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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

25.09.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

As revistas licenciadas têm, desde os primórdios da banda desenhada 'moderna', feito parte integrante do panorama dos 'quadradinhos' mais comerciais, um paradigma que, vistas bem as coisas, acaba por fazer todo o sentido; afinal, estas revistas têm vendas praticamente garantidas junto dos fãs da licença em causa e, no caso de uma propriedade particularmente popular, poderão também atrair novos aficionados ou até leitores mais 'casuais', justificando assim o investimento, mesmo que muitos dos seus ciclos de vida acabem por primar pela brevidade. Os anos 80 e 90, em particular, conhecidos como a época áurea das propriedades ditas 'brinquedéticas' (em Inglês, 'toyetic', ou propício à criação de brinquedos) não poderiam ficar imunes a este fenómeno, tendo sido inúmeros os títulos licenciados a 'tomar de assalto' as bancas americanas durante esse período; e ainda que a maioria delas não tenha transposto o Oceano Atlântico, algumas lograram, ainda assim, chegar às praias lusas, quer na sua edição brasileira (como 'Ewoks', um dos 'comics' de 'Guerra das Estrelas' publicados na linha infantil da Marvel, a Star Comics) quer em formato 'made in Portugal', como com as bandas desenhadas de Indiana Jones, 'Parque Jurássico', 'Guerra das Estrelas' ou – alguns anos antes destas – 'Transformers'.

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Capa do primeiro número da série editado em Portugal.

Editada logo nos primeiros meses dos anos 90, no auge da popularidade dos veículos-robôs em Portugal, a série originalmente concebida e publicada pela Marvel surgia no nosso País não pela mão da Abril (a qual, na altura, ainda não detinha necessariamente a exclusividade nacional de publicação deste tipo de material), mas da Meribérica-Liber, para a qual os 'comics' de acção americanos representavam um desvio considerável do habitual foco na BD franco-belga. Fosse como fosse, Optimus Prime e os seus companheiros passariam mesmo cerca de oito meses na companhia de Lucky Luke, Tintin e Astérix – e se estes heróis apenas esporadicamente viam serem editados álbuns das suas aventuras, os 'robôs disfarçados' tiveram honras de edição quinzenal, como era 'da praxe' para 'quadradinhos' da sua índole.

E a verdade é que a periodicidade não era o único elemento típico da BD de 'Transformers', cujos argumentos e desenhos eram tão típicos da Marvel que não destoariam entre o catálogo da Abril de meados da década de 90; de especial e 'vendável', portanto, apenas a presença dos robôs protagonistas, os quais, à época, eram bem capazes de 'vender' revistas por si só...pelo menos nos Estados Unidos. Em Portugal, onde a série animada teve bastante menos expressão (apesar de os brinquedos serem fáceis de encontrar em qualquer loja especializada) os cerca de setenta números lançados nos EUA desde o aparecimento da série, em 1984, viram-se reduzidos a apenas dezoito, sem que a mitologia criada pelos argumentistas e artistas tivesse deixado entre a juventude portuguesa o mesmo tipo de impacto que teve sobre a americana, onde a série animada original de 'Transformers' continua, até hoje, a ser tida em grande conta, e a contar com fãs de todas as idades. Ainda assim, durante a sua breve estadia nas bancas nacionais, 'Transformers' terá sido capaz de entreter o seu público-alvo pelo menos tanto quanto a congénere alusiva às Tartarugas Ninja – ainda que, como esta, a sua natureza dificilmente conduziria ao estatuto de clássico intemporal almejado por outras publicações da Marvel da mesma altura...

01.08.24

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Já aqui anteriormente falámos das revistas cor-de-rosa, ainda hoje o 'prazer secreto' de muitos portugueses e portuguesas, sobretudo das gerações mais velhas. Por muito popular que este mercado seja hoje em dia, no entanto, a sua dimensão, volume e espectro não se comparam com aqueles de que esse nicho da imprensa escrita gozava nos anos 80 e 90, quando a absurda 'saúde' do mesmo chegava a permitir criar publicações hiper-especializadas,focadas não apenas nas 'fofocas' e grelhas de programação nacionais, mas nas 'fofocas' e grelhas de programação nacionais de um único estilo de programa televisivo. É o caso da publicação que trazemos da nossa última visita ao Quiosque, a qual surpreendentemente, subsiste até aos dias de hoje, com o formato praticamente inalterado, tornando-a num exemplo cada vez mais raro de longevidade no contexto da imprensa escrita nacional.

