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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

28.01.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Segunda-feira, 27 de Janeiro de 2025.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Os anos intermédios da década de 90 foram palco de um dos mais significativos avanços da História da tecnologia moderna, a saber, o surgimento e popularização de computação gráfica e efeitos digitais a três dimensões. Aparentemente de um dia para o outro, o grande público – até então habituado a métodos de animação mais tradicionais e programas de computador com gráficos cada vez mais detalhados, mas sempre limitados às duas dimensões então possíveis – era confrontado com jogos, programas de 'software' e mesmo filmes ou séries de televisão povoadas por personagens poligonais, que habitavam cenários com tanta profundidade como eles próprios – algo, à época, perfeitamente impensável, e suficiente para deixar de 'queixo caído' qualquer cidadão comum. E se, no campo dos jogos de computador e consola, esta mudança foi 'anunciada' por títulos como 'V.R. Racing' ou 'Virtua Fighter', e no cinema por 'Toy Story' (que aqui em breve terá o seu espaço) no tocante a programas televisivos a referência é uma única, e incontornável: 'ReBoot'.

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Estreada na RTP1 em 1997, três anos depois de surgir pela primeira vez no seu Canadá natal e um par de anos depois de os portugueses terem pela primeira vez visto gráficos em 3D, a série não deixou, ainda assim, de ter impacto, e de representar na perfeição o momento vivido naqueles últimos anos do século XX. Isto porque, tradicionalmente, os 'saltos' tecnológicos do sector da televisão tendem a dar-se com algum atraso relativamente aos dos campos da informática ou cinema, devido aos reduzidos orçamentos disponíveis: assim, ainda que os PC's e consolas como a PlayStation ou Sega Saturn já apresentassem gráficos bem melhores que os da série da Mainframe Entertainment, esta continuava, paradoxalmente, a representar o padrão máximo do que se podia fazer com tecnologias 3D num contexto televisivo, não deixando assim de impressionar os jovens telespectadores nacionais.

Além desta vantagem contextual, 'ReBoot' era, também, bastante inteligente na forma como posicionava a sua trama de forma a tirar o melhor partido possível da tecnologia ao seu dispôr e, ao mesmo tempo, 'disfarçar' as lacunas da mesma. Isto porque a série era ambientada dentro da 'mainframe' de um computador (representada como uma cidade futurista) o que permitia justificar a aparência angulosa dos cenários e personagens, já que os mesmos se tratavam, literalmente, de gráficos computorizados! De facto, o grupo central da série distingue-se por ser constituído por algumas das poucas personagens humanóides daquele Mundo, conhecidas como Sprites (quase todas com tons de pele pouco ortodoxos, a fazer lembrar 'Doug', da Disney) cuja função é proteger os Game Cubes (nada a ver com a posterior consola da Nintendo!) enviados pelo Utilizador, de vírus como Megabye e Hexadecimal, os principais vilões da série, numa incorporação inteligente de alguns dos principais termos de informática da época, que permitia aos jovens espectadores familiarizarem-se com o vocabulário digital então em ascensão, ao mesmo tempo que se divertiam com as aventuras de Bob, Dot e restantes heróis da série - e que, pela primeira vez, qualifica uma série para inclusão tanto na rubrica Segundas de Séries como nas Terças Tecnológicas!

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Alguns dos personagens principais da série.

Apesar de mais famosa nos EUA e Canadá, onde continua a ser lembrada com nostálgico carinho, 'ReBoot' logrou também deixar a sua marca em Portugal, sobretudo pelo seu aspecto distinto, imediatamente reconhecível e diferente de tudo o que se havia feito e viria a fazer em termos de televisão animada. De facto, mesmo depois da popularização da tecnologia CGI, poucas séries haveria que se assemelhassem, visualmente, a esta pioneira, cujos gráficos ficam mais próximos dos de um jogo de PC ou PlayStation da época do que da tradicional série animada de Sábado de manhã, o que permitiu que, num País cuja demografia infanto-juvenil se encontrava completamente rendida a Dragon Ball Z, Power Rangers, Tomb Raider e Quake II, 'ReBoot' conseguisse, ainda assim, afirmar-se como memorável o suficiente para ainda hoje ser lembrada por certos sectores do seu público-alvo.

