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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

19.09.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 18 de Setembro de 2024.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui anteriormente dedicámos algum espaço à carreira e obra de Luís Louro, um dos principais nomes da BD nacional contemporânea; e visto que uma das suas obras mais conhecidas completa este ano três décadas sobre o seu lançamento (além de ter temática e nome semelhantes à do filme abordado na nossa última Sessão de Sexta) nada melhor do que gastar agora algumas linhas a falar da mesma.

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Lançado algures em 1994 (a data de 1 de Janeiro veiculada pelo Goodreads não é, necessariamente, fidedigna), 'O Corvo' quase parece uma paródia da BD americana do mesmo nome que viria a inspirar uma série de filmes de acção com clima gótico. Isto porque, em comum com os heróis torturados mas 'durões' d''O Corvo' americano, o protagonista de Luís Louro – carteiro de profissão, introvertido e meio 'xoninhas' – só tem mesmo o nome de código e o estatuto de vigilante mascarado, no caso das ruas de Lisboa. Em tudo o restante, o Corvo português falha em toda a linha, muitas vezes causando problemas e situações mais graves do que aquelas que tentava, à partida, resolver, nas quais se vê, ele próprio, frequentemente envolvido. Uma abordagem puramente cómica, portanto, sem quaisquer pretensões a tornar Vicente num herói 'sério', ficando o mesmo mais próximo do Pato da Capa Preta do que do 'outro' Corvo ou de Batman, inspiração inevitável para qualquer história deste tipo.

É possível que quem não souber à partida que se trata de uma paródia se deixe 'enganar', no entanto, já que as ilustrações dos já sete tomos desta colecção (o último dos quais lançado já este ano) poderiam perfeitamente fazer parte de um 'comic' independente americano, ou de um álbum de BD franco-belga dos mais 'sérios', em nenhum momento dando a entender que tanto o herói como as suas aventuras têm teor cómico. Talvez por isso o produto final resulte tão bem, extraindo o habitual humor inerente a dicotomias deste tipo, e criando um super-herói 'à portuguesa' - com tudo o que isso acarreta – que, apesar da pouca sorte e ainda menor aptidão, se tem conseguido manter no activo há já três décadas, motivo mais que suficiente para que celebremos as suas origens nas páginas deste nosso blog nostálgico.

31.07.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Há exactos trinta e dois anos (que seriam trinta, não fossem os desfasamentos causados pelo COVID-19) desenrolavam-se em Espanha, na cidade de Barcelona, os Jogos Olímpicos de 1992; por essa mesma altura, era lançado nas livrarias portuguesas um álbum de banda desenhada cujo título deixava bem explícito o seu propósito, e justificava igualmente o 'timing' de lançamento por parte da casa editorial responsável, no caso as Edições Asa.

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(Crédito da imagem: CustoJusto)

Da autoria dos franceses André Manguin (texto) e Robert Bressy (desenhos), 'História dos Jogos Olímpicos' oferecia uma versão 'enlatada' do percurso vivido pela competição desde a sua transição para um formato moderno, como o que hoje conhecemos, até à época de publicação original da história, em finais dos anos 70 – um limite já algo desactualizado à data de publicação (houvera já três Olimpíadas desde a criação da história) mas que permitia, ainda assim, oferecer uma perspectiva mais ou menos actualizada da evolução do certame ao longo dos anos. Havia, aliás, razões bastante pertinentes para tal intervalo temporal, já que a primeira publicação da banda desenhada em causa remetia, precisamente, a esse período, tendo a mesma sido apresentada aos leitores portugueses no 'Jornal da BD', ainda nos primeiros meses da década de 80, por ocasião dos Jogos desse ano. As causas da demora de mais de uma década até à edição em álbum perdem-se, infelizmente, nas 'brumas da memória', podendo esta história ter sido lançada num único volume logo nas Olimpíadas de 1984, ou mesmo nas de 1988.

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Uma página da história.

