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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

15.05.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

A cena 'punk' lisboeta era, nos anos 80 e 90, um dos mais famosos e prolíferos movimentos musicais portugueses, com actividade e impacto ao nível daquele que viria a ser o movimento hip-hop nortenho em inícios do novo milénio. Centrada em bairros como Alvalade, localidades da Linha de Cascais e espaços como o Johnny Guitar ou o Rock Rendez-Vous, a sobredita vaga de grupos 'punk' e 'new wave' (todos, sem excepção, com letras cantadas em português) viu nascer grupos tão emblemáticos como os Xutos e Pontapés, Peste & Sida, Mata-Ratos, Capitão Fantasma, ou uma banda que, apesar da literal meia dúzia de anos de carreira, viria a adquirir estatuto de culto entre os fãs de rock rápido e agressivo 'made in' Portugal: os Censurados.

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O grupo em 'pose Ramones'.

Formada no referido bairro de Alvalade em finais da década de 80, a banda resultou da junção de quatro músicos – Orlando Cohen na guitarra, Fred Valsassina no baixo, Samuel Palitos na bateria e o icónico e malogrado João Ribas na voz – que, no melhor espírito 'punk rock', se juntaram num estúdio improvisado (situado no quarto de Ribas) para escrever músicas 'curtas e grossas' com letras contestatárias, cujo principal alvo eram os políticos e figuras de autoridade da época; esses temas, posteriormente apresentados ao vivo nos 'buracos' do costume, acabaram por ganhar tracção entre a comunidade de 'troca de cassettes', a qual ajudou a popularizar o nome do grupo através da partilha das suas canções - mais de uma década antes do dealbar da Internet e do 'boom' da partilha de ficheiros – fazendo com que as mesmas fossem já sobejamente conhecidas ainda antes do lançamento do álbum de estreia do grupo. Uma história que quase parece ter sido escrita, de tal modo encarna o 'estereótipo' normalmente associado ao 'punk', mas que apenas vem provar algo que os Ramones já haviam demonstrado uma década e meia antes – nomeadamente que, para se tocar 'punk rock', só era precisa muita vontade e alguma capacidade de improviso.

Naturalmente, com uma base de fãs já estabelecida e uma reputação em rápida ascensão, o próximo passo do grupo passou pela gravação de um álbum de estreia homónimo, saído em 1990 e considerado um dos marcos históricos do movimento 'punk' português, tendo a sua qualidade, inclusivamente, atraído interesse do estrangeiro – nomeadamente, da maior 'fanzine' sobre 'punk' da época, a Maximum Rock'n'Roll, que teceu loas ao álbum nas suas páginas.

O lendário álbum de estreia do grupo, lançado logo no início da década de 90

Com a cotação de tal modo 'em alta', não é, pois, de admirar que o grupo tenha demorado apenas cerca de um ano a lançar novo registo, tendo 'Confusão', de 1991, sido bem-sucedido em manter o nome Censurados bem presente na memória colectiva da cena 'punk' nacional durante os dois anos seguintes, tempo que demora a sair o terceiro e último álbum de estúdio, 'Sopa”. Já de créditos bem firmados na cena nacional, e com ligações a espaços como o supramencionado Johnny Guitar (tendo, inclusivamente, participado na lendária colectânea lançada pelo mesmo em 1993), o grupo consegue neste registo final uma 'cunha' de respeito, na pessoa de Jorge Palma, que surge no tema 'Estou Agarrado a Ti.'

Dada a sua preponderância na cena rock nacional, não é, igualmente, de estranhar que os Censurados tenham sido convidados a participar em dois dos mais famosos álbuns de tributo do referido movimento, comparecendo tanto em 'Filhos da Madrugada' – o tributo a Zeca Afonso lançado em 1994 e que reúne a 'nata' do movimento musical lusófono, dos inevitáveis Xutos, GNR e UHF a Madredeus, Sitiados, Delfins, Entre Aspas, Resistência, os 'colegas' Peste & Sida, os cabo-verdianos Tubarões e até o Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras! – e 'XX Anos, XX Bandas', o álbum celebratório dos vinte anos de carreira dos Xutos e Pontapés, editado em 1999, e que conta com nomes como Rádio Macau, Da Weasel, Paulo Gonzo, Boss AC, Quinta do Bill, Ornatos Violeta, Bizarra Locomotiva, Cool Hipnoise, Lulu Blind ou o 'alter ego' dos Peste & Sida, Despe e Siga, além de alguns 'repetentes' do tributo a Zeca. Os Censurados participam, respectivamente, com os temas 'O Que Faz Falta' e 'Enquanto a Noite Cai', aqueles que viriam a ser os últimos temas gravados em estúdio pelo colectivo – sendo o segundo, inclusivamente, já póstumo, ainda que tenha dado azo a uma 'tourné' de reunião ao lado dos próprios Xutos, da qual resulta um lendário micro-concerto de apenas quinze minutos na edição de 1999 do Festival do Sudoeste, bem como um álbum ao vivo, gravado na Queima das Fitas de Coimbra no mesmo ano e lançado em 2002 – esse, sim, o último registo oficial do grupo.

