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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

03.04.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-Feira, 2 de Abril de 2025.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Em tempos, falámos neste 'blog' da apetência dos jovens portugueses por animais exóticos durante a última década do século XX, e do risco e crueldade acidental que esse gosto acarretava. Se as iguanas e araras eram a face mais visível do sofrimento desse tipo de animal, no entanto, outro havia cuja 'adopção' (inevitavelmente temporária) se poderia também considerar quase uma 'pena de morte', por motivos de infeliz ignorância de quem o levava para casa.

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Falamos dos grilos, vendidos na Primavera de Norte a Sul de Portugal, em pitorescas e multi-coloridas gaiolas que não deixavam de atrair o 'olho' sempre atento da pequenada (e, em muitas ocasiões, apanhados pelos próprios jovens na natureza circundante). O problema, no entanto, era o mesmo que, à época, assolava os peixes 'betta' – nomeadamente, o desconhecimento dos requerimentos mínimos para cuidar de um animal destes, o que levava muitos 'donos' a deixarem os pobres insectos na mesma gaiola onde haviam sido adquiridos, e que mal permitiam ao animal mexer-se. O resultado era a inevitável redução, a breve trecho, do número de grilos em cativeiro, e consequente desgosto do jovem proprietário, que decerto antevira um período de pelo menos alguns meses com o seu novo animal de estimação.

Felizmente, este é mais um caso em que as novas sensibilidades para com as necessidades dos animais nutriram resultados, já que o comércio de grilos em cativeiro rapidamente se reduziu, estando hoje 'arredado' do Portugal moderno, e subsistindo apenas em locais como a China. Uma vitória clara para a ecologia e os direitos dos animais, e para a sobrevivência dos grilos enquanto espécie, que ninguém porá em causa ou contestará, por mais atractivas que fossem aquelas 'gaiolinhas' da infância...

20.03.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-Feira, 19 de Março de 2025.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Quem frequentava a Feira Popular de Lisboa certamente os terá visto em exposição, e quiçá até comprado ou ganho um, ainda que, como prémios, fossem daqueles que requeriam uma combinação de esforço, dinheiro e sorte fora do alcance da maioria dos visitantes; é, mesmo, possível que os tenham tido em casa, já que constituíam uma decoração estranhamente comum entre um certo segmento da população portuguesa da altura. Falamos dos cães de loiça, aquelas estátuas algures entre a representação realista e a caricatura perturbante que marcaram as décadas de 80 e 90 em Portugal.

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Exemplo dos vários tamanhos em que estas estátuas se encontravam disponíveis. (Crédito da foto: OLX)

É pouco claro como a moda teve início, ou quem a fomentou, embora possam ser tecidas algumas conjecturas, a maioria relacionadas com figuras públicas de apelo popular; seja qual for a sua origem, no entanto, a verdade é que os cães de louça (das mais variadas raças, e alguns até com elementos de fantasia a nível do colorido ou das marcas no pêlo) marcaram mesmo época, surgindo em muitos 'halls' de entrada e salas de estar de Norte a Sul de Portugal, normalmente a 'montar guarda' a jarrões, lareiras e outros elementos da mesma índole, sem que nunca se percebesse bem a razão do seu apelo generalizado. Isto, claro está, no caso das versões em 'tamanho real', já que existiam também outras em tamanho reduzido, perfeitas para utilizar como 'bibelot' em cima da referida lareira ou na prateleira da sala.

Tal como outras modas de que aqui vimos falando, também esta desapareceu tão abruptamente e sem explicação como havia surgido, 'refém' das tendências de decoração de casas e de uma certa evolução no 'gosto' do português médio das gerações 'X' e 'Millennial' relativamente aos seus pais e avós. Ainda assim, os cães de louça perduraram tempo suficiente para serem 'homenageados' pelo comediante-cantor Rouxinol Faduncho, numa faixa gravada em 2006, e – sejamos honestos - restam poucas dúvidas de que, algures no nosso País, existam ainda um sem-número de casas com estátuas deste tipo, talvez herdadas das referidas gerações mais velhas, e destinadas a montar guarda perpétua a um qualquer canto da casa, como o vêm fazendo desde há mais de três décadas...