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Fundada logo nas primeiras semanas do ano de 1998, a revista 'Telenovelas' era encabeçada pelo fundador José Rocha Vieira e pela malograda Teresa Pais, que havia anteriormente passado pela 'Élan' e pela 'Teenager', e deixava desde logo claro o seu propósito: divulgar não só as tramas dos episódios semanais de cada telenovela então em exibição em Portugal, mas também fofocas, curiosidades e efemérides sobre as estrelas das mesmas, além das habituais secções sobre beleza, moda, sexo, saúde e bem-estar. Um conceito que não podia deixar de agradar a uma certa 'fatia' de público nacional, para quem este tipo de programa constituía, a par dos 'talk-shows', o expoente máximo da televisão, pelo que não será de admirar que muitos elementos das gerações hoje na casa dos trinta a quarenta anos tenham crescido com vários números desta revista na mesa da sala lá de casa, em meio às 'TV Guia' e outras revistas semelhantes, ou folheado as mesmas durante uma visita ao médico ou ao cabeleireiro, entre um número antigo da 'Elle' ou 'Vogue' e outro da 'Casa Cláudia' ou 'Guia'.

Mais surpreendente é o facto de, conforme acima mencionado, a revista se ter mantido 'viva' até aos dias de hoje, sobrevivendo à 'purga' da imprensa escrita causada pelos 'media' digitais, não obstante várias mudanças de pessoal, e até de editora. Hoje sob a alçada do grupo Trust In News, que a adquiriu em 2018 ao grupo Impresa, a publicação em causa constitui, pois, um dos poucos exemplos de 'fósseis vivos' daquela era de ouro da imprensa 'cor-de-rosa' portuguesa, sendo merecedora de atenção por quem queira ter uma experiência o mais próxima possível do que era ler uma revista do seu tipo em finais do século XX e inícios do seguinte.

24.07.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

É uma verdade inegável que, de entre todos os personagens da Walt Disney, o Rato Mickey goza do estatuto de 'estrela', tendo desde sempre sido a 'cara' da companhia, e contando-se hoje em dia entre os ícones 'pop' mais reconhecíveis a nível mundial; no entanto, não é menos acertado dizer que o Pato Donald ocupa um segundo lugar muito próximo nessa lista, surgindo à frente de Pateta (o terceiro personagem do 'trio maravilha' da BD Disney) e da própria namorada de Mickey, Minnie. Assim, não é de todo de espantar que, aquando dos dois aniversários marcantes que o pato mais famoso do Mundo celebrou durante os anos 90, a sua editora nacional da altura realizasse uma comemoração 'à altura', tal como fizera por ocasião dos aniversários de sessenta e cinco e setenta anos de Mickey. O resultado foram duas edições comemorativas que – ao contrário do que sucedia com pelo menos uma das do Rato Mickey – valia bem a pena ter na colecção para quem fosse fã da irascível ave aquática de fato de marinheiro.

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A primeira destas, que comemora dentro de um par de dias (a 26 de Julho) o trigésimo aniversário da sua chegada às bancas, era alusiva aos sessenta anos de Donald, e trazia quase duzentas e quarenta páginas com quase duas dezenas e meia de histórias protagonizadas pelo pato aniversariante e seu restante núcleo, com especial ênfase para os seus sobrinhos, catalistas da dinâmica familiar presente em muitas histórias do personagem. Infelizmente, das vinte e quatro aventuras que compunham o volume, a esmagadora maioria era de produção (à época) moderna, tendo sido originalmente publicada em meados da década de 80, o que fazia da edição pouco mais do que um Hiper Disney tematizado em torno do aniversário de Donald. Ainda assim, uma edição de valor para quem privilegiasse o coleccionismo, pese embora o proibitivo preço (quase setecentos escudos, uma 'pequena fortuna' em 1994, sobretudo no tocante a banda desenhada).

