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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

13.02.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A ideia de aprender factos, seja sobre que assunto for, raramente é apelativa para a comum das crianças, viva ela em que era viver. Isso não impede, no entanto, que a faixa adulta da sociedade procure, ainda assim, transmitir conhecimentos relativos às mais variadas áreas, seja por meios tradicionais, seja de forma menos ortodoxa – sendo que, nesta última vertente, um dos métodos mais eficazes de captar o interesse dos mais jovens é através do chamado 'edutenimento', uma categoria de programa que incorpora o aspecto didáctico numa apresentação mais puramente lúdica, com o fito de fazer o público-alvo aprender sem 'dar por isso'. São vários os exemplos mais ou menos bem-sucedidos deste tipo de programa ao longo da História, sendo que Portugal não é excepção nesse particular, bastando recordar as históricas 'Rua Sésamo' e 'Arca de Noé', ou o posterior 'Jardim da Celeste', para perceber que havia, em Portugal, engenho e arte suficientes para criar 'edutenimento' de tanta ou mais qualidade do que o que se vinha fazendo no estrangeiro.

A esta ilustre lista há, ainda, que juntar um programa transmitido pelo segundo canal da emissora estatal há cerca de trinta anos, e que, apesar de não ser explicitamente dirigido a um público jovem, terá sem dúvida contribuído para lhe dar a conhecer uma série de figuras históricas, tanto portuguesas como internacionais, de forma divertida e cativante, e pela 'mão' daquela que era, à época, uma das figuras mais afáveis e simpáticas da programação nacional: o 'Senhor Televisão' em pessoa, Carlos Cruz, ainda a alguns anos de quase ver a sua reputação destruída no processo Casa Pia.

Falamos de 'Ideias com História', o programa da RTP2 cujo conceito e apresentação se assemelhavam ao de qualquer outro espaço de entrevistas da época, com a particularidade de, neste caso, os convidados serem figuras dos mais variados períodos da História, interpretados com requinte por uma série de nomes consagrados da televisão e teatro portugueses. De personagens-chave da História de Portugal, como o Padre António Vieira, Fernão Mendes Pinto ou Bocage, a 'gigantes' internacionais como Átila, o Huno, o Imperador romano Nero, Napoleão ou a Rainha Vitória, muitos e variados foram os nomes a passar pela 'cadeira' de Carlos Cruz ao longo do tempo de vida do programa, todos dispostos a revelar (mais ou menos) factos sobre a sua vida ao simpático apresentador.

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Carlos Cruz ao comando de uma emissão do programa.

Um conceito original, bem concretizado por uma equipa e elenco talentosos, e capaz, por isso, de captar o interesse das mais variadas demografias, e de, com sorte, conseguir transmitir informações sobre as figuras em causa que perdurassem para além dos cinquenta minutos de um episódio. Razões mais que suficientes para, apesar do relativo esquecimento a que foi votado pelos Internautas nostálgicos portugueses, recordarmos aqui (ainda que brevemente) esta emissão veiculada pela 'Dois' há coisa de trinta anos, e da qual resta ainda um episódio no YouTube, com o 'convidado dos convidados', que pode ser visto (ou revisto) abaixo.

08.01.24

NOTA: Por motivos de relevância com 'posts' recentes e futuros, esta Segunda será de Séries. Regressaremos aos Sucessos na próxima semana.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Os finais da década de 80 e inícios da seguinte representaram uma 'época áurea' para Steven Spielberg. De 'E.T.', 'Os Goonies' e 'Poltergeist', ainda nos 'oitentas', a 'Parque Jurássico' e 'Hook', na década seguinte, o realizador parecia ter o 'toque mágico' que transformava tudo aquilo em que tocava num sucesso instantâneo entre o público mais jovem. Não é, pois, de admirar que o cineasta se tenha sentido à vontade para explorar novas avenidas, entre elas o meio televisivo, no qual se adentrava logo em inícios dos anos 90; e, tendo em conta a sua pouca familiaridade com o meio em causa, tão-pouco é de admirar que esta penetração tenha sido feita ao lado do parceiro de sempre, George Lucas – à época 'entre' trilogias d''A Guerra das Estrelas' – e 'às costas' de um dos seus personagens mais reconhecíveis e mediáticos, o arqueólogo e aventureiro Henry Jones Jr., mais conhecido no meio cinematográfico como Indiana Jones.

Apesar desta adesão a um nome reconhecido e reconhecível, no entanto, Spielberg e Lucas não queriam apenas 'transitar' Indiana do grande para o pequeno ecrã; os dois génios do cinema queriam oferecer algo de novo ao público televisivo, que justificasse o regresso para cada novo episódio semanal. A solução encontrada foi a criação de uma prequela para as aventuras de 'Indy' (numa altura em que o termo e prática eram, ainda, pouco comuns) que procurasse demonstrar as raízes da veia aventureira do mesmo; estava dado o mote para o nascimento de 'The Young Indiana Jones Chronicles', que viria a estrear em 1992, e a ser transmitida em Portugal pouco depois, na RTP, com o título 'Indiana Jones – Crónicas da Juventude'.

