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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

13.05.25

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

No nosso último 'post', falámos do tema que General D, um dos pioneiros do 'rap' e 'hip-hop' em Portugal, havia contribuído para a banda-sonora de 'Até Amanhã, Mário', um dos filmes portugueses com maior projecção da década de 90. Nada mais justo, portanto, do que falar agora do programa de televisão que permitiu a D ser considerado para tal projecto, mediante o encontro com o produtor e compositor Tiago Lopes, com quem colaborou na faixa em causa.

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Um dos vários trios de jovens apresentadores do magazine.

Estreado logo nos primeiros meses da nova década, 'Lentes de Contacto' partia do formato muito típico dos 'magazines' juvenis da altura, como 'Caderno Diário', e adicionava-lhe um elemento de interacção humana, através da presença de entrevistados e convidados musicais, num resultado final que antecipava a fórmula do icónico 'Curto Circuito' em quase uma década. De facto, tal como o programa-estandarte da SIC Radical (e, antes, do CNL), 'Lentes de Contacto' misturava as referidas entrevistas e actuações com debates e peças informativas sobre temas de interesse directo para o público-alvo, mediadas por trios rotativos de jovens apresentadores cuja presença e forma de comunicar garantiam a tão desejada conexão com o público-alvo, exactamente como no posterior programa da TV Cabo.

Comparativamente ao 'CC', no entanto – e a outros programas semelhantes, como o 'Muita Lôco' – 'Lentes de Contacto' é relativamente Esquecido Pela Net, vindo as principais referências ao magazine do próprio 'site' da RTP. Ainda assim, e apesar de pouco falado entre os membros da Geração X portuguesa (principal demografia-alvo do programa, sendo os 'millennials' algo novos para se interessarem pelo formato) não há razão para duvidar que pelo menos alguns desses mesmos rapazes e raparigas (hoje homens e mulheres na casa dos quarenta a sessenta anos) tenham sintonizado a RTP a cada nova transmissão do programa, para acompanharem o debate daquele dia ou simplesmente apreciarem as actuações do convidado musical do dia – entre os quais, como referimos, se contou em tempos General D, a principal (mas não única) razão para recordamos este magazine nas páginas do Anos 90...

18.03.25

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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Um dos fenómenos sociais mais pervasivos das últimas cinco décadas em Portugal – sensivelmente desde a globalização dos televisores caseiros – vem sendo a miscigenação da cultura portuguesa com a brasileira, não só através da imigração, como também da importação de produtos mediáticos daquele País. E se, hoje em dia, esse cruzamento se limita às eternas telenovelas, a um ou outro canal da TV Cabo e às revistas da Turma da Mônica, há trinta anos, o panorama de propriedades intelectuais brasileiras presentes em Portugal era bem mais vasto, com as referidas telenovelas e as bandas desenhadas da Abril e Globo à cabeça. E terá sido, precisamente, através das referidas bandas desenhadas que uma larga parcela da população nacional terá tido o primeiro contacto com um dos mais famosos produtos mediáticos saídos do país-irmão – a 'troupe' de comediantes conhecida como Os Trapalhões.

E se a referida BD da Globo tinha como foco versões infantis do quarteto, não tardaria também a que as crianças e jovens daquela época ficassem a conhecer os 'verdadeiros' Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, quando – há quase exactos trinta e um anos, em Março de 1994 – o seu programa, lendário no Brasil, chegou finalmente aos televisores nacionais, pela mão da SIC. E a verdade é que, previsivelmente, a inspirada colecção de 'sketches' cómicos de índole 'pastelona' (com alguns dichotes brejeiros à mistura) não tardou a conquistar o público-alvo, sempre aberto a tentativas de humor deste tipo – sobretudo quando se afirmavam como bem acima da média, como era o caso. Sem nunca se terem tornado um 'caso de estudo' de popularidade, como o eram no seu país natal, Os Trapalhões encontravam, assim, em Portugal uma audiência suficientemente devota e fiel para justificar a 'aventura' inédita que o quarteto encetaria logo no ano seguinte, e sobre cuja estreia se comemoram por estes dias exactas três décadas.

