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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.09.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Havia-os de todas as formas, feitios e materiais – grandes, pequenos, redondos, quadrados ou moldados à forma do que pretendiam representar, em plástico ou em metal. Adornavam desde blusões de ganga a sacolas de sarja, mochilas, estojos ou quadros de cortiça como os que alguns jovens da época tinham no quarto, ou eram simplesmente preservados numa caixa, como objectos de coleccionismo, prontos a serem admirados ou orgulhosamente exibidos perante as visitas. Falamos, é claro, dos 'pins' e crachás, uma moda que, não tendo, de modo algum, tido origem nos anos 90, viveu ainda assim a sua época áurea entre finais da década de 80 e inícios da anterior.

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Exemplos de crachás redondos de plástico, predominantes em inícios dos anos 90.

De facto, foi durante esses anos que se puderam encontar, em Portugal, lojas com uma vasta oferta de 'pins', prontos a serem adquiridos e estimados por um público ávido por aumentar a sua colecção. De desenhos alusivos a bandas e capas de álbuns até frases e dizeres humorísticos ou motivacionais, passando por alguns dos mais populares personagens infantis da época ou ainda pelos sempre populares 'smileys', nas suas mais diversas configurações, eram inúmeros e para todos os gostos os estilos e 'designs' de crachá disponíveis durante a época em causa, garantindo que ninguém ficava de fora desta 'febre'.

À medida que a década de 90 avançava, no entanto, o mercado dos 'pins' e crachás sofreu algumas alterações. Os antigos crachás redondos, em plástico colorido – os chamados em inglês 'badges' – praticamente desapareceram, cedendo lugar aos 'pins' em metal moldado, vistos como menos infantis e, logo, mais 'fixes'. Concomitantemente, este tipo de Quinquilharia passou, também, a ser vendida em locais mais específicos, normalmente de índole turística ou cultural, ou a servir como brinde promocional em campanhas de 'marketing', deitando a perder alguma da criatividade exibida pelo mercado em causa na década transacta.

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Exemplos de 'pins' em metal, predominantes da segunda metade dos anos 90 em diante.

Mesmo com estas mudanças, no entanto, os 'pins' não perderam a sua popularidade, continuando a ser frequentemente vistos a decorar sacolas a tiracolo, mochilas, ou mesmo peças de roupa, tal como acontecia na sua época áurea. Este paradigma mantém-se, aliás, até aos dias que correm, fazendo dos crachás um dos poucos produtos abordados nesta secção que não saíram de moda nem viram decrescer significativamente os seus índices de popularidade. Ainda assim, quem viveu a 'época alta' deste tipo de Quinquilharia certamente sentirá a falta de alguma da originalidade e sentido estético dos 'pins' e crachás da 'sua' altura, cuja essência dificilmente voltará a ser capturada, tornando-os símbolos de uma época mais 'divertida' e inocente, não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo.

 

 

25.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 24 de Agosto de 2023.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

O Verão é tempo de partidas para novos destinos, de idas para casa dos avós ou dos tios, de dias na praia, de actividades desportivas no bairro e de colónias de férias - tudo situações que resultam em novas amizades, ainda que, provavelmente, apenas com a duração correspondente à das férias em questão. Ainda assim, enquanto as mesmas duram, há que cultivá-las - e, para as raparigas dos anos 90 e 2000, uma das muitas maneiras de o fazer era através da construção de colares e pulseiras com contas e missangas.

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Facilmente adquríveis em todo o tipo de estabelecimentos, e a um preço irrisório, este tipo de adereço era muito popular junto dos jovens, por permitir - com a adição de um pedaço de cordel, fio ou corda - a criação de todo o tipo de acessórios de moda totalmente 'DIY' - e, como tal, significativamente mais baratos do que os comprados pré-feitos, em lojas. Não era, por isso, de todo incomum ver jovens de ambos os sexos com adereços feitos por eles mesmos nos pulsos, tornozelos ou em volta do pescoço, por vezes com padrões e 'designs' tão ou mais criativos do que os que as próprias lojas ofereciam. As missangas não eram, aliás, o único tipo de material usado para este efeito, sendo as pulseiras entrançadas e os tererés, possivelmente, ainda mais populares enquanto criações 'feitas em casa' pela demografia em causa.

