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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.03.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

As últimas duas décadas do século XX foram pródigas na expansão do conceito de 'sinergias multimédia', a prática de marketing que prevê a utilização de propriedades intelectuais de índole comercial em vários tipos de conteúdo apropriado (e apreciado) pelo público-alvo. Nos anos 80, este paradigma manifestou-se, sobretudo, na criação de desenhos animados para absolutamente qualquer personagem que atraísse, mesmo que brevemente, a atenção das crianças e jovens, ou que uma companhia quisesse implementar no mercado; já na década seguinte, o foco 'desviou-se' para outros campos do interesse do público mais jovem, como os videojogos, a música (chegando a haver mascotes com direito ao seu próprio CD) e mesmo a banda desenhada. E ainda que este último campo não tenha sido particularmente prolífico em produtos 'sinergísticos', há, ainda assim, a registar algumas ocorrências deste tipo de prática, sejam no sentido de utilizar personagens estabelecidos para campanhas, ou de dar a mascotes oriundas de outros meios a sua própria aventura em 'quadradinhos'; é neste último campo que se inserem os três livros de que falamos naquele que é mais um 'post' híbrido neste nosso 'blog'.

E sim, abordaremos todas as três edições simultaneamente, visto que, apesar de 'encomendadas' por companhias concorrentes, as três partilham de uma série de semelhanças quase demasiado grande para poderem ser consideradas coincidências. Senão, veja-se: todas foram lançadas na mesma altura, pela mesma companhia, estavam associadas a gamas de produtos com chocolate (cereais de pequeno almoço e bebidas solúveis, respectivamente) e contavam com duas das mais populares mascotes de cada empresa como protagonistas! Infelizmente, não nos é possível saber se estas similaridades são mesmo acidentais, ou se fazem parte de uma deliberada estratégia promocional por parte da Nestlé, já que a informação sobre ambos os livros, para lá das imagens de capa, peca por escassa.

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O único 'sobrevivente' da série 'Las Aventuras de Quicky' a chegar a Portugal.

Das duas publicações, é sobre a da Nesquik que são conhecidas mais informações, sobretudo graças à página de Wikipédia relativa à edição espanhola. É através dela que ficamos a saber que, no país vizinho, 'As Aventuras de Quicky' constituíram uma série de três volumes, das quais apenas o primeiro, 'O Mistério das Urtigas', parece ter atravessado a fronteira. Como os seus dois 'irmãos' – 'O Impostor' e 'O Pingente Negro', em tradução livre – o livro em questão é uma produção cem por cento espanhola, a cargo do autor e desenhista Ramón María Casanyes, mais conhecido como o autor de dois dos muitos álbuns de Mortadela e Salamão, o mais famoso duo cómico espanhol. Inicialmente relutante em aceitar o trabalho, o artista acabou por ser 'convencido' pela promessa de liberdade criativa – uma prerrogativa de que tirou o máximo partido, tendo reduzido propositalmente ao mínimo o elemento comercial das histórias e tentado transformá-las em verdadeiras tramas de banda desenhada, nas quais Quicky batalha contra o malvado Barão Von Apetite e resolve mistérios, como o que dá o título ao primeiro volume. Infelizmente, mesmo com toda esta informação, não é possível aferir as condições de obtenção deste livro, que apenas podemos adivinhar estar ligado a uma qualquer promoção dos cereais ou achocolatados Nesquik.

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As BD's do Chocapic, com a sua mascote como protagonista

Ainda menos informação existe acerca de 'Pico no País dos Samurais' e 'Pico no País dos Aztecas' sendo a que existe contraditória: certas fontes afirmam tratar-se de uma mini-banda desenhada (que, presumivelmente, viria colada ou mesmo dentro das caixas de Chocapic), outras dizem ser um álbum de capa dura. De igual modo, não existem na Internet actual quaisquer informações sobre a trama da BD (para lá das veiculadas pela própria capa e título) nem sobre os seus autores, ficando esta BD a meio caminho entre 'media desaparecida' e 'Esquecida Pela Net'. Uma pena, pois a própria proposta de uma aventura na companhia da icónica mascote do Chocapic (bem como, presumivelmente, do seu dono) é, em si mesma, fascinante.

