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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

05.12.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Numa edição passada desta rubrica, abordámos o programa 'Apanhados', elaborado por Joaquim Letria e transmitido pela RTP em inícios dos anos 90, concretamente até 1993. Nesse post, mencionámos que o mesmo havia constituído a última tentativa de criar uma emissão deste tipo em Portugal – uma afirmação errónea, dado ter havido pelo menos mais um programa inteiramente criado em território nacional a explorar este conceito. É dessa emissão, criada no mesmo ano em que 'Apanhados' saiu do ar (há exactas três décadas) que falaremos esta Terça-feira.

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(Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)

Elaborado e produzido por Manolo Bello, o 'parceiro invisível' de Joaquim Letria em 'Apanhados', e transmitido na então ainda única 'rival' privada da RTP, a SIC, 'Minas e Armadilhas' afirmava-se quase que como uma tentativa de expandir o conceito desse programa, aproximando-o mais do formato de programa de variedades clássico. De facto, embora as tradicionais 'partidas' a transeuntes insuspeitos continuassem a representar o 'cerne do programa apresentado por Júlio César, havia também espaço, ao longo dos seus cinquenta minutos de duração, para números musicais (normalmente a cargo de conjuntos de cariz tradicional, como tunas académicas e ranchos folclóricos) mini-concursos de memória com prémios em dinheiro, e, claro, bem-humoradas interacções entre o anfitrião fixo e os convidados de cada semana, os quais iam de 'drag queens' como Belle Dominique a desportistas profissionais, como a patinadora Andreia Teixeira, e até a apresentadora de programas eróticos (e antiga Miss França!) Marléne Morreau, numa mostra de ecletismo que apenas adicionava ao cariz algo anárquico e contra-cultura do programa.

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O apresentador Júlio César com uma das anfitriãs convidadas. (Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)

Estas pequenas mas significativas 'expansões' ao clássico formato de 'Apanhados' resultaram, aliás, em cheio, tendo 'Minas e Armadilhas' sido um dos baluartes da programação da SIC ao longo dos três anos seguintes, vindo a sair do ar apenas em 1996, quando a índole das grelhas televisivas nacionais se começava a alterar, e programas do seu tipo a perder espaço; ainda assim, há que dar ao programa as suas 'flores', e que lhe outorgar o seu estatuto como a verdadeira última tentativa de fazer um programa de 'apanhados' em Portugal – bem como, de longe, a mais bem-sucedida. Quem quiser saber porquê, basta reservar a próxima hora e ver o episódio completo que deixamos abaixo...

14.11.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Qualquer português nascido ou crescido nos anos 90, independentemente do seu interesse em videojogos, reconhece o 'Templo dos Jogos' da SIC como um dos mais bem-sucedidos e icónicos programas televisivos daquela década. Numa altura em que a Internet dava ainda os primeiros passos, o conceito de um programa onde eram mostradas, em exclusivo, imagens dos jogos de computador e consola mais 'badalados', em conjunto com algumas informações sobre os mesmos, era genial na sua combinação de simplicidade e utilidade, servindo o programa, essencialmente, como um Telejornal de videojogos, em que os apresentadores acabavam por servir como pouco mais do que 'pivots', deixando a verdadeira 'ribalta' para aquilo que todos queriam ver – as imagens dos jogos em si.

Tendo em conta este sucesso, não é de estranhar que uma das concorrentes da estação de Carnaxide – no caso, a RTP – tenha querido copiar a fórmula que tanto sucesso de audiências fazia na 'colega' privada; no entanto, talvez motivada pelo desejo de apresentar algo único e que não parecesse um 'xerox' tão descarado, a emissora estatal adicionou ao seu programa algumas 'nuances' que, embora bem-sucedidas em o tornar diferente, contribuíram também para o tornar menos interessante. No fundo, a RTP não percebeu o que estava, verdadeiramente, por detrás do sucesso do 'Templo', e viu a sua própria tentativa falhar como consequência do seu 'erro de cálculo'.