Como diz o ditado, no entanto, 'mais vale tarde que nunca', e a verdade é que os aficionados de banda desenhada com interesse no evento desportivo em causa puderam, eventualmente, desfrutar deste agradável álbum, cujo argumento e desenhos apresentam um nível perfeitamente aceitável e expectável para este tipo de publicação sem grandes 'pressões' para vender, com a arte em particular a situar-se a meio caminho entre as escolas americana e franco-belga (ou não fossem os autores franceses). Um 'prato cheio', portanto, para os 'X' e 'millennials' fãs da competição, e que (àparte a capa 'do seu tempo') se 'aguenta' ainda relativamente bem no contexto actual, podendo constituir um presente interessante para os seus sucessores das gerações 'Z' e 'Alfa', sobretudo numa altura em que muitos deles acompanham em directo as diferentes provas do certame de Paris 2024.

24.07.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

É uma verdade inegável que, de entre todos os personagens da Walt Disney, o Rato Mickey goza do estatuto de 'estrela', tendo desde sempre sido a 'cara' da companhia, e contando-se hoje em dia entre os ícones 'pop' mais reconhecíveis a nível mundial; no entanto, não é menos acertado dizer que o Pato Donald ocupa um segundo lugar muito próximo nessa lista, surgindo à frente de Pateta (o terceiro personagem do 'trio maravilha' da BD Disney) e da própria namorada de Mickey, Minnie. Assim, não é de todo de espantar que, aquando dos dois aniversários marcantes que o pato mais famoso do Mundo celebrou durante os anos 90, a sua editora nacional da altura realizasse uma comemoração 'à altura', tal como fizera por ocasião dos aniversários de sessenta e cinco e setenta anos de Mickey. O resultado foram duas edições comemorativas que – ao contrário do que sucedia com pelo menos uma das do Rato Mickey – valia bem a pena ter na colecção para quem fosse fã da irascível ave aquática de fato de marinheiro.

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A primeira destas, que comemora dentro de um par de dias (a 26 de Julho) o trigésimo aniversário da sua chegada às bancas, era alusiva aos sessenta anos de Donald, e trazia quase duzentas e quarenta páginas com quase duas dezenas e meia de histórias protagonizadas pelo pato aniversariante e seu restante núcleo, com especial ênfase para os seus sobrinhos, catalistas da dinâmica familiar presente em muitas histórias do personagem. Infelizmente, das vinte e quatro aventuras que compunham o volume, a esmagadora maioria era de produção (à época) moderna, tendo sido originalmente publicada em meados da década de 80, o que fazia da edição pouco mais do que um Hiper Disney tematizado em torno do aniversário de Donald. Ainda assim, uma edição de valor para quem privilegiasse o coleccionismo, pese embora o proibitivo preço (quase setecentos escudos, uma 'pequena fortuna' em 1994, sobretudo no tocante a banda desenhada).

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Previsivelmente, muitas das falhas dessa primeira edição eram corrigidas na segunda, saída quase exactamente cinco anos depois, no mesmo mês de Julho (embora a data exacta de publicação não se encontre, neste caso, disponível) e que comemorava os sessenta e cinco anos do pato marinheiro. De facto, apesar de contar com apenas dois terços das páginas da 'irmã mais velha' (menos de duzentas), esta edição tirava o máximo proveito do espaço de que dispunha, apresentando não só uma mistura mais equilibrada de histórias antigas e modernas (com mais de metade – cinco em nove – assinadas por Carl Barks) como também uma estrutura seccionada por temas, cada um deles introduzido por uma página de texto informativo, e ainda uma capa e contra-capa dedicadas e devidamente assinaladas. Medidas que, em edições menos especiais, poderiam parecer 'para encher chouriços', mas que, neste contexto, dão ao volume o carácter diferenciado que se espera de uma edição de aniversário – e tudo por menos de quinhentos escudos, o que, em 1999, era consideravelmente menos do que os setecentos de 1994! Estes pequenos mas nada insignificantes ajustes ajudavam a fazer da edição '65 Anos' a melhor das duas, e mais do que colmatavam a redução em conteúdo e número de páginas, tornando-a quase essencial para fãs do temperamental pato.