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Previsivelmente, muitas das falhas dessa primeira edição eram corrigidas na segunda, saída quase exactamente cinco anos depois, no mesmo mês de Julho (embora a data exacta de publicação não se encontre, neste caso, disponível) e que comemorava os sessenta e cinco anos do pato marinheiro. De facto, apesar de contar com apenas dois terços das páginas da 'irmã mais velha' (menos de duzentas), esta edição tirava o máximo proveito do espaço de que dispunha, apresentando não só uma mistura mais equilibrada de histórias antigas e modernas (com mais de metade – cinco em nove – assinadas por Carl Barks) como também uma estrutura seccionada por temas, cada um deles introduzido por uma página de texto informativo, e ainda uma capa e contra-capa dedicadas e devidamente assinaladas. Medidas que, em edições menos especiais, poderiam parecer 'para encher chouriços', mas que, neste contexto, dão ao volume o carácter diferenciado que se espera de uma edição de aniversário – e tudo por menos de quinhentos escudos, o que, em 1999, era consideravelmente menos do que os setecentos de 1994! Estes pequenos mas nada insignificantes ajustes ajudavam a fazer da edição '65 Anos' a melhor das duas, e mais do que colmatavam a redução em conteúdo e número de páginas, tornando-a quase essencial para fãs do temperamental pato.

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De realçar ainda duas edições, ambas de 1994 e ambas publicadas à margem das 'oficiais' da Abril: 'Feliz Aniversário, Donald – O Livro de Ouro das Suas Melhores Histórias', publicada pela RBA Editora como parte da colecção 'Disney em Banda Desenhada', e o livro do mesmo título da colecção 'Clássicos da BD'. Ambas são bem sucedidas em transmitir a sensação de 'edição de luxo', com as suas capas encadernadas e de cuidado desenho, mas (apesar dos títulos quase idênticos) os conteúdos de ambas são vastamente diferentes: o volume da RBA Editora segue, em larga medida, a mesma linha das edições da Abril, abrindo com três páginas dedicadas à génese do personagem e uma quarta com instruções sobre como desenhar Donald, e partindo daí para uma colectânea de histórias de todas as eras do personagem, enquanto o segundo livro foca-se, sobretudo, nas informações sobre a génese e percurso do aniversariante, descurando o aspecto de BD em si (embora contenha ainda duas histórias, nas últimas páginas.) Duas abordagens completamente diferentes, mas que resultam ambas bastante bem, podendo mesmo ser consideradas melhores do que qualquer das propostas da Abril/Controljornal, as quais não tinham quaisquer pretensões a ser algo mais do que revistas aos quadradinhos ligeiramente mais luxuosas do que a média.

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Independentemente do volume em que recaísse a escolha do jovem leitor, no entanto, uma coisa é certa: o sexagésimo e sexagésimo-quinto aniversários de Donald foram celebrados com tanta ou mais pompa e circunstância que o do 'melhor inimigo', e providenciou aos fãs do pato mais famoso do Mundo muito e bom material de leitura durante aqueles Verões de 1994 e 1999. Feliz aniversário, Donald, e que contes ainda muitos.

13.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 11 de Julho de 2024.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Enquanto competições máximas do futebol ao nível internacional (ou seja, de Selecções) é natural que tanto os Mundiais como os Campeonatos Europeus motivem publicações especiais por parte dos periódicos desportivos um pouco por todo o Mundo. E escusado será dizer que, num país tão fanático pelo desporto-rei como Portugal, essa naturalidade assume contornos de inevitabilidade, tendo os adeptos nacionais, ao longo dos anos, 'aprendido' a contar com múltiplos suplementos e destacáveis, ou até mesmo revistas individuais, com foco nos diversos certames. O primeiro Europeu do Novo Milénio não foi, de todo, excepção a essa regra, antes pelo contrário, tendo visto surgir nas bancas lusitanas não apenas uma, mas duas revistas especiais a ele dedicadas, ambas com o então Bola de Ouro Luís Figo como figura de capa, ele que era o 'porta-estandarte' da Selecção Nacional na era pré-Cristiano Ronaldo.