Ao contrário de muitos dos produtos e acessórios de que falamos nesta secção, as pulseiras, colares e outros adereços feitos a partir de contas e missangas nunca saíram de moda, e embora a sua preponderância e prevalência entre a juventude já não seja o que outrora foi, é fácil de acreditar que as jovens da Geração Z se continuem a entreter a criar adereços e acessórios 'feitos à mão' a partir deste tipo de material, da mesma forma que o fizeram as 'millennial'...

03.08.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Na última edição desta rubrica, falámos dos 'Tous', a colecção de autocolantes do Bollycao que constituiu um dos primeiros casos de brindes grátis em produtos alimentares em Portugal, uma faceta pela qual a própria Panrico, a par da Matutano, Kellogg's e Nestlé, se viria a tornar conhecida durante as três décadas seguinte. Agora, chega a vez de falarmos de outra popular promoção da panificadora, lançada alguns anos depois da pioneira colecção e das suas 'sucessoras', as Janelas Mágicas: a colecção de cromos da Sega.

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Algumas das reproduções de capas constantes da colecção.

Como a própria descrição indica, tratava-se de uma série de autocolantes alusivos a uma das duas principais companhias produtoras de consolas e videojogos da época, sendo a maior parte dedicada a reproduções das capas de alguns dos mais populares títulos para as suas, então, três consolas, e a restante parcela reservada para uma série de desenhos originais e inéditos com a mascote da empresa, o popularíssimo Sonic, como protagonista, e que se dividiam entre situações quotidianas e imagens do famoso porco-espinho a segurar ou interagir com letras do alfabeto árabe.

Assim, além de reproduções fiéis das capas de alguns dos vários cartuchos disponíveis para Master System, Game Gear e Mega Drive (numa época em que as capas da maioria das caixas de videojogos eram, em si mesmas, uma forma de arte), os consumidores de Bollycao (e, conforme já referimos no artigo sobre o produto em si, essa demografia englobava a esmagadora maioria dos jovens portugueses) podiam também, com alguma sorte, contar com algumas ilustrações ´à maneira' para colar nos móveis do quarto ou nas capas dos 'dossiers' e cadernos, ou até para soletrarem o próprio nome – vertente que, quando aliada ao atractivo inerente à própria marca, ajudava a assegurar um sucesso fácil para a promoção.

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Os dois tipos de cromos com Sonic como protagonista.

E a verdade é que, apesar de menos recordada hoje em dia do que a colecção dos 'Tous' (já para não falar de outras promoções equivalentes, sobretudo as lançadas pela Matutano) a colecção de autocolantes da Sega contou, à época, com bastante sucesso e aderência por parte do público infanto-juvenil português, que se começava rapidamente a habituar à ideia de obter um brinde atractivo na compra das suas 'comidas de plástico' favoritas – razão suficiente para, mais de trinta anos após o seu aparecimento nas embalagens dos famosos pães com chocolate da Panrico, lhe dedicarmos algumas linhas neste nosso blog nostálgico.

13.07.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Comprar certos produtos alimentícios (como cereais, batatas fritas, produtos à base de pão ou ovos de chocolate) era, para a juventude dos anos 90, sinónimo de ganhar uma qualquer 'quinquilharia' de brinde com o pacote; e se a Matutano era a 'rainha' deste tipo de oferta, com quase todas as suas promoções a entrarem na 'História' nostálgica portuguesa, o Bollycao da Panrico pouco lhe ficava atrás, tendo sido responsável por várias outras das ofertas mais memoráveis daqueles anos mágicos de finais do século XX. E, dessas, talvez a mais saudosamente recordada tenha mesmo sido a original – a dos cromos conhecidos como 'Tous'.