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De realçar ainda duas edições, ambas de 1994 e ambas publicadas à margem das 'oficiais' da Abril: 'Feliz Aniversário, Donald – O Livro de Ouro das Suas Melhores Histórias', publicada pela RBA Editora como parte da colecção 'Disney em Banda Desenhada', e o livro do mesmo título da colecção 'Clássicos da BD'. Ambas são bem sucedidas em transmitir a sensação de 'edição de luxo', com as suas capas encadernadas e de cuidado desenho, mas (apesar dos títulos quase idênticos) os conteúdos de ambas são vastamente diferentes: o volume da RBA Editora segue, em larga medida, a mesma linha das edições da Abril, abrindo com três páginas dedicadas à génese do personagem e uma quarta com instruções sobre como desenhar Donald, e partindo daí para uma colectânea de histórias de todas as eras do personagem, enquanto o segundo livro foca-se, sobretudo, nas informações sobre a génese e percurso do aniversariante, descurando o aspecto de BD em si (embora contenha ainda duas histórias, nas últimas páginas.) Duas abordagens completamente diferentes, mas que resultam ambas bastante bem, podendo mesmo ser consideradas melhores do que qualquer das propostas da Abril/Controljornal, as quais não tinham quaisquer pretensões a ser algo mais do que revistas aos quadradinhos ligeiramente mais luxuosas do que a média.

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Independentemente do volume em que recaísse a escolha do jovem leitor, no entanto, uma coisa é certa: o sexagésimo e sexagésimo-quinto aniversários de Donald foram celebrados com tanta ou mais pompa e circunstância que o do 'melhor inimigo', e providenciou aos fãs do pato mais famoso do Mundo muito e bom material de leitura durante aqueles Verões de 1994 e 1999. Feliz aniversário, Donald, e que contes ainda muitos.

04.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 3 de Julho de 2024.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

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Capa do primeiro número do suplemento, lançado em Março de 1990.

Já aqui anteriormente falámos dos anos 80 e 90 como período áureo da BD em Portugal, com oferta vasta, variada e de alto nível, oriunda tanto de mercados externos– nomeadamente o eixo franco-belga ou o prolífico Brasil, embora a 'manga' japonesa começasse também a almejar alguma penetração no mercado – como de criação nacional. A servir de 'plataforma' a este manancial de produção e edição de banda desenhada estavam, por sua vez, um número considerável de suplementos infanto-juvenis de jornais e periódicos, com destaque para o BDN, Público Jovem, TV Guia Júnior e para o destacável do jornal Expresso onde eram publicadas histórias mais ou menos contemporâneas da hegemónica Disney.

Enquanto publicação histórica e influente no percurso e evolução da banda desenhada em território português, é natural que o lendário Primeiro de Janeiro também não tenha querido ficar de fora desta nova 'onda' – e a verdade é que o suplemento do mesmo, lançado logo nos primeiros meses da década de 90 e intitulado 'O Janeirinho', se pode mesmo considerar um precursor dos seus congéneres acima mencionados, 'desbravando caminho' para que os mesmos se pudessem estabelecer num mercado já comprovadamente convidativo à sua existência. Mais – ao contrário de qualquer dos suplementos acima mencionados, 'O Janeirinho' existia ainda em finais da década de 2000, embora muitas fontes apenas dêem conta da primeira vintena de números, publicada entre Março e Julho do ano de 1990.

Tal como sucede com as publicações supramencionadas, também os conteúdos do suplemento do 'Primeiro de Janeiro' se perdem nas brumas do tempo, com o normalmente útil Google a fornecer muitíssimo poucas informações sobre potenciais histórias ou séries publicadas. Assim, sabemos apenas que o mesmo serviu de veículo a pelo menos uma obra da dupla Tó Zé Simões e Luís Louro, 'O Império das Almas', da série Roques & Folque, que surgia assim serializada cerca de um ano após a sua edição em álbum. Os restantes autores e séries constantes d''O Janeirinho' permanecem, infelizmente, uma incógnita, embora o perfil do jornal em si fizesse adivinhar escolhas mais experimentais ou inéditas em Portugal, por oposição aos habituais 'Astérix', 'Tintin' e 'Spirou', ou às personagens Disney. O que é certo é que, com a edição deste suplemento, o jornal em causa inscreveu mais uma página na sua já longa campanha de apoio e divulgação da banda desenhada nacional, pela qual batalhou até à sua inevitável extinção, em 2015, deixando um considerável vazio no panorama artístico nacional e levando consigo o último suplemento de banda desenhada de que reza a História editorial portuguesa até à data.

