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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.05.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui por várias vezes nos referimos ao início dos anos 90 como o período por excelência de experimentação televisiva em Portugal, com o aparecimento de dois canais independentes a permitir a aposta em programas inovadores, muitos deles adaptados de formatos estrangeiros de igual sucesso. De concursos a programas de auditório, passando por emissões sentimentais e até falsos casos de tribunal televisionados, foram muitos os formatos a correr riscos calculados em busca das sempre 'fugidias' audiências; a essa lista, há agora que juntar aquela que foi uma das grandes apostas da SIC para a temporada televisiva de 1994, e que introduzia mais um conceito pioneiro no contexto da televisão portuguesa – o 'Perdoa-me'.

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Com uma premissa algures entre o 'Ponto de Encontro' e 'O Juiz Decide', com uma pitada de 'Jerry Springer' à mistura, o programa apresentado primeiro por Alexandra Lencastre (a Guiomar da 'Rua Sésamo', entretanto transformada em apresentadora de televisão credível) e depois por Fátima Lopes, mais tarde pioneira dos 'talk shows' nacionais, propunha-se, simplesmente, a resolver publicamente conflitos entre duas partes lesadas, numa tentativa de restabelecer as boas relações entre elas – um daqueles conceitos que apela ao 'voyeurismo' e partilha da desgraça alheia inerentes a grande parte da humanidade, e a que os portugueses não são excepção. Assim, não é de surpreender que o programa se tenha instantaneamente afirmado como um sucesso de audiências, atingindo um 'share' de 53.5%, um número histórico à época e que indicava que mais de metade dos lares portugueses tinham o programa sintonizado! Esta inaudita popularidade ajudou, aliás, a catapultar para o sucesso os programas que se sucediam ao 'Perdoa-me', em particular o 'All You Need Is Love', outro conceito pioneiro que aqui terá, em breve, o seu 'lugar ao Sol'.

Apesar deste sucesso quase absurdo, no entanto, 'Perdoa-me' é, trinta anos depois, lembrado sobretudo pelo episódio transmitido a 1 de Junho de 1994, em que Alexandra Lencastre se deixou enganar pelos próprios convidados, dois jovens estudantes de Agronomia cuja pretensa querela não passava de um artifício para conseguir aparecer no programa e, por consequência, na televisão; um momento algo embaraçoso, que fez parangonas na imprensa da época e que não deixou de ser recordado no 'Jornal da Noite' aquando dos vinte anos da efeméride. Um 'legado' algo inglório para um programa pleno de boas intenções, e que, à época, provou aos executivos televisivos que, por vezes, valia a pena arriscar, sem que posteriormente fosse necessário pedir perdão...

Excertos das duas 'eras' ou 'fases' do programa.

 

23.04.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A década de 90 foi, no que toca à televisão portuguesa, um período de experimentação por excelência. Antes do sucesso das telenovelas portuguesas e dos primeiros 'talk-shows' e 'reality shows' virem formatar irreversivelmente a oferta televisiva nacional para o Novo Milénio, o aparecimento de dois novos canais de índole independente, livres das restrições da emissora estatal e com grelhas inteiras para preencher, permitiu a aposta numa série de conceitos pioneiros (pelo menos no nosso País) e originais ao ponto de, até hoje, alguns ainda constituírem o único exemplo do género. Entre programas de reencontros, encenações de processos jurídicos em directo, emissões sensacionalistas sobre trabalho policial e outras que misturavam entretenimento juvenil com discussões sérias sobre os problemas dessa demografia, não era difícil até ao conceito mais 'estapafúrdio' encontrar o seu nicho dentro da programação da SIC e da TVI; como tal, não é surpreendente que um programa como 'Cenas de Um Casamento' tenha, também ele, conseguido gozar de uma temporada como parte da grelha da estação de Carnaxide.

