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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.10.22

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Apesar de os jornais não fazerem, regra geral, parte do lote de preferências dos jovens no respeitante a periódicos – surgindo bem atrás das revistas aos quadradinhos e das publicações especializadas nos campos da músicados videojogos, da moda, das celebridades ou do desporto – esta demografia não deixava, ainda assim, de ter contacto com este meio de comunicação, noemalmente por intermédio dos adultos, que o compravam; mas se o suplemento de BD era, normalmente a secção para a qual os mais novos gravitavam, a verdade é que havia outra parte do jornal que não deixava de causar algum fascínio junto dos mesmos: a secção de classificados.

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Conceito cada vez menos imaginável na era do OLX e Facebook Market, as páginas de classificados formaram parte integrante de muitas publicações até às primeiras décadas do Terceiro Milénio, servindo como alternativa mais abrangente aos tradicionais anúncios em montras de lojas ou quadros de associações, bem como a publicações como as Páginas Amarelas. O fascínio, aliás, residia justamente no facto de, ao folhear uma destas secções, se poder encontrar absolutamente de tudo, desde produtos para compra, venda e troca (de pequenos electrodomésticos e artigos de colecção até casas ou carros) até ofertas de emprego, anúncios de serviços ao estilo das referidas Páginas Amarelas, pedidos de correspondência, e, claro 'gatinhas peitudas solitárias, sozinhas em casa, Alameda'; um verdadeiro microcosmos social, portanto, que não podia deixar de cativar a imaginação de qualquer criança ou jovem.

Assim, embora as secções correspondentes nas referidas revistas especializadas serem mais interessantes do ponto de vista prático (nomeadamente, por os produtos à venda e pedidos de correspondência serem menos generalistas e mais focados numa área de interesse específica) os classificados de jornais generalistas eram bastante mais apelativos do ponto de vista sociológico – conceito que a maioria da demografia em causa nem sequer conhecia, mas que activamente praticava. Infelizmente, conforme acima referido, é altamente improvável que uma secção deste tipo volte a gozar do mesmo sucesso das suas congéneres dos anos 90, ou sequer a figurar numa publicação periódica – uma categoria, ela mesma, em vias de extinção. Embora a existência de fóruns e 'sites' como o OLX seja extremamente conveniente, no entanto (evitando estar a 'esquadrinhar' a tipografia frequentemente microscópica destas páginas) os classificados são daqueles conceitos que, certamente, a geração que cresceu naquele tempo terá alguma pena de não poder partilhar com os jovens de hoje, para que também eles possam experienciar o poder transformativo de encontrar, pela primeira vez, nas páginas do jornal uma 'loirinha peituda carente e discreta' residente no Parque das Nações...

02.12.21

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

'O bom sabor da selva.'

Este é um 'daqueles' posts; aqueles que não começam com qualquer tipo de introdução ou contextualização, mas que arrancam da única maneira possível quando se fala do assunto em causa: com aquilo pelo qual o mesmo é mais lembrado hoje em dia. E no caso do Um Bongo, esse aspecto é mesmo, e definitivamente, a música e o 'slogan' do lendário anúncio televisivo, que muitos dos que nos lêem ainda serão decerto capazes de recitar (ou cantarolar) palavra por palavra. Ainda hoje um dos momentos maiores da publicidade em Portugal, o anúncio do Um Bongo é prova cabal do poder que uma boa campanha de 'marketing' verdadeiramente exerce sobre o destino de um produto.

Isto porque o Um Bongo, enquanto sumo, não se destacava particularmente da concorrência em nenhum aspecto. O sabor 'tutti-frutti' - a 'festa de oito frutos' de que fala o anùncio - era a sua característica mais distintiva, numa era em que tudo era laranja ou ananás (o próprio Um Bongo era também comercializado numa variante de laranja, bem menos popular do que a original), mas apesar de ser acima da média para um sumo de supermercado, a oferta da Libby's (mais conhecida, à época, como distribuidora do Lipton Ice Tea) não se podia exactamente considerar extraordinária; em suma, sem o anúncio, o Um Bongo era 'apenas' mais um bom sumo – tanto assim que, ainda hoje, a marca é sobretudo lembrada pela cantilena entoada pelos animais animados, sendo a nostalgia referente ao mesmo mais centrada na campanha publicitária do que propriamente no sabor.

E o alcance e influência dessa campanha não se ficou pelas vendas e criação de nostalgia pelo seu 'jingle'; no seu auge, nos anos 90, o Um Bongo era um dos principais patrocinadores do Jardim Zoológico de Lisboa, fazendo a óbvia conexão com a espécie de antílope do mesmo nome, bem como entre os elefantes e macacos animados que o representavam e aqueles, de carne e osso, que se podiam ver no Zoo. (Esta táctica era, aliás, também empregue por produtos como o Nesquik e o Tuli-Creme, que encontravam na publicidade em cartaz e patrocínio dos animais do Zoo uma oportnnidade de porem o seu produto à frente de um elevadíssimo número de crianças e, ao mesmo tempo, saírem 'bem na fotografia' por apadrinharem a conservação animal.)

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Cinismos à parte, no entanto, a verdade é que o Um Bongo – que, aliás, ainda hoje existe, sendo agora produzido pela Sumol/Compal – foi um dos produtos alimentares mais marcantes dos 'nossos' anos 90, surgindo apenas atrás de clássicos como o Bollycao ou as batatas da Matutano (que, aliás, muitas vezes acompanhava) na lista dos mais lembrados pelos ex-'putos' daquela geração. No entanto, seria também desingénuo fingir que muitas dessas lembranças não estão ligadas ao seu mítico anúncio televisivo... 'Um Bongo, Um Bongo, o bom sabor da selva...!'

