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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

10.04.25

NOTA: Este 'post' é correspondente a Quarta-feira, 9 de Abril de 2025.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Nas últimas duas décadas do século XX, o mercado da banda desenhada em Portugal dividia-se em duas grandes categorias: por um lado, os 'quadradinhos' de quiosque da Disney, Marvel, Turma da Mônica e afins e, por outro, os álbuns encadernados, domínio quase exclusivo dos autores franco-belgas clássicos. De quando em vez, no entanto, um ou outro trabalho mais independente procurava 'furar' esta duologia, fosse ele um álbum ou série de álbuns assinados por um autor emergente ou, como no caso de que aqui falaremos, uma revista destinada a pôr em relevo múltiplos nomes da cena. Era, exactamente, essa a proposta da Crash, um periódico totalmente independente lançado pelas Publicações Totais que, apesar do nome algo 'duvidoso', conseguiram levar às bancas um produto com alguma qualidade, cujo primeiro número celebra este mês trinta anos de vida.

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Com foco particular na fantasia e ficção científica (géneros com larga e colorida história em países como os EUA e o Reino Unido, mas pouquíssima expressão em Portugal) a Crash era um projecto de Miguel Jorge, nome já com algum percurso no Mundo das artes gráficas nacionais, após ter colaborado com a revista especializada Art Nove. Apesar do envolvimento deste nome de relevo, no entanto, esta nova publicação – com periodicidade mensal e um custo de capa de trezentos escudos, a média para a época – situava-se no limiar entre revista profissional e 'fanzine' (como é classificada nos poucos 'sites' que a relembram), sendo a sua ética e missão editorias derivadas destas últimas.

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De facto, mais do que fazer dinheiro, Miguel Jorge e companhia procuravam dar a conhecer arte – o que pode explicar a pouca expressão que a revista teve, sendo mesmo incerto se terá passado do primeiro número, o único sobre o qual se conseguem ainda encontrar informações. Um caso, talvez, de, como se diz, de boas intenções estar o Inferno cheio – o que não deixa de ser uma pena, já que o objectivo dos editores tinha mérito evidente, e, caso tivesse resultado, a revista em causa poderia ter servido como muito necessária plataforma de lançamento para uma série de artistas gráficos de nicho que haviam tido o 'azar' de nascer e viver em Portugal. Sobram, pois, as referidas intenções, que poderão não ter sido suficientes para 'salvar' a 'Crash', mas a tornam digna de menção por ocasião dos trinta anos do seu primeiro (e talvez único) número.

27.03.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Quarta-feira, 27 de Março de 2025.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Pela sua natureza específica a um determinado momento, as bandas desenhadas institucionais tendem a estar entre os títulos mais frequentemente Esquecidos Pela Net, com, via de regra, pouca a nenhuma informação disponível para lá da capa. Já aqui, anteriormente, abordámos um par de exemplos deste fenómeno e, neste 'post', iremos falar de mais um.

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Lançado algures nos anos 90 pela Fundação Portuguesa de Cardiologia, 'O Caso da Doença Misteriosa – Um Problema Para o Dr. Truso' envolverá, presumivelmente, o titular médico, cuja missão será tentar resolver o mistério que compõe o restante título, e que, dada a entidade responsável pela edição, terá algo a ver com a vertente cardíaca. Tudo isto são, claro, ilações, já que o único elemento verdadeiramente restante desta edição (tão misteriosa como a doença a que alude) é a vibrante capa, que permite apreciar um pouco do estilo de desenho que compõe a obra, cujos traços se situam entre o abstracto ou surreal e o caricatural, com algumas aproximações a Mortadelo e Salamão na fisionomia do protagonista.