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Estreado há exactos trinta anos, em Abril de 1994, e apresentado pelo sempre carismático Guilherme Leite, 'Cenas de Um Casamento' partia de uma premissa que quase se podia considerar predecessora dos 'reality shows' da década seguinte, embora sem o 'factor espectáculo' manufacturado destes últimos. O foco da emissão eram, não celebridades 'acabadas' ou anónimos em busca de fama e fortuna, mas casais normais, do dia-a-dia, em processo de planificação e preparação do seu casamento. Cada episódio do programa levava os telespectadores através de toda a História romântica do casal, do início de namoro à fase actual, permitindo-lhes 'viver' o evento ao lado do noivo e da noiva, ao mesmo tempo que proporcionava a estes últimos não só quinze minutos de fama como também uma plataforma para mostrarem ao Mundo (ou, pelo menos, ao País) a bela cerimónia de que haviam sido o centro. Um conceito tão picaresco quanto pitoresco (sobretudo na era das redes sociais) mas que não deixava de encontrar o seu público entre a vasta faixa de população que procurava 'perder-se' nos contos de fadas de estranhos como forma de trazer emoção à sua própria vida.

Conforme mencionámos acima, este conceito dificilmente resultaria como emissão em horário nobre numa era em que o efeito proposto pelo programa é facilmente realizável no espaço de uns poucos 'cliques' numa qualquer rede social gratuita, com a vantagem adicional de não ser necessário esperar pela semana seguinte para acompanhar outra história; na sua época, no entanto, a proposta de 'Cenas de Um Casamento' não só fazia sentido como era pioneira, justificando tanto a presença na grelha da SIC para a Primavera de 1994 como a recordação neste nosso 'blog' nostálgico, por alturas do trigésimo aniversário da sua estreia.

04.04.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O surgimento dos canais de televisão privados potenciou o surgimento e expansão de um formato televisivo já explorado, ao de leve, pela televisão estatal, mas exacerbado e explorado à exaustão pelas referidas SIC e TVI: o 'talk show' matinal. Já tradicional nas grelhas de programação de países como os Estados Unidos e a Inglaterra, este tipo de programa - no qual se misturam entrevistas, debates, 'casos' reais, escândalos, segmentos com conselhos práticos do dia a dia e números de entretenimento - cimentou-se definitivamente em Portugal na segunda metade da década de noventa, para não mais abandonar as grelhas televisivas - e um dos principais responsáveis por essa popularidade (bem como um dos pioneiros do formato) foi precisamente o programa de que hoje falamos, estreado há pouco mais de um quarto de século e que levava o nome da sua apresentadora: 'Fátima Lopes'.

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Idealizado por Manolo Bello (um dos co-criadores dos famosos 'Apanhados', o programa propunha um bloco diário de três horas, sob a égide da apresentadora homónima (então conhecida, sobretudo, pelos não menos icónicos 'Perdoa-me' e 'All You Need is Love'), e sempre dedicado a um tema de interesse para o seu público-alvo de donas-de-casa - ainda que, por vezes, o assunto em debate fosse um pouco mais 'arriscado' do que o habitual, como foi o caso com o travestismo, num episódio que, aliás, chegou a ser reaproveitado pelos icónicos Gato Fedorento, anos depois da última transmissão do programa, que data de 2001. (De notar, aliás, que 'Fátima Lopes' entrou nas casas dos portugueses durante quase exactamente três anos, datando a primeira emissão de 16 de Fevereiro de 1998, e a última de 2 de Fevereiro de 2001.)

O final do programa não significou, no entanto, o fim do formato em causa na emissora de Carnaxide, ou mesmo da carreira de Fátima Lopes como apresentadora deste tipo de conteúdos; pelo contrário, a apresentadora tornou-se tão sinónima com programas deste tipo como Manuel Luís Goucha na RTP, surgindo à cabeça de mais dois formatos do mesmo tipo em anos subsequentes, 'SIC 10 Horas' e 'Fátima', antes de se 'mudar' para a TVI, onde continuaria na mesma senda. Ainda assim, é pelo seu programa homónimo, e pelas suas mais de seiscentas emissões, que a apresentadora é, ainda hoje, recordada por muitos daqueles que acompanhou durante o pequeno-almoço ou os 'tempos mortos' das manhãs de infância ou adolescência, tornando-se presença diária, constante e reconfortante no ecrã da televisão de casa.

17.08.21

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquêela década.

Numa era em que bastam alguns cliques para se reencontrarem amigos de há mais de três décadas (vocês sabem quem são – olá a ambos!) pode parecer incongruente, e até algo caricato, que há pouco mais de vinte anos atrás fosse possível pessoas chegadas não se verem durante quase toda uma vida. Sim, ainda hoje há quem passe ‘entre os pingos da chuva’ (bastando para isso desaparecer das redes sociais ou plataformas de ‘chat’) mas nos tempos modernos tal constitui uma excepção, e não a regra.

Nos anos 90, no entanto, passava-se precisamente o contrário, sendo esta uma situação a tal ponto corrente que justificava a existência de todo um programa de televisão centrado em torno desse conceito; um programa cuja própria música de abertura já começava por mandar ‘um abraço’, e cujo anfitrião tinha sempre a máxima compaixão para com quem a ele recorria. Um programa chamado…Ponto de Encontro.

Tentem não ficar com isto na cabeça...vá, tentem...

Sim, chegou hoje a vez de relembrarmos um dos mais memoravelmente ‘foleiros’ programas da televisão portuguesa, que apelava declaradamente e descaradamente à lágrima fácil como táctica para conquistar audiências; e a verdade é que resultava, tendo o programa sido um sucesso de audiências à época (a dado ponto em 1995, eram cerca de 10 mil as cartas ‘por despachar’ da produção) e ainda hoje lembrado como adoravelmente ‘fatela’.

Inspirado, como tantos outros programas da época, num formato estrangeiro (neste caso francês) e adaptado para a realidade portuguesa pelo ‘génio do popularucho’ Emídio Rangel, em 1994, o conceito do ‘Ponto de Encontro’ era, conforme se disse acima, extremamente simples; os participantes escreviam para o programa, dizendo quem queriam encontrar, porquê, há quanto tempo não os viam, e outras informações do género, e a equipa técnica tratava de tornar possível um reencontro ao vivo no ar, sob o olhar benevolente do simpático ‘avôzinho’ Henrique Mendes. As reuniões (a maioria delas de cariz familiar ou sentimental) resultavam, inevitavelmente, em cenas de lágrimas e comoção – sempre bem acompanhadas pela lendária música do programa, que era literalmente tocada em violinos, numa ‘overdose’ de ‘kitsch’ a que nem os mais empedernidos ficavam indiferentes.

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O carismático apresentador do programa

Foi assim durante oito anos, de 1994 a 2002 (em pleno dealbar da era da Internet!) sem qualquer mudança de formato, ou sequer de apresentador, e sem qualquer perda de preponderância na grelha de horário nobre da estação onde passava, a inevitável SIC; no dia em que deixou de ser transmitido, o ‘Ponto de Encontro’ era exactamente o mesmo programa que estreara oito anos antes, com  o mesmo apresentador, o mesmo formato, a mesma música, e os mesmos familiares chorosos nos braços uns dos outros após décadas sem se verem – um feito de que poucos outros programas, alguns dos quais tão ou mais ‘perenes’ do que ele, se podem gabar.

Em suma, visto da perspectiva de duas décadas no futuro, o ‘Ponto de Encontro’ constitui uma verdadeira ‘cápsula do tempo’ da televisão portuguesa dos anos 90 - talvez não tanto como um ‘Big Show SIC’, mas pelo menos tanto como um ‘Agora ou Nunca’ ou ‘Templo dos Jogos’ (curiosamente, todos transmitidos pela mesma estação). ‘Foleiro’ e ‘piroso’ como era, a verdade é que este programa foi presença assídua nas noites de muitos portugueses (incluindo jovens), e terá comovido muito boa gente – ou seja, fez exactamente aquilo a que se propunha, e fê-lo bem o suficiente para ficar quase uma década no ar, e merecer a presença nas páginas deste nosso recanto nostálgico…

 

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