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A primeira destas duas, da responsabilidade do jornal 'Record', revestia-se de especial interesse por apresentar uma abordagem algo diferente do habitual: além das habituais 'fichas' de jogadores e factos sobre a competição, a publicação em causa trazia, à laia de 'biografias' dos elementos da Selecção Nacional da época, uma série de textos assinados por autores tão consagrados quanto Manuel Alegre ou Carlos Tê, além de outras figuras ligadas ao mundo das artes e letras, como os cineastas João Botelho e Joaquim Leitão. Já os 'distintos adversários' das outras selecções participantes no certame eram 'apresentados' por especialistas dos respectivos países, com natural destaque para nomes ligados ao jornalismo desportivo. A completar esta ambiciosa edição estavam oito 'guias turísticos' das principais cidades onde a competição se desenrolaria, elaborados 'in loco' por correspondentes do jornal. Uma publicação inovadora e ambiciosa, portanto (sobretudo para os parâmetros algo conservadores do jornalismo desportivo) que terá, certamente, justificado em pleno os quinhentos escudos do preço de capa, até mesmo para quem não era fã do desporto-rei.

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Sobre a 'outra' publicação alusiva ao Europeu de 2000 – fornecida como suplemento do jornal 'Expresso' – existe bastante menos informação; no entanto, a capa sugere que os conteúdos da mesma se insiram numa linha bastante mais típica e 'clássica' do que a seguida pela congénere de 'Record', com dados sobre os jogadores, estádios e países participantes, além de um guia TV com as datas e horas da exibição televisiva dos jogos, quase todos transmitidos em directo pela RTP. Um suplemento de valor inegável, mas que fica muito longe da ambiciosa e demarcada proposta do jornal de António Tadeia. Ainda assim, sem dúvida uma peça de coleccionador, a qual, tal como a revista de 'Record', valerá sem dúvida a pena adicionar à colecção de um adepto com interesse na História das publicações sobre futebol em Portugal, talvez ao lado das revistas dos Mundiais editadas por 'A Bola' e 'Record', e da publicação sobre a 'Geração de Ouro' sugerida pela primeira alguns anos depois...

20.06.24

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

O conceito de um produto Esquecido Pela Net já não será, de todo, desconhecido dos leitores deste blog; de bebidas sem qualquer presença nostálgica a capas de revistas há muito esquecidas, foram já várias as temáticas aqui abordadas sobre as quais a informação não ia além de uma ou outra imagem ou registo, obrigando a uma abordagem mais especulativa, dedutiva e teorética. No entanto, até mesmo o mais obscuro dos produtos tinha, normalmente, um qualquer elemento que permitia aprofundar a temática em torno do mesmo, fossem memórias pessoais (como no caso do sumo do Astérix), pistas contextuais, ou mesmo informações contidas numa qualquer indexagem dos primórdios da Internet. A revista que trazemos do Quiosque esta Quinta desafia, no entanto, esse paradigma, afirmando-se como o produto mais obscuro alguma vez abordado neste nosso blog – sim, mais do que o sumo do Astérix, até hoje o único 'post' do Anos 90 sem qualquer imagem associada.

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Isto porque a imagem acima, retirada de um leilão do OLX entretanto extinto, representa A ÚNICA INSTÂNCIA da revista Ultra Som presente em toda a Internet, sendo a capa da mesma a única fonte de informações sobre a publicação ou os seus conteúdos, já que o leilão não oferecia informações mais específicas quanto à mesma. Tudo o que é possível saber quanto a esta obscuríssima publicação fica, portanto, reflectido na capa, que mostra tratar-se de uma revista de música de carácter generalista (Luís Represas e os Sétimo Céu partilhavam, aparentemente, as páginas do número 1 com Iron Maiden, Moonspell, Joe Satriani, Santamaria e ainda um artigo sobre música de dança), com preço unitário de trezentos e cinquenta escudos (uma soma considerável para a época em causa) lançada algures nos primeiros meses do ano de 1998 (ou não fosse a capa alusiva ao álbum Virtual XI, dos Iron Maiden, lançado em Março desse ano). Já o estilo editorial e de redacção, outras possíveis secções da revista (como críticas a discos) e outras questões referentes a conteúdos permanecem, infelizmente, uma incógnita, já que a Ultra Som parece ter-se 'afundado' sem rasto num mercado dominado pelo hegemónico Blitz e onde começavam, também, a despontar outras revistas mais especializadas.