Quanto à trama ou enredo, pouco mais se sabe do que a cena mostrada pela capa, com o Dr. Truso pendurado da sua própria nave, e a pedir auxílio ao seu jovem assistente – algo que, depreende-se, ocorrerá a um qualquer ponto da aventura. Tudo o resto é mera conjectura sobre aquela que se perfila como mais uma integrante da nossa lista de publicações periódicas (ou, neste caso, institucionais) sobre as quais é praticamente impossível encontrar informações. Se algum dos nossos leitores tiver informações sobre esta publicação (como já aconteceu no passado) pedimos, pois, que as partilhem, para que esta incógnita Esquecida Pela Net passe a ser um pouco menos desconhecida e misteriosa.

13.03.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Quarta-feira, 13 de Março de 2025.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Já aqui por diversas vezes abordámos produtos, programas e publicações do Portugal dos 'noventa' que, por uma razão ou outra, foram Esquecidos Pela Net, transformando-se naquilo a que normalmente se chama 'lost media' e ficando, assim, algo arredados da memória nostálgica das gerações que então cresciam e amadureciam. No entanto, grosso modo, até o mais obscuro desses produtos possibilita a escrita de algumas linhas a seu respeito, seja através de recordações e memórias pessoais, seja pelos (poucos) recursos que ainda o recordam nos meandros cibernéticos; tal não é o caso, no entanto, com a publicação de que falamos neste 'post' duplo do Anos 90, e que consegue a proeza de ser o primeiríssimo tópico a deixar o autor deste 'blog' totalmente perplexo.

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De facto, é possível que nos tenhamos precipitado ao rotular a revista 'Ultra Som' como a mais misteriosa da Internet, já que, apesar da falta de dados ou números digitalizados da mesma, era pelo menos possível discernir do que tratava pelas pistas contextuais oferecidas pela única capa disponível na Net. No caso da revista agora em análise, no entanto, nem isso é viável, já que tanto o título impossivelmente genérico como as capas mostradas no leilão OLX (mesma fonte da 'Ultra Som') não permitem mais do que uma conjectura. E se o termo 'Juvenil' utilizado como título infere a quem a revista se dirige, as capas ora desenhadas, ora feitas de colagens fotográficas não deixam claro se a mesma deve ser inserida nas Quartas aos Quadradinhos, Quintas no Quiosque, ou mesmo em ambas, à laia de uma 'Super Jovem' (publicação com a qual parece ter maiores semelhanças). Pedimos, pois, aos nossos leitores que saibam alguma coisa sobre esta revista (alô, homónimo sabe-tudo!) que nos deixem alguma pista sobre a natureza da dita-cuja; nos entrementes, no entanto, tem mesmo de ficar por aqui esta análise sobre mais um elemento ultra-Esquecido Pela Net do Portugal de finais do século XX.

27.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2025.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui por diversas vezes falámos da enorme latitude que a hegemonia da Abril-Controljornal sobre o mercado da banda desenhada 'de quiosque' em Portugal lhe permitia. Com a sua principal competição a vir do estrangeiro – nomeadamente do Brasil – a editora responsável pelas revistas Disney e Marvel tinha amplas oportunidades para experimentar os mais diversos conceitos sem, com isso, arriscar perder o seu espaço dentro do referido mercado. A série de que falamos hoje é apenas mais uma dessas tentativas, desta feita tematizada e coerente, mas com uma designação tão genérica quanto confusa, e abertamente baseada em OUTRA série de publicações Disney da mesma editora.

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Os três únicos vestígios da revista restantes na Internet.

De facto, a colecção de volumes conhecida como 'Especial Pateta' é totalmente separada do icónico 'Disney Especial', surgindo, em vez disso, sob a designação 'Hiper Disney', talvez pelo número avultado de páginas. No entanto, os números desta série estão longe de ser apenas variantes do normal Hiper Disney, centrando-se em vez disso em torno de um personagem específico – o eterno coadjuvante de Mickey nas páginas da Abril – o que os aproxima mais de um...Disney Especial!