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O jogo alusivo à série.

E porque toda e qualquer propriedade infanto-juvenil bem sucedida dos anos 90 e 2000 tinha direito a um jogo de vídeo, também 'ReBoot' viu sair um título interactivo a si alusivo, lançado exclusivamente para a consola da Sony, na Primavera de 1998; infelizmente, o jogo foi mal recebido tanto pela crítica como pelo público 'gamer', acabando, ao contrário do seu material de base, por não deixar qualquer rasto na memória nostálgica dos 'X' e 'millennials' portugueses. No respeitante à série em si, no entanto, passou-se precisamente o oposto: quem alguma vez se cruzou com ela num dos muitos blocos televisivos infantis da época, decerto recorda até hoje, senão a trama ou personagens, pelo menos alguns dos elementos visuais da mesma, de forma semelhante ao que sucede ao recordar o primeiro contacto com outros pioneiros das tecnologias 3D. Motivo mais do que suficiente para aqui lhe dedicarmos um 'post' duplo, que a celebra tanto enquanto produto televisivo como na vertente digital e tecnológica...



 

15.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 14 de Janeiro de 2025.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

A metade final dos anos 90 representaram, talvez, o auge do género 'first-person-shooter'. No espaço de apenas meia-dúzia de anos, o estilo transitava dos relativamente básicos 'Doom' e 'Wolfenstein 3D' para algo significativamente mais elaborado, estabelecia as bases de jogabilidade que orientariam os títulos do género durante as três décadas subsequentes, e via nascer várias daquelas que viriam ser as suas mais conhecidas e icónicas franquias, de 'Quake' e 'Unreal' a 'Half-Life', 'Team Fortress' ou à série a cujo jogo de estreia dedicamos este 'post', 'Medal of Honor'.

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Normalmente mais associada com o Novo Milénio, a franquia hoje editada pela Electronic Arts teve, no entanto, o seu início ainda nos últimos dias do século XX - tendo o primeiro título da série chegado aos PCs e PlayStations do Velho Continente há pouco mais de vinte e cinco anos, concretamente a 10 de Dezembro de 1999, exactamente um mês após o seu lançamento nos EUA – e pela mão de uma companhia diferente: a Dreamworks Interactive, do icónico realizador Steven Spielberg. E a verdade é que 'Medal of Honor' foi capaz de utilizar esta chancela de qualidade a seu favor, logrando destacar-se de entre um 'mar' de títulos futuristas com a sua ambientação histórica e os cuidados aspectos técnicos, supervisionados pelo próprio Spielberg, também parcialmente responsável pelo guião. Não é, pois, de estranhar que o título em causa surgisse na vanguarda técnica para a sua época, com a sonoplastia e os gráficos a recriarem até ao limite do possível os campos de batalha da II Guerra Mundial – um cenário um pouco diferente dos habituais corredores infestados de mutantes e 'aliens', mas tão ou mais imersivo, e suficientemente bem realizado para inspirar não só a criação de toda uma franquia, como de todo um género, persistente até aos dias de hoje.

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Exemplo dos bem-conseguidos ambientes do jogo.

Nem tudo eram, no entanto, rosas para 'Medal of Honor', que, ainda antes de ser finalizado, se viu involuntariamente envolto no escândalo imediatamente posterior ao massacre da escola de Columbine, quando várias entidades governamentais e privadas tentavam travar o surgimento de videojogos violentos, sobretudo baseados em eventos reais, como era o caso. Felizmente, os responsáveis pelo título foram, no entanto, capazes de convencer as autoridades das suas nobres intenções, fornecendo assim aos fãs do género não só mais um excelente título mas um verdadeiro pioneiro do estilo, hoje quase universalmente considerado 'pai' dos jogos de guerra; por outras palavras, sem 'Medal of Honor', as duas franquias mais populares do género na actualidade ('Battlefield' e 'Call of Duty') talvez nunca tivessem existido! Isto, claro, para não falar do facto de que 'Medal of Honor' é uma franquia bem-sucedida por direito próprio, a qual conta já com quase duas dezenas de títulos e presença em quase todas as consolas lançadas nos primeiros dez anos do século XXI.