07.03.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-Feira, 5 de Março de 2025.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

A política portuguesa era, nos anos 90, ainda mais bipartida do que o é hoje em dia, com o Partido Socialista e o Partido Social Democrata a monopolizarem e dividirem quase por igual a base eleitoral, e o CDS-PP e o PCP a desempenharem papéis tão periféricos quanto os que têm hoje em dia. Há quase exactos vinte e seis anos, no entanto – em Fevereiro de 1999 – tudo isso viria a mudar, com a introdução no panorama político nacional de uma nova força, praticamente trabalhada para 'cair no gosto' da população mais jovem (sobretudo a de pensamento menos conservador) e lhe oferecer uma alternativa aos mesmos dois partidos de sempre na hora de 'votar de cruz'. É esse partido – ainda hoje existente, mas já longe da força que outrora teve – que recordamos neste 'post', numa altura em que Portugal se debate, mais uma vez, com a perspectiva de uma crise política e de eleições.

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Falamos, é claro, do Bloco de Esquerda, o qual, como o nome indica, resulta de uma coligação de pequenos partidos de ideologia comunista, marxista e trotskista praticamente sem expressão, que conseguiram assim uma muito maior visibilidade e, consequentemente, uma plataforma parlamentar bastante mais alargada do que de outra forma teriam – situada, no espectro político, apenas muito ligeiramente à 'direita' do Partido Comunista, com o qual partilhavam a preocupação pelos direitos dos trabalhadores, em torno dos quais assentava a sua ideologia. Na verdade, a nova coligação quase podia ser vista como uma 'versão jovem' do PCP, menos estagnada e presa a ideais e ideologias Abrilistas, e mais focada em problemas do dia-a-dia, muitos dos quais relevantes para a demografia mais jovem, e que lhe valeram a atenção da mesma – algo que o BE não fazia quaisquer pretensões de ignorar, com a sua ideologia abertamente a favor da legalização da marijuana, as campanhas baseadas em banda desenhada institucional, e o apoio declarado de artistas como os Da Weasel.

Foi, aliás, esta atitude mais 'descontraída' e de mente aberta que posicionou o Bloco como o 'partido jovem' do Portugal da viragem do Milénio, não apenas em tempo de vida, mas também no tocante à ideologia e valores; no fundo, uma espécie de precursora da Iniciativa Liberal, mas situada no pólo oposto do espectro – onde a IL é vista, hoje em dia, como um partido de 'betinhos', o BE atraía, sobretudo, jovens no extremo mais 'alternativo' da sociedade, mais politizados e com gostos e hábitos culturais diversos do do cidadão comum. Tal associação levou, por sua vez, a que o novo partido não fosse, de início, levado tão a sério como talvez fosse desejável, embora esta situação rapidamente se tenha resolvido, e de forma positiva, com o Bloco de Esquerda a encontrar e ocupar confortavelmente o seu espaço no panorama político português, sobretudo após a ascensão de Francisco Louçã como líder – uma personalidade carismática e que, apesar de decididamente 'maduro', por vezes, quase parecia um dos jovens que constituíam o eleitorado do seu partido. Seria, aliás, sob a sua alçada que o BE partiria para mais de uma década de sucesso político, em que conseguiu suplantar partidos bastante mais históricos e enraizados, e tornar-se a terceira força política no País, atrás dos dois 'suspeitos do costume'.

Infelizmente, mais de um quarto de século volvido sobre a sua fundação, a situação do Bloco é diametralmente oposta, tendo não só perdido a posição no 'pódio' político – para o Chega!, de André Ventura – mas também muita da força que outrora apresentara, por culpa de ideologias confusas e diluídas, que procuram continuar a agradar a uma demografia jovem, mas ficam longe do sucesso dos primeiros anos do partido. É, assim, a referida Iniciativa quem hoje mais atrai o voto jovem, com o BE a ser pouco mais do que uma sombra da coligação fundada nos últimos meses do século XX, e a não passar de mais um conjunto de vozes redundantes no panorama nacional; um 'fim anunciado' algo triste para um partido que, à data da sua fundação e durante os anos seguintes, pareceu representar uma alternativa verdadeiramente viável à dicotomia que tem vindo a reger e 'orquestrar' a democracia liberal portuguesa desde a sua instauração, a 25 de Abril de 1974.