Assim, em prol de aprofundar e melhorar este artigo, pedimos a quem conheça ou tenha informações sobre esta publicação que entre em contacto connosco; afinal, se pessoas do Mundo inteiro conseguiram, trabalhando em conjunto, encontrar a potencial fonte de uma música anónima, certamente também a base de fãs do Anos 90 conseguirá identificar aquela que é, até ver, a Revista Mais Misteriosa da Internet...

09.05.24

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Com a possível excepção das gerações 'Z' e Alfa – que parecem preferir 'wallpapers' ou fundos para telemóvel, por oposição às tradicionais fotos em papel reforçado – os 'posters' têm, tradicionalmente, sido apanágio da formação identitária das crianças e adolescentes de todo o Mundo desde, pelo menos, o último quarto do século passado; uma evolução natural das fotografias de ídolos laboriosamente coladas ou pregadas à parede pelos jovens da primeira metade do século XX, os retratos ampliados de actores, desportistas, músicos, personalidades sociais ou até personagens de desenhos animados eram presença quase obrigatória em qualquer quarto juvenil de finais do Segundo Milénio e inícios do seguinte. Era, portanto, mais do que natural que, eventualmente, surgissem as primeiras publicações comerciais dedicadas apenas e tão-sómente ao agrupar de fotos deste tipo, que eram depois veiculadas, nas bancas, aos ávidos fãs das personalidades em causa.

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Anúncios de época aos especiais de 'posters' da revista Super Jovem.

Em Portugal, este tipo de revistas surgiu, sobretudo, como complemento ou edição especial de publicações pré-existentes; a Super Jovem, por exemplo, lançava periodicamente números 'fora-de-série', em formato maior do que a revista habitual (geralmente A4 ou até A3) compostos apenas por 'posters', muitos deles inéditos em relação aos que saíam nos números semanais, justificando assim o investimento. Outros exemplos desta mesma prática, estes importados, incluíam as icónicas Bravo e Super Pop, para todos os efeitos revistas de fotos, mas que vincavam ainda mais essa vertente com os seus especiais de 'posters'.

Ao longo dos anos, no entanto, foi-se verificando, também, o aparecimento de um segundo tipo de publicação deste género, ainda mais esporádica (muitas eram mesmo edições únicas) e com um formato tão apelativo quanto contra-intuitivo: embora parecessem, à vista desarmada, revistas 'normais', cada um destes especiais se desdobrava de fora para dentro, revelando um 'poster' gigante no interior. O problema deste tipo de apresentação tornava-se óbvio assim se desejasse ler os (poucos mas existentes) textos sobre o artista em causa que justificavam o epíteto de 'revista', os quais eram situados nas costas da imagem central, tornando o acesso aos mesmos impossível uma vez pendurado o 'poster' na parede. Este acabava, no entanto, por ser um mal menor, já que é duvidoso até que ponto os jovens que adquiriam este tipo de publicação especial estavam verdadeiramente interessados nos textos...

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Exemplo do segundo tipo de revista-'poster'.

Hoje em dia, tal como tantos outros formatos de que vimos falando nesta e noutras rubricas, também as revistas de 'posters' se encontram obsoletas, podendo o seu propósito ser realizado, de forma gratuita, com uma rápida pesquisa de imagens na Internet, não sendo mesmo necessário imprimir a imagem, que pode ser aplicada como fundo de ecrã no computador ou telemóvel e 'admirada' em qualquer altura e em qualquer local, e não apenas na parede do quarto. Ainda assim, quem teve no coleccionismo e exibição de 'posters' parte importante do seu desenvolvimento pessoal e identitário certamente recordará com alguma nostalgia aqueles especiais gigantes da revista favorita, repletos de imagens de ídolos prontinhos a serem colados à parede e admirados diariamente durante os meses e anos seguintes, até a fita-cola secar ou serem preteridos em favor do novo artista favorito...

18.04.24

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

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Números de várias eras da revista, que ilustram as mudanças gráficas da mesma. (Crédito da foto: OLX.)