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Patrocinado (e de forma nada subtil) pela SEGA, 'Cybermaster' tinha como premissa combinar o formato do 'Templo' da SIC com uma vertente competitiva, de concurso infantil televisivo, adornando o todo com uma estética 'cyberpunk', bem típica dos filmes de ficção científica de série B que os jovens da altura traziam todos os fins-de-semana do seu videoclube local. Os apresentadores, assistente e o próprio cenário exibiam figurinos algures entre 'O Quinto Elemento' (então ainda em produção) e 'Mad Max', e o próprio conceito do concurso colocava os jovens concorrentes em luta directa, não só entre si, mas com o malvado personagem-título, interpretado pelo actor João D'Ávila com um visual 'à la' Bela Lugosi – uma missão que envolvia, sobretudo, disputas mano-a-mano em alguns dos jogos da SEGA mais populares da altura, incluindo vários da então ainda recente Sega Saturn, azarada pioneira das consolas 32-bits.

Uma fórmula interessante, mas que não foi suficiente para garantir a longevidade do programa, que acabou por ficar no ar durante apenas um ano, entre 1996 e 1997, e é, hoje em dia, bem menos lembrado do que o 'Templo' - algo que não deixa de causar alguma estranheza, já que o formato era sólido, e tinha tudo para atrair a atenção do público-alvo. Talvez tenha sido pela necessidade de complicar em demasia um conceito simples, ou talvez pelo falhanço de vendas da Sega Saturn, que, à época, vinha já sendo pesadamente derrotada em volume pela rival PlayStation; seja qual tiver sido a razão, a verdade é que 'Cybermaster' é, hoje, uma daquelas relíquias 'de época' algo perdidas no tempo, capaz de causar nostalgia a uma parcela da geração 'millennial' portuguesa, mas que, para a maioria dos ex-'putos' noventistas, apenas causará estranheza, e uma sensação de 'como é que eu nunca vi isto?' Para esses, ficam abaixo não apenas um, mas dois episódios completos do programa, para que possam preencher essa lacuna na cultura 'pop' juvenil portuguesa de finais do século XX.

Pode parecer um delírio da imaginação, mas não é - este programa existiu mesmo...

05.09.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Ao falar de um concurso de cultura geral dirigido a um público infanto-juvenil, com dupla de apresentadores masculina e feminina e canções sobre animais posteriormente lançadas em disco, a resposta de dez em cada dez 'X' e 'Millennials' lusitanos será, certamente, apenas uma: 'Arca de Noé', o lendário concurso que tornou Fialho Gouveia, Carlos Alberto Moniz e Ana do Carmo nomes conhecidos e acarinhados entre as demografias mais jovens. No entanto, a verdade é que, sensivelmente na mesma altura, ia também ao ar na RTP um outro concurso de cultura geral dirigido a um público infanto-juvenil, com dupla de apresentadores masculina e feminina e canções sobre animais posteriormente lançadas em disco, e com a participação directa de um cantautor chamado Carlos e conhecido pelas suas composições especificamente dirigidas às crianças e jovens.

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Podem parecer demasiadas coincidências, mas a verdade é que se deram mesmo, sendo que, durante um breve período em inícios dos anos 90, o Tio Carlos e o Avô Cantigas fizeram concorrência um ao outro pelos corações das crianças portuguesas, com dois programas muito semelhantes. De facto, 'Vitaminas' quase pode ser considerado uma versão de 'Arca de Noé' produzida sob o efeito de drogas psicotrópicas, com os cenários sóbrios a darem lugar a um mundo de banda desenhada psicadélico, onde cabiam tanto a faceta de concurso como números musicais e até 'sketches' humorísticos, como aqueles em que um personagem totalmente 'sem noção' (no caso Félix Fracasso, interpretado por António Cordeiro) invadia o auditório e atrapalhava o andamento do programa, tão populares nos concursos 'para graúdos' da altura, e aqui adaptados ao contexto infantil.

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A dupla de apresentadores do programa.