Por muito auspicioso que tivesse sido este início, no entanto, o melhor ainda estava para vir para 'Medal of Honor', que, quase exactamente um ano após o primeiro título, lançaria aquele que é considerado o verdadeiro clássico da franquia. Desse, no entanto, falaremos em tempo; para já, fica a homenagem ao jogo de estreia, hoje menos lembrado do que os seus sucessores, mas que, à sua maneira discreta, acaba por ter tanta influência no género 'FPS' moderno como os 'baluartes' seus contemporâneos.

19.11.24

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

A ùltima década do século XX foi palco de um significativo aumento de popularidade dos desportos radicais junto da população infanto-juvenil, não só portuguesa como do resto do Mundo em geral, com actividades anteriormente periféricas, como o 'surf', 'bodyboard', snowboard, 'skate', patins em linha ou BMX competitiva a adquirirem renovado interesse para a referida demografia, que se revia na estética dos praticantes e no 'factor cool' das manobras em si. Não foi, pois, de estranhar que rapidamente principiassem a surgir novos conceitos ligados a estas e outras modalidades, fosse através de programas especificamente dedicados às mesmas, como o 'Portugal Radical', fosse utilizando o outro grande meio de 'atingir' o público jovem, os videojogos; e se, neste universo em particular, a estética 'radical' vinha já perdurando há vários anos, a segunda metade dos anos 90 e primeira da década e século seguintes viram ser feito um esforço concertado para proporcionar aos 'gamers' versões virtuais dos seus desportos radicais favoritos. A chegada da novíssima e revolucionária tecnologia poligonal, que permitia a criação de ambientes tridimensionais onde movimentar os personagens, apenas veio tornar a criação de jogos centrados em desportos radicais ainda mais apetecível, e não tardaria até o mercado em questão ver surgir nos escaparates o seu primeiro clássico, o qual, sem que ninguém o esperasse, viria a influenciar o seu sub-género durante as (até agora) três décadas seguintes.

Corria a primeira quinzena de Outubro de 1999 quando os 'gamers' europeus, nomeadamente os detentores de uma Sony PlayStation, tiveram pela primeira vez contacto com 'Tony Hawk's Skateboarding', título que trazia, desde logo, a 'garantia de qualidade' associada a licença e 'apadrinhamento' oficiais do nome mais mediático da cena 'skate' mundial. De facto, a presença de Hawk e dos seus colegas de profissão não só ajudava a criar um atractivo extra para os jovens fãs da hoje modalidade olímpica, como também 'obrigava' a Activision (então ainda longe de cair em desgraça) a produzir algo acima da média, e que honrasse os nomes envolvidos. E o mínimo que se pode dizer é que a editora esteve à altura do desafio; embora o primeiro 'Tony Hawk's' não seja um título perfeito, nem tão-pouco o melhor da série, o seu estatuto de pioneiro de um género hoje popularíssimo, e o impacto que teve no mercado dos videojogos em geral, não pode ser negado.images (1).jpegimages (2).jpeg

De facto, é ao primeiro título da futura série 'Tony Hawk' que o panorama interactivo deve a popularização do formato mediante o qual o jogador 'veste a pele' de uma estrela do 'skate' (ou de qualquer outra modalidade) e percorre diferentes cenários, realizando truques, cumprindo objectivos e descobrindo segredos que, por sua vez, ajudam a activar novos personagens, cenários ou acessórios, tudo ao som de uma banda-sonora composta do melhor do 'punk' melódico e rock alternativo contemporâneo. Uma fórmula hoje expectável, e quase 'batida', mas que, naqueles meses da viragem do Milénio, era verdadeiramente inovadora, ajudando a demarcar o jogo de títulos 'arcaicos' como 'Skate or Die', para a Nintendo 8-bits. O sucesso, esse, foi imediato e retumbante, não tardando 'Tony Hawk's Skateboarding' a estar nas 'bocas do Mundo' infanto-juvenil, a par de títulos como 'Grand Theft Auto', 'Tomb Raider', 'Final Fantasy VII' ou 'Metal Gear Solid', com os quais viria a partilhar o estatuto de 'best-seller' no mercado da altura.