Falamos de 'Os Trapalhões em Portugal', a produção nacional (da própria SIC) que procurava recuperar o formato de sucesso do programa original, ao mesmo tempo que o ambientava por terras lusitanas, com os Trapalhões ainda restantes – Didi e Dedé – a contracenarem com coadjuvantes com sotaque português, em cenas típicas da vida quotidiana nacional. Uma ideia que poderia ter resultado – e que, sob algumas métricas, resultou mesmo, já que o programa fez tanto sucesso quanto o seu antecessor – mas que perdia consideravelmente pela ausência da 'outra metade' do grupo, a saber, os malogrados Mussum e Zacarias, que muitos consideravam serem as principais fontes da comédia do grupo. Com apenas Didi como verdadeiro Trapalhão (Dedé sempre desempenhou o papel de elemento mais sério do grupo) e com a presença de actores portugueses a ressalvar a diferença de abordagem e desempenho em relação aos brasileiros, o resultado era um produto algo menos fluido, e mais 'bem-comportado', do que o hilariante original da Globo.

Ainda assim, conforme referimos acima, 'Trapalhões em Portugal' chegou a fazer sucesso entre a juventude lusitana da época, e será ainda recordado por parte dela como um dos elementos nostálgicos da sua infância ou adolescência, merecendo assim destaque nestas nossas páginas no mês em que se completam trinta anos sobre a sua primeira emissão.

05.03.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 03 de Março de 2025.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Quando se fala em desfiles de Carnaval, restam poucas dúvidas de que o mais famoso é o do Rio de Janeiro, que atrai multidões a cada ano, desejosas de ver o espectáculo de luz, cor, música, brilhantes e dançarinas em trajes sugestivos. No entanto, esse está longe de ser o único evento histórico ligado à festa em causa, sendo que Portugal tem, inclusivamente, a sua própria alternativa ao mesmo, ainda que bastante mais modesta: o Carnaval de Sines, que coloca, anualmente, a localidade algarvia no 'mapa' em finais de Fevereiro e inícios de Março. Mas se, na esmagadora maioria das ocasiões, esta festa tem um âmbito puramente local, há pouco mais de três décadas a mesma chegou a gozar os seus 'quinze minutos de fama' a nível nacional, quando foi escolhida como alvo da emissão da RTP para a programação de Carnaval.

De facto, numa iniciativa que jamais se viria a repetir, não só a emissora estatal transmitiu as festividades ligadas ao evento, como também enviou para o terreno as equipas de apresentadores não de um, mas de dois programas da manhã, o 'Viva A Manhã' e a recém-inaugurada 'Praça da Alegria' (ambos os quais também terão aqui o seu espaço). A festa pôde, assim, gozar, naquele fim-de-semana, de uma exposição mediática muito acima do comum, a qual terá, certamente, ajudado a divulgar o evento a uma população mais vasta, numa época em que a Internet estava, ainda, longe de se globalizar. Razão mais que suficiente para recordarmos a referida cobertura, da qual deixamos abaixo diversos excertos, para quem quiser ficar a par da referida emissão, ou apenas recordar e 'matar saudades' da mesma.

  

31.12.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Ao longo da década de 90, Herman José logrou tornar-se quase sinónimo com a programação de 'revéillon' portuguesa, mediante dois dos mais icónicos especiais de Ano Novo da televisão nacional - 'Crime Na Pensão Estrelinha', transmitido na passagem do ano de 1990 para 1991 e que fez História na RTP, e 'Hermanias Especial de Fim de Ano', emitido exactamente um ano depois, e mais centrado no formato de 'sketch' que, mais tarde, viria a encontrar grande sucesso como base da 'Herman Enciclopédia'. Estes dois baluartes da programação de 31 de Dezembro, em conjunção com a forte e continuada presença de Herman nos ecrãs nacionais (em programas como 'Roda da Sorte', 'Com A Verdade M'Enganas', 'Parabéns' ou 'Herman 98', além da própria 'Enciclopédia') fizeram com que o hiato de quase uma década do apresentador da grelha televisiva da Passagem de Ano mal se fizesse notar, parecendo Herman nunca ter deixado de acompanhar os Portugueses nessa efeméride. E no entanto, como se diz, 'tudo o que é bom chega ao fim', e essa confortável e familiar relação viria mesmo a terminar, há exactos vinte e cinco anos, por ocasião da histórica viragem simultânea do ano, século e Milénio.

