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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

26.07.23

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Na última edição desta rubrica, falámos do 'Disney Gigante', a tentativa feita pela Editora Abril de oferecer aos jovens portugueses material adicional de leitura para as férias; nada mais justo, portanto, do que versarmos agora sobre a publicação que ajudou, originalmente, a popularizar esse conceito, e na qual a Abril se terá inspirado para fazer o seu super-álbum. Falamos do 'Almanacão de Férias' da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa, uma publicação bi-anual lançada para coincidir com as férias escolares do Brasil (em Dezembro/Janeiro e em Julho), e que, apesar de chegar a Portugal com os habituais vários meses de atraso, não deixava de constituir uma excelente proposta para 'guardar' para aquelas viagens mais longas a caminho de um qualquer destino de férias.

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O número 8, um dos primeiros lançados nos anos 90.

Criado aquando da passagem da Turma de Mauricio da Editora Abril para a Globo, em 1987-88, esta publicação teve como antecedente directo o 'Grande Almanaque do Mauricio', do qual saíram duas edições – uma ainda na Abril, em 1986, e outra já na Globo, cujo fim era testar a viabilidade do formato na nova editora. E o mínimo que se pode dizer é que a experiência foi bem-sucedida, já que o 'Almanacão' não mais deixaria de fazer parte do lote de publicações da Mauricio de Sousa Produções, sofrendo apenas uma mudança de nome aquando da passagem para a Panini, já nos anos 2000.

O formato, esse, também nunca se alterou, apresentando uma mistura das tradicionais histórias com os conhecidos personagens e cerca de 80 a 100 páginas de passatempos, também com a Turma como protagonista, que constituíam o grande atractivo da publicação, e que englobavam desde desenhos para colorir aos tradicionais labirintos e sopas de letras, passando pelo icónico 'Jogo dos Sete Erros' e outras actividades de premissa menos comum, mas que nem por isso deixavam de ter interesse para o público-alvo. Muito que fazer, portanto – pelo menos para quem não tendia a 'devorar' de imediato todo o conteúdo, como era o caso lá por casa.

A única grande mudança sofrida pelo Almanacão de Férias foi, pois, o número de páginas, que diminuiu quando o número de publicações anuais passou de duas para três, em 1998, e ainda mais quando passou a ser lançado um 'Almanaque Turma da Mõnica' mais genérico, já sem o tema das férias como motivo central. A capa passou, também, a ser plastificada em vez de cartonada, mudança que ajudava a preservar a integridade dos livros, sendo que os primeiros números tendiam, inevitavelmente, a adquirir vincos na capa, algo que a plastificação vinha ajudar a colmatar.

Tirando isso – e, claro, a qualidade das histórias e passatempos em si – o 'Grande Almanaque' da Panini ainda hoje disponível nas bancas é em tudo semelhante à icónica publicação noventista, podendo, por isso, constituir um excelente meio de fazer a nova geração tirar o 'nariz' do iPad e do TikTok durante uma longa viagem de carro ou transportes públicos, ou mesmo um dia de chuva 'fechado' no hotel ou casa de praia, e descobrir como os seus pais se divertiam na mesma situação.

14.12.22

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Uma das nossas primeiras Quartas aos Quadradinhos versou sobre as bandas desenhadas Disney vendidas em catadupa no nosso País nos anos 80 e 90 pela editora Abril, mais tarde Abril-Controljornal; e se, sobretudo na 'nossa' década, muitos desses títulos eram traduzidos e adaptados em Portugal, também não deixa de ser verdade que um número significativamente maior continuava a ser importado do Brasil, à época uma verdadeira 'linha de montagem' de BD, e cujo idioma era suficientemente próximo do nosso para que não fosse necessária qualquer localização (sendo que algumas das localizações da Abril da época como as das revistas de super-heróis, retinham mesmo, famosamente, toques de 'brazuquês'), De entre estes últimos, um dos mais diferenciados, mais não fosse pelo tema, era a Edição Extra 'Natal Disney de Ouro', um especial dedicado a histórias natalícias publicado anualmente em Novembro-Dezembro pela Abril brasileira durante quase exactamente duas décadas, entre 1979 e 1998.

 

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A primeira e última edição da revista nos anos 90 (números 11 e 20, de 1990 e 1998, respectivamente).

