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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.09.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Naquela que teria sido a primeira semana de regresso às aulas para a maioria dos 'putos' dos anos 90, vêm inevitavelmente à memória certas particularidades da vida escolar daquela época. Mas entre as memórias sobre ir comprar mochilas, cadernos, tabuadas e outros materiais, as recordações relativas ao processo de matrícula e as imagens mentais das infindáveis e icónicas circulares, surge também um aspecto algo mais esquecido por essa (agora adulta) geração, mas que, a dada altura do seu desenvolvimento, constituiu um ritual de passagem tão importante quanto o primeiro café ou a passagem de 'menino/a' a 'senhor/a' nas lojas: a obtenção do 'carimbo azul' no cartão escolar.

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Traseira de um cartão escolar português da época; o tão importante carimbo encontrava-se no verso, ou seja, na parte da frente, junto à fotografia.

De facto, numa altura em que os cartões de aluno eram, ainda, impressos em cartão, e isentos de quaisquer funcionalidades digitais, o tradicional processo de carimbagem assumia contornos cruciais para o futuro imediato de qualquer criança ou jovem daqueles finais do século XX. Isto porque a maioria das escolas, sobretudo as dirigidas ao segundo e terceiro ciclos do ensino básico, tendiam a adoptar um sistema dualitário para controlar as entradas e saídas dos alunos, quer após, quer durante as aulas; assim, apenas os alunos cujo cartão estivesse carimbado a azul eram autorizados a transpôr os portões da escola sem a presença de um adulto, sendo os portadores de cartões com carimbo vermelho obrigados a esperar pela chegada de um maior de idade, preferencialmente um dos encarregados de educação.

Não é difícil, mesmo para quem não tenha vivido aqueles tempos, perceber a importância de ser autorizado a ter no cartão o selo azul: não só o mesmo tornava possível acompanhar os amigos à saída da escola (e, quiçá, até regressar a casa totalmente sozinho!) como também sair durante os intervalos ou aquando dos famosos 'furos' – algo que, no caso do autor deste 'blog', permitia ir à drogaria da esquina comprar uma bola para o intervalo seguinte, à papelaria comprar chupa-chupas ou cromos, ou ao café comer um bolo não disponível no bar da escola. Além destas considerações mais práticas, o carimbo azul era, ainda, um sinal de confiança por parte dos pais, com fortes implicações de maturidade – um dos objectivos principais de qualquer criança ou jovem, sobretudo durante os anos da pré-adolescência.

Não é, pois, de admirar que a questão do carimbo no cartão da escola assumisse, durante a presente época do ano, tal importância para os 'putos' da geração 'millennial' portuguesa, sobretudo os residentes em ambientes citadinos, onde havia uma maior preocupação com a segurança por parte das escolas. E apesar de o advento dos cartões magnéticos e electrónicos ter vindo a extinguir por completo a prática em causa, é de acreditar que exista, presentemente, um sistema alternativo, que se revista de tanta ou mais importância para a 'geração Z' quanto um simples círculo estampado teve para a dos seus pais...

23.08.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

De entre os muitos codificadores e elementos que formavam parte de qualquer ida à praia dos anos 80 ou 90, e que hoje se esbateram ou desapareceram, um dos mais saudosos para quem tinha a idade certa naquela época serão, decerto, as avionetes que sobrevoavam certas praias, desfraldando atrás de si 'slogans' publicitários alusivos a fosse que companhia fosse que as tivesse contratado.

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Uma visão entusiasmante para qualquer criança ou jovem noventista.

De facto, era práctica corrente, em certas partes do litoral português de finais do século XX, alugar estes veículos aéreos para, através deles, veicular mensagens publicitárias ou divulgar eventos ou novos produtos. Mas, para além do 'desafio' de tentar ler o que dizia a faixa desfraldada antes de o avião se afastar demasiado, este tipo de iniciativa tinha, para os jovens daquela época, ainda um outro atractivo, ainda mais importante: por vezes, abriam a escotilha inferior e deixavam cair no areal brindes, normalmente bolas e colchões insufláveis ou t-shirts, que alguns 'sortudos' melhor posicionados acabavam por levar para casa, de forma inteiramente grátis.