Particularmente dignos de nota eram os segmentos em que Carlos Alberto Vidal 'entrevistava' animais (ou antes, pessoas dentro de fatos de animais, como é óbvio) como forma de transmitir alguns factos sobre os mesmos – uma preocupação partilhada com o 'concorrente' directo. Cada um dos 'animais' assim entrevistado virava, depois, tema do número musical do episódio, tendo estes, mais tarde, formado a base do LP alusivo ao programa, lançado na mesma época e interpretado por Carlos Alberto Vidal. Também notáveis, pela sua bizarria, era a rubrica 'Patati Patata', em que os dois apresentadores, Vidal e Sofia Sá da Bandeira, vestiam a pele dos personagens titulares e habitavam um espaço perpetuamente acelerado, alucinado e abstracto, que pouco ou nada parecia ter a ver com a porção competitiva do programa.

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O LP com as músicas do programa.

Era, precisamente, esta fusão única de humor, 'performance' artística e concurso competitivo que tornava 'Vitaminas' mais do que apenas um 'aproveitador' da fama de 'Arca de Noé', fazendo com que valesse a pena sintonizar a RTP1 aos Sábados de manhã para ver que bizarrias guardava o episódio daquela semana. E ainda que, hoje em dia, o programa pouco mais seja do que uma distante memória psicadélica na mente do então público-alvo, a verdade é que, à época, constituiu um conceito inovador – talvez até em demasia, já que o seu 'tempo de antena' foi de apenas cerca de um ano, vindo a concluir-se algures em 1992. Ainda assim, quem viveu aquelas transmissões em 'primeira mão' certamente estará, neste momento, a ver 'desenterram-se' dos cantos mais recônditos do seu cérebro imagens, frases e refrões de cantigas sobre animais julgadas há muito esquecidas – por aqui, é certamente esse o caso...

Peça alusiva ao programa na rubrica 'Retroescavadora', da RTP Memória, onde se podem ver alguns trechos do mesmo.

16.05.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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O apresentador nos tempos do programa.

Quem cresceu entre a década de 80 e a actualidade certamente conhece bem o nome de Herman José. Inicialmente revelado como humorista, nos anos 70 e 80, o luso-alemão viria, na década seguinte, a viver um 'novo fôlego' na carreira enquanto apresentador de concursos televisivos – posição na qual a sua popularidade rivalizava com a de nomes como Carlos Cruz, António Sala ou Júlio Isidro – antes de regressar à comédia com a lendária 'Herman Enciclopédia', que o viria a apresentar a toda uma nova geração, demasiado nova para ter visto o especial de Fim de Ano transmitido pela RTP no último dia de 1991, tido a 'Roda da Sorte' como ruído de fundo das noites da sua infância, ou se interessar pelo 'Parabéns'. Pelo meio, no entanto, o humorista tentou ainda outro 'desvio' na carreira, menos antológico e bem-sucedido, mas que viria ainda assim a abrir novas possibilidades para a sua carreira.

Falamos de 'Herman 98', estreado há quase exactos vinte e cinco anos, em Maio de 1998, e que trazia Herman à cabeça de um formato 'talk show' com música e muito humor à mistura, nos moldes de programas como o 'Tonight Show' ou 'Late Night' norte-americanos. A acompanhar o luso-alemão nesta aventura estavam todos os suspeitos do costume, dos argumentistas das Produções Fictícias a actores como Maria Rueff e Vítor de Sousa, que davam, com Herman, vida aos diferentes 'sketches' encenados por entre as entrevistas a convidados e os esporádicos números musicais; e se este formato parece familiar, é porque se trata, precisamente, do mesmo adoptado em 'Cá Por Casa', o mais recente programa do humorista, actualmente em exibição na RTP.