Dada a especificidade da sua funcionalidade (eram, primeiramente, produtos promocionais, e só depois trabalhos artísticos) não é de admirar que ambas estas BD's tenham caído no esquecimento pouco depois de terminadas as respectivas promoções. Ainda assim, estamos em crer que haja, por aí, quem à época se tenha deliciado por receber um 'livro aos quadradinhos' na compra dos seus cereais ou achocolatado favorito, e se tenha deliciado a ler e reler as aventuras 'desenhadas' de Pico ou Quicky enquanto os saboreava...

28.02.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui anteriormente falámos tanto da BD institucional, utilizada pelas mais variadas empresas e instituições como recurso educativo e pedagógico, como dos clubes de jovens, outro conceito corporativo clássico de finais do século XX e inícios do seguinte, e que vinha muitas vezes acompanhado de publicações próprias, exclusivas aos membros do clube. não é, pois, de estranhar que os dois elementos em causa se intersectassem frequentemente, normalmente no contexto das referidas revistas e jornais internos; é, precisamente, de uma dessas ocasiões que falaremos nesta Quarta aos Quadradinhos.

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Divulgadas pelo banco Montepio Geral em cinco fascículos de distribuição exclusiva ao seu clube de jovens assinantes entre 1999 e 2000, 'Tio Pelicas Investiga: A Essência Mutualista' via o pelicano do símbolo do banco – devidamente antropomorfizado e 'cartoonizado', e de aparência algo semelhante a outro 'Tio' com afinidade por assuntos bancários, o da Disney – investigar mistérios relacionados com conceitos da esfera financeira e bancária, os quais eram, assim, transmitidos ao jovem público-alvo de maneira subtil e lúdica. Uma premissa bastante típica para uma banda desenhada institucional, mas que era substancialmente elevada pelo argumento e grafismo cuidados e personalizados; isto porque, onde a maioria das empresas deixariam um projecto desta índole a cargo de um qualquer anónimo com 'jeito' para o desenho, o Montepio Geral não fez por menos, recrutando ninguém menos do que Augusto Trigo (famoso por ter ilustrado a trilogia 'Lendas de Portugal em Banda Desenhada', e também colaborador da efémera mas marcante revista 'Selecções BD') para dar vida ao pelicano detective, em conjunto com a argumentista Paula Guimarães.

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Capa do segundo álbum, lançado em 2004.

O resultado era um trabalho que, deixando de lado a vertente institucional, poderia perfeitamente ter sido editada como álbum individual e independente de qualquer instituição – como os jovens 'millennials' e da 'geração Z' puderam comprovar quando as 'sequelas' de 'Essência Mutualista', produzidas entre 2001 e 2003, foram reunidas em álbum, em 2004. Antes disso, já havia sido lançada em volume a aventura original, a qual completa este ano vinte e cinco anos sobre o seu lançamento original, e terá sem dúvida feito as delícias dos jovens filhos de clientes do banco em causa aquando do mesmo. E apesar de essa primeira história se encontrar algo Esquecida Pela Net, várias outras podem, ainda, ser lidas nas mais diversas fontes (como neste blog, que dedica todo um artigo à série), pelo que quem tenha alguma nostalgia pelo Tio Pelicas (ou se tenha recordado do mesmo ao ler este post) pode facilmente ir 'matar saudades', e regressar à infância por alguns minutos...

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Excerto de uma das histórias da segunda série.

14.02.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

O universo 'Star Wars', ou 'Guerra das Estrelas', tem, tradicionalmente, sido um dos que mais se auto-actualiza e expande de entre todos os da cultura 'pop'. Mesmo durante os longos intervalos de quase uma década e meia entre trilogias de filmes, continuam a ser editadas um sem-número de obras paralelas e periféricas, a maioria das quais serve um de dois grandes objectivos: apresentar aos fãs novos personagens dentro da mitologia da série (muitos dos quais são, depois, referenciados nos filmes e séries 'principais') e dar a conhecer eventos no passado ou futuro da cronologia da mesma, sejam referentes aos heróicos Jedi ou aos maléficos Sith, o famoso 'Império' que origina os principais vilões da série.