Por muito aliciantes que fossem, no entanto, estes brindes estavam longe de ser fáceis de conseguir; era preciso não só ser rápido, para chegar à beira-mar antes de os brindes tocarem o chão, mas também ágil, para conseguir 'esgueirar-se' por entre a 'maralha' que pretendia deitar a mão a uma do limitadíssimo número de unidades disponíveis. Escusado será dizer que eram mais as vezes em que o 'puto' comum da época saía de 'mãos a abanar' do que as que tinha sucesso, mas quando tal acontecia, era difícil disfarçar a alegria e o orgulho.

Apesar de eficazes na sua estratégia, é fácil de perceber o porquê de as avionetes publicitárias terem sido 'reformadas'; a conjunção da passagem de quase todas as campanhas para um formato digital com as preocupações ambientais e os custos associados ao aluguer de equipamento, impressão de faixas e criação de brindes - tudo isto para, com sorte, conseguir mais alguns clientes - contribuiu para a obsolescência deste tipo de meio de divulgação, que faria muito pouco sentido no Mundo digital de hoje em dia. Quem lá esteve, no entanto, certamente não esquece a emoção de olhar para cima, ao ouvir aproximar-se um avião durante um dia na praia, e ver que se tratava de um destes veículos publicitários...

09.08.23

NOTA: Por motivos de relevância temporal, esta Quarta será de Quase Tudo. Falaremos de banda desenhada nas próximas duas semanas.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

As Jornadas Mundiais da Juventude, realizadas este ano em Portugal e concluídas no passado Domingo, 6 de Junho de 2023, ficaram marcadas pela visita de Sua Santidade, o Papa Francisco – uma ocorrência que terá feito muitos dos membros das Gerações X e 'millennial' recordar a figura que ambas as gerações aprenderam a associar a esse título durante as duas últimas décadas do século XX e primeiros anos do seguinte - o malogrado e saudoso João Paulo II – e as diversas visitas que o mesmo realizou a Portugal.

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Uma das três visitas do Papa João Paulo II a Portugal.

Foram três as ocasiões em que o homem nascido Karol Wojtila na Polónia dos anos 20 visitou o país à beira-mar plantado, na outra ponta da Europa, e do 'outro lado' de Espanha em relação à sua residência na Cidade do Vaticano (três, se contarmos com a breve escala aérea que aqui realizou em 1983). A primeira, ainda nos anos 80 (em 1982) foi de peregrinação, ao Santuário de Fátima, onde passou três dias, e onde deixou a bala do atentado que quase o vitimara no ano anterior; no entanto, será das duas subsequentes que os leitores deste 'blog' mais certamente se recordarão.

A primeira destas (e segunda no total) deu-se em 1991 – novamente em Maio – e viu, além do regresso ao principal santuário católico português, João Paulo II visitar Lisboa (onde disse uma missa e realizou um encontro com jovens crentes, em pleno Estádio do Restelo) e deslocar-se até às regiões autónomas dos Açores e Madeira, num périplo impressionante para um período de apenas três dias.

Reportagem de época sobre o evento de 1991 no Restelo, em Lisboa.

A última, nove anos depois (já no dealbar do século XXI) e novamente no mês de Maio, durou apenas dois dias e destinou-se, sobretudo, a beatificar os famosos pastorinhos de Fátima, Jacinta e Francisco Marto; no entanto, o então Papa escolheu assinalar esta nova presença com um segundo donativo a Nossa Senhora de Fátima – no caso, o anel que recebera do cardeal Wyszynski no início do seu período como pontificado. Esta terceira e última visita ficou, ainda, imortalizada numa série de selos lançados pelos CTT e alusivos ao Sumo Pontífice.