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Como o próprio nome nacional indica, a série tem como premissa o relato das aventuras vividas por Henry Jones Jr. durante os seus tempos de juventude, primeiro acompanhando o pai (Henry Jones Sr., memoravelmente interpretado por Sean Connery no segundo filme do herói) em viagens ao redor do Mundo, para disputar tesouros com malfeitores, caçadores de prémios, ou simplesmente outros arqueólogos gananciosos e ambiciosos, e depois em desafio directo ao mesmo, como membro do exército belga (sim, belga) na I Guerra Mundial. Cada episódio era formatado como uma história contada por Indiana Jones, já idoso, a um grupo de jovens (tendo Harrison Ford surgido mesmo neste papel num dos episódios, embora o actor recorrente fosse George Hall) e possuía uma vertente educativa, pretendendo apresentar ao público-alvo factos e figuras históricas relativas às duas épocas em que a acção se desenrolava.

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As várias fases da vida do jovem Indy.

Ao todo, foram duas temporadas, num total de vinte e oito episódios (dos quais apenas seis perfaziam a primeira temporada), transmitidas originalmente entre a Primavera de 1992 e o Verão de 1993, aos quais acrescem ainda quatro telefilmes realizados entre 1994 e 1996, com o fito de tentar 'ressuscitar' a franquia, já depois da combinação dos elevados custos de cada episódio com as fracas audiências ter forçado a ABC a cancelar prematuramente as aventuras do jovem 'Indy'. Posteriormente - há sensivelmente um quarto de século, no último ano do Segundo Milénio – a série seria novamente 'repescada', 'retalhada', e transformada numa série de vinte e dois telefilmes, embora esta versão já não tenha chegado a terras lusitanas, cujos jovens exploravam já, à época, interesses bem diferentes dos de 1993 no tocante à programação televisiva.

Ainda assim, e apesar do relativo falhanço que constituíram – tanto nos seus EUA natais como em Portugal – as 'Crónicas da Juventude' de Indiana Jones deixaram, ainda assim, alguma 'pegada' cultural no nosso País, nomeadamente através da tradução e publicação da BD oficial por parte da TeleBD – braço editorial da TV Guia – e de diversos livros com as aventuras do herói, pela mão da Europa-América. Apesar deste singelo 'legado', no entanto, a série encontra-se, hoje em dia, totalmente 'Esquecida Pela Net' portuguesa, não tendo, aparentemente, deixado suficiente nostalgia entre os jovens da época para merecer destaque ou páginas próprias, como acontece com muitas outras franquias da altura. Assim, e à semelhança do que tantas vezes vem acontecendo com este nosso 'blog', esta página arrisca mesmo tornar-se a principal referência nacional para fãs da série em causa, além, claro, de principal registo e homenagem à passagem da mesma pelos televisores lusos...

 

24.10.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

O ambientalismo e a ecologia foram, a par da luta contra as drogas e da informação sobre o flagelo da SIDA, dois dos principais temas para os quais qualquer jovem português dos anos 90 foi extensivamente sensibilizado, quer pelos próprios pais, quer pelos educadores e até pelos 'media' de informação e entretenimento. De facto, além de constituírem assunto frequente nos noticiários dos 'graúdos', estes temas 'infiltraram' a grande maioria da programação infanto-juvenil da época, com quase todas as séries dirigidas a um público menor de idade lançadas à época a terem direito ao 'episódio especial' em que os protagonistas tentam evitar que um amigo experimente drogas, ou travar um industrialista malvado que pretende arrasar uma floresta.

No dealbar dos anos 90, uma companhia decidiu levar este conceito ainda mais longe, e dedicar toda uma série animada a um super-herói defensor da ecologia e do planeta; o resultado foi uma das séries mais meméticas de sempre, e a primeira a 'vir à baila' sempre que se tentam recordar exemplos de produtos mediáticos descaradamente destinados a educar sobre um único tema, de forma totalmente falha de qualquer subtileza.