Por sua vez, grande parte destas 'expansões' e aventuras paralelas desenrolavam-se através de banda desenhada, um meio visual que se insere na mesma categoria de cultura 'pop' que os próprios filmes da série, e que tende a atrair o mesmo público, não sendo, pois, de espantar que sejam inúmeras as séries de BD alusivas à franquia publicadas ao longo das últimas quatro décadas. E se, em Portugal, foi a Planeta DeAgostini a principal responsável pela edição da maioria dos títulos de banda desenhada da 'Guerra das Estrelas', não foi à famosa veiculadora de colecções em fascículos que coube a honra de publicar a primeira aventura da saga a chegar ao território português; esse marco ficou a cargo da inevitável Abril-Controljornal, a qual, em 1997, utilizava a sua ligação ao mercado das revistas de super-heróis para fazer chegar às bancas lusitanas uma mini-série de seis números da Dark Horse Comics, intitulada 'Star Wars: Império das Trevas'.

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Capa do primeiro número da série. (Crédito da foto: Station Comics, no Facebook)

Originalmente publicada no início da década com o título 'Star Wars: Dark Empire', a série a cargo do desenhista Cam Kennedy e do argumentista Tom Veitch (este último conhecido pelo seu trabalho com a DC Comics, algum do qual já então publicado pela Abril no nosso País) a série 'Império das Trevas' relata os acontecimentos imediatamente posteriores ao fim de 'O Regresso de Jedi', e à aniquilação do Império pela Aliança Rebelde. E, ao contrário do que poderia ter sido expectável, não são tempos felizes os que então se vivem, com a República a demonstrar um misto de inexperiência e fragilidade bélica, que motiva os sobreviventes do Império a juntarem-se e assumirem o comando do quarto da Galáxia ainda não dominado pelos seus opositores, dando assim origem a mais uma 'Guerra nas Estrelas'. Numa das batalhas desse novo conflito, Luke Skywalker e Lando Calrissian despenham-se e são capturados, cabendo agora a Han Solo, Leia Organa, Chewbacca e aos inseparáveis dróides R2-D2 e C-3PO salvar os seus companheiros. Um enredo entusiasmante e repleto de possibilidades, que não deixou de entusiasmar os fãs nacionais da saga, como já o havia feito com os seus congéneres norte-americanos.

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Exemplo do argumento e desenhos da mini-série.

O sucesso desta mini-série foi, aliás, tal que não só motivou a edição de novos materiais de 'Star Wars' no nosso País – em banda desenhada e não só – como também uma reedição por parte da Planeta DeAgostini, já no século XXI, quando a editora espanhola detinha já a quase exclusividade sobre os 'comics' da saga. É possível, no entanto, que as condições mais do que favoráveis por detrás desse relançamento (bem como do subsequente livro que reunía esta mini-série e as suas duas sequelas num só volume) nunca tivessem sido atingidas sem o esforço e a coragem da Abril-Controljornal, que – dois anos antes do lançamento da primeira 'prequela' e depois da reedição dos filmes originais em VHS, e durante uma 'fase baixa' para a franquia – utilizou o seu estatuto hegemónico para 'arriscar' na publicação desta aventura, ajudando assim a introduzir os milhares de fãs nacionais de 'Star Wars' (a maioria sem acesso a revistas importadas) ao 'universo paralelo' gizado nas páginas dos 'comics' americanos da saga, e suscitando-lhes o interesse por saber mais sobre o mesmo...

31.01.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Quando utilizada correctamente, e realizada com verdadeiro cuidado e talento, a banda desenhada institucional constitui uma excelente ferramenta para atrair e sensibilizar as gerações mais jovens para certos temas, ou simplesmente transmitir informações ou conhecimentos. E embora nem todas as instituições compreendam esse facto – o que ajuda a explicar a reputação algo 'duvidosa' deste tipo de publicação – tem havido, ao longo dos anos, vários exemplos bem-sucedidos de álbuns de banda desenhada ligados a empresas ou instituições, e destinadas tão-somente a veicular informações sobre a História e funcionamento das mesmas. Um dos mais notáveis foi lançado há exactos vinte e sete anos, em Janeiro de 1997, por uma instituição cultural que não precisava de o fazer, dado ser já um dos principais locais de 'romaria' para as crianças e jovens nacionais, sobretudo os residentes na Grande Lisboa; e, no entanto, a tentativa de contar a 'História do Jardim Zoológico em Banda Desenhada' constitui, ainda hoje, um exemplo de como fazer BD institucional.