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Surpreendentemente, no entanto, o melhor estaria ainda para vir: ainda os jovens ocidentais cantarolavam 'Superman', dos Goldfinger (grande 'malha' do primeiro álbum) e já a Activision lançava no mercado o segundo volume da série, agora numa maior variedade de plataformas e com uma ligeira mudança de nome (para a variante americana 'Tony Hawk's Pro Skater', que se tornaria permanente). E seria aquela que se revelaria como a primeira de muitas continuações da série até aos dias de hoje a grande responsável por implementar grande parte dos elementos hoje associados com a mesma, cumprindo a função inerente a qualquer boa sequela – isto é, a de melhorar as bases estabelecidas pelo título original – e produzindo uma banda sonora, se possível, ainda mais icónica, com 'bombas' sonoras a cargo de Bad Religion, Powerman 5000 ou Anthrax com Public Enemy, entre outros. O sucesso foi, mais uma vez, estrondoso, sendo 'Tony Hawk's Pro Skater 2' ainda hoje considerado por muitos como o melhor título da série, ou pelo menos o mais completo e equilibrado a nível dos aspectos técnicos.

Quiçá a melhor banda sonora de qualquer videojogo moderno.

A restante história é bem conhecida de qualquer cidadão ocidental com interesse em videojogos: mais dois títulos da série original, expansão para novas plataformas, novas séries 'derivadas' (como 'Tony Hawk's Underground') e uma franquia que perdura até aos dias de hoje, embora já não necessariamente com o 'gás' dos primeiros tempos. E se aquele já distante primeiro título parece, hoje em dia, algo 'anómalo' no contexto da série como um todo, a verdade é que haverá pouco quem conteste a sua importância para o panorama actual de jogos de desporto e habilidade, continuando o mesmo a ocupar um lugar especial no coração da primeira geração de 'gamers' da era poligonal, para quem foi parte integrante e marcante dos anos da adolescência, permitindo-lhes, após um dia de truques simples mais ou menos bem-sucedidos, imaginar-se a realizar proezas quase impossíveis, entre a elite do 'skate' competitivo mundial...

18.07.24

NOTA: Este 'post' é correspondente a Terça-feira, 16 de Julho de 2024.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Já aqui anteriormente abordámos a invulgar longevidade e popularidade dos personagens da companhia de animação Hanna-Barbera junto do público infanto-juvenil contemporâneo; de facto, os 'bonecos' criados por William Hanna e Joe Barbera nos anos 60 mostraram-se capazes de se manter relevantes ao longo de (até à data) seis décadas completas, tendo mesmo gozado de um 'segundo fôlego' de popularidade durante aquela que talvez tenha sido a década mais cínica e irreverente da História moderna – e, por conseguinte, a antítese do que a maioria dos personagens da dupla representam. Uma das provas físicas mais 'visíveis' desse mesmo estatuto junto dos jovens 'X' e 'millennial' é o absurdo volume de videojogos alusivos e dedicados a cada uma das principais franquias da companhia – um sinal inequívoco de que algo almejou tracção junto do público jovem.

Efectivamente, a quantidade de os títulos lançados durante os dez últimos anos do século XX torna impossível seguir o habitual formato desta rubrica, que passa normalmente por um breve resumo de cada jogo acompanhado de imagens ou vídeos do mesmo. Assim, esta Terça Tecnológica operará de forma ligeiramente diferente, oferecendo uma perspectiva mais alargada sobre o que os jovens fãs de Hanna-Barbera tinham ao seu dispôr durante uma das grandes 'épocas áureas' do entretenimento electrónico.

Tendo em conta o período em questão, não é de surpreender que a esmagadora maioria destes títulos se insira no formato de acção em plataformas em plano bi-dimensional e de perspectiva lateral, o género quase sinónimo com jogos licenciados durante a era dos 8 e 16 bits. Scooby-Doo, os Flintstones, os Jetsons, Zé Colmeia e Tom e Jerry contam, cada um, com uma mão-cheia de jogos deste estilo lançados para todas as consolas e computadores pessoais da época, o que demonstra bem a natureza hercúlea de os tentar detalhar a todos; assim, optámos, neste 'post' por focar apenas os títulos que oferecem algo distinto em relação a esta fórmula – já que, apesar de poucos, os mesmos não deixam ainda assim de existir.