21.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 19 e Quinta-feira, 20 de Fevereiro de 2025.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Podiam vir da livraria ou da tabacaria ou quiosque, e ser mais focados em conteúdos educacionais ou oferecer um pouco mais de diversão pura e dura; em qualquer dos casos, constituíam um ponto alto no dia de qualquer criança, sendo capazes de proporcionar várias horas divertidas após um dia de escola, ou mesmo durante um fim-de-semana. Falamos, claro está, dos livros com autocolantes, uma daquelas diversões intemporais e transversais a, pelo menos, as últimas três gerações, da qual falaremos em mais um 'post' duplo no Anos 90.

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Exemplo moderno do conceito em causa.

Diferentes das tradicionais cadernetas de cromos por não fomentarem o aspecto social ou coleccionista (sendo, na maioria dos casos, auto-contidos) estes livros funcionavam, no entanto, num contexto algo semelhante, oferecendo aos jovens leitores cenários e temas sobre os quais aplicar os autocolantes fornecidos em conjunto com o livro, os quais diziam, por sua vez, respeito a esse tema. Assim, um livro sobre animais teria provavelmente como fundo de página um cenário natural ou um jardim zoológico sobre os quais colar os autocolantes de 'bicharada', outro sobre viagens poderia ter estradas, portos ou aeroportos nos quais colocar carros, barcos ou aviões, ou focar-se em destinos como a praia ou o campo, cada qual com o seu grupo de autocolantes decorativos. As crianças eram, assim, incentivadas a relacionar elementos entre si de modo a que fizessem sentido, dando à experiência um aspecto didáctico que complementava a diversão inerente a um destes tomos – afinal, qual é a criança que não gosta de aplicar autocolantes aos mais diversos sítios?

Talvez por este misto de simplicidade, didatismo e apelo directo aos gostos do público-alvo, os livros com autocolantes mantêm-se 'em alta' entre as camadas mais jovens da população até aos dias de hoje, sendo ainda relativamente fáceis de encontrar nos mesmos meios que os vendiam algures há três décadas – um paradigma que, ao contrário da maioria dos que aqui vimos relembrando, não se prevê que mude num futuro próximo. Afinal, por muito avançado que seja no momento presente, o meio digital não é, ainda, capaz de reproduzir a sensação única de destacar um autocolante da respectiva folha e, com ele, 'embelezar' o cenário proposto na página, e que já há vários minutos vem 'puxando' pela imaginação...

05.02.25

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Hoje em dia, descobrir a melhor trajectória rodoviária entre dois pontos implica, tão simplesmente, activar o GPS e acreditar que o mesmo vai ter em conta obstáculos como estradas sem saída ou cursos de água; em finais do século passado, no entanto (antes do advento de tais tecnologias) tal objectivo requeria o recurso a um elemento indispensável em qualquer veículo pessoal à época, e presença obrigatória em qualquer porta-luvas ou bolsa adjacente ao lugar do passageiro – o clássico mapa rodoviário.

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Oferecendo uma diagramação exacta das estradas, localidades e obstáculos naturais quer de todo um país, quer de apenas uma área restrita, estes mapas eram, regra geral, criados pelas instituições estatais ligadas ao trânsito rodoviário ou, em alternativa, por entidades privadas dentro do mesmo ramo (no caso nacional, o Automóvel Clube de Portugal) e tomavam a forma de um panfleto grosso, o qual se desdobrava infinitamente até se transformar numa gigantesca folha de tamanho A0, repleta de linhas e cores, e onde quaisquer dois pontos pareciam estar a apenas um 'saltinho' de distância um do outro. Não é, pois, de admirar que os mesmos constituíssem objectos de fascínio para as crianças da época, capazes de passar longos minutos a traçar, com o dedo, rotas desejadas ou imaginárias entre localidades, ou a tentar adivinhar por onde se desenrolaria a sua própria viagem daquele dia – pelo menos até o condutor ou o passageiro 'pendura' precisarem de consultar o mapa, e o mesmo ter de ser novamente cedido para desempenhar a sua funcionalidade primária. Pior, mesmo, era voltar a dobrar correctamente aquela 'imensidão' de folhas, acabando a maioria dos mapas rodoviários por ficar 'do avesso', com a parte das estradas para fora e a capa e contracapa escondidas no interior...