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Seria, de facto, a 31 de Dezembro de 1999 que, sem o saberem, os telespectadores da RTP se despediriam do seu anfitrião de Ano Novo 'de sempre', o qual transitaria semanas depois para a 'concorrência' privada, nomeadamente para a SIC, onde chegaria a continuar a tradição mais alguns anos. Esse facto ajudou a dar ainda mais uma camada de significado a um título já pleno delas, fazendo com que aquela fosse 'A Última Noite' tanto do ano de 1999, do século XX e do Segundo Milénio como de Herman José na RTP. E a verdade é que o humorista não fez por menos, reunindo a sua habitual 'troupe' de amigos e conhecidos (bem como de alguns dos seus mais famosos 'bonecos') para ajudar os Portugueses a entrar no ano 2000 com boa disposição. A contar a História do Milénio que ora findava estavam, pois, Diácono Remédios, o famoso provedor da 'Herman Enciclopédia', e a não menos icónica Super Tia, que recebiam a visita tanto de figuras históricas do Milénio como de artistas musicais, a saber o maestro Pedro Duarte, Quim Barreiros, Claudisabel, Micaela e os Anjos, então ainda no auge da sua fama. O fim de uma 'era' ficava, assim, marcado de forma bem popular e típica por uma série de caras bem conhecidas e apreciadas pelo público televisivo português, naquela que acabaria por ser uma despedida não apenas de um ano, mas de um dos principais 'rituais' portugueses de finais do século XX, cuja última instância não podíamos deixar de assinalar, por altura do seu vigésimo-quinto aniversário. Para recordar esse histórico momento, abaixo fica o especial na sua íntegra, cortesia do 'suspeito do costume', o YouTube. Divirtam-se, e Feliz Ano Novo 2025!

24.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2024.
 
Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.
 
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
 
Já aqui anteriormente falámos dos concursos de talentos vocais infantis, um formato muito popular na última década do século XX, e que, em Portugal, ficava ligado sobretudo à época natalícia, altura em que era invariavelmente transmitido o 'Sequim d'Ouro', o clássico festival internacional com sede em Itália e que visava apurar o melhor mini-cantor do Mundo. Talvez por isso a SIC tenha escolhido, precisamente, a Véspera de Natal para lançar aquela que era, essencialmente, uma versão nacional desse tradicional certame, e que adoptava mesmo uma expressão italiana para a sua denominação.
 

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De facto, essa astúcia ao nível do 'timing' permitiu a 'Bravo Bravíssimo' encontrar de imediato um público mais do que receptivo logo a partir da estreia, há exactos trinta anos, na Consoada de 1994. Tão-pouco viria esse sucesso a diminuir a curto prazo - pelo contrário, 'Bravo Bravíssimo' viria a manter-se no ar durante nada menos do que oito anos (sobrevivendo, inclusivamente, à passagem do Milénio) sempre com um formato imutável, com Ana Marques e José Figueiras como apresentadores, e com níveis de adesão na casa dos milhares de crianças, todos com esperança de serem considerados as novas 'mini-estrelas' nacionais. O aspecto diferenciado em relação a 'Sequino d'Ouro' ficava por conta dos campos abrangidos e aceites no programa, que extrapolavam a música e o canto e se estendiam à dança e até mesmo à ginástica, dando assim oportunidade a que ainda mais crianças mostrassem os seus talentos ao País em geral. E a verdade é que, de entre os muitos nomes que passaram pelo programa ao longo dos seus oito anos, alguns viriam mesmo a tornar-se conhecidos do grande público num contexto mais geral e alargado, como é o caso do futuro vencedor do Festival da Eurovisão, Salvador Sobral, do fadista Ângelo Freire, ou do artista de dobragens Fernando Fernandes, ou FF.
 

 
De muitos outros, não reza necessariamente a História, mas mesmo esses terão tido, depreende-se, alguns benefícios a curto prazo resultantes da sua participação no programa, sobretudo se bem qualificados. E ainda que 'Bravo Bravíssimo' tenha, eventualmente, chegado ao fim natural do seu ciclo de vida - embora parecesse ainda ter algo a oferecer ao paradigma televisivo de inícios do século XXI - o legado que deixou ao fim de oito anos foi suficiente para o tornar um dos mais emblemáticos programas televisivos do seu tempo, e o cimentar como parte da memória nostálgica dos 'millennials' portugueses, que tinham a mesma idade dos concorrentes à altura da estreia e provavelmente sonhavam, como eles, poder ir à televisão mostrar os seus talentos 'ao Mundo'; para eles, aqui fica a recordação, por altura dos exactos trinta anos da primeira transmissão do programa.
 