De facto, reside precisamente aí o grande mérito de 'Herman 98' e da sua sequela do ano seguinte – nomeadamente, o de ter dado confiança a Herman José como apresentador de um formato (ligeiramente) mais sério que o habitual – sem, com isso, perder a personalidade muito própria que qualquer programa de Herman apresenta – servindo, assim, como inspiração para projectos futuros do humorista, a começar pelo acima mencionado. E apesar de, à época, o programa ter talvez parecido um pouco aborrecido para quem estava habituado a ver Herman a 'debitar' ininterruptamente piadas e dichotes dirigidos a concorrentes ou assistentes de palco, a verdade é que, à distância de um quarto de século, as qualidades do formato (e da forma como o mesmo foi executado) se tornam bem evidentes, tornando 'Herman 98' merecedor de algumas linhas de homenagem por altura do trigésimo aniversário da sua estreia em televisão.

Quem se atrever, pode ver acima três horas de Herman José...

...ou, para quem tenha menos tempo e paciência, aqui fica a actuação dos então popularíssimos Excesso no programa em causa.

04.04.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O surgimento dos canais de televisão privados potenciou o surgimento e expansão de um formato televisivo já explorado, ao de leve, pela televisão estatal, mas exacerbado e explorado à exaustão pelas referidas SIC e TVI: o 'talk show' matinal. Já tradicional nas grelhas de programação de países como os Estados Unidos e a Inglaterra, este tipo de programa - no qual se misturam entrevistas, debates, 'casos' reais, escândalos, segmentos com conselhos práticos do dia a dia e números de entretenimento - cimentou-se definitivamente em Portugal na segunda metade da década de noventa, para não mais abandonar as grelhas televisivas - e um dos principais responsáveis por essa popularidade (bem como um dos pioneiros do formato) foi precisamente o programa de que hoje falamos, estreado há pouco mais de um quarto de século e que levava o nome da sua apresentadora: 'Fátima Lopes'.

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Idealizado por Manolo Bello (um dos co-criadores dos famosos 'Apanhados', o programa propunha um bloco diário de três horas, sob a égide da apresentadora homónima (então conhecida, sobretudo, pelos não menos icónicos 'Perdoa-me' e 'All You Need is Love'), e sempre dedicado a um tema de interesse para o seu público-alvo de donas-de-casa - ainda que, por vezes, o assunto em debate fosse um pouco mais 'arriscado' do que o habitual, como foi o caso com o travestismo, num episódio que, aliás, chegou a ser reaproveitado pelos icónicos Gato Fedorento, anos depois da última transmissão do programa, que data de 2001. (De notar, aliás, que 'Fátima Lopes' entrou nas casas dos portugueses durante quase exactamente três anos, datando a primeira emissão de 16 de Fevereiro de 1998, e a última de 2 de Fevereiro de 2001.)

O final do programa não significou, no entanto, o fim do formato em causa na emissora de Carnaxide, ou mesmo da carreira de Fátima Lopes como apresentadora deste tipo de conteúdos; pelo contrário, a apresentadora tornou-se tão sinónima com programas deste tipo como Manuel Luís Goucha na RTP, surgindo à cabeça de mais dois formatos do mesmo tipo em anos subsequentes, 'SIC 10 Horas' e 'Fátima', antes de se 'mudar' para a TVI, onde continuaria na mesma senda. Ainda assim, é pelo seu programa homónimo, e pelas suas mais de seiscentas emissões, que a apresentadora é, ainda hoje, recordada por muitos daqueles que acompanhou durante o pequeno-almoço ou os 'tempos mortos' das manhãs de infância ou adolescência, tornando-se presença diária, constante e reconfortante no ecrã da televisão de casa.

21.03.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui em ocasiões passadas abordámos alguns dos principais concursos televisivos do Portugal de finais do século XX, tendo nessas ocasiões também mencionado que este tipo de conteúdos constituía um dos principais 'esteios' da programação dos quatro canais 'abertos' portugueses da época. No entanto, havia, até agora, uma lacuna de vulto na nossa cobertura de programas desse tipo, lacuna essa que procuramos agora preencher: chegou, finalmente, a altura de falar do Um, Dois, Três.

