Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

30.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 29 de Julho de 2024.

NOTA: Este 'post' não teria sido possível sem o André Alonso, que não só recordou o nome da série abordada como providenciou 'links' para a única fonte onde a mesma surge mencionada. Obrigado, André!

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

HistCorpo-Inteiro-00-1.webp

O elenco de personagens da série. (Crédito da foto: RTP)

Já aqui por várias vezes mencionámos produtos ou criações mediáticas das décadas de 80, 90 e até 2000 que, por uma razão ou por outra, têm pouca ou nenhuma presença nos supostamente omniscientes motores de pesquisa da Internet actual. No entanto, enquanto que as BD's da Hanna-Barbera ou a revista Ultra Som possuem pelo menos uma imagem ou menção no Google, outros tópicos que abordámos aqui no 'blog', como o sumo do Astérix da Libby'sa bebida B Cool da Danone ou a pasta de dentes do Super Mario, encontram-se totalmente esquecidos e dependentes da memória de quem com eles conviveu. O tema desta Segunda de Séries situa-se precisamente a meio caminho entre estes dois paradigmas, encontrando-se todos os seus episódios disponíveis para visualização (mas apenas em uma única fonte, e sabendo como os procurar) mas sendo funcionalmente impossível precisar criadores ou quaisquer outros dados técnicos. É, pois, com naturalidade que 'Histórias de Corpo Inteiro' integra o crescente grupo de tópicos Esquecidos Pela Net do Portugal anos 90 – o que não deixa de ser uma pena, dado tratar-se de uma série bem conseguida e de produção cem por cento nacional, o que torna ainda mais curioso o facto de nenhuma das várias fontes nostálgicas produzidas em solo português se lembrar dela.

De facto, à parte o aspecto perturbador de algumas das marionetas usadas para dar vida aos personagens – sobretudo as hiper-realistas, que lembravam uma versão demoníaca dos 'Thunderbirds' – a série estreada na RTP1 em Novembro de 1991 e exibida diariamente até ao final do referido ano mostrava aspectos técnicos cuidados (alguns até inovadores, como a fusão de acção real com fantoches) e tirava o máximo proveito do seu presumivelmente reduzido orçamento, apostando numa apresentação ao estilo peça de teatro, com cenários de fundo estáticos sobre os quais os personagens se moviam e levavam a cabo a trama de cada episódio. Uma abordagem talvez muito distante de produções contemporâneas como 'Rua Sésamo', mas que resultava em pleno no contexto da série em causa, dando-lhe um aspecto e características distintas, que a deveriam ter tornado consideravelmente mais memorável para a geração 'millennial', à época a demografia-alvo destas 'Histórias' passadas no interior de uma cavidade bucal humana, e destinadas a educar o público-alvo sobre a higiene oral, um dos temas mais em voga naquele início dos anos 90.

Outro elemento que deveria ter ficado indelevelmente gravado na psique de toda uma geração, mas que em vez disso se viu vetado ao esquecimento, era o inesquecível genérico da série, uma 'malha' que, sem qualquer hipérbole, pode e deve ser posta ao mesmo nível das que iniciavam a supramencionada 'Rua Sésamo' ou o concurso 'Arca de Noé', e que (por experiência própria) tinha potencial para se 'colar' ao cérebro durante décadas. Infelizmente, conforme acima mencionado, o total desaparecimento da série da memória colectiva levou consigo o referido tema – o que ajuda a justificar ainda mais o esforço de recuperação da mesma que pretendemos levar a cabo com este 'post'. Infelizmente, não nos é possível colocar qualquer destas 'Histórias' directamente nesta publicação, já que os episódios apenas se encontram disponíveis nos Arquivos RTP, que não permitem ligações externas; assim, temos de nos contentar em partilhar o 'link' para a página da série no 'site' da emissora estatal, e confiar que os nossos leitores tenham suficiente interesse para irem reviver mais esta memória esquecida da infância remota e – quem sabe – trazer a série de volta à consciência popular da geração 'millennial' nacional...

09.07.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui por várias vezes nos referimos aos anos 90 como a época áurea para os programas televisivos infantis que apostavam numa mistura de desenhos animados e entretenimento, e comandados por apresentadores jovens, carismáticos e dinâmicos o suficiente para 'entreter' tanto as crianças e jovens presentes em estúdio como os muitos espectadores que assistiam a partir de casa. De facto, embora este género seja, hoje em dia, lembrado sobretudo pelo icónico e incontornável duo do 'Buereré' (da SIC) e 'Batatoon' (da TVI), existiram, durante a década em causa, vários outros exemplos bem-sucedidos do formato, alguns dos quais já aqui abordados, como é o caso de 'A Hora do Lecas', 'Os Segredos do Mimix', 'A Casa do Tio Carlos' ou 'Clube Disney'. A essa lista, há agora que juntar um programa contemporâneo deste último, e que constituía uma espécie de 'irmão gémeo' do mesmo, tendo sido exibido pela mesma emissora (a então hegemónica RTP) na mesma época (inícios dos anos 90), com as únicas diferenças dignas de nota a serem a produtora de conteúdos em foco e a própria longevidade do programa.