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Introduzida no país vizinho ainda nos anos 80, a emblemática colecção 'aterrava' em Portugal logo no início da década seguinte, tornando-se a primeira de muitas promoções de que as crianças e jovens nacionais desfrutariam ao longo dos vinte anos seguintes; e se o conceito era relativamente simples (tratavam-se, apenas, de autocolantes, sem qualquer 'especialidade' ou 'truque') o grafismo irreverente e a personagem ao estilo desenho animado ou 'graffitti' aliaram-se ao 'factor novidade' para garantir que esta colecção ficava indelevelmente gravada na memória colectiva da geração 'millennial'.

O sucesso dos 'Tous' foi, aliás, tal que a colecção gozou, à época, de uma segunda série e, três décadas mais tarde, de um 'reboot', pela mão da Paniniem que a carismática personagem verde se via envolvida em acções mais actualizadas - como participação nas redes sociais, entre outras – como forma de aliciar a nova geração digital. No entanto, para os seus antecessores, foram mesmo aquelas duas séries de inícios dos 'noventa' – num total de cento e quinze cromos, cinquenta da primeira série e sessenta e cinco da segunda – que deixaram 'marca', a um nível a que, poucos anos mais tarde, apenas promoções bem mais elaboradas e publicitadas (como os Tazos ou os Pega-Monstro) conseguiriam almejar, tendo mesmo sido recordada por Nuno Markl num episódio da sua 'Caderneta de Cromos'. Como reza o adágio dos Corn Flakes da Kellogg's, 'o original é sempre o melhor' – e, no caso dos 'Tous', tal afirmação só se pode considerar verdadeira.

22.06.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Para quem já nasceu (ou cresceu) num Mundo quase totalmente digital, os simples prazeres que deleitavam as crianças e jovens das gerações anteriores podem parecer estranhos e até caricatos; tal como a geração 'Millennial' teve dificuldade em compreender o apelo de alguns dos jogos, brinquedos e brincadeiras que encantaram os seus pais, também a actual Geração Z ficará, certamente, a ponderar qual o interesse de um pequeno bocado de cartolina com uma imagem desenhada, sobre o qual se coloca uma peça de plástico para fazer a dita imagem ganhar cor.

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As duas 'fases' do efeito (crédito da foto: Ainda Sou Do Tempo)

E, no entanto, foi essa a premissa de uma das mais memoráveis promoções do Bollycao, lançada na ponta final da década de 80 e que subsistiria até aos primeiros anos da seguinte – as 'Janelas Mágicas'. Apesar de simples ao ponto de a sua premissa ter sido explanada em uma frase do parágrafo anterior, estes brindes fizeram as delícias de toda uma geração de crianças, ainda a alguns anos de terem a sua vida mudada para sempre pelos Pega-Monstros, Tazos, Matutolas e restante panteão de brindes inesquecíveis da Matutano, Panrico, e restantes marcas explicitamente dirigidas à sua demografia.

De facto, esta foi uma das primeiras ofertas tentadas por qualquer das duas marcas, sucedendo à pioneira colecção dos 'Tous', que também aqui terá, em tempo, o seu espaço; e a verdade é que, apesar de não ter feito o mesmo sucesso (até por o seu apelo ser menos generalizado, e mais especificamente dirigido a um público infantil, ainda passível de se deixar fascinar com tais efeitos) a colecção não deixou, ainda assim, de ser icónica para um certo segmento da demografia em causa, para quem o acto de deslizar aquele bocadinho de plástico por cima da imagem monocromática e a fazer ganhar cor nunca perdia o encanto ou o fascínio.