19.06.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Na última semana, temos vindo a focar os nossos 'posts' em produtos alusivos, ou derivados, das séries exibidas, em inícios dos anos 90, pelo espaço Clube Disney; e, depois de termos falado dos diversos videojogos protagonizados por personagens das mesmas, nada melhor do que dedicarmos a nossa atenção ao 'outro' grande meio artístico em que a companhia se movia, além dos desenhos animados – a BD. Isto porque, apesar de a maioria das séries em causa apenas ter direito a tradução em Português 'de Portugal' já vários anos após a sua saída do 'ar' (nomeadamente através de diversas séries de álbuns aparentemente desconexas e algo aleatórias), foram ainda assim feitos alguns esforços para apresentar histórias alusivas a alguns dos personagens ainda durante o apogeu da sua popularidade, nomeadamente por parte da editora por excelência de materiais Disney em Portugal, a então ainda chamada Abril Jovem. De entre estes, destaca-se a edição de um luxuoso álbum encadernado, com centenas de páginas, exclusivamente dedicado à reprodução de histórias com a 'marca' DuckTales, das quais existia já uma vasta selecção do outro lado do oceano, por terras de Vera Cruz.

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Certamente editado em simultâneo com a transmissão da série na RTP, por forma a capitalizar sobre a sua popularidade (embora a data exacta de publicação seja desconhecida), 'DuckTales – Os Caçadores de Aventuras' era uma importação directa do Brasil (o que explica a utilização do título empregue naquele país, por sinal MUITO melhor e mais adequado que o português) e reunía, num só volume, nada menos do que quatro números da revista brasileira do mesmo nome, a qual, mau-grado a profusão de edições transatlânticas no mercado português, nunca chegou a ser distribuída por terras lusas. No total, eram doze histórias, distribuídas ao longo de quase trezentas páginas (!) nas quais cabiam, também, frontispícios informativos e contextualizantes, e até uma página de passatempos. Um verdadeiro 'maná' de material a explorar para fãs da série, e que apenas torna mais deprimente o facto de nenhuma destas histórias alguma vez ter tido uma edição 'a sério' em Portugal.

Ainda assim, este álbum não terá deixado de constituir um verdadeiro 'evento' para quem tinha interesse na série em causa, fazendo por justificar o sem dúvida exorbitante preço de revenda, e destacando-se decididamente da miríade de edições 'normais' deitadas para as bancas pela hegemónica Abril a cada novo mês durante a época em causa.

08.05.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui anteriormente falámos do uso de personagens estabelecidos e reconhecidos no contexto da banda desenhada institucional; de facto, enquanto algumas companhias arriscavam criar personagens próprios para veicular as suas mensagens (com o acréscimo de poderem servir função dupla como mascotes do clube de fãs ou imagem da marca junto do público jovem) outras instituições preferiam 'jogar pelo seguro' e co-optar 'porta-vozes' licenciados, capazes de cativar activamente e comprovadamente a demografia menor de idade. Foi assim com o Instituto Português da Qualidade, em 1997 e 1999, e foi também assim com o Banco Espírito Santo, que, há quase exactos trinta anos, entre Fevereiro e Março de 1994, lançava em parceria com o jornal 'Expresso' a série de fascículos 'A Economia do Tio Patinhas'.

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Capa do primeiro fascículo da série, lançado a 12 de Fevereiro de 1994.

Tirando o máximo partido do facto de o referido jornal deter já a licença para publicar BD Disney no seu suplemento jovem, a série em causa combina a diversão da banda desenhada pura e dura com um aspecto mais informativo e educativo, estando o primeiro e terceiro fascículos (cada um com quarenta páginas) dividida quase exactamente ao meio entre a história de BD e um artigo referente a um aspecto da economia considerado relevante para o público-alvo, no caso o funcionamento da banca e a arte de investir. Infelizmente, este conceito acabou por não ser mais explorado, e nove dos restantes dez fascículos ficar-se-iam apenas pela BD em si; o formato dividido seria, no entanto, recuperado no décimo-segundo e último fascículo, lançado em finais de Março e que continha uma longa homenagem escrita a Carl Barks, o lendário criador de aventuras de Donald e companhia no período clássico das BD's Disney.