De facto, enquanto o 'Clube Disney' atravessaria a totalidade da década de 90, chegando mesmo a penetrar no Novo Milénio, e viveria várias fases distintas, tanto em termos de conteúdo como de grafismo, 'Oh! Hanna-Barbera' duraria pouco mais de um ano, tendo saído do ar ainda antes do final de 1992 – um paradigma que não deixa de ser algo estranho, dadas as vastas e intencionais semelhanças entre os dois programas. Senão, veja-se: ambos apostavam no formato acima delineado, com público ao vivo e apresentadores que não se limitavam a introduzir cada novo desenho animado, mas também dinamizavam os segmentos interinos, que compreendiam uma mistura de jogos e actividades, números musicais a cargo de grupos convidados, e espaços onde eram lidas cartas e mostradas 'obras de arte' dos jovens espectadores. 'Oh! Hanna-Barbera' ganhava mesmo ao seu congénere no tocante à presença de mascotes em estúdio, estando Fred Flintstone ou Manda-Chuva sempre disponíveis para dançar ou 'fazer claque' em conjunto com os jovens escolhidos para visitar o programa, algo de que o 'Clube Disney' nunca se pudera gabar.

Também a selecção de desenhos animados era razoavelmente equilibrada no que toca à popularidade junto do público-alvo, sendo que 'Oh! Hanna-Barbera' contrapunha os desenhos mais modernos e 'excitantes' da Disney com os clássicos e intemporais 'Flintstones', 'Jetsons' e 'Manda-Chuva', todos, à época, ainda suficientemente 'na berra' para fazer frente a Donald, Pateta e restantes personagens do 'rival'. Quem ganhava com esta pseudo-'guerra' eram, claro, os espectadores, que viam assim ser-lhes dirigidos dois espaços infanto-juvenis de enorme qualidade na mesma semana, a juntar a todos os outros concursos, séries e blocos de desenhos animados com que a fabulosa grelha de televisão portuguesa de primórdios dos anos 90 os brindava. E, ainda que menos longevo do que o seu congénere das 'orelhas de Mickey', não é de duvidar que 'Oh! Hanna-Barbera' seja tão calorosamente lembrado como aquele por quem, naqueles idos de 1991, se sentava frente à televisão para desfrutar de um par de horas de animação, nos dois sentidos da palavra. Quem tiver feito parte dessa demografia, pode encontrar abaixo alguns excertos do programa, para recordar e 'matar saudades' daqueles bons tempos de infância, em que a televisão parecia 'feita à medida' para quem era jovem...

11.06.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Numa era em que todo e qualquer programa está disponível nas plataformas de 'streaming', à distância de um par de cliques, o conceito de um bloco de várias horas de televisão inteiramente dedicado a apresentar um determinado tipo de conteúdo, rodeando-o ainda de inúmeros e diversos jogos, passatempos, interlúdios musicais e interacções com uma audiência presente em estúdio pode parecer desnecessária, e até arcaica. Nos anos 90, no entanto – quando a Internet era ainda incipiente, e a televisão o principal modo de transmissão de conteúdos – este era mesmo um dos formatos mais populares, sobretudo no tocante ao público infanto-juvenil, sempre predisposto a 'apadrinhar' qualquer conceito que transcendesse a simples sucessão de séries de desenhos animados; basta, por exemplo, falar na icónica 'parelha' de 'Buereré' (na SIC) e 'Batatoon' (na TVI) ou ainda em programas como a 'Hora do Lecas', o 'Mix Max', a 'Casa do Tio Carlos' ou o 'Brinca Brincando', para perceber a importância que este tipo de formato tinha no contexto da televisão infantil portuguesa de finais do século XX. A esta lista, há ainda que juntar dois programas concomitantes, ambos veiculados pela RTP, e que fizeram sucesso entre a faixa mais velha da geração 'millennial' (e mais nova da 'X') aquando da sua transmissão em inícios da década de 90. De um deles, falaremos na próxima Terça de TV; ao outro, dedicaremos as próximas linhas.

download.jpgdownload (1).jpg

Os dois logotipos do programa.

Nascido das 'cinzas' do não menos popular 'Clube Amigos Disney', apresentado por Júlio Isidro e com ligações a um verdadeiro clube de fãs oficial veiculado pela Abril Jovem, editora das revistas de BD da Walt Disney em Portugal, o agora apenas chamado 'Clube Disney' estreava no 'primeiro canal' logo em 1991, apresentando desde logo o formato que viria a manter pelos quatro anos seguintes, e que se assemelhava ao dos seus supracitados 'sucessores'. Num cenário colorido, com toques de fantasia (ou não fosse este um programa da Disney) e dominado por um ecrã gigante, um duo de apresentadores de natureza rotativa – constituído ora por Pedro Gabriel e Vítor Emanuel, ora por um deles ao lado de Anabela Brígida – preenchia os espaços entre cada rubrica de ficção com passatempos, provas de habilidade física disputadas pelas crianças em estúdio, leitura de carta e mostra de desenhos feitos pelos jovens fãs do programa, entrevistas a convidados musicais - alguns deles inusitados para a demografia em causa, como era o caso dos Censurados – e, naquele que era um dos momentos-chave de cada programa, segmentos sobre as atracções da então recém-inaugurada Eurodisney, que apenas faziam aumentar a já considerável vontade de visitar o espaço parisiense. Uma fórmula já com bastas provas dadas, e que aqui tornava a funcionar muito bem, tanto devido ao carisma e química exibidos pelos apresentadores como à própria selecção de material, sendo este o programa responsável por apresentar à juventude portuguesa clássicos como 'DuckTales' (inexplicavelmente chamado de 'Novas Aventuras Disney'), 'Tico e Teco: Comando Salvador', 'O Pato da Capa Preta', 'A Pandilha do Pateta' ou 'O Jovem Anjo', esta última a mais destacada das séries de acção real também exibidas no programa. Em cada emissão, havia também lugar para uma das clássicas 'curtas' produzidas pelos Estúdios Disney em inícios do século XX, que constituía mais um dos muitos motivos para sintonizar a RTP durante aquele horário.