Escusado será dizer que uma promoção nestes moldes estaria, hoje em dia, destinada ao fracasso. Se algo como os Pega-Monstros ou até os Tazos ainda poderia suscitar o interesse dos jovens de hoje, com a sua vertente competitiva e algo intemporal, este é um conceito bem mais restrito a um tempo pré-digital, em que a tecnologia ainda era algo caro, raro e definitivamente 'para adultos'; para uma geração que vê efeitos mais fascinantes do que este de cada vez que liga o telemóvel, esta oferta teria um interesse praticamente nulo. Para a geração que os antecedeu, no entanto, passava-se precisamente o oposto, sendo que ainda haverá, certamente, algumas destas 'Janelas' 'esquecidas' em gavetas de quartos de infância de Norte a Sul do País...

01.06.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

A segunda metade da década de 90 traziam, entre a juventude portuguesa e não só, um renovado interesse na franquia 'Star Wars' (ou 'Guerra nas Estrelas') devido à combinação de um novo 'box-set' dos três filmes então disponíveis (a primeira a contar com as hoje infames alterações e 'melhoramentos' póstumos feitos pelo realizador George Lucas) e da estreia de um novo capítulo da saga (o quarto, ou antes, o 'primeiro') que fazia salivar os aficionados da trilogia original. Assim, não é de todo de estranhar que uma das principais companhias comerciais ibéricas – conhecida, aliás, pelos seus icónicos brindes – quisesse aproveitar o 'embalo' para aliciar os jovens portugueses e espanhóis a consumirem os seus produtos, através de uma promoção subordinada à franquia espacial.

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Tratava, claro está, da Matutano, que, por essa altura, inseria nos seus pacotes de batatas e 'snacks' os chamados 'mini-filmes' – na verdade, células translúcidas a imitar negativos de cinema, cada uma com uma imagem de um dos filmes originais, que podiam ser simplesmente armazenadas na inevitável caderneta (mais elaborada que o habitual, e repleta de fotos e desenhos alusivos à série) ou visionados numa estrutura própria, adquirida à parte, e que se assemelhava a uma versão bem menos sofisticada do tradicional ViewMaster de décadas anteriores - ou não fosse feita de papel e cartão, e construída mediante o tradicional método de 'corte e colagem'.

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A caderneta e o visionador de micro-filmes .

Infelizmente, ao contrário do que acontecia com os icónicos Tazos, Pega-Monstros e Matutolas – ou até com algo como as Caveiras Luminosas – não havia muito para fazer com estes micro-filmes a não ser admirá-los, já que os mesmos não traziam qualquer aspecto interactivo, nem habilitavam o proprietário a quaisquer prémios, como as Raspadinhas ou o Jogo do 24, sendo o único factor distintivo dos mesmos a ligação ao 'franchise' de Lucas. Talvez por isso tenham sido das colecções menos recordadas de entre as várias sugeridas pela Panrico e Matutano à época, o que não impede que façam parte da memória nostálgica de quem era fanático pela 'Guerra das Estrelas' e ávido consumidor de batatas fritas naquela segunda metade da década de 90.

11.05.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Qualquer cidadão nacional que tenha tido a sua infância e adolescência entre finais da década de 80 e inícios do Novo Milénio concederá, sem grandes hesitações nem celeumas, o título de 'rainha dos brindes' à Matutano. Com promoções tão memoráveis quanto a das Matutolas, das Caveiras Luminosas, dos Pega-Monstros e, claro, dos lendários Tazos, a companhia de batatas fritas foi responsável por ditar quase todas as 'febres de recreio' daquelas décadas. E dizemos 'quase' porque a Matutano teve, durante esse período, a concorrência constante de três outros tipos de produtos alimentícios: os ovos de chocolate da Kinder, com as suas tradicionais colecções de mini-figuras, os cereais da Kellogg's e Nestlé, e os produtos da panificadora Panrico, responsável por marcas tão populares quanto o Bollycao, os Donuts e as Donettes.