Versão ao vivo da 'cover' dos Xutos incluída em 'XX Anos, XX Bandas', captada no último concerto oficial do grupo, na Queima das Fitas de Coimbra de 1999

A dissolução dos Censurados não significou, no entanto, o afastamento dos seus integrantes da música, ou sequer do movimento 'punk' – pelo contrário. João Ribas formaria, logo no ano seguinte, os não menos lendários Tara Perdida - cuja carreira soma e segue até hoje, tendo mesmo conseguido resistir ao falecimento do seu fundador e figura de proa - e os restantes integrantes também se manteriam activos na cena musical, embora de forma mais discreta. Mesmo que o fim dos Censurados tivesse equivalido ao fim das suas carreiras, no entanto, os quatro músicos poder-se-iam sempre orgulhar de terem sido banda de culto do movimento rock português de finais do século XX, e de, em apenas seis anos, terem construído um legado de fazer inveja a muitas bandas com várias décadas de carreira, validando a famosa máxima de Kurt Cobain de que 'é melhor acabar carbonizado do que desaparecer lentamente.'

A algo incongruente aparição do grupo na 'Hora do Lecas', em 1990.

 

19.11.22

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

A explosão dos movimentos pop-rock e alternativo nas décadas de 80 e 90 (já aqui documentada em vários dos nossos posts anteriores) levou, lógica e previsivelmente, ao aparecimento de inúmeros espaços (a maioria, também naturalmente, nas áreas urbanas de Lisboa e Porto) onde os fãs destes estilos se podiam juntar para ouvirem o tipo de som da sua preferência, sempre devidamente acompanhado de alguns comes e muitos bebes, ou não se estivesse em Portugal. E se, na década seguinte, ganhariam proeminência e relevância salas como o Paradise Garage, em Lisboa, ou o seu congénere portuense, o Hard Club, nos anos 90 o destaque nesse campo pertencia a espaços como o Dramático de Cascais, ou o estabelecimento de que hoje falamos, o Johnny Guitar.

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Sala mítica da Lisboa dos noventas, sobretudo para quem gostava de um som mais voltado ao 'punk', rock alternativo e até heavy metal, o espaço inaugurado há quase exactos trinta e dois anos (a 7 de Novembro de 1990) por Zé Pedro (dos Xutos & Pontapés), Alex e Kalú (dos Rádio Macau) como 'substituto' para o lendário e malogrado Rock Rendez-Vous conseguiu, nos seus poucos anos de existência, deixar o mesmo tipo de marca na sociedade lisboeta, e sobretudo na sua juventude, que o seu antecessor, tornando-se A sala de referência, por excelência, para concertos de bandas dos estilos supramencionados. Pelo palco do pequeno mas carismático espaço da Calçada Marquês de Abrantes passaram nomes tão díspares como Peste & Sida, Ramp, Pop Dell'Arte, e até Jorge Palma (na sua encarnação mais 'alternativa' como Palma's Gang) ou uns Da Weasel ainda com um som mais puramente hip-hop e letras em inglês; no total, em escassos quatro anos de existência, o mítico espaço albergou mais de quinhentos espectáculos, tendo alguns dos artistas que ali tocaram, inclusivamente, ficado imortalizados no CD 'Johnny Guitar Ao Vivo em 1994, Vol. I', bem como no álbum ali gravado pelo Palma's Gang.

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Os dois álbuns alusivos ao espaço.

Infelizmente, antes que pudesse ser compilado um segundo volume desta colectânea, o bar e sala de espectáculos de Zé Pedro, Alex e Kalú viu-se obrigado a encerrar portas, como consequência de repetidas queixas relativas ao ruído e volume da música que ali se ouvia: uma perda de vulto para a juventude 'roqueira' nacional, que se via assim privada de uma das muito poucas salas declaradamente dedicadas a um som mais barulhento e menos comercial. Fica, pois, a homenagem possível a uma sala que, imagina-se, terá sido marcante na juventude de alguns dos leitores mais velhos deste blog, a quem convidamos a deixarem quaisquer testemunhos sobre o espaço na nossa caixa de comentários.

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