Com um título que não deixa grande margem a interpretações, estes volumes eram precisamente aquilo que aparentavam ser – almanaques de histórias passadas, ora no Natal, ora pelo menos no Inverno, ou cuja temática se adequasse ao tema em causa. Mais surpreendente foi, mesmo, o facto de os editores responsáveis por compilar anualmente este número especial terem conseguido encontrar histórias tematicamente apropriadas em número suficiente para criar DEZANOVE números completos – embora, presumível e previsivelmente, tenha havido, ao longo dos anos, algumas repetições - e, até, criado histórias inéditas em exclusivo para a revista. Tendo em conta que a maioria dos outros números temáticos tinham direito a, no máximo, dois ou três volumes, não deixa também de ser impressionante que esta edição tenha saído sem falhas durante quase vinte anos, e apresentado sempre uma configuração de histórias diferente.

Também impressionante era a apresentação do volume, que levava a sério a designação 'de Ouro' e apresentava letras douradas brilhantes no título, para além daquele papel especial que fazia revistas deste tipo parecerem sempre mais 'especiais' do que os vulgares Mickey e Pateta editados mensalmente; e porque 'os olhos também comem', é quase certo que esta apresentação cuidada terá sido um dos principais chamarizes desta BD junto do seu público-alvo, e ajudado a diferenciá-la de volumes como o Disney Especial 'Aventuras de Natal', editado na mesma época, mas de aspecto gráfico bem mais 'normal' para os padrões da Abril da época. Juntamente com a cuidada selecção de histórias e as sempre divertidas falas em português do Brasil, este foi um dos factores que contribuiu para tornar esta revista um clássico dos Natais da criançada portuguesa (e, sem dúvida, também brasileira) dos anos 80 e 90 - e, mais tarde, também dos 2010, década em que a revista voltou a surgir nas bancas, já com o novo 'look' típico dos produtos de BD contemporânea da Disney. Ao contrário da sua antecessora, no entanto, essa edição ficar-se-ia pelo Brasil, tendo Portugal editado os seus próprios números de Natal ao longo do século XXI; para quem leu e coleccionou aqueles números originais dos anos 80 e 90, no entanto, 'Natal Disney de Ouro' será, sem dúvida, a referência natalícia entre as BD's da Disney, merecendo bem ser recordada nesta época festiva.

 

10.03.22

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

A relutância da população portuguesa (e mundial, em geral) por se dedicar à leitura é um problema que vem sendo debatido por especialistas há já várias décadas, ao mesmo tempo que têm lugar inúmeras iniciativas – oficiais ou oficiosas – para tentar alterar esta situação, tanto da parte de entidades oficiais ou estatais, quanto privadas.

De entre as privadas, destaca-se (ou destacou-se, nos anos 80 e 90) um nome: Reader's Digest. A companhia norte-americana, fundada no início dos anos 20 com o conceito de dstribuir por correspondência revistas com o tema da leitura, conheceu êxito absoluto, quase meio século depois, nos países de língua oficial portuguesa, nomeadamente no Brasil e em Portugal, onde a revista penetrou, como tantas outras, por via da importação, mas onde atingiu sucesso suficiente para justificar um escritório de redacção próprio, a partir de finais dos anos 80.

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A revista Seleções, o principal título editado pela companhia

De facto, eram muitos os lares onde, periodicamente, chegavam pelo correio tanto a histórica revista Seleções (com o seu característico formato, mais pequeno e 'gordo' do que as tradicionais revistas portuguesas, e mais próximo dos 'gibis' infantis tão populares à época) como os não menos icónicos livros, que ofereciam versões 'condensadas' de clássicos da literatura, com foco no enredo e a maioria dos pormenores e descrições removidos – ou seja, mesmo à medida de quem não tinha grande apetência para a leitura, e só queria 'saber a história' sem ter de se preocupar com a 'palha'.

Esta abordagem foi, aliás, um dos grandes impulsionadores da 'fórmula' da Reader's Digest, que soube como cultivar o seu público-alvo sem por isso deixar de lhe dar o que este queria. Por intermédio do seu serviço de assinatura, esta companhia terá sido responsável por pôr muita gente que não gostava de ler a fazer precisamente isso, e familiarizado muitos desses mesmos leitores relutantes com alguns dos principais clássicos da literatura mundial – mesmo que em versão resumida e simplificada.