17.12.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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(Crédito da imagem: Desenhos Animados Anos 90)

Um dos principais conceitos tradicionalmente ligados ao Natal – para além do estreitamento de laços de amizade e parentesco e, claro, da troca de prendas – é o da solidariedade para com o próximo, em particular no tocante aos mais desfavorecidos. E porque a máxima deste tipo de gesto reza que 'cada um dá o que pode', não é de surpreender que as entidades públicas ou empresariais estejam entre as que, a cada ano, mais significativos esforços fazem para ajudar quem precisa – sejam as suas intenções genuínas ou não.

Nos anos da viragem do Milénio, uma das 'faces' mais visíveis desta caridade 'corporativa' (à falta de melhor expressão) era a SIC, a qual, durante nada menos do que cinco anos – de 1997 a 2001 - dedicou todo um bloo horário a um programa que tinha tanto de interesse humano como de auto-promoção, e que via os seus apresentadores saírem à rua ao som do inevitável 'A Todos Um Bom Natal' e a bordo de um camião repleto de brinquedos, conseguidos em parceria com a Associação de Apoio À Criança e destinados a assegurar que milhares de crianças desfavorecidas de Norte a Sul do 'País do Natal' gozavam de uma quadra festiva acima da média, mantendo assim o espírito da época natalícia.

De facto, os benefícios desta iniciativa para a demografia-alvo acabavam por ser duplos, já que, para além dos simbólicos (ou talvez nem tanto) presentes, as crianças visadas por esta iniciativa tinham, ainda, a oportunidade de conhecer em primeira mão alguns dos principais nomes associados à estação de Carnaxide, de Jorge Gabriel a Catarina Furtado ou Bárbara Guimarães – uma experiência, certamente, inesquecível, e que, ao mesmo tempo, deixava 'bem vistos' os homens e mulheres que davam a cara ao programa, adicionando o supramencionado elemento de auto-promoção.

Ainda assim, era difícil levar a mal um programa que, no seu âmago, mais não pretendia do que personificar o espírito natalício de entreajuda e solidariedade – algo que, já à época, ia cada vez mais escasseando na sociedade ocidental. É, aliás, incerto porque razão a SIC deixou de percorrer, com o seu camião mágico, o 'País do Natal', já que o programa homónimo era um daqueles formatos intemporais que continuaria, sem dúvida, a ser bem recebido, mesmo na bastante mais cínica sociedade dos anos 2020 - afinal, quem não gosta de ver praticar o bem e ajudar os mais desfavorecidos na época natalícia? Não será, pois, de surpreender se a SIC escolher 'ressuscitar' a sua 'tradição' natalícia para quadras futuras, talvez adaptando-a à nova era digital, e alegrando o Natal não só das crianças pobres que (infelizmente) continuam a existir em Portugal, como também dos telespectadores fartos da mesma sequência anual de filmes de família, e em busca de algo diferente que ver durante os últimos dias de Dezembro...

04.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 03 de Dezembro de 2024.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui anteriormente apontámos os anos 90 como a década em que um formato futuramente ultra-popular – o 'talk show' – surgiu pela primeira vez nos ecrãs de televisão portugueses; e se Fátima Lopes é hoje lembrada como uma das pioneiras desse género de programa, com a sua emissão homónima de 1997, a verdadeira desbravadora de caminho 'morava' no canal 'ao lado', e antecipou-se à sua congénere em mais de dois anos. É a ela, e ao primeiro programa que conduziu, 'Amigos Para Sempre', que dedicamos esta Terça de TV.

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Cristina Caras-Lindas nos tempos do programa.