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O Sumo Pontífice nos Açores, em 1991.

Pouco menos de cinco anos após esta última presença no nosso País, e cerca de seis semanas antes de completar oitenta e cinco anos, em inícios de Abril de 2005, João Paulo II viria a falecer, obrigando à eleição de um sucessor – no caso o alemão Joseph Ratzinger, conhecido como Bento XVI e que, por sua vez, seria sucedido pelo actual Sumo Pontífice, Francisco. Na memória dos jovens portugueses de então ficava, no entanto, a imagem daquele ancião benevolente, de vestes brancas e voz pausada, a percorrer Fátima no característico veículo papal – uma situação que, para a nova geração, terá como protagonista o Papa Francisco, mas que, para os seus antecessores nascidos e crescidos no último quarto do século XX, ficará para sempre associada a João Paulo II.

 

02.08.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Cada época da História tem a sua própria iconografia cultural, que a torna imediatamente reconhecível, e que tende a estender-se a todos os sectores da sociedade. Os veículos não são excepção a esta regra, e até o cidadão menos interessado em motores e potência em cavalos conseguirá elencar uma série de marcas e modelos de automóveis e motas imediatamente associáveis a qualquer período desde a invenção destes meios de transporte. Escusado será dizer que as duas últimas décadas do século XX não foram excepção a esta regra; antes pelo contrário, os anos 80 e 90 representaram, talvez, a última grande era do 'design' experimentalista no sector automóvel, antes de a maioria dos fabricantes seguirem a via da padronização e estandardização. Foi a época do aparecimento do Renault Twingo e da derradeira glória de modelos clássicos de décadas transactas, como o Citroen 'Boca de Sapo', os Renault R4 e R5, os renascidos Volkswagen 'Carocha' e Mini, e, claro, o icónico Citroen 'dois cavalos', o 2CV.

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O último 2CV de sempre foi produzido em Portugal.

Produzido desde finais dos anos 40, o carismático carro de traços angulares – normalmente associado à condução mais 'económica', mas que era também usado como símbolo de personalidade e inconformismo – via, exactos quarenta anos após a sua criação, toda a linha de montagem ser transferida para Portugal, mais concretamente para a zona de Mangualde, onde a Citroen continua a ter a sua fábrica nacional, após o fecho da usina francesa que havia produzido o modelo desde o seu aparecimento. O nosso País teve, assim, a honra de suceder a essa histórica instalação, e, a partir de 1988, seria das nossas fronteiras que sairiam todos e quaisquer 2CV produzidos quer para o mercado interno, quer para o internacional, facto que ajudaria a colocar Portugal, e os seus recursos de produção, no 'mapa' automóvel europeu. No total, foram mais de 42.300 carros criados em apenas dois anos, até a produção do modelo ser descontinuada, há quase exactos trinta e três anos; o último 'dois cavalos', um modelo Charleston especial, ficaria completo a 27 de Julho de 1990.

Curiosamente, os 'dois cavalos' portugueses gozam de uma reputação inferior à dos franceses em países como o Reino Unido, onde a construção e desempenho dos mesmos são criticados, numa corrente de opinião que vai contra a da própria Citroen, que considera estes modelos como estando a par dos franceses em termos qualitativos. Ainda assim, e apesar das críticas, os dois anos em que o 'dois cavalos' foi produzido em solo nacional não deixam de representar um marco para a indústria automóvel portuguesa de finais do século XX, que merece ser lembrado por alturas do seu vigésimo-terceiro aniversário...