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Capa e contra-capa da publicação.

Da autoria do malogrado José Garcês, veterano em contar História em formato desenhado, e financiado pelo grupo NovaRede (então parceiro do próprio Zoo) o álbum em causa apresenta precisamente aquilo que o título sugere – isto é, uma reconstituição em formato de novela gráfica dos principais acontecimentos que levaram à fundação do Zoo (na altura localizado na zona do Parque, no terreno hoje adjacente à Fundação Calouste Gulbenkian), à sua posterior expansão para o actual recinto em Sete Rios, e a todos os restantes marcos históricos que a instituição vivera à altura da publicação. Mais do que apenas um veículo de 'propaganda' para o Zoo, no entanto, o álbum em causa pretendia também oferecer uma visão geral da evolução da apresentação de animais em cativeiro ao longo da História de Portugal (culminando, como é óbvio, na abertura da instituição celebrada na publicação), transmitindo assim informações não apenas relativas ao Jardim Zoológico, mas de relevância histórica e cultural para o próprio País, de forma cativante e divertida – um dos grandes objectivos de qualquer BD institucional.

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Exemplo da arte e argumento da obra.

Não é, pois, de surpreender que este excelente álbum tenha reunido consenso suficiente entre os visitantes do Zoo para justificar a produção de uma 'sequela' aquando dos cento e vinte e cinco anos da instituição, em 2009, novamente com José Garcês como único responsável, e desta vez dando maior foco aos próprios animais do Zoológico. Tal edição não tivesse, talvez, sido possível sem a experiência bem-sucedida que foi a sua antecessora, que cativou os 'putos' apaixonados por animais da geração 'millennial' e os incentivou a conhecer melhor a História de um recinto que lhes era já bem querido, atingindo assim o objectivo último de qualquer boa BD institucional – uma classificação que esta 'História do Jardim Zoológico em Banda Desenhada' sobejamente merece.

17.01.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A última Quarta aos Quadradinhos foi dedicada à adaptação oficial em BD de 'Indiana Jones – Crónicas da Juventude', a série de TV que serviu, em 1992-93, de prequela às aventuras cinematográficas do arqueólogo e aventureiro Henry Jones Jr.; nada melhor, portanto, do que dedicarmos a edição seguinte desta rubrica à outra adaptação em banda desenhada do personagem de Steven Spielberg e George Lucas, esta directamente relacionada com a trilogia inicial de filmes lançada nos anos 80 e inícios de 90.

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Capa do primeiro dos quatro números da série.

Trata-se de 'Indiana Jones e a Última Cruzada', mini-série originalmente lançada pela Marvel ainda nos anos 80, e que surgia em Portugal nos primeiros meses da década de 90, nos mesmos quatro volumes da edição original e, curiosamente, pela mão da Meribérica-Liber (conhecida, sobretudo, pelos seus álbuns de BD franco-belga) e não da Abril Jovem, que detinha, à época, os direitos de edição nacionais da maioria dos títulos da Marvel e DC. O conteúdo, esse, não deixava margem para quaisquer surpresas, tratando-se de uma recriação do enredo e cinematografia do filme em formato gráfico, que se inseria declaradamente na então bastante popular categoria das adaptações de filmes em banda desenhada, que veria também serem editados em Portugal, na primeira metade dos anos 90, álbuns e colecções alusivas a 'Batman Para Sempre' e 'Parque Jurássico'.

Ao contrário do que acontecia com aquelas obras, no entanto, esta adaptação em BD apresenta uma série de pequenas diferenças, justificadas pelo facto de a adaptação gráfica se basear na novelização oficial do filme, onde se verificavam os mesmos desvios. Nada que prejudique a experiência ou até o desfecho da trama, no entanto, sendo que qualquer fã dos filmes se sentirá em 'território familiar' ao explorar a obra do argumentista David Michelinie (à época um nome sonante no seio da Marvel) e dos artistas Brett Blevins e Gregory Wright. Uma proposta interessante, pois, para quem queira 'mergulhar' no 'Universo circundante' da franquia 'Indiana Jones', e descobrir um pouco do 'merchandising' e produtos complementares que a mesma gerava no auge da sua popularidade – dos quais esta adaptação em 'quadradinhos' está longe de ser a mais inusitada.