Esta última, em particular, viu várias das suas promoções tornarem-se êxitos entre as crianças e jovens da época, com particular destaque para as icónicas colecções da 'Janela Mágica', na década de 80, e dos 'Tous', no início da seguinte, e para o jogo dos BollyKaos, já nos últimos anos do Segundo Milénio. Pelo meio, no entanto, houve outras promoções que, embora menos memoráveis, não deixaram ainda assim de ter sucesso, sobretudo devido ao seu uso de propriedades licenciadas; destas, destaque para as tatuagens temporárias (as então chamadas 'Decalcomanias') das Tartarugas Ninja, e para o brinde de que falamos hoje – os desdobráveis do Dragon Ball Z.

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(Crédito da foto: OLX)

Oferecidos com os produtos da panificadora algures em 1998 (quando a 'febre' em torno do 'anime' de Akira Toriyama ainda não apresentava sinais de abrandar) os referidos brindes conseguiam a tão almejada união entre custos de produção baixos e grau de apelatividade relativamente alto. Tratavam-se de simples cromos em papel cartonado que eram apresentados dobrados e que, quando abertos, revelavam uma imagem do 'anime', regra geral um 'close-up' de um dos personagens; um conceito tão simples quanto cativante, mas que se via severamente afectado pela fragilidade do material, que começava a rasgar ao mínimo toque mais intenso. Assim, por muito entusiasmante que fosse desdobrar o brinde e ver a imagem na sua plenitude, o processo tornava-se também, inevitavelmente, frustrante, sendo necessário passar quase tanto tempo a tentar que o brinde não se desfizesse quando manuseado como a apreciar a própria imagem.

Por essas e outras razões, torna-se difícil, à distância de um quarto de século e num contexto social completamente distinto, perceber como algo tão 'mal-amanhado' e básico conseguiu entreter e até entusiasmar fosse quem fosse; na conjuntura do ano em que o brinde foi lançado, no entanto – com a 'febre' do Dragon Ball Z ainda ao rubro e as novas tecnologias ainda numa fase muito mais incipiente – estes quadrados de frágil cartolina eram mesmo capazes de proporcionar alguns minutos de lazer, após o consumo de um Bollycao, a mostrar aos amigos, familiares ou colegas de escola o cromo adquirido, e a admirar a imagem nele impressa. Um bom exemplo de como a sociedade mudou nas últimas três décadas, e que certamente trará memórias nostálgicas a quem alguma vez tentou (ou conseguiu!) coleccionar os quarenta desdobráveis da série, á base de muitas semanadas repetidamente gastas em 'calorias más' no café do bairro ou bar da escola.

 

20.04.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Apesar de ter a forte concorrência da Panrico e dos cereais Nestlé e Kellogg's, nenhum cidadão português nascido entre as décadas de 80 e 2000 disputará o título da Matutano como rainha dos brindes promocionais e 'febres' de recreio de finais do século XX e inícios do seguinte. Dos inesquecíveis e icónicos Tazos às Matutolas, passando pelos Pega-Monstros e Caveiras Luminosas, foram tantas e tão memoráveis as promoções das “batatas” durante esse período que, a dado ponto, qualquer conceito que a Matutano tocasse se transfornava em sucesso garantido – mesmo que envolvesse algo tão pouco atrante para a demografia-alvo como a Matemática.

Ainda assim, muitas vezes, a magnata dos “snacks” salgados em Portugal escolhia não arriscar, e investir num conceito já testado em outros ambientes e circustâncias, e simplesmente adaptado à realidade das batatas fritas e salgadinhos. Foi o caso com uma promoção de finais dos anos 90, hoje algo “eclipsada” pelos clássicos elencados acima, mas que não deixou, ainda assim, de fazer furor à época do lançamento: as “Raspadinhas” Matutano.