 

19.07.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

A natureza, e todos os seus mistérios, exercem tradicionalmente um considerável fascínio junto do público jovem, em Portugal e não só; assim, não é de surpreender que muitas escolas primárias por esse Mundo fora optassem (e continuem a optar) por introduzir um elemento de sensibilização natural nos seus programas lectivos, normalmente por meio de uma 'horta' (ou simplesmente alguns vasos na parte traseira da sala) ou da interacção com um qualquer animal. E ainda que os métodos e pontos de vista em relação a estas práticas se tenham alterado consideravelmente nos últimos anos, em Portugal, em finais do século XX, um projecto deste tipo era quase sempre sinónimo com a criação de bichos da seda.

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As origens desta quase-tradição das escolas básicas portuguesas de então é pouco clara, mas serão poucos os jovens daquela época que afirmem nunca ter tentado manter vivos aqueles bicharocos dentro de uma caixa de sapatos forrada com algodão. Fosse como projecto de turma ou para 'levar para casa', a criação de larvas de 'Bombyx mori' era quase tão comum como a germinação de sementes num frasco (curiosamente, também com recurso a algodão) ou do que aqueles bonecos de estopa com 'cabelo de relva' tão populares na altura (e que também aqui terão, paulatinamente, o seu momento.) E embora a experiência raramente durasse mais do que uns dias (ou, quando muito, alguma semanas)

Tendo em conta a mudança de mentalidades referida no início deste post, não é de estranhar que esta prática tenha caído em desuso; afinal, o espectro de atenção das crianças é notoriamente curto, e muitos terão, certamente, sido os pobres 'bicharocos' sacrificados em prol destas experiências pedagógicas, fosse como resultado de negligência, fosse pela falta dos recursos e ambiente necessários à sua sobrevivência. Assim, tal como sucedeu com a adopção de animais de estimação exóticos, este é um costume cujo abandono acaba por ser positivo – o que não obsta a que o mesmo tenha feito parte integrante do processo formativo e pedagógico de toda uma geração de jovens portugueses...

05.07.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Os últimos dias do mês de Junho e inícios do seguinte representavam um período agridoce para a maioria dos estudantes do terceiro ciclo e ensino secundário de finais do século XX e inícios do Novo Milénio. Isto porque se, por um lado, as férias de Verão estavam à porta (e, muitas vezes, também as respectivas viagens de finalistas) por outro, havia ainda um enorme obstáculo a ultrapassar – nomeadamente, os exames que tendiam a ser marcados para esta época do ano. E se no caso dos finalistas do secundário os mesmos eram de âmbito nacional, já os mais novos eram sujeitos a uma espécie de 'versão de treino', normalmente de âmbito intra-escolar, mas de igual relevância para a sua média final do ano: as chamadas provas globais.

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De conceito exactamente igual ao dos exames nacionais – ou seja, um único teste que compreendia toda a matéria leccionada durante o ano escolar no âmbito daquela disciplina – as provas globais tinham, no entanto, algumas diferenças-chave de significativa relevância: por um lado, não eram criadas pelo Estado, mas sim pelo próprio departamento de professores daquela disciplina pertencentes à escola e, por outro, também não eram revistas por juízes neutros aleatoriamente escolhidos, mas sim pelos colegas do docente que havia criado o teste. Por outras palavras, cada prova global era criada pelo departamento de forma conjunta, e os testes de cada turma eram revistos por um professor que não o habitual daquela turma, de forma a obter uma opinião imparcial e sem 'conhecimento de causa' do contexto de cada aluno dentro da turma em questão. E a verdade é que, tirando ocasionais polémicas (numa das quais o próprio autor deste blog se viu envolvido, durante as provas globais do décimo-primeiro ano) este sistema funcionava de forma bastante eficiente, tendo sido mantido pelo menos durante as décadas de 90 e 2000.