Estreante absoluta na televisão portuguesa – embora já com vasta experiência no Canadá – Cristina Caras-Lindas enfrentava desde logo uma luta ao tentar 'vender' o seu formato – que descreveu em entrevista recente como uma 'pedrada no charco' - aos relutantes executivos da Direcção da TVI: eventualmente, no entanto, a apresentadora viria mesmo a conseguir levar a sua avante, embora os seus 'patrões' tivessem ainda dúvidas sobre as suas capacidades como anfitriã principal de um programa do género. As mesmas rapidamente seriam desfeitas, no entanto, com a gravação-piloto do programa a superar de tal modo as expectativas que acabou por ir ao ar 'sem alterarem uma vírgula', como referiu a própria Caras-Lindas.

Essa emissão, que completa no próximo fim-de-semana exactos trinta anos (foi ao ar a 7 de Dezembro de 1994), acabaria por cimentar um formato que já se vinha tornando popular no contexto televisivo português – o 'talk-show' com audiência ao vivo, em que se misturavam entrevistas a 'famosos' de relevo no mundo da TV e espectáculo (os 'Amigos' do título) com casos e convidados de interesse humano, sempre guiados pela simpatia e enorme sorriso da apresentadora.

Um episódio do programa, exemplificativo da sua fórmula, aqui com Herman José como convidado.

Esta fórmula rapidamente se provou bem-sucedida, tendo 'Amigos Para Sempre' conseguido boas audiências durante o tempo em que esteve no ar, e catapultado a sua anfitriã para mais altos vôos, sendo, por isso, algo estranho constatar que o programa se encontra, hoje, algo Esquecido Pela Net – uma situação que este 'post' procura alterar, trazendo à tona das 'brumas' da memória um programa mais importante do que a sua pouca divulgação poderia levar a pensar, e que, à beira do seu trigésimo aniversário, merece ser mais frequentemente recordado pelos espectadores lusitanos da época.

29.10.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Na breve elegia a Marco Paulo com que ocupámos o nosso 'post' anterior, fizemos fugazmente menção à carreira televisiva do cantor, que se soube reinventar como apresentador durante a década de 90; nada mais justo, pois, do que utilizarmos este espaço dedicado à TV portuguesa do referido período para explorar mais a fundo os dois programas que o ícone da música romântica apresentou na sua primeira passagem pelos ecrãs nacionais.

A primeira dessas duas emissões, que comemorou no passado mês de Abril trinta anos sobre a sua estreia, levava o título do maior êxito de sempre do cantor, utilizando-o como trocadilho inteligente com o recém-encontrado 'segundo amor' de Marco Paulo, a televisão. Nas palavras do próprio, 'Eu Tenho Dois Amores' procurava ser um programa de índole pessoal, cujo intuito passava, parcialmente, por permitir aos fãs do cantor descobrir detalhes sobre a sua carreira, podendo as questões ser enviadas por carta para serem lidas e respondidas em directo; além deste aspecto, o programa propunha também uma vertente de 'talk-show' mais tradicional, com convidados ligados ao entretenimento, com quem Marco Paulo trocava impressões, e números musicais. O sucesso foi imediato e retumbante, tendo a presença e carisma de Marco Paulo tornado o programa num sucesso de audiências, que logrou aproximar-se da centena de episódios ao longo de mais de um ano de transmissão semanal.

O sucesso desta primeira tentativa motivou uma segnnda, meros meses após o fim de 'Eu Tenho Dois Amores', e agora com um foco mais declarado na divulgação de números musicais, como indicava o próprio título, 'Com Música no Coração'. De facto, neste segundo programa, Marco Paulo retirava-se voluntariamente da ribalta, deixando o (literal) palco para os artistas convidados de cada programa poderem divulgar o seu trabalho, e ressurgindo apenas no final de cada música, para uma breve entrevista aos mesmos. Uma iniciativa louvável em prol da música popular portuguesa, ainda que focada apenas na de cariz mais popular – algo natural, tendo em conta o 'ideólogo' (ou, pelo menos, 'cara') do projecto – que conseguiu também algum sucesso, embora não tanto quanto o seu antecessor, mais centrado na personalidade forte e afável do cantor tornado apresentador.

Primeiro e último episódios do programa em causa.

