23.02.22
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...
...como é o caso dos carros.
Apesar de a maioria dos leitores deste blog não ter ainda, nos anos 90, idade para conduzir, os carros não deixavam, ainda assim, de exercer um certo fascínio sobre muitos dos membro daquela geração, sobretudo os do sexo masculino. E ainda que muita da atenção fosse, obviamente, para os supercarros desportivos ou de Fórmula 1, houve, em 1993, um pequeno e humilde veículo que se conseguiu intrometer por entre os 'monstros' de alta cilindrada, e cativar muitos jovens pela razão precisamente inversa: por parecer, praticamente, uma versão real dos carros eléctricos ou carrinhos de brincar com que muitos deles haviam crescido.
Como muitos miúdos imaginavam que seria conduzir, ou ser passageiro, num destes veículos
Falamos do Renault Twingo – nome derivado da junção dos nomes de três danças, Twist, Swing e Tango - que, apesar de hoje ser 'apenas' mais um carro igual a tantos outros, marcou verdadeiramente época aquando do seu lançamento, e terá potencialmente servido de inspiração para o surgimento, uma ou duas décadas mais tarde, do popular Smart, seu 'sucessor espiritual' na categoria dos carros que parecem 'de brincar'.
As semelhanças entre os dois não se ficam, aliás, pelo aspecto: tal como o Smart, o Twingo pretendia ser um carro para quem não gostava de carros, na sua acepção convencional, e preferia ser visto ao volante de algo que ficava a meio caminho entre uma criação de desenho animado e os referidos veículos eléctricos para crianças pequenas. Tendo na forma arredondada a sua principal característica visual, e disponível numa série de cores vivas (sendo a mais comum à época o roxo, retratado na imagem acima) o Twingo parecia quase ter sido feito com as crianças e jovens em mente, não sendo, de todo, de estranhar, que muitos desejassem tê-lo como carro familiar; afinal, se algum veículo alguma vez se pôde apelidar de 'fofo', foi definitivamente o Twingo.
Não era, no entanto, apenas o aspecto deste carro que apelava a um público mais jovem e aos iniciantes da condução; a própria potência do carro, cujas pequenas dimensões requeriam um motor de baixa cilindrada, impedia grandes 'aventuras', tornando este veículo ideal para principiantes, como primeiro carro, apenas para 'dar umas voltas' – algo que se tornaria ainda mais evidente com o lançamento da variante semiautomática Easy, que permitia a condução sem o pedal de embraiagem, um dos principais pontos fracos de quem ainda tem pouca experiência.
Daí em diante, seriam inúmeras as 'edições especiais', alterações, adições e revisões ao modelo inicial, que seria acrescido de aspectos tão indispensáveis como air-bags, novos faróis e pára-choques e motores mais potentes, além de extras mais supérfluos, como interiores em pele e rádio com CD (ambos exclusivos à edição especial Initiale Paris, de 1998.) Aquele carro que empatara com o Citroen Xania como Carro do Ano em Espanha, em 1994, e que conquistara os corações de tantos jovens no país vizinho, tornava-se cada vez melhor e mais seguro – mas, infelizmente, também cada vez mais um carro normal.
Um Twingo moderno
De facto, as sucessivas revisões fizeram tanto para melhorar o Twingo como para lhe retirar alguma da 'magia' e novidade que o seu modelo inicial conseguira implementar – a qual, mais tarde, o Smart viria a utilizar para se estabelecer no mercado. Hoje em dia, o Twingo já nem sequer se pode gabar de ser, precisamente, um carro 'pequeno', especialmente comparado com modelos como o Lancia Y (na altura, um dos seus principais competidores), Fiat Cinquecento e Seicento, Mini, ou os próprios Smart; ainda assim, quem assistiu ao aparecimento daquele carro 'da Carochinha', e desejou ardentemente ter um, certamente concordará que, no que toca a carros 'normais' de todos os dias, o Twingo talvez tenha mesmo sido dos mais originais e marcantes a surgir em toda a década de 90...