Famosamente, no entanto, a época em causa assinalaria o 'início do fim' das provas globais, já que a eliminação dos 'chumbos' no ensino básico e secundário veio tornar as médias finais de ano praticamente irrelevantes, e o próprio objectivo destas provas obsoleto. De facto, enquanto que um aluno finalista do secundário em 2023 será sujeito sensivelmente à mesma experiência que os seus congéneres da geração anterior, os alunos mais novos (filhos da geração em causa) jamais saberão o que é (era)(foi) uma prova global no final do ano lectivo – pelo menos, não nos mesmos moldes em que os seus progenitores as experienciaram, em que a própria vida parecia depender de um bom resultado. Para estes, no entanto, a simples menção deste termo poderá ser suficiente para trazer à tona uma verdadeira 'enxurrada' de memórias, tanto positivas como negativas, sobre aqueles testes de 'toda a matéria' que tornavam a chegada do Verão algo mais deprimente do que o necessário...

21.06.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Em plena segunda década do século XXI, a escolha de um tarifário na compra de um novo telemóvel (ou simplesmente aquando de uma mudança de operadora) é praticamente um dado adquirido, ao ponto de várias operadoras nem permitirem a compra directa de um telemóvel numa das suas lojas sem que primeiro seja escolhido um tarifário a associar ao mesmo. No entanto, nem sempre foi esse o caso; há trinta anos atrás, a noção de um tarifário pré-pago não era apenas desconhecida, mas sim praticamente inexistente. Curiosamente, este mesmo conceito foi introduzido ao grande público por uma operadora portuguesa, a qual, em meados da última década do século XX, criava o primeiro tarifário pré-pago do Mundo.

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A mascote do tarifário ao lado do pacote básico do mesmo.

Falamos da TMN (hoje MEO) e do seu há muito descontinuado tarifário Mimo, lançado (segundo a maioria das fontes) em 1995, e que muitos dos leitores deste blogue recordarão decerto pela sua mascote – um mimo, naturalmente – e pelo respectivo anúncio que o mesmo protagonizava, estreado em 1998 e que se tornou um dos 'clássicos' da publicidade televisiva noventista.

Um anúncio tão icónico que, qual filme de Hollywood, foi alvo de um 'remake' em 2014, aquando da passagem da TMN a MEO.

No entanto, o verdadeiro 'golpe' do Mimo residia não tanto no seu 'marketing' (embora o mesmo tivesse, sem dúvida, sido marcante) mas antes na possibilidade que oferecia aos seus aderentes de utilizarem o serviço sem recurso a uma subscrição ou mensalidade, efectuando apenas carregamentos de saldo quando necessário, reduzindo assim os custos e abrindo o usufruto do serviço a demografias mais vastas – outro conceito, hoje, praticamente sinónimo com o uso de serviços de telemóvel, mas que à época era perfeitamente revolucionário, tendo ajudado a tornar o Mimo um dos mais populares serviços de comunicações móveis do Portugal de então, ao ponto de, a certa altura durante a segunda metade dos anos 90, 'Mimo' chegar a ser utilizado como sinónimo do próprio telemóvel!

Escusado será dizer que não tardou até a Telecel (hoje Vodafone, e eterna 'rival' da TMN/Meo) lançar a sua própria versão deste tipo de serviço, denominada Vitamina; poucos anos depois, em inícios do Novo Milénio, a própria TMN aperfeiçoaria a 'fórmula' que criara mediante o tarifário PAKO, e o resto é História. Quem, na sua juventude ou hoje em dia, utilizou um dos inúmeros e lendários tarifários de telecomunicações portugueses – dos supramencionados aos mais recentes Moche e WTF – deve essa possibilidade a um certo palhaço mudo, utilizado por uma certa subsidiária da Portugal Telecom, algures no ano de 1995...

07.06.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Apesar de normalmente associada apenas a propriedades intelectuais, mediáticas ou comerciais (filmes, programas de televisão, artistas musicais, brinquedos, mascotes de produtos, etc.) a nostalgia, enquanto conceito, engloba um rol muito mais vasto de áreas. De facto, tudo o que possa causar saudad ou boas memórias, ou induzir a vontade de que volte a existir, pode ser considerado nostálgico. Serve este preâmbulo para explicar o porquê de, esta Quarta de Quase Tudo, irmos falar de produtos de higiene.

