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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

29.01.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Em tempos o meio de comunicação de massas por excelência, a rádio encontra-se, hoje em dia, desprovida da grande maioria do seu poder e influência na sociedade ocidental, tendo os mesmos passado, em definitivo, para o domínio das plataformas de 'streaming' e de 'download' digital. De facto, sensivelmente a meio da terceira década do século XXI, o 'media' anteriormente capaz de fazer disparar uma música para o topo das tabelas de vendas encontra-se relegada para uma posição de simples 'barulho de fundo' para viagens de carro ou dias de trabalho no escritório – sendo que, mesmo nesses contextos, acaba muitas vezes por ser suplantada por 'playlists' curadas ou por uma qualquer função aleatória do Spotify ou YouTube.

Em finais do século passado, no entanto, o paradigma era diametralmente oposto: com a Internet ainda demasiado incipiente para sequer sonhar com as potencialidades actuais, a rádio afirmava-se, ainda, como grande veiculadora de novos talentos musicais, e moldadora da opinião pública nesse campo. Portugal não era excepção a essa regra, antes pelo contrário - à entrada para o século XXI, continuavam a surgir novas estações para fazer frente às 'perenes' Antenas, TSF, RFM, Rádio Renascença ou Rádio Comercial, além da então todo-poderosa e mega-popular Rádio Cidade, a emissora por excelência para quem queria ouvir música pop ou electrónica, que chegou a ter direito a uma série de colectâneas campeãs de vendas no nosso País. Um desses 'novos talentos' fazia a sua estreia nas ondas FM há pouco mais de vinte e cinco anos, em Setembro de 1998, e viria a marcar a infância e adolescência de toda uma geração.

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O icónico logo oficial da emissora.

Falamos da Mega FM, icónica 'subsidiária' da Rádio Renascença que se destacava das restantes emissoras nacionais por se dirigir aberta e especificamente ao público jovem, De facto, toda a apresentação da estação, do logotipo aos apresentadores capazes de comunicar com a demografia-alvo 'ao seu nível', passando por uma selecção de músicas com grande ênfase no 'rock' alternativo, procurava desmarcar a nova emissora das suas contemporâneas, e posicioná-la como uma alternativa ao estilo mais 'convencional' das mesmas – uma estratégia que viria, mais tarde, a informar o nascimento de outro meio de comunicação icónico entre a juventude 'millennial', a ainda vigente (mas irreconhecível) SIC Radical.

Escusado será dizer que, como naquele caso, a estratégia resultou em cheio, tendo a Mega FM entrado no último ano do século XX como 'companheira' e banda sonora das sessões de estudo da maioria dos jovens portugueses, responsável por dar a conhecer à referida demografia bandas como The Offspring, Green Day, Blink-182, Wheatus, New Radicals, Limp Bizkit ou até Slipknot, que dificilmente teriam 'tempo de antena' nas rádios tradicionais. Até mesmo a metade mais convencionalmente 'radiofónica' da 'playlist' da 'Mega' apresentava nomes ligeiramente 'ao lado' do que se ouvia em outras emissoras da altura, com bandas como The Corrs, Sixpence None The Richer, Eagle-Eye Cherry, Lenny Kravitz, The Cranberries ou The Cardigans a não destoarem tanto quanto se poderia pensar ao lado das suas congéneres mais 'barulhentas'.

Ao longo dos anos, esta tendência manter-se-ia, com artistas como The Hives e Andrew WK a tomarem o lugar das bandas mais 'demissionárias' ou saídas de moda, sem no entanto desvirtuar a abordagem 'alternativa' da emissora, que continuava a conseguir cativar um público, muitas vezes, desprovido de opções às poucas músicas veiculadas pela maioria das estações. Quase a meio da primeira década do Novo Milénio, a 'Mega' era, ainda, uma potência no meio radiofónico português, e uma das grandes responsáveis por informar e moldar o gosto musical dos jovens lusitanos da época.

Como diz o ditado, no entanto, 'tudo o que é bom acaba', e o passar dos anos veria a Mega FM – como a SIC Radical – transformar-se numa emissora cada vez mais próxima das convenções vigentes, e ser suplantada, no campo 'alternativo', pela Best Rock FM, uma rádio de proposta e abordagem muito semelhantes. Assim, e apesar de ainda hoje existir – agora sob o nome Mega Hits FM – a emissora ficará, para grande parte da população nacional – para sempre ligada àqueles anos da viragem do Milénio, em que 'colou' ao rádio ou aparelhagem a última geração a ser verdadeiramente influenciada pelas ondas de FM, e lhes 'ensinou', ao longo de muitas sessões de estudo matinais ou vespertinas, de que bandas gostavam e que discos precisavam de comprar...

