10.04.25
NOTA: Este 'post' é correspondente a Quarta-feira, 9 de Abril de 2025.
A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.
Nas últimas duas décadas do século XX, o mercado da banda desenhada em Portugal dividia-se em duas grandes categorias: por um lado, os 'quadradinhos' de quiosque da Disney, Marvel, Turma da Mônica e afins e, por outro, os álbuns encadernados, domínio quase exclusivo dos autores franco-belgas clássicos. De quando em vez, no entanto, um ou outro trabalho mais independente procurava 'furar' esta duologia, fosse ele um álbum ou série de álbuns assinados por um autor emergente ou, como no caso de que aqui falaremos, uma revista destinada a pôr em relevo múltiplos nomes da cena. Era, exactamente, essa a proposta da Crash, um periódico totalmente independente lançado pelas Publicações Totais que, apesar do nome algo 'duvidoso', conseguiram levar às bancas um produto com alguma qualidade, cujo primeiro número celebra este mês trinta anos de vida.
Com foco particular na fantasia e ficção científica (géneros com larga e colorida história em países como os EUA e o Reino Unido, mas pouquíssima expressão em Portugal) a Crash era um projecto de Miguel Jorge, nome já com algum percurso no Mundo das artes gráficas nacionais, após ter colaborado com a revista especializada Art Nove. Apesar do envolvimento deste nome de relevo, no entanto, esta nova publicação – com periodicidade mensal e um custo de capa de trezentos escudos, a média para a época – situava-se no limiar entre revista profissional e 'fanzine' (como é classificada nos poucos 'sites' que a relembram), sendo a sua ética e missão editorias derivadas destas últimas.
De facto, mais do que fazer dinheiro, Miguel Jorge e companhia procuravam dar a conhecer arte – o que pode explicar a pouca expressão que a revista teve, sendo mesmo incerto se terá passado do primeiro número, o único sobre o qual se conseguem ainda encontrar informações. Um caso, talvez, de, como se diz, de boas intenções estar o Inferno cheio – o que não deixa de ser uma pena, já que o objectivo dos editores tinha mérito evidente, e, caso tivesse resultado, a revista em causa poderia ter servido como muito necessária plataforma de lançamento para uma série de artistas gráficos de nicho que haviam tido o 'azar' de nascer e viver em Portugal. Sobram, pois, as referidas intenções, que poderão não ter sido suficientes para 'salvar' a 'Crash', mas a tornam digna de menção por ocasião dos trinta anos do seu primeiro (e talvez único) número.