E ainda que o fim de 'Com Música no Coração' assinalasse a 'retirada' de Marco Paulo dos ecrãs portugueses, o 'bichinho' da apresentação televisiva nunca deixaria o cantor, que acabaria mesmo por regressar à RTP uma terceira vez, mais de um quarto de século após a sua última transmissão, para um novo programa ao lado da popular humorista Ana Marques. Tal como os seus antecessores, 'Alô Marco Paulo' revelar-se-ia um sucesso, ficando no ar mais de três anos, e sendo apenas interrompido pelo agravamento do estado de saúde do cantor, que ainda assim compareceu semanalmente até meros meses antes da sua morte. Na 'hora' da despedida, fica a ideia de um artista multi-talentoso e multi-facetado, que conseguiu a proeza de ter tanto sucesso com o seu 'segundo amor' como com o primeiro, e cujo falecimento deixa na televisão portuguesa um 'buraco' apenas marginalmente menor do que o que criou no meio musical.

18.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 17 de Setembro de 2024.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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Já aqui anteriormente falámos do papel preponderante do humorista Herman José na televisão portuguesa de finais do século XX, tanto na sua vertente 'de origem' como na função por que foi mais conhecido durante a década de 90, a de apresentador de concursos vespertinos e, mais tarde, de 'talk shows'. De facto, a personalidade afável, bonacheirona e ligeiramente brejeira de Herman prestava-se maravilhosamente ao cargo de anfitrião deste tipo de programas, papel no qual várias gerações de espectadores nacionais o viram 'brilhar' , desde logo ao leme da mìtica adaptação portuguesa de 'Roda da Sorte'. Quando o referido programa atingiu a sua conclusão natural, no entanto, era necessário manter 'em alta' a 'estrelinha' de Herman, pelo que foi sem surpresas que os fãs do apresentador o viram regressar, alguns meses depois, com um novo formato, onde se fazia acompanhar dos seu 'cúmplices' - a 'voz' da 'Roda', Cândido Mota, e a icónica assistente, Ruth Rita.

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O 'trio maravilha' d''A Roda da Sorte' seguiria junto no novo formato.

Intitulado 'Com a Verdade M'Enganas', este novo concurso, estreado logo nos primeiros dias do ano de 1994, era, explicitamente, tematizado em torno de mentiras, equívocos e enganos, temas que inspiravam várias das provas a que os concorrentes se deviam submeter semanalmente, com destaque para aquela em que deveriam identificar a afirmação incorrecta sobre o parceiro, de entre as mencionadas pelo apresentador, e para aquelas em que deviam corrigir textos e letras de canções previamente lido, de forma correcta, por Cândido Mota. As restantes provas eram mais corriqueiras (ficando próximas do concurso que notabilizara Herman, com perguntas de cultura geral à mistura com leilões de letras) mas uma delas voltava a adicionar um toque de originalidade, consistindo basicamente de um 'jogo do sério', em que cada concorrente deveria fazer o outro rir. Tudo isto conduzia, claro está, ao 'puzzle' final, onde o desafio era decifrar uma palavra-chave, bem ao estilo da 'Roda'. A equipa vencedora levaria para casa uma soma em dinheiro que poderia ascender a 600 mil escudos, enquanto os perdedores não sairiam de 'mãos a abanar', tendo direito a uma 'bateria' de electrodomésticos - um prémio quase tão útil quanto o próprio dinheiro, e bastante mais prático!

Um formato, como se pode ver, bastante próximo do que celebrizara Herman enquanto animador de concursos, mas que, talvez por esse cariz pouco original, não almejou o mesmo sucesso, mantendo-se no ar durante um ano e meio, mas não suscitando hoje em dia o género de memórias associado ao seu antecessor. Ainda assim, no momento, 'Com a Verdade M'Enganas' foi uma maneira eficaz de manter Herman relevante e bem presente no quotidiano televisivo dos portugueses – algo que, como também já aqui documentámos, levaria mais tarde a certos desenvolvimentos importantes no panorama programático nacional, os quais não teriam sido possíveis sem este algo esquecido concurso, que merece assim um 'agradecimento' e pequena homenagem nas páginas deste nosso blog.

O último episódio do concurso, transmitido em Julho de 1995, exactos dezoito meses após a estreia do mesmo.