Não que seja a primeira vez que tal acontece; numa edição passada desta mesma rubrica, lembrámos o champô para piolhos, e em outro as tradicionais garrafas de espuma de banho em forma de bonecas ou figuras de acção, ou ligadas a uma qualquer propriedade popular entre a juventude. No entanto, esses produtos tinham, conforme mencionado, o atractivo extra da necessidade (no caso do Quitoso) ou da ligação a personagens populares, enquanto que aqueles de que falamos hoje em dia apenas beneficiavam mesmo do facto de existirem em quase todas os lares portugueses durante o período em causa.

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Alguns dos produtos de ambas as gamas.

Falamos dos champôs da marca Foz, e dos respectivos produtos-irmãos, os desodorizantes Lander. Agrupados, neste post, por pertencerem ao mesmo grupo comercial, ambos estes nomes serão por demais familiares a qualquer cidadão português nascido ou crescido ainda no Segundo Milénio, sendo provável que apenas a faixa mais jovem de leitores deste blog não se recorde dos mesmos.

Isto porque, na época a que os nossos textos dizem respeito, ambas as marcas detinham parcelas consideráveis do mercado nos seus respectivos sectores, sendo presença instantaneamente reconhecível nas prateleiras de supermercados e drogarias (ambos precedem ainda a era dos hipermercados) graças às suas características distintivas: no caso do Lander, os frascos em vidro (cada um com um esquema de cores indicativo do respectivo aroma) e no do Foz, as cores vivas e atraentes do próprio líquido - com destaque para o verde da variante de maçã e para o rosa da de alperce – bem como a presença de uma variante de ovo, alimento tradicionalmente associado à saúde e tratamento do cabelo. Quando associados ao nome reconhecível e à verdadeira qualidade apresentada pelos produtos – todos produzidos no nosso País - estes factores eram garantia de vendas, numa época em que a gama de produtos de higiene e cosmética era significativamente mais reduzida do que hoje em dia.

Como consequência, serão poucos os 'putos' de finais do século XX que não se lembrem, pelo menos, de ver estes produtos nas prateleiras dos supermercados, senão mesmo na da casa de banho lá de casa. E apesar de ambos os produtos ainda existirem hoje em dia – presumivelmente, para benefício do público que os usava nos seus tempos áureos – é difícil argumentar contra o facto de ambas as gamas serem, sobretudo, produtos do seu tempo, que marcaram uma época muito específica da sociedade portuguesa e que são, hoje em dia, sobretudo associados com a mesma – o que faz deles tão merecedores de nostalgia como qualquer outro dos já muitos tópicos abordados neste blog...

10.05.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

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O regresso das férias da Páscoa, e início do terceiro período lectivo, eram uma época de grande optimismo por parte dos alunos do ensino básico e secundário de finais do século XX e inícios do seguinte, não só por se ver já a 'luz' do Verão e das 'férias grandes' ao fundo do 'túnel' das aulas, mas também por, na maioria das disciplinas, se atingir por essa altura o mais desejado de todos os marcos lectivos: a mítica lição número cem, conhecida como a única aula, além da primeira do ano, em que era possível disfrutar de um ambiente mais relaxado.

De facto, ainda que a origem exacta desta tradição se perca nas 'brumas' da geração anterior, por alturas da viragem do Milénio, a abordagem à centésima lição de uma disciplina escolar como 'dia de festa' (ou, pelo menos, de descontracção) estava já bem 'entranhada' na mente tanto de alunos como de professores. Claro que havia sempre aquele docente que se regozijava em negar esse momento às suas turmas, fazendo da 'lição mágica' apenas mais uma aula normal, mas na maioria dos casos, esse marco era mesmo assinalado com um interregno ou variação da rotina das aulas – normalmente uma festa, para a qual os próprios alunos contribuíam com comes e bebes, mas, muitas vezes, também com uma aula à base de jogos, dada no exterior, ou simplesmente proporcionando aos alunos uma hora 'livre', na qual descomprimir da esgotante rotina escolar. Assim, não é de estranhar que qualquer jovem da época ansiasse quase o ano inteiro por esta aula, sendo manifesto o seu desapontamento nas disciplinas em que esse número não era atingido.