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Criado por Ted Turner – patrão da Turner Entertainment e principal responsável pela divulgação da maior concorrente da WWF no mercado da luta-livre americana, a WCW – o Capitão Planeta e os seus fiéis ajudantes, os Planeteiros, começaram por 'condicionar' para a ecologia as crianças norte-americanas, em 1990, antes de, no ano seguinte, atravessarem o Atlântico para surgir nos écrãs dos jovens lusitanos, pela mão da RTP, e em versão legendada, dado estar-se, ainda, nos primórdios da dobragem 'made in Portugal'. As crianças portuguesas da época puderam, assim, desfrutar precisamente da mesma experiência dos seus congéneres norte-americanos, com todos os elementos hoje amplamente parodiados, como as frases de efeito – 'by your powers combined, I am Captain Planet!', 'the power is YOURS!', 'GOOOO PLANET!' - e o irresistível tema-título, a marcarem presença sem qualquer 'localização' para a língua-pátria. E se, nos Estados Unidos, 'Capitão Planeta' beneficiou, sobretudo, do horário único, sem a oposição de qualquer outro conteúdo infantil, em Portugal, a vantagem veio da inclusão no popular bloco 'Brinca Brincando', da RTP, que quase garantia o visionamento por parte de uma percentagem significativa da população jovem nacional.

E a verdade é que 'Capitão Planeta' bem pode agradecer por essa 'benesse', dado tratar-se de uma série do mais 'azeiteiro', que apenas seria possível naqueles últimos anos do século XX – cuja estética, aliás, permeia cada 'frame' de animação. A premissa até não é má, e chega para cativar qualquer criança fã de super-heróis, mas as constantes 'lições' sócio-ecológicas do herói de cabelo verde (e também, diga-se de passagem, dos seus mini-coadjuvantes) são tão forçadas quanto se poderia pensar, e claramente dirigidas ao espectador para lá da 'quarta parede', em vez de inseridas nos episódios de forma natural e subtil; subtileza, aliás, é coisa que não existe em 'Capitão Planeta', o tipo de série que conta com vilões denominados 'Capitão Poluição' – uma versão maléfica do protagonista, naturalmente – e Looten Plunder.

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Os próprios personagens são do mais irritante que há, com os Planeteiros como aquele tipo de herói infantil culturalmente diverso, insuportavelmente virtuoso e 'espertinho' que 'infectava' a programação para crianças da época, e o próprio Capitão a habitual cópia do Super-Homem com ainda menos personalidade (e, neste caso, poderes ambientais). Pela lógica, a série não deveria resultar, mas a verdade é que se passava o oposto, com o programa a fazer o suficiente para cativar jovens bastante menos cínicos do que os de hoje em dia, e a conseguir algum sucesso enquanto foi transmitida na RTP.

No entanto, talvez haja uma razão para, até hoje, não ter havido segunda exibição da série, algo quase inédito no contexto dos desenhos animados da época. A verdade é que 'Capitão Planeta' envelheceu muito, mas mesmo muito mal, sendo fácil perceber a razão porque muitos adultos da época se envergonham de ter assistido a esta série quando eram pequenos. Não é o caso deste que vos escreve (e que vai mesmo ao extremo de admitir que o seu Planeteiro favorito era o muito 'gozado' Ma-Ti, o elemento do Coração) mas a verdade é que os argumentos em desfavor deste desenho animado são perfeitamente válidos, merecendo o mesmo ser relegado a memória remota e difusa de um tempo muito diferente no tocante a entretenimento para crianças. O épico tema de abertura, de longe o melhor elemento do programa, merece um lugar no panteão de grandes exemplos do género; o resto é perfeitamente dispensável, excepto para uma sessão de nostalgia semi-irónica ou para perceber porque razão os anos 90 são considerados uma das épocas mais satirizáveis dos últimos cem anos...

Outro dos grandes genéricos dos anos 90, e de longe o melhor elemento da série.

19.09.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há figuras tão peculiares ou carismáticas que são capazes, com a sua forma de ser ou estar, de transformar até o mais enfadonho dos assuntos em algo minimamente interessante – e a televisão portuguesa dos anos 90 esteve bem servida deles. De Carlos Cruz a Júlio Isidro, António Sala, Nicolau Breyner, Fernando Mendes, Jorge Gabriel, Olga Cardoso ou até 'pivots' como Artur Albarran, muitas foram as personalidades que ajudaram a 'animar' as tardes e noites dos portugueses de finais do século XX. Mas se a maioria destas figuras se movia no já de si apelativo mundo do entretenimento, uma havia que tinha pela frente missão mais 'espinhosa'; a de interessar o telespectador comum em assuntos de cultura geral, e mais concretamente ligados à História de Portugal. E a verdade é que tal tarefa não amedrontou a 'cara' em causa, que fez, durante os vinte anos de cada lado do Novo Milénio, diversas, e relativamente bem sucedidas, tentativas de educar as 'massas' portuguesas.

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Antes de Marcelo, era este o homem conhecido como 'o Professor' pela maioria dos portugueses...