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(Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)

De conceito aparentemente semelhante ao do jogo de sorte promovido pela Santa Casa da Misericórdia, esta versão do popular “cartão de raspar” funcionava de modo ligeiramente diferente: ao invés de tentar encontrar ou alinhar três símbolos iguais, o jogador era desafiado a encontrar o “caminho” para o prémio contido em cada cartão. Para esse efeito, era necessário ir “raspando” as diferentes casas, e esperar que as setas contidas por baixo de cada uma delas permitissem continuar o caminho em direcção ao tão cobiçado objectivo, o qual, normalmente, se traduzia na obtenção de um segundo pacote de batatas inteiramente grátis – o que, convenhamos, era um prémio mais que apetecível para o público-alvo do jogo!

Infelizmente, a versão da Matutano para o jogo da “Raspadinha” continha uma enorme lacuna, rapidamente explorada pela maioria dos jogadores – nomeadamente, o facto de os cartões serem translúcidos, permitindo ver a sua própria “solução” quando postos contra uma fonte de luz apropriada. Escusado será dizer que havia pouco quem não tirasse partido desta “manha”, a qual não seria, decerto, apreciada pelos donos de estabelecimentos alimentícios da época, pela quantidade de pacotes de “graça” em que se traduzia...

Mau-grado esta fraqueza – ou talvez por causa dela – as Raspadinhas Matutano tiveram um nível de sucesso suficiente para justificar novas séries, como o Jogo da Moeda – que propunha a raspagem de quatro de entre dez mãos, com o intuito de fazer coincidir o valor da aposta com os números nelas contidos, sem “rebentar” - ou uma colecção tematizada em torno da série Guerra das Estrelas/Star Wars, que regressava naquela época ao cinema com pompa e circunstância, com a primeira de três “prequelas”.

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O Jogo da Moeda, sucessor da raspadinha nos pacotes da Matutano. (Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)

Nenhuma destas continuações teve, no entanto, o impacto da original, levando a que a Matutano explorasse outro tipo de alternativas em promoções subsequentes; a série original, no entanto, afirma-se ainda hoje – merecidamente – como um dos 'clássicos menores' do período hegemónico da companhia, em que cada nova promoção (incluindo esta) parecia apenas cimentar mais o nome da marca junto de toda uma geração de crianças.

01.04.23

NOTA: Este post é correspondente a Quinta-feira, 30 de Março de 1998.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

O tema de brinquedos ou diversões simples que entretinham durante horas as crianças dos anos 90 é já uma temática recorrente, cujos representantes vão dos balões aos Pega-Monstros. A essa lista, onde já se incluem muitos artigos promocionais recebidos em pacotes de batatas fritas ou Bollycaos, há agora que juntar mais um artigo, que qualquer criança da época terá tido (por vezes até em mais do que uma instância) e que, pela sua omnipresença (até mais do que pelas memórias criadas) se tornou nostálgico: o tradicional 'puzzle de deslizar'.

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Constituído por uma imagem 'cortada' em quadradinhos inseridos num caixilho, do qual também constava um espaço vago, o objectivo destes jogos era precisamente o mesmo dos 'puzzles' de mesa, ou seja, reorganizar as peças de forma a criar um desenho coerente; a diferença prendia-se com o facto de que, neste caso, a solução passava não por adicionar peças recortadas umas às outras, mas em deslizar os diferentes quadrados para a posição correcta. Para tal, era necessário tirar proveito do referido espaço vago, para onde se 'empurravam' as peças desnecessárias que se encontrassem a impedir a 'passagem' das pretendidas, numa mecânica algo semelhante à do popular jogo de computador 'Sokoban'. Esta missão, no entanto, era bem mais difícil do que inicialmente parecia, sendo que apenas os mais pacientes e dedicados tendiam a completar em pleno este tipo de puzzle, enquanto os restantes desistiam após largos minutos de frustração, os quais tendiam a resultar, no máximo, em meia imagem completa, com a metade inferior ainda desorganizada e desordenada.