É o caso, por exemplo, dos primeiros jogos dos Jetsons, lançados no início da década de 90 para os computadores pessoais da época – IBM, Amiga, Amstrad CPC e Commodore 64. Por oposição aos típicos saltos e tiros, 'The Jetsons: The Videogame' sugere um formato mais próximo das colecções de mini-jogos que viriam a singrar no mercado Windows anos depois, com o jogador a ser desafiado a cumprir uma série de tarefas para cada um dos membros da família. Já 'George Jetson and the Legend of Robotopia' e 'By George! In  Trouble Again' são aventuras à base de texto, com o jogador a clicar nas opções que prefere à medida que a história se desenrola, ao estilo dos clássicos livros de 'Aventuras Fantásticas' ou 'Dungeons and Dragons'. Dois conceitos que podem parecer algo enfadonho nesta era do hiper-realismo, mas que 'enchiam as medidas' dos jogadores mais estratégicos e intelectuais de inícios dos 'noventa'.

Outro exemplo de algo fora dos padrões de um jogo licenciado é 'Scooby-Doo! Mystery of the Fun Park Phantom', lançado para PC nos últimos meses do Segundo Milénio, e que se insere num estilo então 'em alta' entre o público-alvo – a aventura gráfica 'point and click'. Na pele dos diferentes membros do grupo principal (excepto, curiosamente, o próprio Scooby-Doo, aqui remetido a um papel de coadjuvante) os jogadores perambulam pelo parque de diversões titular, para tentar resolver o mistério em causa através da recolha de pistas e pedaços de armadilhas destinadas a aprisionar o Fantasma do Parque de Diversões. Resta saber se é possível separar o quinteto, enviando Velma, Freddy e Daphne para um lado, enquanto Shaggy e Scooby vão para o outro, dando inevitavelmente 'de caras' com o titular espectro. No ano seguinte, o mesmo grupo viria ainda a protagonizar uma aventura 3D para Nintendo 64, 'Scooby-Doo: Classic Creep Capers' embora a mesma se tenha 'perdido' em meio a muitos outros jogos semelhantes e mais bem conseguidos, ou com licenças mais apelativas.

Talvez o exemplo mais radical da utilização de uma licença Hanna-Barbera para algo distinto lançado durante a época em causa (se não contarmos com os jogos baseados no filme dos Flintstones, que de diferente têm apenas a aparência dos protagonistas principais) é 'Flintstones Bedrock Bowling', lançado no Verão de 2000 para PC e PlayStation e que, ao contrário do que o nome indica, é um jogo...de corridas - ou, mais concretamente, daquele tipo de nível bem típico dos jogos licenciados da era 32-bits, que vê o personagem correr ou deslizar por um trajecto pré-definido, procurando evitar obstáculos e recolher itens. E embora um jogo inteiro nesses parâmetros se possa tornar cansativo muito rapidamente, a verdade é que a proposta não deixa, ainda assim, de ser original q.b., e diferente de quase tudo o que na altura se lançava para computador ou consola.

Para finalizar, e já nos últimos meses do primeiro ano do Novo Milénio, foram lançados, para Nintendo 64 e PlayStation, dois jogos de premissa idêntica e com a mesma licença, Tom e Jerry. Tanto 'House Trap' (da PlayStation) como 'Fists of Furry' (na Nintendo) são jogos de luta tri-dimensionais, em que os eternos inimigos se tentam magoar mutuamente com objectos localizados ao redor de sua casa, proporcionando talvez a experiência mais próxima a uma das suas clássicas 'curtas' que seria possível recriar em formato digital.