Confusões à parte, no entanto, o que a (pelo menos) dúzia de títulos publicados há cerca de trinta anos oferece é, precisamente, aquilo que promete: uma selecção de alguns dos melhores momentos de Pateta enquanto personagem principal ou de relevo, divididas entre as habituais histórias mais clássicas e a vertente mais moderna, representada por tramas criadas no Brasil ou em Itália. Para além do generoso tamanho do volume – perfeito para ser lido numa viagem mais longa ou numa tranquila tarde de fim-de-semana – pouco mais há a dizer sobre aquela que é, para todos os efeitos, apenas 'mais uma' das muitas colecções lançadas pela Abril nesta época, mas que decerto não terá deixado de agradar aos fãs da personagem em foco (entre os quais se contava, na altura, o autor deste 'blog', que teria decerto apreciado esta colecção). Nada de essencial ou revolucionário, mas ainda assim uma colecção de revistas de BD bem conseguida, que, três décadas após o seu último volume, merecia ser mais lembrada pelos fãs dos 'quadradinhos' Disney em Portugal.

14.02.25

NOTA: Este 'post' é correspondente a Quarta-feira, 12 de Fevereiro e Quinta-feira, 13 de Fevereiro de 2025.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

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Quem cresceu, parcial ou totalmente, na década de 80 e inícios de 90, certamente se lembrará deles: um casal de personagens de banda desenhada, com um certo 'travo' a Adão e Eva, cuja vida parecia consistir exclusivamente de uma série de actividades românticas estereotipadas, devidamente acompanhadas por texto mais ou menos 'lamechas'. De facto, os mesmos nunca eram vistos a discutir, ou sequer a levar a cabo tarefas normais da vida quotidiana de um casal convencional – tudo o que faziam e diziam parecia saído de um cartão especialmente concebido para oferecer à 'cara-metade' em ocasiões especiais; nada melhor, portanto, do que, à 'beira' da pseudo-festa romântica anual, recordar os últimos anos destes 'pombinhos' na ribalta.

Falamos, claro está, do anónimo casal protagonista dos painéis da série 'Amor É...' - aquela propriedade perpetuamente a meio caminho entre a genuína tira de banda desenhada e a criação exclusivamente dedicada ao 'merchandising', que tomou o Mundo ocidental de assalto durante um quarto de século após a sua criação em finais da década de 60. De facto, ainda que as situações criadas pela 'cartoonista' neo-zelandesa Kim Casali para o seu casal de protagonistas se destinassem inicialmente a sair em jornais, foi como ilustração para toda a espécie de 'quinquilharias' que grande parte do público-alvo tomou pela primeira vez contacto com os mesmos. De canecas a caixas de fósforos, autocolantes para automóveis, e um sem-número de outros pequenos objectos, os 'pombinhos' de Casali eram omnipresentes mesmo em países onde a BD não era publicada, e não existirá 'filho' dos anos 70 ou 80 que nunca tenha visto pelo menos um produto com a imagem dos dois numa qualquer situação extremadamente romântica. E apesar de a sua relevância se encontrar já em declínio na última década do Segundo Milénio, subsistiam ainda no Portugal dos anos 90 (e não só), consideráveis 'vestígios' da fase áurea da propriedade, tanto nas lojas (prontos a servirem de prenda de S. Valentim ou de aniversário de namoro ou casamento) como em muitos lares, Não poderíamos, portanto, deixar de, às portas do dia mais romântico do ano, recordar aquele que, para muitas crianças e jovens de finais do século passado, era o epítoma da imagética normalmente associada à referida data.

29.01.25

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui, em tempos, falámos de 'Lisboa Às Cores', uma colaboração entre António Jorge Gonçalves e Rui Zink lançada pela Câmara Municipal de Lisboa como forma de celebrar o colorido especial da cidade capital de Portugal. Essa não foi, no entanto, a única obra de banda desenhada institucional criada pelo ilustrador, que, apenas um ano mais tarde, voltaria a realizar uma obra por comissão para uma entidade estatal e centrada sobre a cidade de Lisboa, desta feita para o Instituto Português de Museus e em parceria com o seu mais famoso e duradouro parceiro, Nuno Artur Silva.