Ainda assim, pelo desafio que propunham e pelo facto de estarem entre os 'brindes' mais comuns de finais do século XX, estes 'puzzles' não deixaram de marcar a infância e juventude de toda uma geração, a quem este 'post' terá, sem dúvida, trazido memórias de passar 'que tempos' às 'voltas' com os mesmos, sem conseguir perceber como os resolver, antes de a frustração os fazer abandonar o desiderato em favor de uma brincadeira mais simples...

09.03.23

NOTA: Este 'post' foi inspirado pelo vídeo da ZombiTV, que nos recordou destas e de outras 'quinquilharias' lançadas pela Matutano durante a sua fase áurea nos anos 90.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Os brindes das batatas fritas, cereais, Bollycao ou até iogurtes estiveram entre os aspectos mais marcantes da infância da geração nascida e crescida nas décadas de 80 e 90. Dos brindes dos ovos Kinder (que aqui terão o seu momento) aos pioneiros 'Tous' e 'Janelas Mágicas' do Bollycao a promoções lendárias como a dos Pega-Monstros, a dos Tazos, a das Matutolas ou a das Caveiras Luminosas (todas da Matutano) ou ainda o jogo dos Bollykaos, foram inúmeras as 'quinquilharias' que encheram os bolsos e o coração dos 'putos' daquela época, e que ainda hoje são recordadas com afeição e nostalgia por essa mesma demografia, pelos momentos divertidos que lhes proporcionaram.

No entanto, nem todos os brindes desse período da História são recordados apenas por serem 'tralhas giras' para trazer no bolso ou na mochila. Existiu, também, outro tipo de prémio, que se pautou sobretudo pela novidade e diferença em relação ás estratégias adoptadas pela 'concorrência' – e, em final dos anos 90 (mais concretamente em 1998) a Matutano lançou aquele que se tornaria o principal exemplo deste género de brinde: o jogo do '24'.

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E a verdade é que a 'febre' em torno desta promoção em particular é difícil de explicar, já que um jogo que propõe a realização de operações matemáticas (mesmo em troca de prémios) não seria, à primeira vista, o mais apelativo para a população infanto-juvenil; o '24', no entanto, superou todas as expectativas, cativando a imaginação (e desafiando a inteligência) da mesma geração de jovens portugueses que, anos mais tarde, embarcaria na 'onda' do Sudoku.

O conceito do jogo da Matutano é, aliás, bastante semelhante ao do popular 'puzzle' numérico, passando o objectivo por conseguir obter um resultado igual a '24' com os quatro algarismos contidos em cada cartão; para isso, era permitido a cada jogador utilizar qualquer das quatro operações matemáticas, devendo o mesmo depois explicar o seu raciocínio.  Um exercício que, até então, parecia mais adequado às aulas de Matemática do que ao recreio, mas que, surpreendentemente, conseguiu tracção entre a demografia-alvo de alunos do segundo e terceiro ciclos do Ensino Básico, talvez por apelar à vertente competitiva e 'exibicionista' própria dessa idade – afinal, quem não gosta de se gabar que é mais esperto que os amigos, e de o conseguir depois provar cabalmente?

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Exemplo de um dos cartões do jogo.

Fosse qual fosse o motivo, a verdade é que o jogo do '24' rapidamente se tornou um 'aliado' dos professores de Matemática, que conseguiam fazer dele uma aula tão produtiva quanto divertida, que ajudava efectivamente os alunos a praticar o cálculo mental e consolidar conceitos como o das fracções – uma frase que, certamente, poucos esperariam ler no contexto de um brinde das batatas fritas!

Como havia sucedido com todas as outras 'febres' efémeras, no entanto, também o tempo do jogo do '24' chegou ao fim, assim que a Matutano engendrou e lançou a promoção seguinte. Ainda assim, quem foi da idade certa naqueles idos de 1998 certamente terá memórias de tentar resolver as 'contas' que saíam nas batatas, e de assim aprender Matemática sem nunca suspeitar de nada – um feito que apenas vem comprovar o génio desta icónica promoção da Matutano, e o poder influenciador que a companhia tinha entre os jovens daquela época.

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