03.01.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.
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As adaptações de filmes e séries populares em banda desenhada foi um dos principais filões da banda desenhada de finais do século XX, com muitas criações audio-visuais da época a terem direito ao seu próprio álbum oficial em 'quadradinhos' - ou até mesmo a uma série completa, como no caso da colecção que abordamos nesta primeira Quarta aos Quadradinhos de 2024.

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Os primeiros dois números da série (crédito da foto: CustoJusto.pt)

Lançada em Portugal há pouco mais de trinta anos (em 1993, menos de um ano após a edição original norte-americana) pela TeleBD - 'braço' da TV Guia dedicado aos quadradinhos que também lançaria adaptações em BD das 'Tartarugas Ninja' e do 'Capitão Planeta', no mesmo período - 'Indiana Jones - Crónicas da Juventude' propunha-se servir de complemento ao programa televisivo do mesmo nome, à época em exibição no nosso país, e que viria também a justificar o lançamento de uma série de livros, por parte da Europa-América. Nos três casos, a premissa era a mesma: relatar algumas das aventuras e peripécias do arqueólogo aventureiro Henry Jones Jr. durante os seus anos de infância e adolescência, ao lado do pai, Henry Sr. (famosamente interpretado por Sean Connery em 'Indiana Jones e a Última Cruzada', segundo capítulo da trilogia cinematográfica original, também ele adaptado em BD, lançada em Portugal pela Meribérica) e de alguns outros personagens criados especificamente para a série.
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A banda desenhada não foge a este padrão, sendo que os sete volumes lançados em Portugal pela Tele BD (doze no original americano) incluem várias novas-velhas aventuras protagonizadas pelo jovem Henry e pelos seus amigos na década de 1910, nas mais diversas partes do Mundo, do Egipto ao México, África ou aos campos de batalha da I Guerra Mundial. Em todas estas localidades, 'Indy' e os seus companheiros terão de se haver com malfeitores e resolver mistérios arqueológicos antigos, bem ao estilo do que o arqueólogo de chicote e chapéu viria a fazer nos seus anos de 'crescido'. Apesar de díspares, no entanto, estas aventuras possuíam, ainda assim, um elo de ligação: o argumentista Dan Barry, que trabalharia com uma série de diferentes equipas artísticas ao longo da curta duração do título (precisamente um ano na edição original norte-americana, e apenas sete meses no caso da portuguesa). A permanência do argumentista ao longo de toda a série ajudaria a manter uma certa coesão entre os diferentes números, que compensava os estilos de desenho e arte-final algo díspares, e dava à série uma atmosfera muito própria.

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Exemplo da arte e argumento da série (crédito da imagem: CustoJusto.pt)

Ao contrário de muitos outros títulos que aqui abordamos, a razão para o fim de 'Indiana Jones - Crónicas da Juventude' (tanto em Portugal como nos EUA) é bastante óbvia, tendo o fim da série televisiva - e, subsequentemente, do interesse na mesma - assinado a 'sentença de morte' para produtos periféricos e derivados, como o é esta colecção da Dark Horse. Ainda assim, para um produto puramente motivado pelo lucro, a série em causa até consegue manter um padrão de qualidade elevado, ao nível das restantes obras da editora original, que faz com que valha bem a pena uma 'revisita' por parte dos fãs do arqueólogo e aventureiro criado por Steven Spielberg - isto, claro está, se conseguirem encontrar as edições em causa...

06.12.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Qualquer período hegemónico que se estenda por vários anos, ou até décadas, é praticamente impossível de manter inalterado; por muito poucas mudanças que se procurem fazer num contexto deste tipo, algo acabará, inevitavelmente, por se alterar ou evoluir. É, pois, importante estabelecer, em situações deste tipo, elos de ligação que permitam manter o produto ou criador em causa reconhecível para lá de quaisquer diferenças superfíciais no conteúdo; e uma boa maneira de conseguir este objectivo é estabelecer uma ou mais 'tradições', levadas a cabo em intervalos periódicos ou na época do ano apropriada. Para a Abril-Controljornal, praticamente monopolista do mercado nacional de 'livros aos quadradinhos' de finais do século XX e inícios do XXI – uma dessas tradições prendia-se com o lançamento, todos os meses de Dezembro, de um ou mais títulos de BD Disney dedicados ao Natal. E apesar de ter tido particular expressão até inícios da década de 90, a verdade é que esta tradição se mantinha ainda vigente nos últimos anos do Segundo Milénio, como o prova o título que abordamos nesta primeira de duas Quartas aos Quadradinhos de Natal.