Embora provavelmente não estivesse entre os principais interesses dos jovens portugueses – até pelos elevados custos que comportava – a audiofilia não deixava, ainda assim, de encontrar no nosso País a sua quota-parte de aficionados, fossem eles adultos com rendimentos próprios para gastar no seu passatempo de eleição ou jovens que sonhavam poder aspirar a ter um sistema de áudio 'a sério' onde tocar as suas cassettes, LP's e, mais tarde, CD's. Apesar disso, e ao contrário de muitos outros 'hobbies' do mesmo período, o panorama de imprensa nacional não contava, durante o pico da audiofilia, nos anos 80, com qualquer revista especializada dedicada a este ramo, vendo-se os fãs de aparelhagens obrigados a comprar dispendiosas revistas estrangeiras para se manterem a par das novidades dentro do espectro.

Esta situação viria, no entanto, a mudar ainda antes da chegada da nova década, quando dois jornalistas audiófilos, Jorge Gonçalves e José Victor Henriques, embarcaram juntos numa 'irresponsabilidade' utópica: a de criar uma revista portuguesa dedicada ao Hi-Fi. Nascia, assim, a 'Audio' (mais tarde 'Audio e Cinema em Casa') a primeira e única publicação portuguesa centrada na audiofilia. Com os meios possíveis, e muita vontade e capacidade de improviso, os dois jornalistas (a quem, mais tarde, se juntaria ainda o recentemente malogrado José Francisco Júdice) logravam fazer chegar às bancas, no ano de 1989, a primeira manifestação física desse seu sonho, mas os primeiros indicadores não eram, de todo, os melhores – a 'Audio' deparava-se com a apatia de um mercado rendido à estrangeira 'What Hi-Fi?', e o segundo número, já atrasado de raiz, arriscava-se a não sair.

Contra todas as previsões, no entanto – inclusivamente dos próprios fundadores – esse número não só se concretizou como lançou um ciclo de impressionantes três décadas de publicação ininterrupta, durante as quais a 'Audio' se estabeleceu como grande fonte nacional para notícias, críticas, análises e artigos diversos respeitantes ao seu nicho de eleição. Já sem o contributo de José Victor Henriques, que saíra amigavelmente, seria Jorge Gonçalves quem 'comandaria o barco' até à extinção da revista física e passagem para a plataforma 'online', em 2021, guiando-a através das habituais reformas gráficas e de conteúdo, logrando sempre, no entanto, manter o padrão de qualidade que estabelecera nos primórdios da publicação; é, pois, natural que, por alturas do seu desaparecimento, fossem muitas as vozes que lamentavam a extinção da única verdadeira referência no campo da audiofilia em território nacional. Apesar de desaparecida, no entanto, o legado e memória da 'Audio' continuam bem vivos entre os portugueses de uma determinada idade, os quais, certamente, terão derivado considerável prazer da leitura destas linhas que, espera-se, lhes tenham proporcionado uma viagem nostálgica até ao tempo em que passavam na banca, todos os meses, para trazer para casa o mais recente número da 'sua' revista.

07.03.24

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Qualquer 'millennial' português cuja atracção romântica penda para o sexo feminino se lembrará, sem dúvida, das históricas versões nacionais da 'FHM' e 'Maxim', duas 'revistas para homens' publicadas durante a década de 2000 e que constituíam, à época, a forma de admirar mulheres atraentes e famosas em 'trajes menores' sem para isso ter de recorrer à sempre condenável pornografia. Para a geração anterior, no entanto – e, talvez, até para alguns dos leitores mais velhos deste 'blog', nascidos ainda durante os anos 80 – a grande revista erótica nacional foi outra, que ainda viu 'entrar' a nova década, mas que se viria a extinguir menos de um ano após o início da mesma: a 'Élan'.