Falamos, claro está, do professor José Hermano Saraiva, talvez mais conhecido das gerações 'X' e 'millennial' como um dos mais famosos e bem conseguidos 'bonecos' da 'Enciclopédia' de Herman José (outra das tais figuras cativantes e icónicas da televisão nacional da época), que captou e satirizou com mestria os icónicos e inconfundíveis trejeitos do velho historiador; no entanto, para quem gostava (ou tentava gostar) de História, o então professor universitário era um nome incontornável, que tinha o condão de tornar as normalmente aborrecidas sequências de eventos da História de Portugal em 'histórias' (com H pequeno) capazes de captar e cativar a atenção – uma característica que o mesmo tentava implementar em cada novo programa que levava ao ar. 'A Bruma da Memória', estreado há quase exactos trinta anos (a 17 de Setembro de 1993) não é excepção, apresentando todas as características que se podiam esperar de um programa de José Hermano Saraiva.

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Composto por treze episódios, que perfazem uma única 'temporada', o conceito (a que a Wikipédia chama 'série', mas que, na verdade, se assemelha bastante mais a um dos então frequentes programas documentais ou de reportagem de índole cultural) foi produzido por Teresa Guilherme (sim, essa mesma!) e integrou a grelha da RTP durante exactos três meses, ao ritmo de um episódio por semana, tendo o último, sobre Macau, sido transmitido a 17 de Dezembro daquele mesmo ano. Antes, o Professor havia já visitado localidades como Guimarães, Aveiro, Tomar, Mafra e Setúbal, onde se debruçara sobre alguns dos acontecimentos mais marcantes da nossa História, bem como sobre algumas das personalidades e obras de arte ligadas a cada uma das localidades, sempre no seu tom conversacional e com os famosos gestos de mãos a enfatizar a sua cadência declamatória e solene.

O resultado era um daqueles programas (e não séries...) que se podiam ver em família, depois do jantar e antes de ir para a cama, e que os pais com interesse em assuntos culturais e intelectuais mostravam aos filhos para os tentar interessar em assuntos adjacentes aos que os mesmos aprendiam na escola. E ainda que estas tentativas nem sempre fossem bem sucedidas, a verdade é que programas como o de José Hermano Saraiva desempenhavam um papel importante no contexto das mesmas, bem como nos esforços mais generalizados de fazer chegar cultura geral à população; quanto mais não seja por isso, programas como 'A Bruma da Memória' merecem ser lembrados pela geração que, apesar de talvez muito nova para os absorver na totalidade, terá uma vaga memória de os ver 'passar' na televisão lá de casa nos serões de finais de 1993. Para esses, aqui deixamos o link para a 'playlist' com todos os episódios, para que possam recordar aqueles tempos, há exactos trinta anos, em que a televisão pública ainda procurava ter conteúdos de teor cultural e didáctico...

 

05.09.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Ao falar de um concurso de cultura geral dirigido a um público infanto-juvenil, com dupla de apresentadores masculina e feminina e canções sobre animais posteriormente lançadas em disco, a resposta de dez em cada dez 'X' e 'Millennials' lusitanos será, certamente, apenas uma: 'Arca de Noé', o lendário concurso que tornou Fialho Gouveia, Carlos Alberto Moniz e Ana do Carmo nomes conhecidos e acarinhados entre as demografias mais jovens. No entanto, a verdade é que, sensivelmente na mesma altura, ia também ao ar na RTP um outro concurso de cultura geral dirigido a um público infanto-juvenil, com dupla de apresentadores masculina e feminina e canções sobre animais posteriormente lançadas em disco, e com a participação directa de um cantautor chamado Carlos e conhecido pelas suas composições especificamente dirigidas às crianças e jovens.

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Podem parecer demasiadas coincidências, mas a verdade é que se deram mesmo, sendo que, durante um breve período em inícios dos anos 90, o Tio Carlos e o Avô Cantigas fizeram concorrência um ao outro pelos corações das crianças portuguesas, com dois programas muito semelhantes. De facto, 'Vitaminas' quase pode ser considerado uma versão de 'Arca de Noé' produzida sob o efeito de drogas psicotrópicas, com os cenários sóbrios a darem lugar a um mundo de banda desenhada psicadélico, onde cabiam tanto a faceta de concurso como números musicais e até 'sketches' humorísticos, como aqueles em que um personagem totalmente 'sem noção' (no caso Félix Fracasso, interpretado por António Cordeiro) invadia o auditório e atrapalhava o andamento do programa, tão populares nos concursos 'para graúdos' da altura, e aqui adaptados ao contexto infantil.

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A dupla de apresentadores do programa.

Particularmente dignos de nota eram os segmentos em que Carlos Alberto Vidal 'entrevistava' animais (ou antes, pessoas dentro de fatos de animais, como é óbvio) como forma de transmitir alguns factos sobre os mesmos – uma preocupação partilhada com o 'concorrente' directo. Cada um dos 'animais' assim entrevistado virava, depois, tema do número musical do episódio, tendo estes, mais tarde, formado a base do LP alusivo ao programa, lançado na mesma época e interpretado por Carlos Alberto Vidal. Também notáveis, pela sua bizarria, era a rubrica 'Patati Patata', em que os dois apresentadores, Vidal e Sofia Sá da Bandeira, vestiam a pele dos personagens titulares e habitavam um espaço perpetuamente acelerado, alucinado e abstracto, que pouco ou nada parecia ter a ver com a porção competitiva do programa.