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Lançado há exactos vinte e seis anos, em Dezembro de 1997, 'Disney Natal Especial' insere-se na vasta categoria de títulos de 'número único' lançados pela Abril durante esse período da sua existência, juntando-se a revistas como 'Os Meus Heróis Favoritos', 'Arquivos Secretos do Detective Mickey' ou a edição tematizada em torno do filme 'Titanic', todas lançadas num espaço de dois anos entre 1996 e 1998. Ao contrário destas, no entanto, o propósito desta edição é bem claro, pretendendo a mesma preencher a 'vaga' de 'revista Disney de Natal' daquele ano. Para esse efeito, 'Disney Natal Especial' apresenta onze histórias (mais uma tirinha de página única) espalhadas ao longo das suas cem páginas, fazendo por justificar o preço de 310$00, à época alinhado com o de outras edições 'grossas', como o 'Disney Especial'.

Previsivelmente, todas e cada uma das BD's incluídas no volume tem um tema em comum – no caso, a quadra natalícia, e todas as celebrações em torno da mesma. Esta é, no entanto, mesmo a única linha condutora entre as histórias da revista, já que, apesar de a maioria das mesmas ter sido produzida poucos anos antes do lançamento do título, chega a haver em 'Disney Natal Especial' histórias de finais dos anos 70 e inícios da década seguinte, cujo estilo e atmosfera são marcadamente diferentes dos das mais 'actuais' produções italianas. De igual modo, outro aspecto que poderia ter ajudado a unificar a selecção, mas que acaba por não ser 'levado a termo' é o foco no núcleo dos patos, que monopoliza oito das doze histórias incluídas, sendo as restantes três protagonizadas por Mickey e Pateta (em dois casos) e pelo elenco da série animada 'TaleSpin' (ou 'Aventuras do Balu'), que tinha, à época, título próprio, mas que não viria a passar em Portugal ainda durante alguns anos, sendo os seus personagens conhecidos das crianças portuguesas apenas através da inclusão de algumas das suas aventuras em títulos deste tipo.

Ainda assim, e apesar destas idiossincrasias, 'Disney Natal Especial' terá acabado por cumprir a sua função de 'dar que ler' aos fãs de quadradinhos Disney na quadra natalícia de 1997. E por não termos tido conhecimento da sua existência aquando do seu vigésimo-quinto aniversário – altura em que lhe teríamos dedicado um 'post' celebratório dessa efeméride – procuramos agora, um ano depois, corrigir esse deslize, e falar daquela que viria a dar o mote para muitas mais edições 'isoladas' de Natal no século e Milénio seguintes, mas que à época de publicação se afirmava, passe a expressão, como artigo único no panorama da BD Disney em Portugal.

22.11.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Uma das primeiras Sessões de Sexta do nosso blog teve como tema 'Parque Jurássico', a mega-produção de Steven Spielberg que se viria a tornar um dos mais bem-sucedidos, icónicos e memoráveis filmes dos anos 90, e a gerar um sem-número de items de 'merchandising' com o seu logotipo, dos habituais videojogos, peças de roupa e réplicas em borracha dos dinossauros do filme a porta-chaves, bolsinhas para documentos, e até uma adaptação oficial em banda desenhada. Logicamente, é sobre esta última, editada em Portugal no mesmo ano em que o filme chegava aos cinemas - 1993 - que nos debruçaremos neste post.

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Capas de três dos quatro volumes da mini-série. (Crédito da foto: Trade Stories)

Tendo em conta o considerável sucesso e legado do filme em que se baseia, é nada menos do que surpreendente constatar que a BD de 'Parque Jurássico' está praticamente Esquecido Pela Net. De facto, àparte a listagem oficial no site Bazar0 e um único anúncio de edições para venda (de onde retirámos as imagens para este post) é praticamente nula a informação relativa à edição portuguesa desta mini-série, lançada no nosso País em quatro volumes pela inexpressiva Alfama Editores.