Com todas as mudanças verificadas tanto no ensino como na sociedade, é incerto que a lição número cem continue a ser um fenómeno nas escolas básicas e secundárias do Portugal de hoje em dia; espera-se, no entanto, que essa tradição não tenha sido apanágio exclusivo das gerações X e 'millennial', e que os 'Z' possam, também, experienciar aquele que foi, para os seus pais e irmãos mais velhos, talvez o momento alto de qualquer ano lectivo.

26.04.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

E porque na última edição desta rubrica falámos das partidas por telefone, nada melhor do que recordar as hoje obsoletas instalações a partir das quais muitas destas brincadeiras eram feitas: as cabines telefónicas.

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Dois exemplos bem típicos deste tipo de instalação.

Essenciais na era pré-telemóveis e Internet, por constituírem o único método de comunicação à distância ou para quem se encontrava fora de casa, as cabines telefónicas tiveram precisamente na última década do século XX e primeira do seguinte o seu período de 'ocaso', em que se foram tornando progressivamente menos comuns, até eventualmente desaparecerem por completo, deixando para trás apenas as cabines em si, já sem a parte 'telefónica', como meros esqueletos (ou ruínas) daquilo que em tempos havia sido parte integrante e importante da sociedade portuguesa.

De facto, durante o seu período de relevância, era possível encontrar nas ruas, cafés, supermercados, estações de transportes públicos e até centros comerciais portugueses mais do que um tipo de instalação deste tipo. Havia os tradicionais 'abrigos' implantados na calçada, sinónimos com a própria denominação dos telefones públicos, mas também as implantadas em pilares com um telefone de cada lado (também, geralmente, no meio da rua) as cabines de parede (com uma divisória a separar cada um do seguinte) e ainda os tradicionais telefones azuis e pretos presentes em qualquer balcão de cafetaria ou restaurante para usufruto dos clientes.

Também os métodos de pagamento e utilização primavam, em finais do século XX, pela variedade, indo das tradicionais moedas (primeiro de Escudo e depois, já no Novo Milénio, de Euro) aos icónicos Credifones, passando pelo pré-pagamento por um determinado número de impulsos, característico dos telefones localizados em estabelecimentos comerciais privados. Independentemente da forma fisica ou de funcionamento, no entanto, todos os telefones públicos tinham em comum a presença de listas telefónicas para referência e a  possibilidade de ligar gratuitamente para certos números de informação ou emergência – uma característica de que, como vimos há um par de semanas, os 'putos' da época usavam e abusavam.

Hoje em dia, é praticamente impossível encontrar uma cabine telefónica em Portugal, sendo um daqueles conceitos que a geração que começa agora a ter filhos terá de lhes explicar de forma puramente teórica, já que as poucas que ainda restam estão, conforme referido acima, reduzidas a 'esqueletos' exteriores, ou foram reconvertidas para outros usos. Tal facto não é, no entanto, surpreendente, já que, hoje em dia, a ubiquidade dos telemóveis tornou este tipo de equipamento perfeitamente desnecessário – e, sem a vertente cultural e tradicional de que gozam, por exemplo, no Reino Unido, era normal que os mesmos tendessem a desaparecer. Ainda assim, quem cresceu naquela época de comunicação menos que instantânea decerto terá tirado considerável usufruto das cabines telefónicas enquanto as mesmas existiram – fosse para contactar os pais durante uma Saída de Sábado, ou simplesmente para 'torturar' uma pobre telefonista, em conjunto com os amigos...

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