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Considerado por muitos como o expoente máximo dos 'game shows' portugueses da fase clássica – mais ainda do que 'O Preço Certo' – o programa em causa conseguiu permanecer no ar durante praticamente uma década e meia, com muito poucas alterações ao formato, e apenas uma mudança de apresentador durante todo esse período. Da sua estreia há quase exactamente trinta e nove anos (a 19 de Março de 1984) à última emissão em 1998, o concurso baseou-se quase sempre numa prova de 'endurance' mental em várias fases, subordinada a um tema específico que 'rodava' semanalmente, e disputada a pares por três casais. O objectivo final do casal vencedor – e, consequentemente, apurado para a segunda fase - passava por adivinhar, com base nas pistas dadas pelo apresentador e seus coadjuvantes, o grande prémio de cada episódio, o qual consistia quase sempre dos habituais automóveis e viagens, mas podia também tratar-se de algo cómico e insólito, à laia de partida – quase sempre uma réplica da mascote do programa, a carismática Bota Botilde. (Esta última ideia seria, aliás, adoptada com grande sucesso por Olga Cardoso para o seu 'A Amiga Olga', grande êxito dos primórdios da TVI.)

Além desta prova central, que ocupava a grande maioria do tempo de antena do programa, o 'Um, Dois, Três' contava ainda com as habituais apresentações musicais e cómicas, estas últimas a cargo de nomes tão conceituados do humor da época como Carlos Miguel (o 'Fininho'), Herman José, Raul Solnado ou Marina Mota, cujo papel era o de entreter não só o público presente nos estúdios da Tóbis, como também os espectadores a assistir ao programa em casa.

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O apresentador sinónimo com o programa.

Por entre todos estes nomes sonantes, no entanto (incluindo o de Botilde), havia um que se destacava, e que se tornou ao longo dos anos ainda mais sinónimo com o programa do que a própria bota: Carlos Cruz. O carismático apresentador, então em estado de graça e ainda longe do escãndalo Casa Pia, representava, à época, uma presença constante na sala de estar dos portugueses durante o serão, e o seu típico 'charme' era responsável por grande parte do sucesso do 'Um, Dois, Três' – tanto assim que, durante o seu tempo de vida, o concurso apenas teve dois outros apresentadores: o igualmente carismático António Sala, em 1994-95, e Teresa Guilherme, durante a breve 'ressurreição' do programa no século XXI. Os restantes treze anos tiveram sempre Carlos Cruz ao 'leme', tornando o concurso praticamente sinónimo com toda a carreira do apresentador.

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António Sala ao comando do programa.

Em suma, o 'Um, Dois, Três' foi uma daquelas adaptações de formatos estrangeiros (no caso, da vizinha Espanha) que acabam por gozar de enorme sucesso também em Portugal, sendo ainda hoje um dos programas mais carinhosamente lembrados pela geração que cresceu com Carlos Cruz a 'entrar-lhe pela sala dentro' todos os princípios de noite, e que, quiçá, tenha mesmo chegado a ter junto ao gira-discos o LP da Bota Botilde...

O icónico genérico do programa.

Emissão completa da era António Sala.

 

07.03.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Apesar de exacerbada na era digital, com a crescente preponderância dos conteúdos curtos e de impacto, o conceito de 'rir da desgraça alheia' (no fundo, rir DE alguém em vez de COM alguém) é um daqueles instintos ancestrais da espécie humana cuja génese se perde no tempo. Há algo de catártico em ver alguém que não o próprio falhar em toda a linha, ser enganado, ou simplesmente fazer algo de pouco avisado e sofrer as inevitáveis consequências – uma sensação hoje lucrativamente explorada por plataformas como o YouTube e o TikTok, mas que já em finais do século XX era aproveitada pelo meio audio-visual então vigente, a televisão. De facto, foram inúmeros os programas dedicados a exibir momentos embaraçosos da espécie humana a fazer furor ao redor do Mundo, fossem eles compilações de vídeos caseiros involuntariamente humorísticos, 'à la' 'Isto Só Vídeo', ou o outro formato extremamente popular neste campo, o dos eternos 'apanhados'.