Conforme referimos no início deste texto, o aparecimento dos GPS (e, mais tarde, dos mapas na Internet) veio tornar obsoletas as versões em papel; no entanto, os mapas rodoviários nunca desapareceram completamente, pelo que é bem possível que, algures, uma família recorra ainda a um dos mesmos para se orientar durante uma Saída de Sábado ou viagem de férias, e que, no banco de trás, as crianças da mesma se entretenham a tentar traçar o caminho até ao seu ponto de chegada, tal como faziam os seus pais quando tinham a mesma idade...

22.01.25

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Na última edição desta rubrica, fizemos menção de eventos que, apesar de fora do espectro normal de interesses de uma criança ou adolescente, têm impacto suficiente a nível social para lhe ficarem, ainda assim, na memória. Nessa ocasião, mencionámos efemérides como a Guerra do Golfo, a transferência de poderes sobre Macau, a guerra EUA-Iraque ou o 11 de Setembro de 2001; agora, há que juntar à lista um outro evento, que os 'millennials' mais velhos (e 'X' mais novos) certamente recordarão, e que atingia o seu clímax há pouco mais de vinte e cinco anos, obrigando à intervenção dos famosos 'boinas azuis' das Nações Unidas.

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Falamos da invasão de Timor-Leste pela Indonésia, a qual, nos anos a que este 'blog' diz respeito, se arrastava já há mais de duas décadas, sem sinais de abrandar, causando a devastação do ecossistema e infra-estruturas da área leste daquela ilha do sudeste asiático, e levando à morte de um número estimado de entre cem a cento e oitenta mil pessoas, parte mais do que significativa da população da ex-colónia portuguesa. Iniciada como confronto directo entre tropas governamentais indonésias e grupos rebeldes timorenses (uma vez deposto o governo popular deste último país), a situação rapidamente escalou para uma guerra fria, pontuada aqui e ali por violentos confrontos entre as duas facções.

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Forças guerrilheiras timorenses.

Durante os anos 80, no entanto, a situação voltou a agravar-se, tendo a frente popular timorense encontrado tanto um líder como um símbolo, na pessoa de Xanana Gusmão, que lideraria o esforço de resistência até à sua captura, em 1992. Os líderes que lhe sucederam pouco melhor sorte teriam, e as forças guerrilheiras foram, progressivamente, perdendo força, à medida que confrontos cada vez mais violentos as dizimavam. Em finais dos anos 90, as tensões eram já tais que as Nações Unidas se viram obrigadas a intervir, enviando forças de paz para a ilha.

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Xanana Gusmão, o rosto da resistência timorense.

Justamente quando tudo parecia perdido, no entanto, o novo presidente indonésio (sucessor de Suharto, 'rosto' da invasão e do invasor) decidiu, sem que nada o fizesse prever, permitir a realização de um referendo para definir se Timor-Leste seria independente, ou apenas 'região autónoma' anexada à Indonésia, como sucede com os arquipélagos ao largo da costa portuguesa. Realizada no Verão de 1999, esta votação teve, previsivelmente, um resultado esmagadoramente a favor da independência do território, o qual viria a ser ratificado em Outubro, com a independência a entrar em efeito a partir de 2002, e a pôr, efectivamente, fim a mais de um quarto de século de luta, que deixara em escombros mais de quatro-quintos da infraestrutura do território e morta grande parte dos seus habitantes. E ainda que, outro tanto tempo volvido, o conflito não passe já de uma triste memória, a mesma encontra-se, ainda assim, indelevelmente gravada na mente de qualquer português que, à época, tivesse idade suficiente para perceber o que se passava, tornando inevitável uma menção neste nosso blog nostálgico, poucos meses após a celebração dos vinte e cinco anos da sua conclusão.

09.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 09 de Janeiro de 2025.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Apesar de, normalmente, as efemérides político-sociais não figurarem em grande escala na vida das crianças e jovens, existem momentos que, de tão importantes ou marcantes, não podem senão ficar indelevelmente gravados na mente até mesmo dos mais jovens – toda a gente se recorda, por exemplo, de onde estava no 11 de Setembro, ou de ver na televisão a Guerra do Golfo ou a do Iraque. A juntar a esta lista há, ainda, o momento vivido há pouco mais de vinte e cinco anos, mesmo ao cair do pano do século XX e do Segundo Milénio, e que via Portugal deixar, pela primeira vez em mais de cinco séculos, de ter definitivamente quaisquer territórios coloniais na região vulgarmente conhecida como Ultramar. E porque deixámos, acidentalmente, passar em branco esta efeméride na data do aniversário em si, nada melhor do que corrigir agora essa situação e, apesar de com um par de semanas de atraso, assinalar o quarto de século da 'cedência' de Macau à República Popular da China, e do encerramento da 'era colonial' em Portugal.