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O LP com as músicas do programa.

Era, precisamente, esta fusão única de humor, 'performance' artística e concurso competitivo que tornava 'Vitaminas' mais do que apenas um 'aproveitador' da fama de 'Arca de Noé', fazendo com que valesse a pena sintonizar a RTP1 aos Sábados de manhã para ver que bizarrias guardava o episódio daquela semana. E ainda que, hoje em dia, o programa pouco mais seja do que uma distante memória psicadélica na mente do então público-alvo, a verdade é que, à época, constituiu um conceito inovador – talvez até em demasia, já que o seu 'tempo de antena' foi de apenas cerca de um ano, vindo a concluir-se algures em 1992. Ainda assim, quem viveu aquelas transmissões em 'primeira mão' certamente estará, neste momento, a ver 'desenterram-se' dos cantos mais recônditos do seu cérebro imagens, frases e refrões de cantigas sobre animais julgadas há muito esquecidas – por aqui, é certamente esse o caso...

Peça alusiva ao programa na rubrica 'Retroescavadora', da RTP Memória, onde se podem ver alguns trechos do mesmo.

16.08.23

NOTA: O post de hoje é respeitante a Terça-feira, 15 de Agosto de 2023.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.
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Na era anterior à massificação e expansão da Internet para o chamado 2.0, o CD-ROM era o grande veículo para armazenamento e consulta de informação em formato digital - a ponto de muitos vaticinarem que, a curto prazo, o mesmo substituiria o livro como principal recurso disponível em bibliotecas e arquivos por esse Mundo fora. E ainda que essa profecia não se tenha chegado a realizar (muito por culpa da referida Internet 2.0) a verdade é que o CD-ROM deixou na sua esteira um legado de muitos e bons títulos de cariz informativo e educativo; já aqui anteriormente falámos da Encarta e, esta semana, falaremos de um título muito semelhante, ainda que mais especializado, lançado na mesma altura, e também pela Microsoft. Trata-se de Microsoft Dangerous Creatures, um CD-ROM lançado há exactos vinte e nove anos e que pode ser descrito, de forma sucinta, como uma Encarta especializada em animais - especificamente, nos 'animais perigosos' do título, como o urso e o leopardo que surgem na arte de capa do CD.

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O 'interface' dava, tal como o da Encarta, acesso a textos, imagens e vídeos, divididos por secções como 'habitat', região do Mundo onde vivem, 'armas' de ataque ou simplesmente guias sobre animais semelhantes. Grande parte deste conteúdo é retirado de livros especializados ou da programação de canais como a BBC e National Geographic, e narrado por Robert Zink, Cindy Shrieve e Annette Romano, criando algo novo e, na altura, impressionante do ponto de vista tecnológico.  E ainda que, hoje em dia, o tipo de conteúdo oferecido por 'Dangerous Creatures' seja por demais corriqueiro, existiu (e existe) toda uma geração de entusiastas de animais para quem o programa foi um 'divisor de águas', e um dos primeiros exemplos do que o então novo formato em CD possibilitava.

19.06.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Há quem ainda tenha pesadelos com eles. Há quem ainda os use como 'pano de fundo' para experiências com substãncias ilícitas, à falta de 'Dark Side of the Moon' ou d''O Feiticeiro de Oz'. E há, claro, quem os tenha como simples memória nostálgica da infância remota, uma espécie de substituto da 'Rua Sésamo' para quem teve o 'azar' de já ter nascido após o ocaso desse marco da televisão portuguesa. De quem falamos? De quatro extra-terrestes multi-coloridos, de vocabulário rudimentar, oriundos de um planeta perpetuamente soalheiro e pacífico, onde as disputas mais acirradas versam sobre simples mal-entendidos e outros sobressaltos da vida quotidiana, e que 'aterraram' na televisão portuguesa há quase exactamente vinte e cinco anos, para não mais deixar nenhum 'puto' português indiferente.

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De facto, consoante a faixa etária, os protagonistas homónimos da série educativa infantil 'Teletubbies' suscitavam reacções de amor, ódio, escárnio ou perplexidade, ajudando o programa a que davam a cara a atingir um estatuto quase instantaneamente lendário. Mesmo hoje, um quarto de século após a estreia na SIC do primeiro episódio, a 9 de Maio de 1998, a mera menção dos nomes de Tinky Winky, Dipsy, Laa Laa e Po, bem como da série propriamente dita, é capaz de provocar em adultos responsáveis reacções extremas de hilaridade ou embaraço. E porque deixámos passar em branco a verdadeira data do seu vigésimo-quinto aniversário (quando preferimos falar do Inspector Engenhocas) corrigimos agora, cerca de um mês e meio depois, esse erro, dedicando algumas linhas a uma série que suscitou milhares delas ao longo das últimas duas décadas e meia.