Apesar do potencial algo desperdiçado para verdadeiramente instruir os jovens 'X' e 'millennials' sobre o dinheiro e as possibilidades oferecidas pelo mesmo – tópico ainda hoje relevante para a demografia em causa – 'A Economia do Tio Patinhas' não deixa de ser um conceito temático interessante, e capaz de aumentar ainda mais os níveis de interesse no suplemento infanto-juvenil do 'Expresso'. É de lamentar, pois, que o mesmo, e o parceiro BES, não tivessem querido explorar verdadeiramente a fundo o fruto da sua união; caso contrário, esta série poderia ter constituído um marco nos anais da BD portuguesa, tanto institucional como comercial.

24.04.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Em tempos considerado a personalidade mais conhecida em todo o Mundo (fosse fictícia ou de 'carne e osso') o Rato Mickey continua, até hoje, a ser um ícone verdadeiramente intemporal da cultura popular, presente no imaginário infanto-juvenil de todas as gerações surgidas desde a sua criação em finais dos anos 20, e sempre com o mesmo (alto) nível de popularidade. Assim, não é de surpreender que cada novo aniversário do roedor mais famoso do Mundo seja motivo para celebração, com um sem-número de eventos alusivos à data e transversais a todas as áreas culturais em que o rato de Walt Disney se inseriu; e, sendo a banda desenhada uma das principais de entre elas, tão-pouco é de espantar que se tenham verificado, ao longo dos anos, uma série de edições comemorativas, lançadas um pouco por todo o Mundo.

Enquanto mercado da 'linha da frente' no consumo de banda desenhada em finais do século XX, Portugal não podia, claro, ser excepção a esta regra, tendo visto serem lançadas uma série de especiais alusivos ao aniversário de Mickey, pela mão da Abril, então detentora dos direitos de edição das BD's Disney em Portugal. O primeiro destes, de 1988, era uma verdadeira edição histórica, com vários volumes que traçavam o percurso de Mickey através das décadas; já o segundo pouco passava de uma revista vulgar, com as únicas alusões à efeméride a terem lugar no desenho de capa – e, para cúmulo, lançada com atraso de quase um ano! Um deslize que, crédito lhe seja feito, a editora tentou corrigir com o lançamento seguinte, editado há vinte e cinco anos, por ocasião dos setenta anos de Mickey, que surgia em formato encadernado e dividida em dois volumes, num total de quase duzentas páginas de banda desenhada.

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Capas dos dois volumes do especial, cada um com cem páginas.

Felizmente, tal como acontecera com o especial de 1988, também aqui a qualidade do conteúdo se coadunava com a apresentação, surgindo cada um dos volumes dividido em secções temáticas, cada uma com um respectivo texto introdutório e explicativo. O primeiro volume trazia, assim, uma parte dedicada às tiras diárias de Floyd Gottfredson, outra ao detective Sir Lock e outra à 'Patrulha Estelar' que trazia Mickey e Pateta como astronautas e heróis futuristas; já o segundo tomo trazia secções alusivas aos principais coadjuvantes e personagens secundários do universo de Mickey, como o Capitão Plim, o extraterrestre Esquálidus e o inevitável Pateta – embora, estranhamente, deixando de fora nomes tão icónicos como João Bafo-de-Onça, Mancha Negra e, claro, a namorada do herói, Minnie. Deste volume faziam, ainda, parte um texto genérico sobre outros personagens, um 'cantinho do artista', onde eram publicados alguns desenhos enviados para a editora por fãs do rato e respectivos amigos, e uma história interactiva, em prosa, que convidava os leitores a resolverem o mistério de onde estaria o bolo de aniversário de Mickey.

No cômputo geral, portanto, uma edição que fazia por justificar o (sem dúvida exorbitante) preço de capa, e por 'emendar a mão' após a 'derrapagem' por altura dos sessenta e cinco anos do personagem – objectivos que atingiu com louvor, perfilando-se como uma homenagem tão adequada como justa e sentida a um dos maiores personagens de banda desenhada de sempre, que (aos quase cem anos de 'vida') continua tão relevante como sempre foi.