24.11.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Encontramo-nos, novamente, na altura do ano em que se aproxima a passos largos a época natalícia. Por todo o lado, começam a acender-se iluminações e a aparecerem Pais Natais nas montras do comércio local – e, como tal, nada melhor do que recordar uma tradição que nunca deixava de entusiasmar a criança média portuguesa criada em finais do século XX e inícios do Terceiro Milénio: a chegada às caixas de correio dos catálogos de Natal.

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Exemplo moderno de um clássico catálogo de Natal, ao estilo dos que recebíamos em casa nos anos 90

Inevitavelmente distribuídos por esta altura do ano a lares de Norte a Sul do País, da parte de todas as principais grandes superfícies, e quase tão inescapáveis e representativos da época natalícia como a transmissão de 'Mary Poppins' ou 'Sozinho em Casa', estes catálogos eram, para as crianças daquele tempo, o equivalente do que um super-saldo 'Black Friday' numa loja 'online' é hoje em dia para um adulto: um repositório de sonhos, de possibilidades infinitas ali mesmo ao alcance da mão – ou melhor, de uma visita ao supermercado ou hipermercado mais próximo. De brinquedos para recém-nascidos a bonecas (fossem Barbies ou Nenucos), figuras de acção e respectivas 'moradias', carros telecomandados, jogos de tabuleiro e computador, consolas, peluches, bicicletas, artigos de desporto e mil e um outros produtos de interesse directo para a faixa etária em causa, estes folhetos punham diante dos seus destinatários tudo aquilo que eles alguma vez pudessem desejar – e até alguns artigos que os mesmos não sabiam que queriam até os verem nas páginas do catálogo, o que no fundo era o objectivo declarado de todas e cada uma destas publicações.

Ainda assim, e apesar da vertente abertamente comercial, estes catálogos estavam sempre entre os folhetos mais cuidados e criativos do ano, com a competição entre os diferentes retalhistas a motivar a criação de verdadeiras obras de arte da publicidade física, dos quais o exemplo máximo talvez fossem os invariavelmente magníficos catálogos da Toys'R'Us, capazes de fazer qualquer 'puto' sonhar, e de quase o colocar ali, em meio a todos aqueles brinquedos, a partilhar alegres brincadeiras com aquelas crianças felizes que lhe sorriam da página...

Em suma, o prazer de folhear um catálogo de Natal e assinalar os presentes desejados, na esperança que um deles nos aparecesse debaixo da árvore, é só mais uma das muitas experiências que dá pena não poder recriar para a nova geração, para que também eles possam sentir o que nós sentíamos, naqueles idos anos 90, sempre que se aproximava o mês de Dezembro e a caixa do correio se enchia de folhetos de múltiplas páginas exclusivamente dedicados a brinquedos...

12.11.21

Nota: Este post é respeitante a Quinta-feira, 11 de Novembro de 2021.

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

A associação a fenómenos culturais de sucesso é, desde há pelo menos três quartos de século, uma das principais tácticas publicitárias utilizadas por companhias, produtos e marcas que se procuram destacar no mercado. Dos anúncios em que os Flintstones exaltavam as virtudes de um bom cigarro, nos anos 60, até à passagem da roupa do Pai Natal de verde para vermelha (cores da Coca-Cola, responsável pela campanha que cimentou a mudança) ou simplesmente ao patrocínio de eventos desportivos, culturais ou sociais (muito bem parodiado pelos Fúria do Açúcar no hino 'Eu Gosto É Do Verão'), esta união afirma-se, desde sempre, como um dos pilares da publicidade moderna, e vem tendo cada vez mais preponderância na vida quotidiana da sociedade ocidental.

Nos anos 90, não era diferente, sendo numerosas as companhias e marcas que procuravam elevar o seu perfil através da ligação a fenómenos mediáticos, sobretudo se apreciados pelo público jovem, à época o principal visado por grande parte das mensagens publicitárias; e um dos melhores exemplos deste fenómeno foi a associação da companhia de bebidas Frisumo a um programa de televisão não directamente dirigido à referida demografia, mas que era inequivocamente apreciado pela mesma – o Agora Escolha.

A referida ligação, que tomou a forma de patrocínio, efectivou-se a partir de 1993, tendo o 'timing' da Frisumo sido perfeito no que toca a exposição mediática, já que este foi, precisamente, o ano em que o programa de Vera Roquette transitou da periférica RTP2 para o Canal 1 - então ainda o principal canal da televisão portuguesa – ganhando, assim, uma exposição significativamente maior tanto para si, como para a marca em causa e para o seu recém-criado representante, o Tampinhas, uma carica de ténis, atitude 'radical' e (mais tarde) boné para trás, como convinha a qualquer mascote que se prezasse nos anos 90. Elevado a mascote oficial do programa, o Tampinhas surgia no ecrã ao lado de Vera Roquette, com quem interagia, tanto quanto a limitada tecnologia de inícios dos 90 permitia.

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A mascote da Frisumo em destaque num dos programas da época

Uma jogada certeira, que ajudou a catapultar a Frisumo de 'apenas' mais uma fabricante de refrigerantes, menos badalada e apreciada do que rivais como a Sumol ou a própria Coca-Cola, para uma das marcas preferidas da juventude, e a transformar o Tampinhas numa das caras mais reconhecíveis da publicidade infanto-juvenil da época, a par do Urso Tuli ou das mascotes de cereais da Kellogg's e Nestlé – e, apesar de o Agora Escolha ter durado menos de um ano após a celebração do contrato com a Frisumo, ainda um dos melhores exemplos de sinergia entre marcas e veículos mediáticos da história da publicidade portuguesa

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O Tampinhas viria a tornar-se uma das principais mascotes alimentícias portuguesas

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