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Intitulada 'À Procura do F. I. M.', a obra em causa, que comemorou neste ano transacto exactas três décadas sobre a sua publicação (no âmbito do projecto 'Lisboa '94') marca ainda presença nas bibliotecas de algumas escolas primárias e preparatórias do nosso País, pelo menos a julgar pelas informações disponíveis em diversos catálogos bibliográficos 'online'. Já na restante Internet, a sua pegada é bastante mais reduzida, encontrando-se o álbum no limiar de ser Esquecido Pela Net, sendo 'salvo' de tal fado apenas pelos inevitáveis Bazar0 e Bedeteca, bem como pelos supramencionados catálogos.

Ainda assim, além dos dados básicos de publicação, o único elemento disponível após pesquisa é a capa, que mostra um grafismo abstracto e psicadélico (quase ao estilo cubista ou impressionista) e sugere a presença, na história, de uma nave espacial, ou no mínimo um carro voador. O subtítulo, no entanto, sugere que a trama se centra sobre a Lisboa Subterrânea, o famoso conjunto de passagens, catacumbas e aquedutos no subsolo da capital, embora a verdadeira natureza do 'F.I.M' e a razão para a sua busca sejam, infelizmente, impossíveis de discernir.

Apesar da falta de informações que, por vezes, assola certos 'posts' deste nosso 'blog', no entanto, não queríamos deixar de relembrar esta segunda colaboração por parte de dois dos melhores criadores de banda desenhada em Portugal, e certamente os que melhor conseguem transmitir informações didácticas de forma cativante e divertida.

17.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2025.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

O racismo, a xenofobia e o medo do 'outro' têm sido, desde tempos imemoriais, um dos principais males da sociedade ocidental – e o passar do tempo apenas parece, estranhamente, agravar o problema. Assim, não é de estranhar que as instituições das principais nações ocidentais venham, desde há décadas, a tentar mudar as mentalidades, sobretudo no respeitante às camadas populacionais mais jovens e, como tal, mais susceptíveis a uma mudança de mentalidade ou a um 'desvio' para uma forma menos intolerante de ver o Mundo.

Enquanto país acolhedor de elevados volumes de imigrantes dos PALOP, da China, da Ucrânia e – mais recentemente – dos países do Sudoeste Asiático, Portugal jamais poderia ser excepção a qualquer destas regras, pelo que é sem surpresas que verificamos ter existido pelo menos um veículo de promoção da tolerância entre os jovens na História recente de Portugal. Numa altura em que as tensões raciais se fazem, novamente, sentir no nosso País, nada melhor, portanto, do que 'repescar' esse tomo de 1998, em que a Comissão Europeia procurava fazer ver aos jovens das gerações 'X' e 'millennial' que o multi-culturalismo era algo a ser louvado e encorajado, por oposição a temido.

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Sob o nada subtil título de 'Racista, Eu?!', o volume institucional publicado em Junho de 1998 (mesmo a tempo para o início, no nosso País, de um dos maiores eventos celebratórios do multi-culturalismo de finais do século XX) trazia uma série de vinhetas nas quais diferentes grupos de personagens aprendiam a aceitar as suas diferenças e a viver com os aspectos que menos lhes agradavam, tanto em si mesmos como na sociedade, e que procuravam enfatizar o modo como o racismo e a xenofobia se podem entranhar na consciência colectiva, e afectar até mesmo quem não considera ter esses defeitos (daí o título).

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Uma das vinhetas incluídas no volume.

Essa mensagem era, por sua vez, passada com recurso a desenhos originais e extremamente cuidados – a fazer lembrar o estilo franco-belga, ou não tivesse a Comissão Europeia sede em Estrasburgo – e argumentos que, embora pouco subtis, eram no entanto hábeis na transmissão dos valores em causa, para um resultado final acima da média para um produto de BD institucional, sobretudo da época em causa, e que ainda hoje permanecem perfeitamente actuais, como aliás se pode comprovar neste link, que reproduz a revista na sua íntegra. E se, por si só, esta iniciativa não foi suficiente para mitigar o racismo entre as gerações (então) mais novas de cidadãos portugueses, a mesma deve, ainda assim, ser saudada como uma tentativa perfeitamente válida e legítima de abordar, de forma ao mesmo tempo séria e divertida, um dos maiores flagelos da sociedade ocidental actual.