10.04.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Os anos 70, 80 e 90 viram chegar a Portugal um considerável influxo – quase uma 'inundação' – de títulos de banda desenhada oriundos do Brasil, de qualidade variável, mas quase sempre acima da média. Disponíveis em qualquer quiosque – e havia-os em número quase infindável de Norte a Sul do País – as revistas das editoras Abril e Globo deram a conhecer aos jovens portugueses muitos dos mais populares personagens e grupos entre os seus contemporâneos do outro lado do oceano, dos inúmeros heróis da Marvel, DC ou Disney (companhias que, mais tarde, viriam a ser editadas a nível nacional) a colectivos como a Turma da Mônica ou Os Trapalhões, e popularizaram entre esta demografia nomes como os de Mauricio de Sousa ou do criador a quem dedicamos este 'post', e que faleceu este fim-de-semana, com a provecta idade de 91 anos.

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Falamos de Ziraldo Alves Pinto - mais conhecido apenas pelo seu primeiro nome – à época já um dos mais destacados criadores de banda desenhada do Brasil, tendo sido pioneiro na criação de obras de banda desenhada de 'autor único' por terras de Vera-Cruz, feito que logrou almejar logo em inícios dos anos 60 (mais de uma década antes do 'rival' Mauricio) com a criação da revista 'Turma do Pererê', centrada num grupo de criaturas da mata liderado pelo inconfundível saci, um dos principais personagens do folclore brasileiro. Por essa altura, o estilo inconfundivel do autor – quer a nível de desenhos, quer de diálogos – era já bem conhecido de diversos jornais brasileiros, pelo que o sucesso de que o título imediatamente gozou entre o seu público-alvo não foi, de todo, surpreendente; ainda mais do que os referidos trabalhos, no entanto, foi 'Turma do Pererê' (revista que teve duas fases distintas, uma antes e outra depois da ditadura militar ter sido instaurada no Brasil) a responsável por popularizar o nome do desenhista entre as crianças da época.

Não se ficaria por esses anos, no entanto, a fama de Ziraldo – antes pelo contrário, o personagem mais icónico e sinónimo com o desenhista ainda estava para ser criado, surgindo apenas no início da década de 80, já depois de outras duas tentativas menos bem sucedidas por parte do autor. Tratava-se d''O Menino Maluquinho', uma típica criança da época, de imaginação delirante e sempre pronta a criar brincadeiras, planos e esquemas mirabolantes, nos quais não tardava a envolver os restantes jovens do seu prédio: o melhor amigo Bocão, a namoradinha Julieta, a melhor amiga desta, Carolina, o intelectual e sensato Lúcio, o pequeno, tímido e ansioso Junim, e até, por vezes, o 'valentão' Herman e a namorada deste, a bonita e vaidosa Shirley Valéria. O resultado eram histórias e aventuras tão 'mirabolantes' quanto ancoradas na realidade, quase como uma 'Turma da Mônica' mais urbana e contemporânea, ou não vivesse Maluqinho num prédio de apartamentos.

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A revista que popularizaria Ziraldo entre o público infanto-juvenil português.

Mais uma vez, o sucesso desta publicação foi imediato, com a revista de Maluqinho (editada como resultado da boa recepção que o seu álbum de tirinhas havia recebido aquando da sua edição em 1980) a competir com os 'mega-sucessos' de Mauricio ou dos estúdios Disney pelas semanadas do seu público-alvo, e a lograr permanecer nas bancas durante um período inicial de oito anos, de 1988 a 1996. Foi, também, durante esta fase que os leitores portugueses ficaram a conhecer Maluquinho, e que Ziraldo conseguiria maior penetração no mercado nacional – além do periódico de banda desenhada, o autor veria também chegar a solo luso os livros das séries ilustradas 'Corpim', dedicada às diferentes partes do corpo, e 'O Bichinho da Maçã', talvez o seu trabalho mais conhecido a seguir a 'Maluquinho'.