Esta primeira fase do Clube duraria até 1994, altura em que o programa entraria em hiato durante dois anos, ressurgindo apenas em 1996, de 'cara lavada' e com um formato tão semelhante como diferente do clássico: mantinha-se o trio de apresentação com dois 'rapazes' e uma 'rapariga' (agora constituído por Carla Salgueiro, Pedro Penim e Alexandre Personne, todos os quais se tornariam bem conhecidos do público infanto-juvenil da época), a audiência infantil presente em estúdio e os segmentos de passatempos e provas, mas o local das gravações era agora uma moradia da Linha de Cascais, em Lisboa, e passava a ser possível aos espectadores em casa participarem no programa por via telefónica, uma medida adoptada pela maioria dos programas infantis da época. A selecção de programas, essa, mantinha-se excelente, e surgia mais focada e centralizada em séries de desenhos animados, com as curtas clássicas e propostas em acção real a desaparecerem para dar lugar a clássicos como Pepper Ann, Recreio, Doug, Quack Pack e – mais tarde – séries baseadas em filmes da companhia, como 'Hércules'. Este formato do programa conseguiria a proeza de sobreviver à viragem do Milénio, mantendo-se no ar até ao Verão de 2001, então já com novos apresentadores, na pessoa de Sílvia Alberto e José Fidalgo. Um feito notável para um 'decano' deste tipo de programa, que se afirmava assim como mais longevo do que emissões como o supracitado 'Buereré'. E embora a mudança de paradigmas televisivos tenha inevitavelmente terminado a 'era' do 'Clube Disney', a sua extinção esteve longe de vetar este programa ao esquecimento, tornando-o, pelo contrário, numa das emissões infanto-juvenis mais carinhosamente lembradas por um certo sector da população portuguesa, para quem aquelas duas horas constituíam um ritual quase 'sagrado' do seu quotidiano semanal. Para esses, ficam abaixo alguns excertos do programa em causa, os quais não deixarão, certamente, de reavivar memórias nostálgicas de tempos mais simples...

Excertos de ambas as fases do programa.

 

07.05.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui por diversas vezes nos referimos aos anos 90 como a época áurea dos concursos na televisão portuguesa. Com cada novo programa deste tipo a constituir um sucesso de audiências, era com naturalidade que se viam surgir (ou importar) conceitos cada vez mais originais, e afastados dos formatos clássicos de um 'Um, Dois, Três', 'O Preço Certo' ou 'A Roda da Sorte'. Não era, tão-pouco, de estranhar que o referido género televisivo acabasse, paulatinamente, por procurar outros públicos que não apenas o adulto; de facto, ainda nos primeiros anos da referida década, já a RTP exibia concursos explicitamente dirigidos ao público infantil, como 'Arca de Noé', 'Tal Pai, Tal Filho' ou o programa de que falamos esta Terça-feira.

download.jpg

Exibido pela primeira vez há exactos trinta e três anos, em Maio de 1991, 'Sim ou Sopas' trazia como principal atractivo a temática culinária, fomentada e enfatizada pela escolha de apresentador, já que Manuel Luís Goucha era, à época, conhecido pelos seus programas e livros de culinária, por oposição à vertente mais voltada para os 'talk-shows' que assumiria nas décadas subsequentes. Cada emissão trazia uma competição entre duas equipas, cada um deles constituído por uma criança entre os oito e os doze anos e um 'chaperone' de idade adulta, ou seja, com mais de dezoito anos.

download (1).jpg

Goucha e os seus jovens coadjuvantes com as equipas participantes de um dos episódios.

Ao contrário do que se poderia esperar, no entanto – e à semelhança do que sucedia com os outros concursos acima elencados – eram as crianças quem assumia o comando das 'operações', sendo os adultos meros coadjuvantes em cada uma das seis provas que perfaziam o desafio (nenhuma das quais, apesar da temática culinária, pressupunha a preparação directa de pratos, ainda que várias envolvessem o contacto com alimentos e ingredientes), e que se desdobravam entre eventos de agilidade física, como a prova de pontaria ou as 'Tarefas' rotativas, e outros de cariz mais mental ou intelectual, com base em perguntas ou 'sopas de letras' que era necessário decifrar a caminho do jogo final, que testava a comunicação entre os participantes da equipa vencedora, e que dava acesso ao inevitável grande prémio, no caso um computador e uma série de livros em disquete, precursores dos actuais 'e-books' e 'audiobooks'. Em caso de empate, a vitória era decidida por meio de dois cartões que davam o nome ao programa, ganhando a equipa que tirasse o cartão de 'Sim', por oposição ao de 'Sopas'.