É, pois, fácil de ver que, embora a maioria dos criadores recorresse à fórmula fácil e testada, havia ainda quem tentasse inovar dentro do campo dos jogos licenciados, e aliar os personagens de Hanna-Barbera a outros formatos que não apenas o de plataformas – empreitada que, aliás, se verifica ainda nos dias de hoje, não tendo os personagens em causa 'abrandado o ritmo' desde o nascimento dos videojogos. Apenas mais uma prova (como se ainda fosse necessário) da absurda longevidade e poder de renovação destes personagens, não só no formato televisivo ou cinematográfico, mas também no campo do entretenimento interactivo.

11.10.22

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Na última semana, temos aqui vindo a abordar a popularidade de que o herói franco-belga Astérix gozava durante os anos 90, década que viram o guerreiro gaulês entrar na meia idade da melhor forma possível, revitalizado e pronto a aliciar toda uma nova geração de jovens quer com as suas clássicas aventuras em banda desenhada, quer através dos seus filmes animados ou até de artigos licenciados ou promocionais, entre os quais se incluíam os inevitáveis jogos de vídeo, principal sinal de uma propriedade intelectual verdadeiramente bem sucedida naqueles finais do século XX.

De facto, a relação do personagem de Goscinny e Uderzo com o mundo digital é praticamente simultânea com a popularização dos aparelhos de jogos e máquinas de arcada, surgindo os primeiros títulos licenciados logo no início dos anos 80, durante o reino da Atari 2600. Escusado será dizer que, nestes jogos, a alusão a Astérix e ao seu rechonchudo companheiro Obélix era meramente estética e cosmética, sendo a restante jogabilidade genérica e típica daquela era dos videojogos; de facto, tal era a importância (ou falta dela) do personagem para estes jogos que o primeiro destes jogos seria, mais tarde, relançado, agora com o Diabo da Tasmânia dos Looney Tunes no lugar de Astérix!

A primeira tentativa de verdadeiramente recriar o mundo de Uderzo no ecrã do computador só viria, pois, a surgir com os dois títulos do herói lançados em meados da década de 80 para os computadores caseiros da altura, no caso duas aventuras gráficas, cuja natureza era bastante mais conducente à referida recriação do ambiente da aldeia gaulesa e respectivos habitantes. A distribuição limitada de que estes títulos gozavam ditava, no entanto, que seria apenas nos anos 90 que Astérix entraria na consciência popular dos 'gamers', no caso da mesma forma que dezenas de outros heróis licenciados – através de uma série de jogos de plataformas, quiçá 'O' género por excelência da primeira metade da década (havia, também, um jogo de arcada, ele próprio adstrito ao género mais popular nos salões de jogos, o 'beat-'em'up, mas cuja presença nos salões de jogos portugueses da época era totalmente nula).

De facto, uma análise individual aos diversos títulos do herói que saíram nesta época torna-se redundante, já que todos eram não só muito semelhantes, como extremamente típicos da oferta para consolas da época, residindo a única diferença no facto de os dois jogos da Sega, programados pela própria, permitirem escolher com que herói se desejava jogar no início de cada nível (excepto os dois primeiros) enquanto que nos da Nintendo, Obélix encontrava-se captivo dos romanos, pelo que o jogador apenas podia controlar Astérix. De resto, era tudo como seria de esperar: saltos, poderes, itens para reunir, vidas extra e, claro, muitos romanos para esbofetear a preceito; nada de muito especial para a época, portanto, e longe de ser suficiente para evitar que qualquer dos seis (!) jogos do herói da fase 8 e 16-bits se perdesse nas vastas 'bibliotecas' de títulos das respectivas consolas.

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Os jogos de Astérix para as consolas de 8 e 16-bits seguiam um formato extremamente tipico para a época (em cima, Master System; em baixo, Super Nintendo)

Mais digno de nota, até por ser talvez o título mais memorável para os jovens portugueses da época, é 'Astérix e Obélix', a segunda incursão dos heróis gauleses no mercado dos jogos para PC do ano de 1995, após um algo surpreendente jogo de tabuleiro interactivo intitulado 'Astérix: Caesar's Surprise' (apesar de não ter qualquer relação com a película do mesmo nome lançada uma década antes), também disponível para Phillips CD-i. Inserido numa série de jogos alusivos a heróis da banda desenhada franco-belga, todos eles de qualidade uniformemente alta (mas dos quais talvez seja mesmo o melhor) esta divertidíssima mistura de Super Mario com Rayman e os próprios títulos anteriores do herói consegue recriar perfeitamente o ambiente visual e clima das bandas desenhadas, através de gráficos cuidados (as animações são hilariantes) e pequenos toques de 'fan-service' que demonstram respeito por parte da francesa Infogrames, não só pela própria licença, mas pelo público-alvo do jogo; não é, pois, de surpreender que, mais de um quarto de século após o seu lançamento, este título continue a constituir o auge dos jogos de vídeo de Astérix.