Infelizmente, tal como a maioria dos autores de BD brasileiros à excepção de Mauricio, também Ziraldo não resistiria ao 'colapso' do mercado de banda desenhada periódica português, posteriormente reduzido a meia-dúzia de títulos da Turma da Mônica, Disney, Marvel e DC, por oposição à 'bonança' desfrutada pela geração 'millennial'. Assim, enquanto no seu Brasil natal as suas franquias seguiam de 'vento em popa' (com Maluquinho a ficar nas bancas até inícios da presente década, e a ter inclusivamente direito a títulos de 'crossover' com Mônica e Cebolinha e adaptações cinematográficas) a sua popularidade em Portugal não resistiu à chegada à idade adulta da geração nascida nos anos 80 e 90. Para esses, no entanto, a notícia da morte do autor – pacífica, no seu apartamento – não deixará de gerar uma 'pontada' de dor, saudade e nostalgia por mais um elemento da sua infância que desaparece para sempre, sem retorno... Que descanse em paz.

14.03.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

As últimas duas décadas do século XX foram pródigas na expansão do conceito de 'sinergias multimédia', a prática de marketing que prevê a utilização de propriedades intelectuais de índole comercial em vários tipos de conteúdo apropriado (e apreciado) pelo público-alvo. Nos anos 80, este paradigma manifestou-se, sobretudo, na criação de desenhos animados para absolutamente qualquer personagem que atraísse, mesmo que brevemente, a atenção das crianças e jovens, ou que uma companhia quisesse implementar no mercado; já na década seguinte, o foco 'desviou-se' para outros campos do interesse do público mais jovem, como os videojogos, a música (chegando a haver mascotes com direito ao seu próprio CD) e mesmo a banda desenhada. E ainda que este último campo não tenha sido particularmente prolífico em produtos 'sinergísticos', há, ainda assim, a registar algumas ocorrências deste tipo de prática, sejam no sentido de utilizar personagens estabelecidos para campanhas, ou de dar a mascotes oriundas de outros meios a sua própria aventura em 'quadradinhos'; é neste último campo que se inserem os três livros de que falamos naquele que é mais um 'post' híbrido neste nosso 'blog'.

E sim, abordaremos todas as três edições simultaneamente, visto que, apesar de 'encomendadas' por companhias concorrentes, as três partilham de uma série de semelhanças quase demasiado grande para poderem ser consideradas coincidências. Senão, veja-se: todas foram lançadas na mesma altura, pela mesma companhia, estavam associadas a gamas de produtos com chocolate (cereais de pequeno almoço e bebidas solúveis, respectivamente) e contavam com duas das mais populares mascotes de cada empresa como protagonistas! Infelizmente, não nos é possível saber se estas similaridades são mesmo acidentais, ou se fazem parte de uma deliberada estratégia promocional por parte da Nestlé, já que a informação sobre ambos os livros, para lá das imagens de capa, peca por escassa.

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O único 'sobrevivente' da série 'Las Aventuras de Quicky' a chegar a Portugal.

Das duas publicações, é sobre a da Nesquik que são conhecidas mais informações, sobretudo graças à página de Wikipédia relativa à edição espanhola. É através dela que ficamos a saber que, no país vizinho, 'As Aventuras de Quicky' constituíram uma série de três volumes, das quais apenas o primeiro, 'O Mistério das Urtigas', parece ter atravessado a fronteira. Como os seus dois 'irmãos' – 'O Impostor' e 'O Pingente Negro', em tradução livre – o livro em questão é uma produção cem por cento espanhola, a cargo do autor e desenhista Ramón María Casanyes, mais conhecido como o autor de dois dos muitos álbuns de Mortadela e Salamão, o mais famoso duo cómico espanhol. Inicialmente relutante em aceitar o trabalho, o artista acabou por ser 'convencido' pela promessa de liberdade criativa – uma prerrogativa de que tirou o máximo partido, tendo reduzido propositalmente ao mínimo o elemento comercial das histórias e tentado transformá-las em verdadeiras tramas de banda desenhada, nas quais Quicky batalha contra o malvado Barão Von Apetite e resolve mistérios, como o que dá o título ao primeiro volume. Infelizmente, mesmo com toda esta informação, não é possível aferir as condições de obtenção deste livro, que apenas podemos adivinhar estar ligado a uma qualquer promoção dos cereais ou achocolatados Nesquik.