07.11.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

As décadas de 80 e 90 representaram, talvez, o auge da tecnologia de reprodução musical. Para além do surgimento do CD em substituição do vinil (e, mais tarde, da cassette) este período viu também serem lançados os primeiros esforços de portabilizar a escuta de música gravada, com os famosos e icónicos Walkman e os seus sucessores, os ainda mais lendários Discman, ambos pioneirizados pela Sony, à época a marca de vanguarda por excelência neste campo. Paralelamente a estes mais do que sobejamente conhecidos produtos dirigidos a um público adulto, no entanto, a marca japonesa apresentava ainda uma linha dirigida e dedicada exclusivamente a crianças, e que fez as delícias de jovens um pouco por todo o Mundo, Portugal incluído: a icónica My First Sony.

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Dois dos mais populares produtos da gama.

Produzida sobretudo na década de 80, mas ainda em circulação nos primeiros anos da seguinte, a gama My First Sony tinha como conceito produzir versões em escala reduzida dos principais aparelhos áudio-visuais comercializados pela marca, consistindo de rádio sem fios, walkman, rádio-relógio com despertador, leitor e gravador de cassettes com microfone, microfone amplificador, aparelhagem 'tijolo', 'walkie-talkies' e até um quadro electrónico para desenhos, ao estilo dos então populares Etch-A-Sketch e Magna Doodle. Para além do menor tamanho, adaptado às mãos infantis, cada um destes produtos destacava-se, ainda, pelos controlos simplificados (com botões maiores do que o habitual) e, sobretudo, pelo imediatamente reconhecível e altamente apelativo esquema de cores, que apostava em tons vivos de vermelho, amarelo e azul que faziam os aparelhos parecer brinquedos, e despertavam o interesse dos mais novos.

Não que tal estratégia fosse necessária, já que os referidos produtos ofereciam mais do que muitos atractivos por si só, como fossem os diversos e divertidos sons de alarme do rádio-relógio ou a possibilidade de gravar 'álbuns' originais no leitor de cassettes, graças ao microfone embutido e à função de gravação que o mesmo proporcionava – ambos, aliás, aspectos altamente apreciados lá por casa, onde ambos os aparelhos estiveram entre os mais populares e acarinhados do período da infância.

Previsivelmente, dados os seus inúmeros motivos de interesse para a demografia a que apontava, a gama My First Sony fez algum sucesso, sendo os seus produtos presença comum nos quartos de crianças portuguesas e não só durante a primeira metade da década de 90; também sem surpresas, o conceito seria, mais tarde, imitado por algumas das outras principais marcas de audio-visual da altura, embora nunca com o mesmo modelo sustentado que a Sony apresentara. É, aliás, sintomático que a referida linha de produtos continue a ser recordada mais de trinta anos depois, dando razão ao slogan da Kellogg's de que 'o original é sempre o melhor', e provando que não são necessários conceitos revolucionários ou mirabolantes para vender seja o que fôr ao público jovem – basta oferecer-lhes um produto de qualidade que vá de encontro aos seus interesses, uma definição que assenta 'que nem uma luva' à gama My First Sony.

04.04.23

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 03 de Abril de 2023.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Apesar do relativo ecletismo de estilos que os jovens de finais do século XX inseriam na sua 'dieta' musical quotidiana, o 'jazz' nunca foi um género com que essa mesma demografia se identificasse particularmente, talvez pelas pretensões intelectuais e imagem algo antiquada com que o mesmo era associado à época, e que o colocavam em claro contraste com os estilos favorecidos pela juventude, como o pop-rock e o alternativo. E, no entanto, a verdade é que, apenas uma geração antes, este género musical havia sido religiosamente escutado e seguido por grande parte dos jovens nacionais da época, sobretudo os citadinos, graças a um programa de rádio de difusão nacional exclusivamente dedicado ao estilo, inaugurado em 1966 e que continuava a manter-se 'firme' naquele fim de século, vindo inclusivamente a adentrar-se pelas primeiras duas décadas do século XXI antes de ser interrompido, há meras semanas, pela morte do seu criador.

Falamos do 'Cinco Minutos de Jazz', rubrica de título auto-explicativo da responsabilidade de José (ou 'Jazzé') Duarte - não confundir com José Jorge Duarte, o 'Lecas' - que fez parte do léxico radiofónico português durante mais de cinco décadas, ao longo das quais apresentou aos ouvintes interessados em 'jazz' um sem-número de nomes mais ou menos famosos do estilo, alguns dos quais devem, inclusivamente, ao programa a penetração e difusão do seu nome em Portugal.

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O carismático apresentador do programa, figura de proa do 'jazz' nacional