Isto porque, além do aspecto algo perturbante dos quatro protagonistas, que caía no chamado 'vale assombroso' ('uncanny valley'), 'Teletubbies' esteve, praticamente desde a sua origem, envolto em controvérsias das mais diversas índoles, de acusações de 'estupidificação' do público-alvo (com os seus argumentos simplistas, a narração redundante e condescendente e o vocabulário ao 'estilo Pokémon' dos personagens principais) até insinuações de que Po, o Teletubby roxo, seria LGBTQ+, dado o símbolo geométrico que ostentava na cabeça. Tudo isto apenas serviu, claro, para despertar ainda mais interesse em 'Teletubbies' por parte de demografias que não a do público-alvo, tornando o programa uma espécie de 'versão oposta' da referida 'Rua Sésamo' – se, dessa, pouca gente tinha (ou tem) algo mau a dizer, com 'Teletubbies' passava-se precisamente o oposto.

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Os argumentos demasiado simplistas da série davam azo a críticas.

E se à distância de vinte e cinco anos no futuro estas críticas e controvérsias em torno de um programa para crianças em idade pré-escolar podem parecer algo caricatas, a verdade é que a série da BBC (que, em Portugal, viu serem substituídas algumas cenas com actores reais por outras gravadas em exclusivo no nosso País) está longe de representar os habituais padrões de qualidade da emissora, pautando-se pela repetitividade (não são poucas as vezes em que um dos Teletubbies repete palavra a palavra o que o narrador acabou de dizer) e pelo cariz aborrecido, incapaz de prender a atenção de quem já tenha idade para frequentar a escola, e muito menos de quem tenha atingido os dois dígitos na idade. Mais uma vez, trata-se de um marcado contraste com 'Rua Sésamo' (e até com séries mais contemporâneas, como 'Noddy', de que em tempo aqui falaremos) que apenas deixa a nu as fraquezas de 'Teletubbies'. Basta, aliás, comparar os genéricos de qualquer das séries referidas anteriormente com o desta para perceber que não existe qualquer semelhança entre os mesmos - ainda que o do programa aqui analisado tenha, indubitavelmente, enorme potencial 'memético', o qual foi explorado em pleno pela juventude portuguesa antes mesmo de esse termo existir.

Quem nunca 'avacalhou' com a canção dos Teletubbies e respectiva dança, que se acuse...

Ainda assim, 'Teletubbies' chegou a encontrar o seu público entre os (muito) mais pequenos daquela época, que adquiriam as inevitáveis cassettes de vídeo e DVDs e o 'merchandise' oficial e pirata da série sem qualquer sentido de ironia; aliás, a par de 'Neco – A Minha Família É Uma Animação' e do inevitável e incontornável 'Dragon Ball Z', este foi dos programas que maiores volumes de produtos não-oficiais suscitou.

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Um dos muitos artigos piratas inspirados na série - aqui, com a criação acidental de um novo Teletubby, de cor verde e com uma antena de telefone como símbolo.

É com essa demografia em mente – mais do que aquela para quem 'Teletubbies' era (foi) pouco mais do que um objecto de escárnio, daqueles que se 'botam abaixo' no pátio da escola ou entre amigos – que aqui deixamos esta breve recordação de uma série tudo menos consensual, que, há vinte e cinco anos, dividia o Portugal 'dos pequeninos' em dois campos distintos (o do amor e o do ódio) de uma forma que muito poucos dos seus antecessores haviam, até então, conseguido; prova de que, desinteressante como era, o programa conseguia, pelo menos, fazer-se notar, ainda que junto das demografias erradas...

22.05.23

NOTA: Este 'post' é dedicado ao leitor e colega 'bloguista' Pedro Serra, que deixou a sugestão nos nossos comentários.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Embora, hoje em dia, seja conhecida como uma televisão de índole popular (senão mesmo 'popularucha') aquando do seu surgimento há quase exactos trinta anos, a TVI posicionava-se como algo diametralmente oposto: um canal 'bem-comportado', ao estilo RTP2, com uma programação pouco controversa e focada, sobretudo, em conteúdos de índole mais cultural, didáctica e religiosa – ou não fosse a estação de Queluz directamente financiada, em parte, pela Igreja Católica. Naturalmente, esta abordagem estendia-se, também, à programação infantil da emissora, bastando comparar a proposta infanto-juvenil da 'Quatro' nessa primeira fase, 'A Casa do Tio Carlos', com o 'Buereré' da rival SIC para se perceber a diferença de estilos - um paradigma que se manteria, aliás, durante alguns anos, até à chegada de 'Batatoon', esse sim, um concorrente directo ao programa de Ediberto Lima e Ana Malhoa.