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Vista geral da cerimónia.

Batiam as doze badaladas do dia 19 de Dezembro de 1999 (no horário português) quando o então Presidente da República, Jorge Sampaio, se juntava ao seu congénere chinês no pódio para efectivar oficialmente a transferência de poderes relativos ao território de Macau, que punha termo a um período de quase quatro séculos e meio de domínio português no enclave asiático e deixava Portugal sem quaisquer colónias internacionais, poucos anos depois de findo o atribulado e polémico processo de independência de Timor-Leste, hoje Timor-Lorosae. O Governador macaense, General Rocha Vieira era, pois, forçado a cessar funções, o mesmo sucedendo com os restantes funcionários públicos nacionais no território, que davam assim lugar aos seus congéneres chineses, numa cerimónia que teve honras de transmissão na RTP, então o canal oficial dos assuntos de Estado.

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O General Rocha Vieira, governador português em Macau, entrega a bandeira de Portugal a um oficial chinês, num gesto simbólico de transferência de poderes.

Apesar de amigável, esta transferência de poderes não deixou, ainda assim, de ficar marcada pela controvérsia, nomeadamente em relação a algumas peças de arte presentes nos edifícios governamentais portugueses, que nunca foram devolvidos ao Estado. Ainda assim, no cômputo geral, tratou-se de um processo com fricção mínima – algo bastante necessário após a tensa situação timorense – e que marcou um momento histórico no Portugal contemporâneo, merecendo (e devendo) assim ser recordado numa altura em que se acaba de completar um quarto de século sobre a sua mediática conclusão.

12.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

A época natalícia é, já de si, farta em momentos e motivos de entusiasmo para os mais pequenos, seja em Portugal ou em qualquer outra parte do Mundo ocidental; entre escolher e decorar a árvore, ir ver as iluminações com a família, abrir diariamente uma das portinholas do Calendário do Advento, marcar no catálogo de Natal os presentes pretendidos (ou, nos dias que correm, escolhê-los na Amazon), escrever a carta ao Pai Natal (e visitá-lo no hipermercado). ver pela centésima vez o 'Sozinho em Casa' e fazer as compras necessárias para a ceia – e isto ainda sem contar com quaisquer potenciais festas da escola ou do trabalho dos pais – o mês de Dezembro afirma-se como um dos mais excitantes (a par dos meses de Verão) para as demografias mais novas. É, pois, de questionar se um livro cujos conteúdos consistem apenas e só de (ainda mais) actividades natalícias se afigura como uma boa ideia; no entanto, foi isso mesmo que a Editora Civilização decidiu lançar, em plena Primavera (o livro saiu em Abril!) de há exactos trinta anos, permitindo aos interessados começar a preparar com absurda antecedência o advento de 1994.

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Da autoria de Angela Wilkes, e parte de uma colecção mais alargada que incluía também volumes sobre cozinha e matemática, entre outros, “O Meu Primeiro Livro de Natal” sugere, no subtítulo, “actividades divertidas para fazeres no Natal”, a maioria das quais centradas nos trabalhos manuais, uma maneira simples, singela e divertida de criar bons momentos em família naquela que é a época dedicada, por excelência, à mesma. Da criação dos habituais enfeites típicos da quadra a actividades algo mais originais, são páginas atrás de páginas de actividades que terão, certamente, feito as delícias das crianças das gerações 'X' e 'millennial' com mais apetência para a criação de objectos decorativos. Assim, até por este volume se encontrar, hoje em dia, algo 'Esquecido Pela Net' – sobrevivendo apenas a capa e o nome da autora – não poderíamos deixar de lhe dedicar algumas linhas nesta nossa rubrica mais 'generalista', como forma de assinalar os trinta Natais desde a sua publicação, naquele que era um País significativamente diferente, mas de tradições natalícias praticamente idênticas às dos dias que correm.