Apesar de só uma equipa poder ganhar, no entanto, ninguém saía do 'Sim ou Sopas' de mãos a abanar, sendo que todos os participantes recebiam bicicletas e livros de culinária infantil da autoria do próprio Goucha. Além destes prémios de consolação mais do que atractivos, era ainda possível amealhar prémios específicos a cada uma das provas, que iam dos habituais elementos electrónicos, como Walkmans, Discmans e jogos electrónicos, a estiradores (!!) e canetas de feltro - uma proposta irresistível para qualquer criança ou jovem, e que terá certamente aguçado a vontade de muitos espectadores em tomar parte no programa.

download (3).jpgdownload (2).jpg

Dois dos atractivos prémios de consolação do programa.

Apesar do relativo sucesso que fazia entre a demografia-alvo, no entanto – e da afável apresentação do já carismático Goucha – 'Sim ou Sopas' apenas almejou um total de vinte episódios, emitidos ao longo de pouco menos de seis meses, até Outubro daquele mesmo ano de 1991. Sem ter sido o mais memorável dos concursos infantis da altura, no entanto – antes pelo contrário – o programa terá, ainda assim, tido suficiente impacto junto do seu público-alvo para ficar retido nos 'bancos' de memória remota, dos quais foi certamente 'desbloqueado' ao ler este 'post', de forma semelhante ao que sucedeu com o autor deste 'blog' enquanto pesquisava para o mesmo...

29.04.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Nos anos 80 e 90, a adaptação em desenho animado de material supostamente direccionado a um público mais maduro não era nada de novo – antes pelo contrário, as referidas décadas viram qualquer propriedade intelectual popular entre o público jovem receber esse tratamento, independentemente de se adequar ou não ao formato em causa. De Robocop a Rambo, passando por 'Highlander – Os Imortais'. 'Homens de Negro' e até 'Academia de Polícia', foram inúmeros os personagens e franquias 'para adultos' a surgir em forma animada em finais do século XX – e nem mesmo o pseudo-dinossauro mais famoso da História escapou a esta tendência. Sim, até mesmo Godzilla chegou a ter a sua própria série animada, a qual – tal como a maioria das supracitadas – chegou a passar na televisão portuguesa nos últimos meses do Segundo Milénio. E que melhor altura para recordar esta 'aventura' do 'Deus Lagarto' pelo material infanto-juvenil do que agora, quando se trava nas salas de cinema mundiais a derradeira batalha entre o monstro nipónico e o não menos famoso King Kong?

download.jpg

Criada para capitalizar sobre o primeiro filme ocidental de Godzilla - lançado em 1998 e do qual a série é, oficialmente, uma sequela – a versão animada do colossal lagarto verde chegaria a Portugal no ano seguinte, a tempo de integrar a grelha do então mega-popular 'Batatoon', da TVI - o mesmo programa que transmitiria outra adaptação animada de um filme contemporâneo, a referida série dos 'Homens de Negro' (com a qual 'Godzilla' partilha, aliás, o estilo gráfico e de animação). Em oposição directa aos filmes, em que o monstro 'kaiju' não hesita em destruir cidades e outras estruturas que lhe estejam em caminho, a série traz Godzilla como agente do 'bem', aliado de uma equipa de pesquisas ambientais que ajuda a proteger contra ataques de outros monstros gigantes – uma premissa totalmente previsível para um desenho animado da época em causa, mas que se provou suficientemente aliciante para granjear à série um estatuto de culto.

De facto, enquanto o filme se revelava uma desilusão tanto a nível financeiro quanto de crítica, a versão animada televisiva conquistava rapidamente o coração dos fãs da franquia, tornando-se sucesso de audiências em Portugal e não só, e conseguindo mesmo a renovação para uma segunda temporada, após a qual viria a ser cancelada face à concorrência dos muito mais populares 'Pokémon' e 'Digimon'. E apesar de ambas essas séries terem passado na mesma altura em Portugal, 'Godzilla' revelou-se, em terras lusas, suficientemente popular para justificar a repescagem não uma, mas duas vezes – primeiro pelo programa 'Sempre A Abrir', também da TVI, e mais tarde pelo Cartoon Network, quando o mesmo passou a ser baseado em Portugal. Uma trajectória mais do que honrosa para uma série que tinha tudo para cair no esquecimento juntamente com o filme que a possibilitou, mas que acabou por se afirmar como entidade totalmente separada do mesmo (e melhor) e por amealhar uma pequena mas fiel base de fãs um pouco por todo o Mundo.