De facto, é difícil imaginar a SIC, mesmo a daqueles primeiros tempos, a transmitir algo tão declaradamente pouco laico como 'No Princípio: As Histórias Mais Bonitas', série transmitida pelo quarto canal em 1994 e cuja proposta passava por recontar as histórias do Velho Testamento num formato passível de agradar ao público-alvo – no caso, a animação japonesa, ou 'anime'. Anos antes de 'Zorro', 'Cinderela', 'Robin dos Bosques' e do ex-libris 'Samurai X' – e anos antes de a concorrente de Carnaxide trazer 'Dragon Ball Z' para Portugal e iniciar a maior febre de recreio do século XX no nosso país – já a emissora de Queluz dava os primeiros passos pelo Mundo dos personagens de olhos grandes, embora, novamente, por meio de uma série que os professores de Catequese podiam mostrar aos alunos como complemento educativo, e que contrastava abertamente com os conteúdos comercializantes e voltados à acção exibidos pelas outras televisões.

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Da autoria do mestre Ozamu Tezuka – lenda da primeira 'era' do 'anime', mais conhecido por ter criado os personagens de Astro Boy e Leo, o leão branco, cuja série chegou a passar na RTP e se diz ter inspirado fortemente 'O Rei Leão', da Disney – a série teve co-produção italiana (como acontecia, aliás, com tantas outras no mesmo período) e estreou originalmente em 1991; a Portugal, chegaria apenas três anos mais tarde, em versão dobrada, pela mão da recém-nascida estação independente de Queluz (que a viria, aliás, a repetir dentro de outros três anos, em 1997) tendo mais tarde sido editada, na íntegra, em VHS, pela distribuidora Ediclube, no habitual formato 'um episódio por cassette' que 'estourava' com as finanças de quem procurasse completar a colecção na íntegra – apesar de, neste caso, essa abordagem ser mais justificada do que é habitual, dado cada um dos vinte e seis episódios focar uma história bíblica distinta, podendo a junção de dois ou mais episódios numa só cassette diluir o impacto individual das mesmas.

Independentemente do formato, no entanto, a verdade é que a série chegou a marcar quem a ela assistiu naqueles anos longínquos de infância, possuindo qualidade suficiente para 'converter' até mesmo quem não tinha grande interesse em religião, ou simplesmente não era Católico. Infelizmente, a versão portuguesa transmitida pela TVI encontra-se, hoje, Esquecida Pela Net, encontrando-se os episódios disponíveis no YouTube dobrados em brasileiro ou espanhol; ainda assim, para quem tiver curiosidade ou simplesmente quiser reviver (parcialmente) as manhãs da infância, fica a 'dica...'

04.04.23

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 03 de Abril de 2023.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Apesar do relativo ecletismo de estilos que os jovens de finais do século XX inseriam na sua 'dieta' musical quotidiana, o 'jazz' nunca foi um género com que essa mesma demografia se identificasse particularmente, talvez pelas pretensões intelectuais e imagem algo antiquada com que o mesmo era associado à época, e que o colocavam em claro contraste com os estilos favorecidos pela juventude, como o pop-rock e o alternativo. E, no entanto, a verdade é que, apenas uma geração antes, este género musical havia sido religiosamente escutado e seguido por grande parte dos jovens nacionais da época, sobretudo os citadinos, graças a um programa de rádio de difusão nacional exclusivamente dedicado ao estilo, inaugurado em 1966 e que continuava a manter-se 'firme' naquele fim de século, vindo inclusivamente a adentrar-se pelas primeiras duas décadas do século XXI antes de ser interrompido, há meras semanas, pela morte do seu criador.

Falamos do 'Cinco Minutos de Jazz', rubrica de título auto-explicativo da responsabilidade de José (ou 'Jazzé') Duarte - não confundir com José Jorge Duarte, o 'Lecas' - que fez parte do léxico radiofónico português durante mais de cinco décadas, ao longo das quais apresentou aos ouvintes interessados em 'jazz' um sem-número de nomes mais ou menos famosos do estilo, alguns dos quais devem, inclusivamente, ao programa a penetração e difusão do seu nome em Portugal.