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Como o próprio nome indica, a revista, idealizada e produzida na então cooperativa do Partido Socialista em Lisboa por elementos associados ao Correio da Manhã, tinha pretensões de classe e sofisticação, as quais contrastavam directamente não só com as fotos sensuais que a caracterizavam, mas com a própria temática envolvente às mesmas, que se aproximava mais a uma 'Caras' ou 'VIP' do que a qualquer publicação intelectual. Isto porque os textos – sempre de somenos importância numa revista deste tipo, mas ainda assim necessários – versavam sobre a vida do 'jet set' nacional, com tudo o que isso implicava (como festas, mexericos ou namoros), em meio a temas sobre viagens, moda e artes, e até pequenos contos. Esta inusitada mistura acabava por tornar a 'Élan' numa espécie de fusão entre a 'Playboy' e as referidas revistas 'cor-de-rosa' tão conhecidas do público noventista.

Outro aspecto inusitado da revista em causa foi a sua lista de colaboradores, impressionante para uma publicação algures entre o 'cor-de-rosa' e o 'maiores de dezoito': entre os nomes associados à 'Élan' durante o seu curto tempo de vida contavam-se a antiga Miss Portugal e aspirante a Miss Universo, e futura apresentadora televisiva, Ana Maria Lucas, Manuel Falcão (fundador do 'Blitz' e d''O Independente' e director do 'Se7e' e da RTP2!!) ou Teresa Pais, futura directora da 'Telenovelas' e 'TV Mais', à época ainda uma jovem de pouco mais de vinte anos. Nomes que ajudavam, sem dúvida, a dar alguma credibilidade à revista, garantindo um lugar mais próximo da 'TV Guia' que da 'Playboy' na prateleira da tabacaria.

Como a mistura de factores acima descrita deixa adivinhar, a 'Élan' era uma revista única e ímpar no cenário português – talvez até demais, o que poderá porventura explicar a razão para o seu desaparecimento. Ainda assim, no período de cerca de três anos em que vigorou nas bancas portuguesas, a publicação em causa não terá deixado de fazer as delícias dos então adolescentes (e não só) interessados em ver famosas bonitas e fotogénicas em poses menos 'próprias'...

28.02.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui anteriormente falámos tanto da BD institucional, utilizada pelas mais variadas empresas e instituições como recurso educativo e pedagógico, como dos clubes de jovens, outro conceito corporativo clássico de finais do século XX e inícios do seguinte, e que vinha muitas vezes acompanhado de publicações próprias, exclusivas aos membros do clube. não é, pois, de estranhar que os dois elementos em causa se intersectassem frequentemente, normalmente no contexto das referidas revistas e jornais internos; é, precisamente, de uma dessas ocasiões que falaremos nesta Quarta aos Quadradinhos.

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Divulgadas pelo banco Montepio Geral em cinco fascículos de distribuição exclusiva ao seu clube de jovens assinantes entre 1999 e 2000, 'Tio Pelicas Investiga: A Essência Mutualista' via o pelicano do símbolo do banco – devidamente antropomorfizado e 'cartoonizado', e de aparência algo semelhante a outro 'Tio' com afinidade por assuntos bancários, o da Disney – investigar mistérios relacionados com conceitos da esfera financeira e bancária, os quais eram, assim, transmitidos ao jovem público-alvo de maneira subtil e lúdica. Uma premissa bastante típica para uma banda desenhada institucional, mas que era substancialmente elevada pelo argumento e grafismo cuidados e personalizados; isto porque, onde a maioria das empresas deixariam um projecto desta índole a cargo de um qualquer anónimo com 'jeito' para o desenho, o Montepio Geral não fez por menos, recrutando ninguém menos do que Augusto Trigo (famoso por ter ilustrado a trilogia 'Lendas de Portugal em Banda Desenhada', e também colaborador da efémera mas marcante revista 'Selecções BD') para dar vida ao pelicano detective, em conjunto com a argumentista Paula Guimarães.

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Capa do segundo álbum, lançado em 2004.

O resultado era um trabalho que, deixando de lado a vertente institucional, poderia perfeitamente ter sido editada como álbum individual e independente de qualquer instituição – como os jovens 'millennials' e da 'geração Z' puderam comprovar quando as 'sequelas' de 'Essência Mutualista', produzidas entre 2001 e 2003, foram reunidas em álbum, em 2004. Antes disso, já havia sido lançada em volume a aventura original, a qual completa este ano vinte e cinco anos sobre o seu lançamento original, e terá sem dúvida feito as delícias dos jovens filhos de clientes do banco em causa aquando do mesmo. E apesar de essa primeira história se encontrar algo Esquecida Pela Net, várias outras podem, ainda, ser lidas nas mais diversas fontes (como neste blog, que dedica todo um artigo à série), pelo que quem tenha alguma nostalgia pelo Tio Pelicas (ou se tenha recordado do mesmo ao ler este post) pode facilmente ir 'matar saudades', e regressar à infância por alguns minutos...