Talvez resida, precisamente, aí a razão do 'falhanço' desta BD – a falta de uma infra-estrutura ao nível de uma Abril/Controljornal (já para não falar nas editoras de BD franco-belga ou álbuns de tirinhas norte-americanas) terá impedido a referida publicação de ser 'escarrapachada debaixo do nariz' do público-alvo, que – ao contrário do que acontecia com as revistas da Disney, Marvel, DC ou mesmo da Turma da Mônica – dificilmente terá sabido da sua existência. O autor deste blog, por exemplo, enquanto fã do filme, não teria decerto perdido a oportunidade de adquirir os quatro volumes, caso tivesse tido sequer ideia da existência dos mesmos, o que nunca chegou a acontecer.

Assim, trinta anos após a sua edição original, tudo o que resta da edição portuguesa de 'Parque Jurássico' em BD são as quatro capas, uma única página, e a contracapa, que anunciava o jogo do filme para SEGA Mega Drive (e se 'esquecia' de retirar do mesmo a pontuação espanhola). É, pois, necessária uma pesquisa pela edição original norte-americana, lançada pela Topps, para ter ideia de quem escreveu e desenhou os volumes, que contaram com a participação de nomes sonantes da BD norte-americana da época, como os desenhistas Gil Kane, George Perez e Art Adams ou os argumentistas Walter Simonson (marido de Louise, que escrevia, na mesma época, para o 'Super-Homem') ou David Koepp.

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Exemplos da arte dos volumes e do anúncio da contracapa, alusivo ao jogo para Mega Drive. (Crédito das fotos: Trade Stories)

Em suma, um lançamento, à época, extremamente relevante, 'fadado' ao sucesso e que teria, sem dúvida, agradado à 'legião' de fãs do filme, não fossem os problemas de divulgação e distribuição que, presumivelmente, o terão mantido restrita a um número muito reduzido de quiosques, tabacarias e papelarias, e impedido que se tornasse o 'marco' da BD portuguesa noventista que poderia ter sido, dado o sucesso do material de base. Em vez disso, a adaptação 'aos quadradinhos' de 'Parque Jurássico' perfila-se, hoje, sobretudo como prova cabal da importância e influência qde boa infra-estrutura editorial no 'destino' de qualquer publicação, sobretudo naqueles anos pré-Internet, em que a tiragem era 'rainha', e em que uma oportunidade aparentemente imperdível podia claudicar apenas e só por falta de divulgação, como parece ter sido o caso com esta mini-série.

08.11.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Em 'posts' passados deste nosso blog, falámos já de adaptações em BD de filmes ou séries animadas, da revista TV Guia, e da colecção Tele BD, que se dedicava às primeiras e era editada pela segunda; ainda mais recentemente, falámos da série 'Capitão Planeta', parte indelével da cultura popular da geração 'millennial', em Portugal e não só. Agora, chega a hora de corrigir uma desatenção de há duas semanas, e dedicar algumas linhas a uma publicação que consegue a 'proeza' de reunir os três elementos supramencionados num só álbum de seis histórias. Falamos da adaptação em BD das aventuras do super-herói ecologista, editada algures há trinta anos pela TV Guia Editora como parte da série Tele BD, até então mais conhecida por publicar as BDs das Tartarugas Ninja, e que, ao contrário das mesmas, se encontra hoje algo Esquecida Pela Net.

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De facto, este é daqueles álbuns sobre os quais se encontra pouquíssima informação, e muita dela contraditória ou incompleta; a própria data de edição é incerta, e os artistas responsáveis pelas histórias contidas no volume são completamente diferentes segundo a fonte que se consulte – presume-se que por cada uma das seis ter equipas criativas diferentes. Os nomes que se conhecem, graças a listagens diversas do volume através da Web, são perfeitamente desconhecidos: uma fonte fala nuns tais de Barry Dutter e Jim Salicrup, enquanto outra menciona Pat Broderick e José Delbo, todos (presumivelmente) artistas 'a soldo' cuja ética e orgulho não estavam, ainda, acima da criação deste tipo de material puramente comercial e sem grande margem criativa.