De facto, ao contrário do que as gerações mais novas possam pensar, a ideia de 'partidas filmadas' levadas a cabo em público não foi inventada pelos 'influencers' do YouTube; antes pelo contrário, várias décadas antes de a plataforma sequer ser fundada, já as emissoras e produtoras televisivas de todo o Mundo desenvolviam esse conceito a nível profissional, criando um sem-número de programas de enorme sucesso, com destaque para o original 'Candid Camera', apresentado por Dom DeLuise (então um nome em alta) e que chegou a ser transmitido no nosso País em versão legendada.

No entanto, a chegada do anafado comediante às televisões lusas não foi, de todo, o primeiro contacto dos espectadores portugueses com o formato em causa; pelo contrário, em meados dos anos 90 haviam já sido quatro as tentativas de criar um 'Candid Camera' português. O primeiro a tentar, ainda em inícios da década de 80, foi Joaquim Letria, que baptizou o programa com o mesmo nome do jornal que então dirigia, o entretanto desaparecido Tal & Qual; nos anos subsequentes, surgiriam (e desapareceriam) mais três programas deste tipo, sempre com Joaquim Letria por detrás, o último dos quais comemora esta semana (a 8 de Março) os exactos trinta anos, não da primeira, mas da ÚLTIMA transmissão da sua série original – altura ideal, portanto, para nos debruçarmos sobre ele.

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Trata-se do singelamente intitulado 'Apanhados', estreado na RTP1 a 14 de Setembro de 1992, e que conquistou de imediato o seu público-alvo, com a sua enorme variedade de 'partidas', algumas bastante criativas, e que nunca deixavam de suscitar a quem nelas 'caía' reacções de embaraço, por vezes exagerado, que eram o principal motivo de interesse do programa, e o momento mais esperado por todos os que o viam. Algumas destas partidas tornaram-se mesmo icónicas para uma certa geração de portugueses, como a do manequim vivo que assustava os clientes de uma loja com o seu movimento repentino e inesperado. E apesar de as verdadeiras estrelas serem os incautos e anónimos transeuntes, não pode ainda deixar de ser referido o envolvimento de vários actores futuramente conhecidos, entre ele Guilherme Leite, que rapidamente se tornaria uma das grandes personalidades da televisão em Portugal.

Apesar do enorme sucesso, um desentendimento entre Joaquim Letria e o criador das partidas, Manolo Bello – bem como a irritação do primeiro por ser conotado, só e apenas, com este tipo de conteúdos, e por o mesmo estar a ofuscar a sua carreira como comunicador – ditaria o fim prematuro do mesmo, pelo menos na sua 'encarnação' de 1992-93; isto porque o programa voltaria para mais treze episódios pouco mais de dois anos depois, agora já sem o envolvimento de Letria e da responsabilidade única de Manolo Bello, e novamente com o envolvimento de actores em ascensão, que se tornariam nomes conhecidos em anos vindouros.

Curiosamente, com excepção do referido 'Candid Camera' de Dom DeLuise, a segunda série dos 'Apanhados' foi a última instância de conteúdos deste tipo na televisão portuguesa, que se encontrava, à época, em fase de fluxo. E a verdade é que, se um programa nestes moldes se encaixava perfeitamente na oferta televisiva de 1992, já fazia menos sentido em meados da década, e pareceria quase caricato na programação do virar do Milénio; assim, talvez tenha mesmo sido melhor para o programa sair 'em alta' da mente dos portugueses, permitindo-lhe ser, hoje, recordado com carinho e nostalgia pela mesma geração que, tivesse o mesmo continuado indefinidamente, talvez se tivesse rapidamente cansado dele...

NOTA: As duas séries dos 'Apanhados' estão disponíveis, na íntegra, nos Arquivos RTP. Abaixo fica, também, um dos episódios do programa, partilhado no YouTube em duas partes.

24.01.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Os anos 90 constituíram uma verdadeira 'época áurea' no que tocou aos blocos de programação infantil em Portugal, tendo visto nascer alguns dos mais memoráveis exemplos deste formato da História da televisão portuguesa; do 'Buereré' da SIC à 'Casa do Tio Carlos' e, mais tarde, o 'Batatoon' e 'Mix Max' (todos na TVI) as crianças portuguesas daquela década tiveram muito por onde escolher no tocante a programas que intercalavam a exibição de desenhos animados e séries infantis com jogos, passatempos e interlúdios musicais, com animação a cargo de um ou mais apresentadores carismáticos e bem-dispostos.