08.01.24

NOTA: Por motivos de relevância com 'posts' recentes e futuros, esta Segunda será de Séries. Regressaremos aos Sucessos na próxima semana.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Os finais da década de 80 e inícios da seguinte representaram uma 'época áurea' para Steven Spielberg. De 'E.T.', 'Os Goonies' e 'Poltergeist', ainda nos 'oitentas', a 'Parque Jurássico' e 'Hook', na década seguinte, o realizador parecia ter o 'toque mágico' que transformava tudo aquilo em que tocava num sucesso instantâneo entre o público mais jovem. Não é, pois, de admirar que o cineasta se tenha sentido à vontade para explorar novas avenidas, entre elas o meio televisivo, no qual se adentrava logo em inícios dos anos 90; e, tendo em conta a sua pouca familiaridade com o meio em causa, tão-pouco é de admirar que esta penetração tenha sido feita ao lado do parceiro de sempre, George Lucas – à época 'entre' trilogias d''A Guerra das Estrelas' – e 'às costas' de um dos seus personagens mais reconhecíveis e mediáticos, o arqueólogo e aventureiro Henry Jones Jr., mais conhecido no meio cinematográfico como Indiana Jones.

Apesar desta adesão a um nome reconhecido e reconhecível, no entanto, Spielberg e Lucas não queriam apenas 'transitar' Indiana do grande para o pequeno ecrã; os dois génios do cinema queriam oferecer algo de novo ao público televisivo, que justificasse o regresso para cada novo episódio semanal. A solução encontrada foi a criação de uma prequela para as aventuras de 'Indy' (numa altura em que o termo e prática eram, ainda, pouco comuns) que procurasse demonstrar as raízes da veia aventureira do mesmo; estava dado o mote para o nascimento de 'The Young Indiana Jones Chronicles', que viria a estrear em 1992, e a ser transmitida em Portugal pouco depois, na RTP, com o título 'Indiana Jones – Crónicas da Juventude'.

indiana-jones-cronicas-da-juventude.jpg

Como o próprio nome nacional indica, a série tem como premissa o relato das aventuras vividas por Henry Jones Jr. durante os seus tempos de juventude, primeiro acompanhando o pai (Henry Jones Sr., memoravelmente interpretado por Sean Connery no segundo filme do herói) em viagens ao redor do Mundo, para disputar tesouros com malfeitores, caçadores de prémios, ou simplesmente outros arqueólogos gananciosos e ambiciosos, e depois em desafio directo ao mesmo, como membro do exército belga (sim, belga) na I Guerra Mundial. Cada episódio era formatado como uma história contada por Indiana Jones, já idoso, a um grupo de jovens (tendo Harrison Ford surgido mesmo neste papel num dos episódios, embora o actor recorrente fosse George Hall) e possuía uma vertente educativa, pretendendo apresentar ao público-alvo factos e figuras históricas relativas às duas épocas em que a acção se desenrolava.

indiana-jones-cronicas-da-juventude (1).jpg

As várias fases da vida do jovem Indy.

Ao todo, foram duas temporadas, num total de vinte e oito episódios (dos quais apenas seis perfaziam a primeira temporada), transmitidas originalmente entre a Primavera de 1992 e o Verão de 1993, aos quais acrescem ainda quatro telefilmes realizados entre 1994 e 1996, com o fito de tentar 'ressuscitar' a franquia, já depois da combinação dos elevados custos de cada episódio com as fracas audiências ter forçado a ABC a cancelar prematuramente as aventuras do jovem 'Indy'. Posteriormente - há sensivelmente um quarto de século, no último ano do Segundo Milénio – a série seria novamente 'repescada', 'retalhada', e transformada numa série de vinte e dois telefilmes, embora esta versão já não tenha chegado a terras lusitanas, cujos jovens exploravam já, à época, interesses bem diferentes dos de 1993 no tocante à programação televisiva.

Ainda assim, e apesar do relativo falhanço que constituíram – tanto nos seus EUA natais como em Portugal – as 'Crónicas da Juventude' de Indiana Jones deixaram, ainda assim, alguma 'pegada' cultural no nosso País, nomeadamente através da tradução e publicação da BD oficial por parte da TeleBD – braço editorial da TV Guia – e de diversos livros com as aventuras do herói, pela mão da Europa-América. Apesar deste singelo 'legado', no entanto, a série encontra-se, hoje em dia, totalmente 'Esquecida Pela Net' portuguesa, não tendo, aparentemente, deixado suficiente nostalgia entre os jovens da época para merecer destaque ou páginas próprias, como acontece com muitas outras franquias da altura. Assim, e à semelhança do que tantas vezes vem acontecendo com este nosso 'blog', esta página arrisca mesmo tornar-se a principal referência nacional para fãs da série em causa, além, claro, de principal registo e homenagem à passagem da mesma pelos televisores lusos...

 

14.11.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Qualquer português nascido ou crescido nos anos 90, independentemente do seu interesse em videojogos, reconhece o 'Templo dos Jogos' da SIC como um dos mais bem-sucedidos e icónicos programas televisivos daquela década. Numa altura em que a Internet dava ainda os primeiros passos, o conceito de um programa onde eram mostradas, em exclusivo, imagens dos jogos de computador e consola mais 'badalados', em conjunto com algumas informações sobre os mesmos, era genial na sua combinação de simplicidade e utilidade, servindo o programa, essencialmente, como um Telejornal de videojogos, em que os apresentadores acabavam por servir como pouco mais do que 'pivots', deixando a verdadeira 'ribalta' para aquilo que todos queriam ver – as imagens dos jogos em si.