28.11.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Muitas obras literárias são geracionais, mas pouco dizem às 'fornadas' subsequentes; outras, no entanto, afirmam-se como verdadeiramente intemporais, logrando entreter, encantar e apaixonar várias gerações de crianças e jovens ao longo de décadas, sem nunca perder a popularidade de que gozou originalmente. É de uma dessas séries que falamos neste 'post' – concretamente, da colecção de livros infantis ilustrados de Dick Bruna, alusivos às aventuras da coelhinha Fifi, hoje conhecida pelo nome original, Miffy.

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Edição moderna de um dos livros da colecção.

Reunindo todos os predicados de um bom livro infantil – histórias quotidianas e intemporais, com lições de moral simples mas importantes, e relatadas de um modo simples, directo e apelativo, apoiado em desenhos estilizados mas repletos de personalidade – a série de livros protagonizados pela coelhinha branca surgiu pela primeira vez nos escaparates portugueses ainda nos anos 80 para, à semelhança do que aconteceu com os livros de Enid Blyton ou as aventuras de Anita, nunca mais os abandonar.

De facto, tal como sucede com a rapariguinha francesa, também a coelhita norte-americana pode, ainda hoje, ser encontrada na maioria das boas livrarias de Norte a Sul de Portugal, em edições praticamente idênticas às lidas e apreciadas pelos membros das Gerações 'X' e 'Alfa', só diferindo mesmo o facto de a protagonista ter 'recuperado' o seu nome original. Significa isso que a qualidade que as referidas ex-crianças (hoje na casa dos trinta a quarenta anos) recordam da sua infância permanece intacta, pronta a ser apresentada a uma nova 'leva' de crianças em idade de alfabetização, e de tornar a coelhinha protagonista (seja sob que nome for) parte das futuras memórias nostálgicas da mesma, tal como o foi para os seus pais.

14.11.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 13 de Novembro de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

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Na última edição desta mesma rubrica, abordámos os 'Atlas' didácticos da Editora Civilização, por direito próprio alguns dos melhores livros didácticos da sua época. No entanto, havia pelo menos uma editora cujo catálogo neste particular rivalizava, senão mesmo superava, até o melhor destes volumes: a Terramar, cujos livros científicos para crianças marcaram época junto da parcela do público infanto-juvenil que gostava de aprender e alargar conhecimentos sobre temas do seu interesse.

Versando sobre todos os temas do costume, como dinossauros ou o espaço, bem como sobre alguns menos comuns ou mais inusitados, estes livros – cujo único ponto em comum era o formato, semelhante ao de um álbum de BD da mesma época – possuíam, invariavelmente, um ou mais pontos de interesse para a demografia-alvo, para além do próprio tema em si. Fossem ilustrações que poderiam figurar numa tirinha de banda desenhada ou actividades interactivas na própria página (como 'janelas' que podiam ser abertas ou rodas que se podiam mesmo rodar), os volumes científicos da Terramar mostravam-se apelativos logo a partir do momento em que eram abertos, conseguindo assim prender o interesse do famosamente volátil grupo a que se destinavam, e justificando várias releituras, quanto mais não fosse para poder novamente 'brincar' com a roda do Sistema Solar ou descobrir o que se escondia por detrás das 'portinholas' cortadas na página.

Infelizmente, apesar da qualidade que demonstravam, estes livros encontram-se, hoje em dia, algo Esquecidos Pela Net, sendo praticamente impossível encontrar imagens dos mesmos sem estar 'armado' com o título ou autor específicos. Também infelizmente, os mesmos perfilam-se, hoje, como produtos do seu tempo, já que os livros didácticos para crianças rapidamente encetariam um processo de extrema simplificação, com maior ênfase na interactividade do que no conhecimento, antes de serem quase totalmente substituídos por meios verdadeiramente interactivos, como o CD-ROM e a Internet. Quem teve a sorte de fazer parte do público-alvo daqueles livros da Terramar de finais dos anos 90 pôde, pois, desfrutar de exemplos do melhor que se fazia no ramo, com um nível de qualidade dificilmente atingível nos dias que correm e que, certamente, lhes terá aguçado ainda mais a vontade de aprender sobre qualquer que fosse o tema em causa.

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