No caso da RTP, o representante deste tipo de programa começou por ser 'A Hora do Lecas', passando depois a chamar-se 'Brinca Brincando' (termo que se aplicou a uma série de formatos, sendo o mais memorável 'Os Segredos do Mimix') até, em 1993, se fixar como 'Um-Dó-Li-Tá', nome pelo qual o bloco infantil da emissora estatal seria conhecido até praticamente ao final da década.

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Alternando, durante os seus cinco anos de vida, entre a RTP1 e a RTP2, o programa foi alvo de várias re-estuturações de formato, por vezes concomitantes com estas mudanças. A proposta inicial não andava longe da das concorrentes, consistindo em desenhos animados intercalados com segmentos moderados por dois apresentadores - no caso Francisco Barbosa e Vera Roquette, esta última já bem querida da 'pequenada' devido à sua associação com o 'Agora Escolha', programa onde revelara uma aptidão especial para comunicar com os mais novos.

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Vera Roquette foi a primeira apresentadora do programa. (Crédito da foto: Desenhos Animados Anos 90)

Mais tarde, em 1994, a 'apresentação' passaria a ficar a cargo de dois bonecos, o 'Umdó' e a 'Litá', duas molas com vida que, nos anos finais do programa, foram substituídos por outros dois bonecos, HumHum e Benzé, que ocupariam o 'cargo' até à extinção do formato, em 1998, num caso óbvio de discriminação contra humanos...

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As molas animadas Umdó e Litá substituiriam os apresentadores humanos a partir de 1994

O que não se alterou ao longo do tempo de vida do programa foram a duração, que se manteve nas duas horas, e a aposta em conteúdos nacionais, como 'Rua Sésamo', 'Os Amigos de Gaspar' ou 'No Tempo dos Afonsinhos', à mistura com as habituais séries estrangeiras. Um formato perfeitamente 'seguro', sem grandes inovações, e sem a agitação frenética dos concorrentes directos (aproximava-se mais do ambiente tranquilo de 'A Casa do Tio Carlos' do que do 'espalhafato' de Ana Malhoa ou Batatinha) mas perfeitamente capaz de lhes fazer frente, até por dispôr de alguns bons argumentos a nível de séries e programas – e, como tal, bem digno de homenagem num ano em que se comemoram, simultaneamente, os trinta anos da sua estreia e os vinte e cinco da sua última emissão...

Dois excertos de eras diferentes do programa.

 

10.01.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

por diversas vezes aqui apresentámos provas cabais de que os concursos se encontravam entre os formatos televisivos mais populares dos anos 80 e 90 (e, embora em menor escala, também do Novo Milénio). Desde sempre presentes nas tardes dos portugueses, sob as mais diversas formas e formatos e subordinados aos mais variados temas, este tipo de programa nunca deixava de se afirmar como um sucesso de audiências junto do público-alvo. A adição a este genéro feita pela SIC há quase exactos vinte e cinco anos – a 12 de Janeiro de 1998, escassos dois meses após o quinto aniversário da emissora – não é excepção a esta regra, e conseguiu mesmo atrair alguma atenção durante os pouco mais de três anos em que esteve no ar.

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Tratava-se de 'Roda dos Milhões', uma espécie de mistura entre 'A Roda da Sorte' e o clássico sorteio televisionado do Totoloto que, mais do que um mero programa de televisão, se tornou num verdadeiro 'franchise', com direito a revista própria, CD alusivo aos artistas que actuavam no programa, e até uma raspadinha com o seu nome.

Apresentado inicialmente pela dupla de Jorge Gabriel (símbolo máximo do programa) e Mila Ferreira – ambos então em alta – e mais tarde também por Fátima Lopes, o programa oferecia ainda outros atractivos, como música ao vivo a cargo de artistas tanto nacionais como internacionais, mas era nos diversos jogos e passatempos que residia o principal interesse do formato, pelo menos para quem não jogava no Totoloto.

download.jpgOs dois grandes símbolos do programa.

