25.01.24
Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.
As décadas de 90 e 2000 representaram, possivelmente, o auge da imprensa infanto-juvenil em Portugal. Entre as inúmeras revistas aos quadradinhos e a profusão de publicações especializadas nos mais diversos ramos, difícil era encontrar uma criança ou jovem da altura que não comprasse pelo menos um dos muitos títulos disponíveis. De igual forma, o mercado mais 'adulto' viu também surgirem, durante este período, publicações como a Visão, a Sábado ou o menos duradouro mas não menos icónico 24 Horas, a juntar à panóplia de revistas e jornais estabelecidos já existentes, um panorama que, infelizmente, se alterou diametralmente nos últimos anos.
Em meio a toda esta oferta, no entanto, uma demografia ficava um pouco esquecida – a dos jovens mais velhos, já saídos da adolescência, mas a quem a abordagem mais política dos títulos supramencionados ainda não interessava particularmente. Foi com esse mercado em mente que surgiu, já em finais da década, uma publicação centrada na transmissão e debate de temas de interesse para a juventude, mas sob uma perspectiva mais evoluída, e com toques de humor e sarcasmo à mistura; e embora a mesma não tenha vingado, 'sobrevivendo' apenas durante cerca de um ano, há ainda assim que reconhecer o esforço dos envolvidos, entre os quais se contam nomes sonantes do humor lusitano, ligados às miticas Produções Fictícias.
A original francesa que informava a 'versão' nacional.
Falamos da revista '20 Anos', a localização em português da revista francesa do mesmo nome, e um daqueles títulos completamente Esquecidos Pela Net que só tem teve contacto directo relembra, não havendo dela qualquer registo fotográfico digitalizado, nem tão-pouco os habituais leilões do OLX. Neste caso, devemos as (poucas) informações que temos ao Pedro Serra, que, apesar de fora da demografia-alvo, tinha acesso às revistas através da irmã mais velha (por aqui, a irmã era mais nova, sendo o autor também demasiado jovem para ter interesse na referida publicação). É, pois, graças ao relato em primeira mão do nosso homónimo e leitor assíduo que ficamos a saber que a '20 Anos' não se focava apenas num tema, propondo uma gama abrangente de conteúdos, sendo o denominador comum a irreverência e o humor. O próprio Pedro refere as 'tirinhas' de banda desenhada e os famosos 'testes de personalidade' tão típicos da época como os grandes destaques, tendo estes últimos a particularidade de serem redigidos por dois ex-alunos de Comunicação Social da Universidade Católica, de seus nomes Miguel Góis e Ricardo Araújo Pereira...
É também o Pedro quem sugere que a curta vida da revista se terá devido à dificuldade em encontrar a sua audiência, o que se afigura peculiar, dado serem, à época, muito poucas as publicações que 'fizessem a ponte' entre o universo das Super Pop, Bravo, Ragazza ou Super Jovem e os periódicos mais adultos, pelo menos de uma perspectiva generalista; por outras palavras, em teoria, pareceria haver mercado para uma 'versão jovem' de algo como a revista 'Guia', que parecia ser a proposta da '20 Anos'. Sejam quais tenham sido as razões por detrás do seu 'falhanço', no entanto, a verdade é que haverá pouco quem recorde aquela que tentou ser uma publicação revolucionária para a sua época, mas acabou como apenas uma 'nota de rodapé' meio 'apagada' na História da melhor fase de sempre da imprensa periódica portuguesa...