precisamente o que procuravam. Dos videojogos à música e do desporto às 'fofocas' sobre celebridades atraentes, os quiosques e tabacarias portugueses dos anos 90 tinham de tudo um pouco para agradar aos jovens, e a maioria das publicações desta era da imprensa portuguesa tiveram ciclos de vida de vários anos, senão mesmo décadas, acabando por ter como carrasco, precisamente, a Internet 2.0.

Um destes títulos, que encerrou funções em 2018 após honrosos vinte e cinco anos de publicação, foi a versão portuguesa da revista 'Ragazza', um conceito originalmente idealizado em Espanha (e não em Itália, como se poderia pensar) e que se posicionava, em termos simples, como a resposta a publicações como a 'Cosmopolitan' para um público adolescente.

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Capa de uma edição moderna da versão portuguesa da revista

Lançada em Portugal em 1993, e recheada, mês após mês, com exactamente o tipo de artigos em que se pensa quando se pensa neste tipo de revistas – de supostos 'truques' para atrair o sexo oposto a artigos com conselhos sobre saúde ou moda, passando pelos inevitáveis 'posters' de artistas bem-parecidos e pela ainda menos evitável secção de cartas das leitoras – a 'Ragazza' servia, para grande parte do seu público, como um complemento ao binómio 'Super Pop' e 'Bravo', na altura ainda importadas dos respectivos países de origem, e cujos conteúdos tendiam a ser bem mais leves e superficiais; já a 'Ragazza' conseguia combinar essa leviandade com temas bem mais sérios, mas nem por isso de menos interesse para um público ávido de conselhos, e que, regra geral, tendia a não confiar nos adultos que lhe eram próximos para os elucidar.

Não é, pois, de estranhar, que a revista tenha sido um verdadeiro sucesso de vendas à época do seu lançamento, conseguindo um nível de tracção entre a demografia-alvo (e, consequentemente, de sucesso e longevidade) a que nenhuma das suas duas concorrentes directas à época do lançamento conseguiu alguma vez almejar. Prova disso é que não existe, na Internet actual, qualquer vestígio da '20 Anos', e o artigo da Wikipédia relativo à 'Teenager' consiste de...uma linha, que menciona apenas as datas de início e fim da publicação e o nome do editor: já a ´Ragazza´ tem páginas e blogs a si dedicados, maioritariamente por ex-leitoras desiludidas com o encerramento da publicação.

A esses memoriais junta-se agora mais este, por parte de alguém que, apesar de fazer parte da metade errada da população humana para alguma vez ter lido sequer uma linha desta publicação (ainda mais à época!), nem por isso deixa de reconhecer a influência e importância, no contexto da imprensa juvenil nacional de finais do século XX e inícios do seguinte, de uma revista que, mesmo tendo sido descontinuada, continua ainda assim a viver nas mentes e nos corações das suas antigas leitoras.

22.07.21

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

E se para inaugurar esta secção escolhemos uma revista que caiu um pouco na obscuridade desde que ‘saiu de cena’, com o tema seleccionado para hoje, essa questão não se coloca. Isto porque, hoje, é altura de falarmos das duas ‘grandes’ revistas para jovens disponíveis em Portugal nos anos 90, aquelas de que quase toda a gente se recorda – e das quais, ironicamente, nenhuma era, inicialmente, publicada em Portugal.

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Falamos, é claro, da ‘Bravo’ e da ‘Super Pop’, duas publicações distintas, de editoras diferentes, mas que tendem a ser mencionadas em conjunto, pelo seu cariz extremamente semelhante; este blog não vai fugir à regra nesse respeito, até porque não há assim tanto a dizer de qualquer das duas a nível individual. Os conceitos das duas eram semelhantes ao ponto de se confundirem – focando precisamente o mesmo público-alvo, com precisamente a mesma estratégia – e a única grande diferença (além de, na primeira fase, a origem) era mesmo o título na parte superior da capa.

Na verdade, ambas as revistas apostavam no formato ‘revista cor-de-rosa’, ao estilo de uma ‘Caras’, ‘Hola’ ou mesmo ‘TV7Dias’, mas adaptado a um público jovem. Isto traduzia-se, essencialmente, em ainda menos texto do que nas revistas deste tipo ‘para adultos’, e ainda mais espaço dado a imagens de ‘pop stars’, atores e desportistas, a grande maioria dos quais do sexo masculino. De facto, cada uma das duas revistas era cerca de 80% composta por imagens – o que ajuda a explicar como é que duas publicações estrangeiras, escritas em línguas que o adolescente médio pouco ou nada conhecia (o espanhol da Super Pop ainda era mais ou menos decifrável para um jovem com o português como língua materna, mas no caso do alemão da Bravo, esta percentagem diminuía significativamente) conseguiram ser sucessos de vendas a nível nacional.

De facto, para as raparigas adolescentes a quem ambas as revistas eram dirigidas, não interessava tanto o que estava ou deixava de estar escrito – aliás, quanto menos se tivesse de ler, mais tempo sobrava para admirar apaixonadamente os ‘posters’ de rapazes atraentes (os ‘bonzões’, como eram conhecidos na altura) que constituíam a verdadeira razão do investimento nestas publicações. É claro que as revistas tinham outros atrativos – como os brindes – mas nem a mais cândida das leitoras de qualquer uma delas dará qualquer motivo que não os ‘posters’ e as fotos como principal incentivo para a compra.

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O principal motivo para adquirir estas revistas

É claro que, com todo este sucesso – o qual foi transversal não só aos anos 90, como também á anterior e ás seguintes – não tardou até as editoras portuguesas investirem em edições nacionais destas revistas; assim, foi sem surpresa que as jovens portuguesas viram surgir, em finais da década de 90, exemplares das suas publicações favoritas escritas em português – o que significava que, além de admirar os ‘bonzões’, agora era também possível ler as curiosidades sobre eles que inevitavelmente perfaziam a maioria do conteúdo escrito de ambas. Apenas mais uma razão para dar os 200 escudos necessários para trazer uma destas revistas para casa ali por volta do fim do segundo milénio…

O que ninguém imaginava era que o ciclo de vida deste tipo de revistas estivesse com os dias contados: de facto, o advento e expansão da Internet tornou possível, no espaço de apenas alguns anos, admirar ‘bonzões’ na Internet de graça, e imprimir fotos para pendurar na parede à laia de ‘posters’ tornando revistas como estas progressivamente mais obsoletas. Ainda assim, é impressionante constatar que a Bravo portuguesa conseguiu resistir até 2017 (!!), em plena era do Instagram, e que pode até estar de volta às bancas nos tempos que correm (!!!).

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Um exemplar bem contemporâneo da revista 'Bravo'

Só isto chega para ilustrar o poder que estas publicações tinham – e, aparentemente, continuam a ter – junto do seu publico-alvo; o que, no fundo, até é explicável – afinal, admirar pessoas famosas e bonitas enquanto se lêem ‘fofocas’ sobre elas é um passatempo que nunca passa de moda, especialmente entre os jovens, não importa em que época da História estejamos…

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