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O carismático apresentador do programa, figura de proa do 'jazz' nacional

Transmitido primeiro pela Rádio Renascença, depois pela Rádio Comercial, e finalmente pela Antena 1, o programa manteve uma transmissão ininterrupta durante praticamente quarenta anos (entre 1983 e o corrente ano de 2023), sempre com a mesma fórmula que adoptara aquando da sua criação em 1966, e que consistia numa apresentação da música, seguida da transmissão integral da mesma e, finalmente, numa pequena contextualização explicativa, que revelava mais alguns dados em relação ao tema que acabara de tocar. Um formato simples, mas eficiente, que tirava o máximo partido do tempo disponível para a rubrica e eliminava muita da 'palha' que continua, até hoje, a infestar muitos programas radiofónicos. Aliada ao carisma e simpatia natural do falecido apresentador, esta economia de estilo ajudou a tornar o programa um sucesso, tendo o mesmo mantido uma audiência cativa ao longo de décadas, até se tornar o programa mais antigo da rádio portuguesa.
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Não foi, no entanto, apenas o programa que almejou fama dentro dos meios musicais portugueses - também o seu anfitrião ganhou honras de 'decano' e 'embaixador' do movimento 'jazz' português, sendo muitas vezes o escolhido para acolher certas figuras de proa do estilo (ou mesmo para as aliciar para um concerto em Portugal) e estando envolvido na organização de vários dos primeiros festivais dedicados ao género em solo nacional. Foi, também, dele e do seu programa a responsabilidade pela edição do primeiro disco de 'jazz' em Portugal, de nome 'Estilhaços' e lançado em 1972 para celebrar o sexto aniversário do programa (o qual, ironicamente, seria alvo de uma paragem forçada daí a um par de anos, antes do regresso em 1983.)

Assim, e apesar de o seu programa se afirmar já como 'de culto' (ou, se preferirmos, 'de nicho') por alturas da infância e adolescência de muitos dos leitores deste 'blog', vale, ainda assim, realçar e relevar a importância do seu apresentador, cujo falecimento representa uma perda de vulto para o movimento 'jazz' português, que se vê privado não só do seu programa de referência, como também de uma das principais personalidades propulsoras do mesmo ao longo das décadas. Que descanse em paz.

16.01.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

E depois de na última Segunda de Séries do ano passado termos falado do mais famoso 'procurado' da História da cultura juvenil, nada melhor do que, na primeira deste ano de 2023, darmos alguma atenção à outra pessoa de quem, naquela época, se perguntou frequentemente 'Onde Está?': uma espécie de congénere feminina e menos inocente do jovem de roupa listrada, e que com ele partilha o gosto pela cor vermelha e o tema de abertura épico da sua série animada. Falamos de Carmen Sandiego, a misteriosa protagonista da série com o seu nome (ou antes, para lhe dar o título completo, 'Onde Está Carmen Sandiego?') e que, durante cinco temporoadas, 'trocou as voltas' a um grupo de adolescentes determinados a encontrá-la e fazê-la pagar pelos seus crimes, maioritariamente circunscritos a roubos.

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Produzida entre 1994 e 1999, e baseada no jogo de computador educativo lançado na década anterior (e que gozou de enorme sucesso nos seus EUA natais) a série da DIC (então hegemónica no espaço televisivo infanto-juvenil internacional) tinha o total apoio da Broderbrund, produtora do jogo-base, e partilhava com este o elemento didáctico, o qual era implementado de forma subtil e se prendia, sobretudo, com as diferentes localizações pelas quais os dois jovens protagonistas (e o seu computador inteligente) viajavam em busca da ladra de gabardine vermelha, que andava, inevitavelmente, um passo à frente do 'casalinho'.

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A protagonista da série.

Esta integração de novos conhecimentos num contexto de entretenimento sem que o resultado final parecesse forçado – que 'Carmen' partilha com ilustres como 'A Carrinha Mágica', 'Artur', a trilogia 'Era Uma Vez...', 'Castelo da Eureeka' e, claro, 'Rua Sésamo' – valeu à série um 'Daytime Emmy Award' por Excelência na Programação Infantil, no final da sua primeira temporada, em 1995.

Ao contrário do que acontecia com a maioria das séries internacionais, a transmissão de 'Carmen' em Portugal deu-se com desfasamento mínimo em relação aos EUA, tendo a série passado na emissora estatal nacional logo em meados da década, em versão dobrada e, como não podia deixar de ser, com uma adaptação perfeitamente ÉPICA do genérico original – talvez o elemento mais memorável de todo o conjunto, e prova (se ainda fosse necessária) da habilidade que os estúdios de dobragem da altura tinham para criar temas de abertura marcantes.

Tema de abertura ou ária de ópera? Um pouco de ambos...

De resto, e apesar de bem-conseguida no cômputo geral (tanto tecnicamente como em termos de história) a série não se afirmou como particularmente marcante para as crianças portuguesas daquela geração, sendo, hoje em dia, muito menos lembrada do que a adaptação para TV de 'Onde Está o Wally?' - um daqueles casos paradoxais difíceis de explicar fora do contexto da época. Ainda assim, vale a pena recordar as aventuras televisivas da ladra americana, protagonista daquele que foi mais um bom exemplo de 'edutenimento' produzido durante a década de 90...

 

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