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Excerto de uma das histórias da segunda série.

15.02.24

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Já aqui por diversas vezes nos referimos às décadas de 80, 90 e 2000 como a 'era de ouro' da imprensa portuguesa. De facto, e ao contrário do que sucede hoje em dia, o sector respirava saúde, permitindo tanto às editoras e distribuidoras como aos próprios profissionais do meio incorrer em certos riscos impossíveis e impensáveis em décadas anteriores ou subsequentes. Entre publicações absurdamente especializadas e outras que não teriam cabimento nem seriam possíveis em qualquer outra era, o mercado de periódicos português viu-se, durante o período em causa, 'inundado' por uma série de novos títulos, alguns dos quais perdurariam durante várias décadas, enquanto outros se extinguiriam após passagem curta mas fulgurante pelas bancas nacionais.

De entre este último grupo, há uma publicação que se destaca acima de todas as outras, sobretudo para os elementos da 'geração X', que eram precisamente da idade certa para a apreciar; uma revista saudosamente recordada pelo seu estilo gráfico e redactorial único (o qual é mesmo creditado como inspiração para o aparecimento, uma década depois da comunidade 'blogger') e pelo verdadeiro 'painel de honra' que constituía o seu núcleo redactorial. Falamos da revista 'K' (ou 'Kapa'), um periódico que deixou, em apenas três anos, o tipo de marca que, regra geral, leva o dobro do tempo a conseguir.

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A colecção pessoal da 'dona' do blogue 'Feridas & Calos'.

Fundada por Miguel Esteves Cardoso, logo no início da nova década, com o intuito de abordar tudo aquilo que as publicações já existentes não tinham coragem de abordar, a 'K' tinha como maior atractivo um elenco de colaboradores de luxo, que ia desde escritores como Agustina Bessa-Luís, Vasco Pulido Valente, Rui Zink ou o próprio Esteves Cardoso a artistas como Pedro Ayres de Magalhães, passando por figuras políticas como Paulo Portas (que mais tarde se juntaria a Esteves Cardoso para fundar o não menos mítico, mas bastante mais duradouro jornal 'O Independente') ou a mãe deste último, Helena Sacadura Cabral. Em comum, estas figuras tinham apenas o desejo de fundar uma revista iconoclasta, em que a alta e a baixa cultura se misturassem, e em que os gostos pessoais dos redactores e colunistas também tivessem lugar, em desafio directo às regras do bom jornalismo.

O resultado foi uma publicação, nas próprias palavras do seu primeiro editorial, 'mais comunicativa que informativa', cujo objectivo era pura e simplesmente ser lida, e cuja atitude franca e frontal quanto à sua missão editorial caiu, de imediato, no 'gosto' da então geração jovem, que se revia sobremaneira nos textos e grafismos irreverentes, e que apreciava a exploração de temas tendencialmente ostracizados pela imprensa tradicional, muitos deles tidos mesmo como tabu pela sociedade em geral; o preço de capa de trezentos escudos (mais tarde quatrocentos, e depois seiscentos e cinquenta) acabava, assim, por se poder considerar justo, face à riqueza e qualidade dos conteúdos veiculados em cada edição mensal.

Apesar do carácter inovador, e de ter de imediato encontrado a sua demografia, a 'K' não duraria nas bancas mais do que três anos, tendo o ano transacto marcado os trinta anos sobre a edição do seu último número; ainda assim, e apesar do 'vazio' deixado por uma revista ainda hoje inigualada, e muito à frente do seu tempo, aqueles que tiveram a sorte de conviver com a 'K' durante o seu tempo de vida não se escusarão a cantar loas à mesma, nem a ressalvar a sua importância para movimentos culturais e informacionais posteriores. Um marco geracional, portanto, bem merecedor de ser recordado nas páginas deste blog respeitante à década da sua publicação.

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