Isto porque, à boa maneira do seu antecessor espiritual, 'A Roda da Sorte', o concurso contava em estúdio com a roda homónima, que os concorrentes da semana podiam girar para ganharem prémios imediatos em dinheiro, bem como com outros jogos, como a 'Marca da Sorte', em que o prémio era um automóvel; assim, mesmo quem não 'arriscava' nos números da Santa Casa tinha vastas razões para sintonizar semanalmente a estação de Carnaxide às Segundas, em horário nobre – especialmente porque se atravessava, à época, o longo período entre o fim d''A Roda da Sorte' original, com Herman José, e a chegada das versões 'revitalizadas' do concurso, na época seguinte, servindo a 'Roda dos Milhões' como honroso substituto.

Assim, foi com naturalidade que o programa se assumiu como mais um dos muitos sucessos da estação de Carnaxide durante a sua 'fase imperial' na segunda metade dos anos 90 – pelo menos até a SIC findar, abruptamente, a sua transmissão, por impossibilidade de manter o horário das Segundas à noite, e perder o formato para a televisão estadual, onde o seu destino seria exactamente o inverso, tendo a versão com Nuno Graciano como apresentador durado exactos três meses antes da extinção total do formato, a 6 de Junho de 2001. Nada que belisque a reputação ou marca histórica e cultural de um concurso que, ainda que simples e simplista, não deixou (com maior ou menor mérito) de ser um sucesso, e, como tal, é bem digno de ser celebrado na semana em que se completa um quarto de século sobre a sua estreia.

27.12.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A programação natalícia em Portugal é sinónimo de uma série de coisas bem conhecidas: o 'Sozinho em Casa', o Circo de Natal, a missa...e a mais antiga de todas essas tradições, o concurso internacional de canto infantil conhecido como Sequim D'Ouro. Uma espécie de Festival da Eurovisão para crianças (ou, se preferirmos, um 'Mini Chuva de Estrelas' à escala internacional, e sem a vertente 'cosplay') este concurso realiza-se anualmente, sem falta, desde finais dos anos 50 (normalmente em Novembro), e é transmitido de forma igualmente assídua pela televisão estadual portuguesa, como parte da sua grelha de Natal.

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O conceito do concurso requer que cada mini-concorrente (oriundo dos quatro cantos do continente europeu, exactamente como na versão 'dos crescidos') interprete uma música original em duas versões - a primeira na sua língua natal e a segunda em Italiano, a língua do país organizador do concurso; cada interpretação é, depois, julgada por um júri especializado, sendo no final escolhido um vencedor. Um formato simples, e que permite que o foco seja posto onde verdadeiramente deve: nos esforços vocais dos jovens intérpretes, sempre devidamente acompanhados pelo coro infantil residente do Teatro Antoniano de Bolonha, onde o festival é tradicionalmente gravado.

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Durante o auge da sua popularidade, o  boneco Topo Gigio era presença habitual no concurso.

Nos anos 80 e 90, a transmissão anual deste concurso trazia, ainda, o atractivo adicional da presença do Topo Gigio, mascote nativa americana que, à época, gozava de alguma popularidade em Portugal, fruto do programa homónimo que tinha 'apresentado' na RTP, em inícios dos anos 80, e que na década seguinte renovaria essa mesma popularidade ao surgir no programa-estandarte da SIC ao lado de João Baião; só mais um incentivo para as crianças portuguesas sintonizarem a estação estadual no dia de Natal, e assistirem a uma emissão que reunia vários ingredientes perfeitos para a programação desta época do ano, e que continua, ainda hoje (mais de seis décadas após a sua estreia) a afirmar-se como um clássico da mesma, quanto mais não seja pela longevidade e inevitabilidade da sua presença na grelha natalícia nacional, que rivaliza já com a do referido 'Sozinho em Casa' e respectiva segunda parte...

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