01.01.25

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Fosse pela novidade de ver os números iniciais mudarem de 19 para 20, pela efeméride histórica de, ao mesmo tempo, passar um ano, um século e um Milénio, ou pelos abundantes rumores sobre vírus de computador e o fim do Mundo, a verdade é que a entrada para o ano 2000 se perfila, ainda hoje, como talvez a mais mediática de sempre. Assim, não é de surpreender que a hegemónica e omnipresente editora Abril/Controljornal - sempre atenta a eventos sobre os quais pudesse capitalizar, de campeonatos de futebol a filmes de grande orçamento - tivesse tirado proveito da icónica data para lançar no mercado nacional mais uma das suas inúmeras revistas 'individuais' alusivas aos personagens Disney.

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De facto, ao contrário do que o título dá a entender, 'Disney Especial Ano 2000' não faz parte da decana série de 'almanaques' temáticos periodicamente lançados pela editora, sendo uma publicação de cariz único, na linha da supramencionada adaptação de Titanic ou de 'experiências' como 'Os Meus Heróis Favoritos' ou 'Arquivos Secretos do Detective Mickey'. Fosse qual fosse o motivo por detrás de tal decisão, a verdade é que a estratégia posicionava a referida edição como um número 'hiper-especial', daqueles que apenas raramente surgem no mercado, o que, aliado à topicidade do tema escolhido, terá sem dúvida ajudado a aumentar as suas vendas. Pena, pois, que o comprometimento por parte da Abril tenha sido apenas parcial, já que a segunda metade das duzentas e sessenta páginas do volume abandona a temática proposta - a de apresentar 'sucedâneos' e antepassados dos personagens em aventuras através dos séculos - transformando-se em 'apenas mais um' amontoado de histórias sem qualquer conexão aparente.

Ainda assim, a primeira metade do volume, aliada à atractiva capa (ainda que algo 'falha' de verdadeiros personagens de 'nome', sendo os sobrinhos de Donald as únicas caras imediatamente reconhecíveis) à percepcionada exclusividade da edição e à topicidade da temática escolhida, terá sido suficiente para cativar muitos jovens leitores da época, a maioria dos quais era, em maior ou menor grau, 'fiel' às revistas Disney da Abril e terá dado por bem-empregue o seu dinheiro. Estes factores são, também, mais que suficientes para justificar algumas linhas alusivas a esta edição, numa altura em que se acaba de celebrar o vigésimo-quinto aniversário da efeméride que lhe serve de tema.

19.12.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 18 de Dezembro de 2024.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui anteriormente falámos dos anos 90 como era de maior popularidade da banda desenhada institucional. Da EDP – através da sua 'mascote falhada', Luzinha – ao Instituto Português da Qualidade – com as bem melhor sucedidas personagens Disney como porta-vozes – passando pelo Jardim Zoológico de Lisboa, pelo banco Montepio Geral e por um sem-fim de autarquias e localidades de Norte a Sul do País, muitas foram as entidades que, durante a referida década, decidiram utilizar este recurso para veicular as suas mensagens. A esta lista, há ainda que juntar mais um nome, também ele ligado à função pública, e que talvez seja o mais 'Esquecido Pela Net' de todos os até agora mencionados.

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Falamos dos CTT, os quais, em 1996, publicavam 'Viagem ao Mundo dos Correios Portugueses', obra da qual, quase trinta anos depois, sobrevive apenas a arte de capa e o nome dos autores – Henrique Monteiro e António Luís Ferronha. Os restantes conteúdos da obra em causa encontram-se, infelizmente, perdidos no tempo, não sendo sequer possível retirar quaisquer pistas da algo psicadélica arte da capa. É apenas graças ao contributo do leitor Pedro Serra que ficamos a saber que se trata de uma História dos correios portugueses desde o final do século XVI à (então) actualidade, contada, como é habitual neste tipo de publicações, de forma divertida pelo argumento de Ferronha, bem complementado pelos desenhos em estilo quase caricatural de Henrique Monteiro, hoje conhecido pelo site Henricartoon. Sem estas informações, e apenas com recurso à arte de capa, poder-se-ia perfeitamente pensar que a obra em causa consistisse de como uma aventura que envolva mulheres de sorriso arrepiante e carruagens de cavalos...