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Para além de divertidíssimo, o excelente 'Astérix & Obélix', de 1995, recriava na perfeição o ambiente das bandas desenhadas.

Também longe de ser surpreendente é o facto de Astérix ter dado o natural 'salto' para o 3D ainda antes do final do milénio, aparecendo com uma dimensão extra no seu jogo homónimo para PlayStation, lançado em 1999; a surpresa estava, apenas, no género escolhido para o referido título, o qual, longe de ser apenas uma transposição para 3D dos seus bem-sucedidos antecessores, misturava estratégia com esporádicos mini-jogos e curtas secções de acção e plataformas, um 'cocktail' de elementos que nunca se incorporavam da melhor maneira, fazendo com que o jogo fosse mal recebido pela crítica especializada da época, e rapidamente esquecido pelos fãs da consola da Sony.

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As potencialidades de Astérix em 3D não seriam devidamente aproveitadas nem pelo primeiro jogo para Playstation (em cima) nem tão-pouco pela adaptação oficial do primeiro filme 'live action' (em baixo).

Este não seria, ainda assim, o momento mais 'baixo' de Astérix no mundo dos videojogos; essa honra cabe a 'Asterix & Obelix Take On Caesar', jogo oficial da primeira adaptação 'live action' do duo gaulês, ;lançado no primeiro ano do novo milénio (já depois de um par de novos títulos para Game Boy Color) e cuja recepção foi tão (ou mais) pobre do que a daquele – e com boas razões. Além dos horríveis gráficos foto-realistas ao estilo 'Street Fighter: The Movie – The Game', o título mais não é do que um gigantesco mini-jogo, desperdiçando mais uma soberana oportunidade para criar um jogo de plataformas de Astérix em ambiente 3D – uma receita que, apesar de aparentemente básica ao ponto de quase ser insultuosa, só viria a ser devidamente explorada já na década seguinte.

Desde então, os heróis gauleses de Goscinny e Uderzo têm continuado a figurar em jogos digitais com relativa frequência, tendo quase todos os sistemas até hoje lançados (incluindo os telemóveis) tido direito a pelo menos um jogo alusivo aos personagens – com destaque para a bem-sucedida trilogia 'Astérix & Obélix XXL', da era PS2/Gamecube; é, pois, seguro afirmar que Astérix e o seu rotundo melhor amigo continuam bem vivos na memória colectiva mundial, e gozam de popularidade suficiente para continuarem a justificar o licenciamento, tendo transitado de forma natural e fluida para a nova era digital, e continuando a afirmar-se tão apelativos para os filhos da geração dos anos 80 e 90 como, na altura, o foram para os seus pais. Nada mau para dois personagens que, na vida real, seriam já da idade do concidadão Agecanonix...

 

13.04.21

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

E se em semanas anteriores abordámos aqui as consolas ‘best-seller’ da Sega e da Nintendo durante os anos 90, hoje, chegou a altura de falar do sistema que, vindo do nada, as destronou a ambas, e se tornou talvez a máquina de jogos mais emblemática de toda a ‘nossa’ década…

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A verdadeira 'caixinha de sonhos' para os putos da década de 90.

Sim, essa mesmo – a Sony PlayStation, também conhecida como uma das melhores consolas não só daquela época, mas da história dos videojogos. Tendo gerado, até agora, nada menos do que quatro sucessoras, a caixa cinzenta da então novata Sony constituiu talvez a mais surpreendente história de sucesso do panorama dos videojogos modernos – com Portugal a não constituir exceção nesse aspecto.