Transmitido primeiro pela Rádio Renascença, depois pela Rádio Comercial, e finalmente pela Antena 1, o programa manteve uma transmissão ininterrupta durante praticamente quarenta anos (entre 1983 e o corrente ano de 2023), sempre com a mesma fórmula que adoptara aquando da sua criação em 1966, e que consistia numa apresentação da música, seguida da transmissão integral da mesma e, finalmente, numa pequena contextualização explicativa, que revelava mais alguns dados em relação ao tema que acabara de tocar. Um formato simples, mas eficiente, que tirava o máximo partido do tempo disponível para a rubrica e eliminava muita da 'palha' que continua, até hoje, a infestar muitos programas radiofónicos. Aliada ao carisma e simpatia natural do falecido apresentador, esta economia de estilo ajudou a tornar o programa um sucesso, tendo o mesmo mantido uma audiência cativa ao longo de décadas, até se tornar o programa mais antigo da rádio portuguesa.
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Não foi, no entanto, apenas o programa que almejou fama dentro dos meios musicais portugueses - também o seu anfitrião ganhou honras de 'decano' e 'embaixador' do movimento 'jazz' português, sendo muitas vezes o escolhido para acolher certas figuras de proa do estilo (ou mesmo para as aliciar para um concerto em Portugal) e estando envolvido na organização de vários dos primeiros festivais dedicados ao género em solo nacional. Foi, também, dele e do seu programa a responsabilidade pela edição do primeiro disco de 'jazz' em Portugal, de nome 'Estilhaços' e lançado em 1972 para celebrar o sexto aniversário do programa (o qual, ironicamente, seria alvo de uma paragem forçada daí a um par de anos, antes do regresso em 1983.)

Assim, e apesar de o seu programa se afirmar já como 'de culto' (ou, se preferirmos, 'de nicho') por alturas da infância e adolescência de muitos dos leitores deste 'blog', vale, ainda assim, realçar e relevar a importância do seu apresentador, cujo falecimento representa uma perda de vulto para o movimento 'jazz' português, que se vê privado não só do seu programa de referência, como também de uma das principais personalidades propulsoras do mesmo ao longo das décadas. Que descanse em paz.

27.06.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Hoje em dia, o conceito de uma estação de rádio é, para todos os efeitos, obsoleto; com todos os elementos que a mesma oferece – da música à informação - à distância de alguns cliques ou toques no ecrã, a única função que este tipo de órgão continua a servir é a de acompanhar motoristas solitários nas suas viagens diárias – e mesmo esse fim já vem sendo, cada vez mais, realizado por 'podcasts', 'audiobooks' e playlists do Spotify, anunciando o fim próximo da rádio como a conhecemos.

Nos anos 90, no entanto, o paradigma era significativamente diferente; a Internet era um conceito embrionário, a música era ainda obtida maioritariamente em formato físico (e, como tal, difícil de ouvir 'a pedido') e as estações de rádio mais famosas em Portugal tinham estatuto suficiente para lançar discos inteiros de músicas da sua rotação, e ter relativa certeza de que os mesmos encontravam o seu público. Foi assim com as perenes RFM e Rádio Comercial, com a meteórica e saudosa Mega FM, e – mais memoravelmente – com a Rádio Cidade, a estação luso-brasileira conhecida (e, hoje, recordada) tanto pelo seu foco no 'dance-pop' como pela lendária colecção de colectâneas de música de dança que editou na metade final da década de 90 e inícios da seguinte.

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Intitulada 'Electricidade', mesmo nome do mais famoso programa da emissora, esta memorável série de álbuns foi lançada pela Vidisco a partir de 1994, a um ritmo anual, e durante quase uma década (o último registo disponível na Internet é referente à edição de 2003), tendo-se, por isso, naturalmente tornado presença assídua tanto nas prateleiras das lojas de discos como na estante de muitos jovens fãs do género. O facto de cada nova colectânea trazer, invariavelmente, as últimas novidades da música de dança do respectivo ano, com particular foco na cena 'Eurodance' (que, à época, englobava desde novos e entusiasmantes estilos oriundos do Reino Unido até 'remixes' 'foleiras' de temas clássicos feitas 'a martelo' na Alemanha) também ajudava a assegurar a compra de cada nova edição, tanto por parte da base de fãs já existente, como de outros 'curiosos' relativamente ao estilo em causa, para quem a série acabava por representar uma espécie de alternativa às não menos lendárias colectâneas 'Now!', cujo foco era mais generalista.

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O alinhamento da edição de 95 desta colectânea

Assim, não é de estranhar que cada novo capítulo desta saga musical (sempre devidamente identificada pelo inconfundível logotipo, perceptível à distância, e pela mascote muito, muito '90s') fosse acolhido com entusiasmo pelo seu público-alvo - o qual, aliás, nem precisava de se deslocar à discoteca mais próxima para o adquirir, visto estas colectâneas serem presença frequente, também, naqueles escaparates de 'cassettes' e CD's existentes em tabacarias e bombas de gasolina pelo País fora. 

Com tão perfeita junção de oferta e procura, não é, pois, de admirar que todos os discos da série – mas particularmente as edições de 1996 e 1998 – tenham gozado de considerável sucesso, devendo-se a sua extinção, não a algum decréscimo de vendas, mas apenas à mudança de foco levada a cabo pela Rádio Cidade a partir de meados dos anos 2000; caso contrário, é de imaginar que estas colectâneas tivessem perdurado durante mais algum tempo, pelo menos até o próprio formato CD se tornar obsoleto. No entanto, talvez tenha sido melhor assim – ao 'desaparecer de cena' antes de o seu formato se esgotar ou tornar cansativo, as colectâneas Electricidade asseguraram um lugar nas memórias nostálgicas de toda uma geração que as comprou anualmente, e a quem ajudaram a definir o gosto musical...

 

 

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