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As BD's do Chocapic, com a sua mascote como protagonista

Ainda menos informação existe acerca de 'Pico no País dos Samurais' e 'Pico no País dos Aztecas' sendo a que existe contraditória: certas fontes afirmam tratar-se de uma mini-banda desenhada (que, presumivelmente, viria colada ou mesmo dentro das caixas de Chocapic), outras dizem ser um álbum de capa dura. De igual modo, não existem na Internet actual quaisquer informações sobre a trama da BD (para lá das veiculadas pela própria capa e título) nem sobre os seus autores, ficando esta BD a meio caminho entre 'media desaparecida' e 'Esquecida Pela Net'. Uma pena, pois a própria proposta de uma aventura na companhia da icónica mascote do Chocapic (bem como, presumivelmente, do seu dono) é, em si mesma, fascinante.

Dada a especificidade da sua funcionalidade (eram, primeiramente, produtos promocionais, e só depois trabalhos artísticos) não é de admirar que ambas estas BD's tenham caído no esquecimento pouco depois de terminadas as respectivas promoções. Ainda assim, estamos em crer que haja, por aí, quem à época se tenha deliciado por receber um 'livro aos quadradinhos' na compra dos seus cereais ou achocolatado favorito, e se tenha deliciado a ler e reler as aventuras 'desenhadas' de Pico ou Quicky enquanto os saboreava...

28.02.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui anteriormente falámos tanto da BD institucional, utilizada pelas mais variadas empresas e instituições como recurso educativo e pedagógico, como dos clubes de jovens, outro conceito corporativo clássico de finais do século XX e inícios do seguinte, e que vinha muitas vezes acompanhado de publicações próprias, exclusivas aos membros do clube. não é, pois, de estranhar que os dois elementos em causa se intersectassem frequentemente, normalmente no contexto das referidas revistas e jornais internos; é, precisamente, de uma dessas ocasiões que falaremos nesta Quarta aos Quadradinhos.

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Divulgadas pelo banco Montepio Geral em cinco fascículos de distribuição exclusiva ao seu clube de jovens assinantes entre 1999 e 2000, 'Tio Pelicas Investiga: A Essência Mutualista' via o pelicano do símbolo do banco – devidamente antropomorfizado e 'cartoonizado', e de aparência algo semelhante a outro 'Tio' com afinidade por assuntos bancários, o da Disney – investigar mistérios relacionados com conceitos da esfera financeira e bancária, os quais eram, assim, transmitidos ao jovem público-alvo de maneira subtil e lúdica. Uma premissa bastante típica para uma banda desenhada institucional, mas que era substancialmente elevada pelo argumento e grafismo cuidados e personalizados; isto porque, onde a maioria das empresas deixariam um projecto desta índole a cargo de um qualquer anónimo com 'jeito' para o desenho, o Montepio Geral não fez por menos, recrutando ninguém menos do que Augusto Trigo (famoso por ter ilustrado a trilogia 'Lendas de Portugal em Banda Desenhada', e também colaborador da efémera mas marcante revista 'Selecções BD') para dar vida ao pelicano detective, em conjunto com a argumentista Paula Guimarães.

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Capa do segundo álbum, lançado em 2004.

O resultado era um trabalho que, deixando de lado a vertente institucional, poderia perfeitamente ter sido editada como álbum individual e independente de qualquer instituição – como os jovens 'millennials' e da 'geração Z' puderam comprovar quando as 'sequelas' de 'Essência Mutualista', produzidas entre 2001 e 2003, foram reunidas em álbum, em 2004. Antes disso, já havia sido lançada em volume a aventura original, a qual completa este ano vinte e cinco anos sobre o seu lançamento original, e terá sem dúvida feito as delícias dos jovens filhos de clientes do banco em causa aquando do mesmo. E apesar de essa primeira história se encontrar algo Esquecida Pela Net, várias outras podem, ainda, ser lidas nas mais diversas fontes (como neste blog, que dedica todo um artigo à série), pelo que quem tenha alguma nostalgia pelo Tio Pelicas (ou se tenha recordado do mesmo ao ler este post) pode facilmente ir 'matar saudades', e regressar à infância por alguns minutos...

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Excerto de uma das histórias da segunda série.

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