04.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 04 de Setembro de 2024.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há três décadas atrás, a televisão portuguesa estava longe do cariz formatado, homogéneo e algo anónimo de que se reveste hoje em dia. De facto, enquanto que a programação actual dos vários canais é semelhante ao ponto de os mesmos se confundirem, em meados da década de 90, cada um dos apenas quatro canais disponíveis tinha uma personalidade bem distinta, e bastante mais margem de manobra no tocante a apostas para a grelha de programação, sobretudo no caso das recém-nascidas emissoras privadas, que não tinham de obedecer aos mesmos padrões da estatal RTP; e escusado será dizer que tanto a SIC quanto a TVI tiraram o máximo proveito desta liberdade, apostando em vários conceitos, no mínimo, inusitados, como o mega-popular 'Jogo do Ganso' da 'Quatro'. No entanto, até a mais arriscada destas apostas parece perfeitamente normal ao lado daquele que talvez seja o programa mais delirante e tresloucado a alguma vez passar na televisão portuguesa, um verdadeiro 'sonho psicadélico' composto de provas mirabolantes disputadas por concorrentes frenéticos, um literal vilão de ficção e comentários que mais se aproximavam a números de 'stand-up comedy'.

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Falamos, claro está, de 'Nunca Digas Banzai', o histriónico nome escolhido para o misto de concurso e filme de acção japonês originalmente baptizado 'Takeshi's Castle', em honra do seu ideólogo e actor principal, a estrela de cinema nipónica Takeshi Kitano, sobre cuja estreia em Portugal se celebram este ano exactas três décadas. De facto, seria apenas quatro anos após a sua conclusão no seu Japão natal, e oito após a sua estreia, que a 'loucura' de Takeshi 'aterraria' em Portugal, onde teria honras de exibição nas tardes de Sábado da SIC (embora originalmente estivesse incluído no bloco da manhã, o 'Sábado Mágico') e de locução por parte de João Carlos Vaz (também narrador do homólogo 'Gladiadores Americanos') e José Carlos Malato, então ainda um relativo desconhecido nos meandros da televisão portuguesa, e cujos improvisos formaram grande parte da personalidade da versão portuguesa do programa, sendo hoje um dos elementos mais lembrados e nostálgicos para quem assistia ao mesmo.

E como diz o ditado, 'mais vale tarde que nunca', já que 'Nunca Digas Banzai' compensaria a sua chegada tardia aos écrãs nacionais com o seu retumbante sucesso, devido em parte precisamente à locução de Malato, cujas hilariantes observações combinavam na perfeição com o caos frenético da própria competição, uma espécie de versão hiper-exagerada dos 'Jogos Sem Fronteiras' ou do referido 'Gladiadores Americanos', em que largas dezenas de concorrentes se 'matavam' em provas físicas cada uma mais extrema do que a seguinte, na esperança de conseguir chegar ao confronto final com o malvado Conde Takeshi - dono do castelo que dava o título original ao programa, e interpretado pelo seu criador – e ganhar o grande prémio de um milhão de ienes (cerca de 6300 euros actuais). A natureza extrema das provas, aliada a algumas 'batotas' por parte de Takeshi, assegurava, no entanto, a raridade de tal feito, apenas por nove vezes almejado em todo o ciclo de vida do programa.

Mesmo sem 'finais felizes', no entanto, os episódios de 'Nunca Digas Banzai' ofereciam entretenimento suficiente para saciar até o mais hiperactivo dos espectadores noventistas, com o seu misto de provas inenarráveis e disputadas a ritmo frenético, e comentários 'a condizer', com destaque para as famosas denominações dos vilõess como 'Fuji-moto', 'Fuji-carro' e 'Fuji-lambreta', em trocadilhos que, hoje, poderiam ser considerados controversos, mas que, à época, divertiam o público maioritariamente jovem que reservava parte da sua tarde de Sábado para ver japoneses anónimos cair de plataformas para dentro de piscinas, enquanto dois comentadores ao mais puro estilo luta-livre lhes atribuem nomes de celebridades para os distinguir uns dos outros. Um conceito que apenas poderia ter nascido e sido transmitido na era de 'liberdade televisiva' vivida em finais do século XX, à qual toda uma geração de portugueses (e não só) tem a agradecer alguns dos melhores e mais memoráveis programas de sempre da televisão portuguesa, dos quais 'Nunca Digas Banzai' faz, definitivamente, parte. E caso este 'post' tenha 'activado' a nostalgia a algum dos nossos leitores, abaixo fica um episódio completo, que reflecte bem a loucura que grassava neste lendário concurso nipónico.

 

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