Tendo em conta este sucesso, não é de estranhar que uma das concorrentes da estação de Carnaxide – no caso, a RTP – tenha querido copiar a fórmula que tanto sucesso de audiências fazia na 'colega' privada; no entanto, talvez motivada pelo desejo de apresentar algo único e que não parecesse um 'xerox' tão descarado, a emissora estatal adicionou ao seu programa algumas 'nuances' que, embora bem-sucedidas em o tornar diferente, contribuíram também para o tornar menos interessante. No fundo, a RTP não percebeu o que estava, verdadeiramente, por detrás do sucesso do 'Templo', e viu a sua própria tentativa falhar como consequência do seu 'erro de cálculo'.

21825306_lRiFr.png

Patrocinado (e de forma nada subtil) pela SEGA, 'Cybermaster' tinha como premissa combinar o formato do 'Templo' da SIC com uma vertente competitiva, de concurso infantil televisivo, adornando o todo com uma estética 'cyberpunk', bem típica dos filmes de ficção científica de série B que os jovens da altura traziam todos os fins-de-semana do seu videoclube local. Os apresentadores, assistente e o próprio cenário exibiam figurinos algures entre 'O Quinto Elemento' (então ainda em produção) e 'Mad Max', e o próprio conceito do concurso colocava os jovens concorrentes em luta directa, não só entre si, mas com o malvado personagem-título, interpretado pelo actor João D'Ávila com um visual 'à la' Bela Lugosi – uma missão que envolvia, sobretudo, disputas mano-a-mano em alguns dos jogos da SEGA mais populares da altura, incluindo vários da então ainda recente Sega Saturn, azarada pioneira das consolas 32-bits.

Uma fórmula interessante, mas que não foi suficiente para garantir a longevidade do programa, que acabou por ficar no ar durante apenas um ano, entre 1996 e 1997, e é, hoje em dia, bem menos lembrado do que o 'Templo' - algo que não deixa de causar alguma estranheza, já que o formato era sólido, e tinha tudo para atrair a atenção do público-alvo. Talvez tenha sido pela necessidade de complicar em demasia um conceito simples, ou talvez pelo falhanço de vendas da Sega Saturn, que, à época, vinha já sendo pesadamente derrotada em volume pela rival PlayStation; seja qual tiver sido a razão, a verdade é que 'Cybermaster' é, hoje, uma daquelas relíquias 'de época' algo perdidas no tempo, capaz de causar nostalgia a uma parcela da geração 'millennial' portuguesa, mas que, para a maioria dos ex-'putos' noventistas, apenas causará estranheza, e uma sensação de 'como é que eu nunca vi isto?' Para esses, ficam abaixo não apenas um, mas dois episódios completos do programa, para que possam preencher essa lacuna na cultura 'pop' juvenil portuguesa de finais do século XX.

Pode parecer um delírio da imaginação, mas não é - este programa existiu mesmo...

24.10.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

O ambientalismo e a ecologia foram, a par da luta contra as drogas e da informação sobre o flagelo da SIDA, dois dos principais temas para os quais qualquer jovem português dos anos 90 foi extensivamente sensibilizado, quer pelos próprios pais, quer pelos educadores e até pelos 'media' de informação e entretenimento. De facto, além de constituírem assunto frequente nos noticiários dos 'graúdos', estes temas 'infiltraram' a grande maioria da programação infanto-juvenil da época, com quase todas as séries dirigidas a um público menor de idade lançadas à época a terem direito ao 'episódio especial' em que os protagonistas tentam evitar que um amigo experimente drogas, ou travar um industrialista malvado que pretende arrasar uma floresta.

No dealbar dos anos 90, uma companhia decidiu levar este conceito ainda mais longe, e dedicar toda uma série animada a um super-herói defensor da ecologia e do planeta; o resultado foi uma das séries mais meméticas de sempre, e a primeira a 'vir à baila' sempre que se tentam recordar exemplos de produtos mediáticos descaradamente destinados a educar sobre um único tema, de forma totalmente falha de qualquer subtileza.

18583762_33gjV.jpeg

Criado por Ted Turner – patrão da Turner Entertainment e principal responsável pela divulgação da maior concorrente da WWF no mercado da luta-livre americana, a WCW – o Capitão Planeta e os seus fiéis ajudantes, os Planeteiros, começaram por 'condicionar' para a ecologia as crianças norte-americanas, em 1990, antes de, no ano seguinte, atravessarem o Atlântico para surgir nos écrãs dos jovens lusitanos, pela mão da RTP, e em versão legendada, dado estar-se, ainda, nos primórdios da dobragem 'made in Portugal'. As crianças portuguesas da época puderam, assim, desfrutar precisamente da mesma experiência dos seus congéneres norte-americanos, com todos os elementos hoje amplamente parodiados, como as frases de efeito – 'by your powers combined, I am Captain Planet!', 'the power is YOURS!', 'GOOOO PLANET!' - e o irresistível tema-título, a marcarem presença sem qualquer 'localização' para a língua-pátria. E se, nos Estados Unidos, 'Capitão Planeta' beneficiou, sobretudo, do horário único, sem a oposição de qualquer outro conteúdo infantil, em Portugal, a vantagem veio da inclusão no popular bloco 'Brinca Brincando', da RTP, que quase garantia o visionamento por parte de uma percentagem significativa da população jovem nacional.