O sucesso desta mesma fórmula foi tanto, aliás, que a Reader's Digest continua firmemente implementada em Portugal, onde acaba de entrar na sua quarta década de existência; e apesar de os livros terem mudado um pouco de cariz – hoje em dia, a editora oferece sobretudo volumes de cariz cultural generalista ou centrados na saúde e bem-estar – continua ainda hoje a ser possível assinar e receber em casa a tradicional revista. Se os conteúdos também terão mudado permanece uma incógnita - provavelmente, terá mesmo sido esse o caso - mas não deixa de ser bom saber que um dos esteios da cultura portuguesa dos anos 90 (em todos os sentidos da palavra) continua vivo e de boa saúde até hoje...

18.02.22

NOTA: Este post corresponde a Quinta-feira, 17 de Fevereiro de 2022.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

NOTA: Este post não pretende promover qualquer ideologia religiosa, destinando-se, tão-somente, a recordar uma publicação que, coincidentalmente, tem ligações a determinada fé. 

Embora as escolas públicas sejam (ou devam ser) um espaço onde as crianças são livres de desenvolver as suas próprias ideologias sociais e religiosas, tal não impediu que, nos anos 90, houvesse uma tentativa de fazer com que as crianças portuguesas compreendessem, especificamente, a religião católica, nomeadamente através das aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, que muitas escolas primárias incluíam no seu horário lectivo semanal; verdade seja dita, no entanto, aquelas horas semanais tendiam, muitas vezes, a focar assuntos que se podiam considerar do foro laico – como era o caso da cidadania, do respeito ao próximo ou da problemática da liberdade 'versus' libertinagem, por exemplo – e que era importante incutir nas crianças logo a partir de tenra idade, seguissem elas ou não a religião cristã e católica.

Era precisamente este princípio – ensinar princípios, não só cristãos como de sociabilidade geral, de forma descomprometida e divertida – que informava, na mesma época, uma publicação oriunda do Brasil, e disponível em Portugal exclusivamente através de assinatura, normalmente contraída, precisamente, em ambiente escolar: a famosa revista Nosso Amiguinho.

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Edição de  Novembro de 1986 da revista, distribuído numa escola primária de Lisboa cerca de meia década depois, como 'amostra grátis' durante uma campanha de angariação de assinaturas

Concebida em 1952 pelo editor Miguel J. Malty, a revista vem, desde então, sendo ininterruptamente publicada pela Casa Publicadora Brasileira, uma editora ligada à Igreja Adventista do Sétimo Dia, uma das fés mais populares naquele país. No total, são já setenta anos em que (à parte as habituais adaptações ao correr dos tempos, como a passagem de uma para várias cores) a revista manteve, grosso modo, o mesmo formato – uma mistura de banda desenhada, passatempos, receitas, curiosidades e, claro, transmissão de valores morais, éticos e comportamentais associados à religião em causa,. No papel de anfitriões (e, muitas vezes, receptores) neste processo de aprendizagem encontrava-se a Turma do Noguinho, um conjunto de personagens infantis criados em 1972 pelo então editor Ivn Schimidt e pelo desenhador uruguaio Heber Pintos que pretendia ser a resposta religiosa a outras 'turmas' super-populares da banda desenhada secular brasileira da época, como a da Mônica, dos Trapalhões ou do Menino Maluquinho. E apesar de os conteúdos da Nosso Amiguinho não terem (obviamente) o elemento humorístico e politicamente incorrecto que fazia com que esses trabalhos fossem tão apreciados pelo público-alvo, a verdade é que os mesmos conseguiram suficiente popularidade junto do mesmo para manter a revista no mercado durante as referidas sete décadas.

Na verdade, mesmo para quem não é Adventista de Sétimo Dia, a revista lê-se (ou, pelo menos, lia-se, nos anos 90) extremamente bem, embora os seus conteúdos não escapem – nem queiram escapar – àquele tom levemente moralista demais, que pode (e poderá) ter levado alguns a torcer o nariz à revista, tanto à época como nos dias de hoje. O preço da assinatura (que chegava a ser mais cara do que a de algumas revistas equivalentes do mercado secular) terá sido o outro principal entrave à expansão da revista no mercado português, onde penetrou em 1986, e onde permanece firme (ainda que apenas num pequeno nicho, conforme descrito acima) até aos dias de hoje.

De facto, a Nosso Amiguinho continua, hoje, a seguir 'de vento em popa', tendo actualmente o atractivo adicional de poder ser assinada directamente online, sem recurso ao mediador escolar, e continuando a oferecer a pais afectos à religião em causa (e a outros a quem a declarada afiliação religiosa não incomode) um meio de transmitir aos seus filhos em idade escolar básica mensagens e conceitos importantes, de uma forma divertida – isto, claro, se tiverem dinheiro para a assinatura...

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