Isto porque, previsivelmente, as histórias deste volume pouco diferem das aventuras televisivas do Capitão e da sua equipa de ajudantes adolescentes, os Planetários, destinando-se o mesmo, puramente, a servir como complemento ao produto principal, e a tentar extrair mais uns 'cobres' de uma franquia que os próprios criadores sabiam ter um tempo de vida limitado; nesse aspecto, 'Capitão Planeta e os Planetários' (o livro) cumpre bem a sua missão, mostrando, inclusivamente, algum cuidado nos traços, que fazem lembrar as produções da DC Comics da altura.

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Exemplo da arte do volume (Fonte: Tradestories.pt)

No seu âmago, no entanto, este é um livro sem qualquer hipótese (ou intenção) de perdurar no famosamente curto espectro de atenção do seu público-alvo, o que pode explicar a razão pela qual se encontra, hoje, maioritariamente reduzido a uma capa em bases de dados de BD, ao invés de ser lembrado como outras grandes produções da época; quando até mesmo um fanático de 'quadradinhos' (e, enquanto espectador do programa, parte da demografia-alvo) como o autor deste blog nunca ouviu falar do livro em causa, está tudo dito sobre o seu impacto cultural na juventude portuguesa da época... Ainda assim, vale recordar mais esta 'pérola' da BD comercial, que só poderia mesmo ter saído durante a década de 90, no auge da era de ouro dos desenhos animados e da sensibilização para a ecologia, e antes de a Devir ter 'habituado mal' os jovens portugueses no tocante a banda desenhada de qualidade...

25.10.23

NOTA: Este post foi sugerido pelo leitor Pedro Serra, a quem também devemos as fotos que acompanham o texto. Obrigado, Pedro!

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já é situação recorrente nesta rubrica falar da hegemonia que a Abril Jovem (mais tarde Abril/Controljornal) detinha sobre o mercado de 'livros aos quadradinhos' nacional, e a oportunidade que essa posição lhe oferecia para levar a cabo 'experiências' sem grandes consequências em caso de 'falhanço', já que até as piores de entre as suas revistas da Disney, DC e Marvel tinham volume de vendas garantido. Ainda assim, e apesar dessa total falta de necessidade de apostar em estratégias de 'marketing' e publicidade, a editora não se mostrava, de todo, aversa a esse tipo de medida, como bem o comprova a série de livros que examinamos nesta Quarta aos Quadradinhos.

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Três dos quatro livros da colecção, parte do acervo pessoal do Pedro Serra.

Lançada algures durante o ano de 1992, esta série de quatro edições especiais da colecção 'As Melhores Histórias Disney' trazia como principal diferencial o facto de as referidas melhores histórias serem (alegadamente) escolhidas a dedo por celebridades de 'primeira linha' na vivência infanto-juvenil da altura, com José Jorge Duarte (por essa altura já no auge da sua fase como apresentador de concursos infantis, mas ainda apresentado sob o nome da personagem com a qual se celebrizara, 'Lecas') à cabeça. Além do 'ídolo' infantil, marcavam presença nas capas destes livros Herman José e Maria Vieira (também em alta após o sucesso de 'Hermanias', no fim-de-ano anterior, além da sempre popular 'Roda da Sorte') e ainda Marco Paulo, que muitas crianças conheciam (e ouviam) por intermédio dos pais. Cada livro vinha, mesmo, acompanhado de um frontispício supostamente escrito (e definitivamente assinado) pela própria personalidade, e que exaltava o contributo da mesma para o seu conteúdo – o qual, de outra forma, pouco se distinguia de um número perfeitamente 'normal' da colecção.

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O frontispício de uma das edições.

E a verdade é que, apesar de, aos olhos dos adultos que entretanto nos tornámos, esta jogada de 'marketing' ser transparente ao ponto de parecer um pouco desesperada, a mesma resultou em cheio junto das crianças que então éramos – lá por casa, por exemplo, existia com cem por cento de certeza o número do 'Lecas' – rendendo à Abril ainda mais um triunfo a juntar à sua já invejável lista naqueles inícios da década de 90. Prova de que, mesmo não sendo necessária, uma boa estratégia de 'marketing' e publicidade nunca cai mal, e rende sempre pelo menos alguns dividendos; aliás, se a mesma estratégia fosse repetida, hoje em dia, com Cristiano Ronaldo ou algum influenciador do Instagram no lugar das celebridades noventistas, talvez se verificasse um renascer (ainda que temporário) do interesse dos jovens por este tipo de banda desenhada...

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