E a verdade é que 'Capitão Planeta' bem pode agradecer por essa 'benesse', dado tratar-se de uma série do mais 'azeiteiro', que apenas seria possível naqueles últimos anos do século XX – cuja estética, aliás, permeia cada 'frame' de animação. A premissa até não é má, e chega para cativar qualquer criança fã de super-heróis, mas as constantes 'lições' sócio-ecológicas do herói de cabelo verde (e também, diga-se de passagem, dos seus mini-coadjuvantes) são tão forçadas quanto se poderia pensar, e claramente dirigidas ao espectador para lá da 'quarta parede', em vez de inseridas nos episódios de forma natural e subtil; subtileza, aliás, é coisa que não existe em 'Capitão Planeta', o tipo de série que conta com vilões denominados 'Capitão Poluição' – uma versão maléfica do protagonista, naturalmente – e Looten Plunder.

download (3).jpg

Os próprios personagens são do mais irritante que há, com os Planeteiros como aquele tipo de herói infantil culturalmente diverso, insuportavelmente virtuoso e 'espertinho' que 'infectava' a programação para crianças da época, e o próprio Capitão a habitual cópia do Super-Homem com ainda menos personalidade (e, neste caso, poderes ambientais). Pela lógica, a série não deveria resultar, mas a verdade é que se passava o oposto, com o programa a fazer o suficiente para cativar jovens bastante menos cínicos do que os de hoje em dia, e a conseguir algum sucesso enquanto foi transmitida na RTP.

No entanto, talvez haja uma razão para, até hoje, não ter havido segunda exibição da série, algo quase inédito no contexto dos desenhos animados da época. A verdade é que 'Capitão Planeta' envelheceu muito, mas mesmo muito mal, sendo fácil perceber a razão porque muitos adultos da época se envergonham de ter assistido a esta série quando eram pequenos. Não é o caso deste que vos escreve (e que vai mesmo ao extremo de admitir que o seu Planeteiro favorito era o muito 'gozado' Ma-Ti, o elemento do Coração) mas a verdade é que os argumentos em desfavor deste desenho animado são perfeitamente válidos, merecendo o mesmo ser relegado a memória remota e difusa de um tempo muito diferente no tocante a entretenimento para crianças. O épico tema de abertura, de longe o melhor elemento do programa, merece um lugar no panteão de grandes exemplos do género; o resto é perfeitamente dispensável, excepto para uma sessão de nostalgia semi-irónica ou para perceber porque razão os anos 90 são considerados uma das épocas mais satirizáveis dos últimos cem anos...

Outro dos grandes genéricos dos anos 90, e de longe o melhor elemento da série.

04.10.23

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 03 de Outubro de 2023.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Um dos factores mais distintivos e memoráveis da televisão portuguesa entre finais dos anos 80 e inícios do Novo Milénio foram os muitos espaços e programas infantis de que dispôs, a maioria dos quais com uma personalidade própria que os ajudou a perdurar na memória colectiva das gerações que com eles conviveram. D''A Hora do Lecas', da RTP, aos míticos 'Buereré' e 'Batatoon', passando pelos 'Segredos do Mimix', 'Mix Max', 'Um-Dó-Li-Tá', 'A Casa do Tio Carlos', 'Clube Disney' ou 'Oh! Hanna-Barbera' – sendo que estes dois em breve aqui terão o seu espaço – o que não faltava aos miúdos de finais do século XX eram blocos de animação intercalada com segmentos em estúdio, em que apresentadores carismáticos conduziam jogos, concursos e debates entre as crianças presentes.

Neste particular, e apesar de ter alojado alguns dos programas supramencionados, a RTP ficou, historicamente, um pouco atrás das suas concorrentes, preferindo apostar em blocos que deixavam os programas exibidos falar por si, distinguindo-se apenas pela presença de separadores identificativos. Destes, há a destacar o 'Canal Jovem', 'Brinca Brincando', e o bloco de que falamos esta semana, 'Grande Animação'.

LTSeriesCard1964.webp

O programa centrava-se nos clássicos 'Looney Tunes', da Warner Brothers.

Estreado há quase exactos vinte e seis anos, a 5 de Outubro de 1997, e exibido aos Domingos à hora de almoço, esta rubrica contava com conteúdos centrados, sobretudo em torno dos clássicos desenhos animados da Warner Brothers – os chamados 'Looney Tunes', então em alta devido ao mega-sucesso de 'Space Jam' – e seguia a mesma linha dos outros dois programas mencionados, limitando-se a transmitir as animações calendarizadas, sem quaisquer elementos adicionais – uma jogada de risco em plena era hegemónica do 'Buereré', e poucos meses antes do regresso de Batatinha e Companhia aos ecrãs nacionais. Talvez por isso este bloco se encontre, hoje, um pouco 'Esquecido Pela Net' (a excepção é o sempre exaustivo blog 'Desenhos Animados Anos 90') apesar de o seu clássico e imortal conteúdo ter, sem dúvida, ajudado a 'angariar' audiências aquando da sua transmissão original – a qual, aliás, se prolongaria por um ano e meio, até Maio de 1999. Em semana de aniversário, vale, pois, a pena dedicar algumas linhas a um programa que, não sendo tão memorável quanto os que o rodeavam, trouxe, ainda assim, algo de válido e desejável à infãncia e adolescência de duas gerações de jovens portugueses.