Lançada em 1995, numa época em que tudo era ainda novo e excitante e incerto no mundo dos videojogos (e da eletrónica em geral), a PlayStation original tinha a difícil missão de suplantar a Sega Saturn, cujo inovador modo de funcionamento (através de CDs) e impressionantes gráficos poligonais vinham cativando uma geração de ‘gamers’ habituada a usar os algo limitados cartuchos e a ver os jogos de lado ou de cima, num plano bi-dimensional. Jogos como ‘Virtua Fighter’ e a lendária versão de ‘Tomb Raider’ deixavam as crianças e adolescentes da época de ‘queixo caído’ com a sua sofisticação, enquanto jogos divertidos como ‘Daytona USA’, ‘Sega Rally’ ou mesmo ‘Sonic 3D’ representavam aliciantes adicionais para a compra da consola.

Foi para dentro desta arena que a Sony bravamente atirou a sua pequena máquina cinzenta, a qual, apesar das menores dimensões e falta de memória interna relativamente à rival (obrigando ao uso de cartões de memória, o qual representava um custo adicional) mostrou estar mais do que à altura do combate com a mesma – vindo mesmo, rapidamente, a derrotá-la, e a afirmar-se como A consola de 32-bits por excelência.

Os motivos para esta contundente vitória não eram difíceis de perceber. Uma combinação de gráficos ainda melhores que os da Saturn com jogos ainda melhores que os da Saturn (entre os títulos de lançamento da PS estavam jogos como ‘Crash Bandicoot’, ‘Ridge Racer’, ‘Wipeout’ ou ‘Tekken’) ajudou a estreante consola da Sony a entrar rapidamente e de rompante nos corações dos jogadores de todo o Mundo – incluindo dos portugueses – e a tornar-se o presente mais desejado dos Natais de 1995 e 1996 para jovens de todas as idades. Até mesmo a revolucionária Nintendo 64, com o dobro da potência da PlayStation, se viu e desejou para rivalizar com a consola da Sony (até pelos jogos muito mais caros, e no obsoleto formato de cartucho em vez do vigente CD) acabando por ter de contentar-se com um estatuto de culto, que mantém até hoje.

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'Wipeout', um dos jogos de lançamento da consola

Com a última adversária ‘fora de jogo’, estava aberto o caminho para o reinado da hoje chamada Playstation One. E que reinado teve a consola da Sony! A pequena caixa cinzenta – que mais tarde se tornou ainda mais pequena e branca, com o lançamento do modelo PSOne – dominou o que restava dos anos 90 e o princípio da década seguinte, resistindo, qual gaulês de Goscinny e Uderzo, à investida de 128 bits da Sega (com a revolucionária mas malograda Dreamcast, uma espécie de ‘Saturn parte II’) e ao aparecimento da nova geração de consolas portáteis de 32 bits, entre outros fenómenos tecnológicos da época.

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O modelo PSOne

A única consola que conseguiu tornar obsoleta a PlayStation One foi, portanto…a PlayStation 2, lançada em 2000 e que confortavelmente ocupou o lugar que havia sido da sua antecessora. Mesmo assim, o ciclo de vida da ‘Um’ não teve fim imediato – pelo contrário, a pioneira de 32 bits ainda se ‘aguentou’ algum tempo, tendo acabado por ‘reformar-se’ com elegância, não sem antes oferecer aos ‘gamers’ da sua geração excelentes versões 32-bits de jogos como ‘Tony Hawk’s Pro Skater 3’. Quanto ao seu legado, esse, é inegável, sendo a caixinha de surpresas da Sony tida ainda hoje - passadas quase duas décadas da sua retirada - como um dos melhores sistemas de jogos de sempre, tendo mesmo feito parte da atual série de replicas ‘Mini’ (das quais é, infelizmente, de longe a pior…)

E vocês? Tinham PlayStation? Quais os vossos jogos favoritos? Por aqui, não se tinha, mas queria-se – desesperadamente. Entretanto, ia-se jogando nas lojas e em casa de amigos…e vinte anos depois, acabar-se-ia mesmo por viver o sonho de infância, sendo que hoje em dia ‘mora’ cá por casa uma caixinha cinzenta que toca CDs pretos, e que é tão prezada como teria sido lá nos idos de 1997…

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