Apesar desta relativa obscuridade, no entanto, 'Viagem ao Mundo dos Correios Portugueses' não deixa de ser mais um título a acrescentar à lista de 'quadradinhos' institucionais de finais do século XX – ainda que, por comparação aos outros de que aqui vimos falando, significativamente mais misterioso, quanto mais não seja pela falta de informação. Como 'blog' arquivista e recuperador de obras mais ou menos obscuras do período em causa, no entanto, seria omisso da nossa parte deixar de fora este título, àcerca do qual nos tornamos, com este 'post', uma das principais fontes de informação...

05.12.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 04 de Dezembro de 2024.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Já aqui em diversas ocasiões falámos do quase total monopólio que a Abril Jovem (ou Abril-Controljornal) tinha sobre o mercado de banda desenhada em português dos anos 80 e 90. Fosse através de títulos próprios, fosse por meio de importações brasileiras, a editora era responsável por grande parte dos lançamentos vistos nas tabacarias ou quiosques do nosso País, sendo a grande e honrosa excepção a Turma da Mônica, que, a partir de 1987 e até aos primeiros anos do século XXI passaria a pertencer à Globo. Tendo em conta todo este domínio e hegemonia, não é de surpreender que a casa editorial em causa tenha querido, em meados da última década do século XX, 'puxar a brasa à sua sardinha' através do lançamento de uma revista própria quase inteiramente dedicada aos títulos do seu catálogo.

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Mais do que um veículo de propaganda, no entanto (que era), 'Heróis' procurava ser uma espécie de versão portuguesa e muito simplificada da lendária 'Wizard', a referência internacional por excelência para quem se interessava por banda desenhada, jogos de vídeo ou figuras de acção naquela época. Face aos preços proibitivos das edições desta última importadas quer da América do Norte, quer da do Sul, não deixava no entanto de constituir um objectivo nobre querer oferecer aos jovens nacionais uma alternativa com talvez menos qualidade, mas também a uma fracção do preço.

E a verdade é que grande parte do público-alvo, já de si habituados a padrões de qualidade pautados pelo mediano, não pareceu importar-se grandemente com os artigos curtos ou a impressão em papel de jornal, aderindo em massa à 'Heróis' durante o curto tempo da mesma nas bancas. E com alguma razão, já que, ultrapassados estes aspectos menos cuidados ou conseguidos, a revista se afirmava como uma fonte bastante razoável de informação sobre assuntos que interessavam à sua faixa demográfica alvo, sobretudo centrados nos super-heróis da Marvel e DC (que a Abril editava à época) mas passando também pelos mundos dos desenhos animados e dos videojogos, incluindo mesmo uma grelha televisiva com destaques para programas potencialmente do interesse dos mais jovens. Um recurso mais valioso do que poderia à primeira vista parecer, portanto, e que justificava bem o investimento de cem escudos – especialmente se trouxesse acoplada uma carta holográfica (ou Holoucura), como aconteceu com os primeiros números.

Tal como referido anteriormente, foi curto o tempo da vida da 'Heróis'. No entanto, mesmo com esse reduzido intervalo, a revista conseguiu deixar a sua marca junto dos jovens fãs das BD's da Abril – mesmo que hoje se encontre algo Esquecida Pela Net (ainda que seja possível encontrar pelo menos uma digitalização de um dos números publicados, no caso o número 4, que ilustra também esta publicação.) Nada mais merecido, portanto, do que dedicar este 'post' duplo a preservar a memória daquela que foi mais uma publicação de (relativa) qualidade dirigida ao público jovem português da geração 'Millennial'.

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