11.09.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

As décadas de 80 e 90 representaram a chegada ao Ocidente, e respectiva expansão na popularidade, de um género televisivo e filmográfico já com cerca de década e meia de vida no seu país natal do outro lado do Mundo, à época designado 'Japanimação' e mais tarde conhecido pelo seu nome original: 'anime'. E se, em anos vindouros, este género viria a contribuir com uma mão cheia de clássicos absolutos para a juventude da geração 'millennial' – do inigualável fenómeno que foi Dragon Ball Z a séries tão nostálgicas como Samurai X, Navegantes da Lua ou Doraemon – os seus primeiros passos, embora mais modestos, também não foram, de todo, falhos em séries marcantes, bastando para esse efeito referir Esquadrão Águia, Capitão Falcão (mais tarde 'Oliver e Benji) ou Cavaleiros do Zodíaco.

A juntar a estas séries há, ainda – sobretudo para os 'millennials' mais velhos – uma outra, que iniciava há quase exactos trinta anos a sua terceira e última transmissão em Portugal e que, apesar de ficar ligada, sobretudo, à década anterior, ainda chegou a tempo de influenciar a grande maioria dos 'putos' lusitanos de inícios de 90; e, tal como sucede com alguns dos outros programas de que aqui falamos, este é daqueles casos em o primeiro passo tem, forçosamente, de passar pela partilha do tema de abertura.

Por esta altura, muitos dos nossos leitores já estarão, decerto, a cantar a plenos pulmões a letra...

Isto porque – apesar de notoriamente incompleta – a música introdutória (adaptada, como em tantos outros casos, da versão espanhola, e cantada por Francisco Ceia) é, sem qualquer dúvida, o elemento identificativo mais icónico de As Aventuras de Tom Sawyer (ou apenas Tom Sawyer), a adaptação livre, em formato animado, do famoso livro infantil do século XIX, da autoria de Mark Twain. Composta de cerca de cinquenta episódios, originalmente produzidos em 1979 e lançados no inícios do ano seguinte (tendo passado a quase totalidade de 1980 em exibição na televisão japonesa), a série chegaria a Portugal logo de seguida, sem a 'décalage' cultural habitual à época, indo pela primeira vez ao ar na RTP1 entre 1981 e 1982, já em versão dobrada, num exemplo de celeridade pouco habitual naqueles anos pré-digitais.

As_Aventuras_de_Tom_Sawyer.webp

Imagem promocional da série.

Escusado será dizer (pelo menos a quem faz parte da faixa de leitores deste 'blog') que a série se revelou um sucesso imediato, tendo marcado os jovens portugueses da 'Geração X' – sobretudo, como já referimos, através do seu icónico tema de abertura – e justificando a repetição, já no fim da década, com o intuito de a apresentar a quem não tinha tido oportunidade de a ver da primeira vez. Seria, assim, entre Março de 1989 e Fevereiro de 1990 que os 'millennials' tomariam, pela primeira vez, contacto com o 'anime' que fizera as delícias dos seus irmãos mais velhos anos antes, e que tornaria a 'repetir a dose' com a nova geração – tanto assim que viria ainda a ser exibida uma terceira vez, há cerca de trinta anos, novamente no então Canal 1, e com a mesmíssima dobragem realizada mais de uma década antes pela Nacional Filmes.

Esta última transmissão seria, no entanto, o 'canto do cisne' para Tom Sawyer, um desenho animado que, embora icónico, já pertencia, nessa época, a uma outra 'era' televisiva, algo distante dos produtos que vinham 'enlouquecendo' os jovens daqueles inícios dos anos 90. Para as crianças da década transacta, no entanto – tanto as que haviam seguido a transmissão original como as que tinham 'saltado a bordo' aquando da segunda exibição – a série é, ainda hoje, um dos principais pontos de referência nostálgicos ao falar da infância em Portugal em finais do século XX, ao nível dos referidos Dragon Ball Z e Navegantes da Lua, ou ainda de séries como Dartacão ou Power Rangers. E nunca é demais repetir que grande parte dessa fama se deve à lendária canção de abertura, sem a qual esta adaptação animada de um clássico da literatura talvez tivesse passado tão despercebida quanto as suas congéneres posteriores alusivas a Mogli, Zorro, Cinderela ou Robin dos Bosques – mais um testamento, caso ainda fosse necessário, do poder de um bom tema de abertura; e, no que toca à televisão infantil portuguesa, este talvez seja 'O' tema de abertura, mais icónico ainda do que 'Dragon Ball, de puro cristal', 'Vive a vida, como uma festa', 'Dartacão, Dartacão!' ou mesmo 'Eu quero ser, mais que perfeito, maior do que a imaginação'. Razão mais que suficiente para o recordarmos, e à série que introduzia e ajudou a tornar memorável. 'Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer...'

Sim, existe uma letra completa...

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub