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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

26.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 25 de Julho de 2024.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Eram um dos brindes mais populares entre os jovens portugueses dos anos 90 e, apesar de estarem longe de ser consensuais junto dos pais, adornavam muitas vezes a pele da demografia em causa ao longo daqueles últimos anos do século XX, surgindo frequentemente em locais algo invulgares, como as costas da mão, onde podiam ser devidamente admiradas por pares invejosos. Falamos das tatuagens temporárias, uma categoria de quinquilharia que nunca retinha esse estatuto durante muito tempo, mas que não deixa, ainda assim, de ser elegível para esta categoria.

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Adquiríveis em folhas completas na tabacaria ou, frequentemente, como brindes de produtos alimentares (como no caso das tatuagens das Tartarugas Ninja oferecidas pela Panrico no auge da popularidade das mesmas) estes desenhos, normalmente consistentes de personagens populares entre a 'pequenada' ou desenhos e símbolos universalmente considerados 'fixes', eram transferidos da folha adesiva para a pele (ou para qualquer superfície onde se desejasse colocá-las, já que serviam 'função dupla' como uma espécie de autocolante) por meio da aplicação de uma esponja ou pano húmido no reverso da tatuagem, criando assim uma espécie de 'cópia-borrão' da mesma, que podia depois ser removida com água ou álcool quando a criança se 'fartasse' – algo que muitas pessoas certamente desejariam ser possível com tatuagens reais! A desvantagem – e principal razão da natureza polémica destes brindes junto dos adultos – prendia-se com o risco de doenças de pele resultantes do processo, como a urticária, o que fazia com que muitos pais proibíssem o uso deste tipo de tatuagem na pele dos filhos.

Quer se pertencesse a este último grupo ou à percentagem da demografia que orgulhosamente exibia o seu desenho de uma caveira ou Tartaruga Ninja no braço ou nas costas da mão, uma coisa é certa: as tatuagens temporárias marcaram época junto de toda uma geração, em Portugal e não só. E embora este tipo de brinde tenha caido em desuso no mais informado mundo de inícios do século XXI, não é por isso que passa a ter menos nostalgia para quem, há duas ou três décadas atrás, vibrava com a ideia de transferir o recém-adquirido padrão para o seu braço, e causar inveja aos amigos no pátio da escola, no dia seguinte...

28.06.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 28 de Junho de 2024.

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

Nos últimos anos, e sobretudo desde a pandemia, tem-se gradualmente vindo a tornar tradição ver no icónico cartaz dos gelados Olá um 'velho conhecido', há muito desaparecido, e temporariamente trazido de volta literalmente a pedido das massas, para fazer as delícias tanto de quem o comia nos idos de 80 e 90 como das novas gerações a que esses mesmos fãs deram entretanto origem. E depois do Super Maxi e do Rol, os ex-'putos' de finais do século XX têm agora a oportunidade de voltar a provar um antigo favorito, com o regresso, em 2024, do icónico Fizz Limão.

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Tendo-se superiorizado ao Pé e ao não menos marcante Feast Krisspy, o gelado com recheio e cobertura de limão (proporcionando assim uma 'dose dupla' de doçura acre, bem ao gosto de quem não aprecia gelados muito doces) irá, mais uma vez, marcar presença entre as escolhas da magnata multinacional para 2024, e, desta vez, sem quaisquer alterações de tamanho ou funcionalidade – àparte algumas mudanças expectáveis a nível dos ingredientes, o Fizz Limão que surgirá nas arcas congeladoras portuguesas este Verão pouco ou nada diferirá daquele a que os 'X' e 'millennials' portugueses disseram adeus há já mais de três décadas. Boas notícias, sem dúvida, para quem sentia vontade de provar, uma última vez, um gelado que, ainda que não incluído entre as escolhas declaradamente dirigidas ao público mais novo, não deixava ainda assim de ter alguma tracção junto do mesmo. Bem-vindo de volta, Fizz - e que este teu regresso te angarie toda uma nova geração de fãs.

27.06.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 26 de Junho de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Numa altura em que o dinheiro se torna cada vez mais digital e virtual – havendo mesmo quem se oponha explícita e abertamente ao pagamento em notas ou moedas – e em que os cartões Multibanco surgem na vida dos jovens em idades cada vez mais novas, o conceito de um recipiente onde se depositavam, religiosa e afanosamente, os 'trocos' que compunham a mesada ou semanada, ou as notas maiores recebidas nos anos e Natal, pode parecer perfeitamente obsoleto, e até algo pitoresco. E, no entanto, tal objecto fez parte integrante da infância e adolescência de qualquer português integrante da geração 'millennial' ou de qualquer das anteriores, perfilando-se muitas vezes como um 'baú do tesouro' ou até como o 'salvador da Pátria' em momentos de maior 'aperto' financeiro.

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Um modelo bem típico - em todos os sentidos.

Falamos, é claro, do mealheiro (ou 'cofre'), eternamente simbolizado na cultura popular sob a forma de um porquinho, mas que, para os jovens portugueses de finais do século XX, tinha uma aparência substancialmente diferente, normalmente oval ou cilíndrica, e decorada a toda a volta com motivos que iam desde padrões 'da moda' a personagens de banda desenhada e filmes, ou até logotipos de bandas ou clubes desportivos - curiosamente, foi apenas nos últimos anos que o 'porquinho mealheiro' propriamente dito penetrou na sociedade portuguesa, através de uma série de cofres 'de autor', cada um decorado consoante um determinado tema. De igual modo, ninguém no seu 'perfeito juízo' pensaria em partir o mealheiro, como tantas vezes se vê em filmes ou livros: isto porque, além de serem feitos de lata (e, como tal, manifestamente difíceis de quebrar) estes mealheiros tinham, regra geral, tampas removíveis, bastando aplicar pressão no sítio certo para que as mesmas saltassem e permitissem acesso aos conteúdos do cofre, anulando assim a necessidade de recorrer a medidas drásticas. Até mesmo a outra variante popular de mealheiros – estes, sim, de gesso, e esculpidos em forma de animais ou figuras humanas caricaturadas – possuía uma pequena tampa em borracha, extremamente fácil de levantar, tornando assim redundante o habitual martelo utilizado por inúmeros personagens de ficção para aceder às suas economias. Um toque manifestamente prático, e que maximizava a funcionalidade destes mealheiros, os quais seria um 'crime' partir, dada a sua função dupla como atraentes objectos de decoração para a prateleira do quarto – um propósito no qual os mealheiros mais 'tradicionais' também não se saíam, diga-se, nada mal...

Fosse qual fosse a 'variante' preferida, no entanto, não haverá nos dias que correm português na casa dos trinta ou mais anos que não tenha, na infância, guardado as suas (parcas) economias em formato físico, num mealheiro, quiçá sonhando com o dia em que teria o suficiente para adquirir os patins em linha ou a consola há tanto desejados. Pena é, apenas, que o avanço tecnológico tenha negado também esta experiência à Geração Z, ficando assim a mesma restrita exclusivamente ao domínio nostálgico das gerações mais velhas, e a páginas como a deste 'blog' nostálgico, onde não deixa, ainda assim, de receber a devida (e merecida) homenagem.

25.04.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Os anos 90 em Portugal ficaram, para o segmento que era então de uma certa idade, marcados (entre outras coisas) por um autêntico 'festim' de doces e guloseimas das mais diversas índoles, algumas ainda 'vivas' (embora significativamente diferentes) e outras desaparecidas para sempre. No entanto, por muito populares que fossem a maioria destes doces e salgados, apenas uma fracção de entre eles atingiu um estatuto verdadeiramente icónico entre os 'putos' da época, fosse pelos apetecíveis brindes que oferecia (como no caso das batatas fritas da Matutano), por se tratar de um 'prazer guloso' (como os Bollycaos ou os Galak Buttons) por ser encontrada um pouco por todo o lado e estar ao alcance até mesmo da mais vazia das carteiras (como as pastilhas Gorila) ou, no caso do produto de que falamos hoje, devido a uma combinação de todos esses factores. Sim, chega agora, finalmente, a vez de falar daquela que talvez seja 'A' guloseima por excelência desse período da História portuguesa, e um pouco até aos dias de hoje: o ovo Kinder.

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Vastamente imitadas, mas nunca igualadas, aquelas deliciosas ovais feitas de dois tipos de chocolate (por fora 'normal', castanho e de leite, e por dentro branco) penetraram o mercado português na década de 80 para não mais o abandonarem, fazendo as delícias de várias gerações não só com a referida (e apetitosa) combinação, mas também (sobretudo) devido ao que continham no seu interior: um cilindro de plástico amarelo, aparentemente simples, mas que qualquer criança ou jovem sabia conter o segredo da felicidade – pelo menos no imediato. Isto porque cada uma das referidas cápsulas continha um pequeno brinquedo de montar ou, em alternativa, uma figura coleccionável de qualquer das inúmeras linhas que a Kinder promovia à época, normalmente tematizadas em torno de espécies animais, e que em breve aqui terão a sua própria Quinta de Quinquilharia. Assim, a compra de um ovo Kinder permitia não só a degustação de chocolate de alta qualidade, mas também a 'surpresa' adicional do brinquedo no interior (daí o nome 'oficial', Kinder Surpresa), oferecendo uma combinação irresistível para qualquer menor de idade; foi, pois, com naturalidade que a Kinder rapidamente se afirmou como uma das líderes do mercado dos chocolates em Portugal, à semelhança do que acontecera já em países como a sua Alemanha natal, o Reino Unido ou a vizinha Espanha.

Conforme acima referido, a marca alemã conseguiria manter essa mesma hegemonia ao longo das quatro décadas seguintes, sendo ainda hoje possível encontrar nas prateleiras ovos Kinder Surpresa; no entanto, os mesmos comportam já algumas diferenças significativas em relação aos que punham a 'salivar' qualquer membro das gerações 'X' ou 'Millennial'. Isto porque, em algum ponto da trajectória da Kinder em Portugal, a produção do chocolate para os referidos ovos deixou de ser centralizada, passando os mesmos a provir de Espanha; com esta mudança, veio um acréscimo no açúcar, passando os referidos ovos a saber menos a 'eles mesmos' e mais a um qualquer outro chocolate. Assim, quem, de momento, quiser recuperar o sabor da infância terá de se deslocar ao estrangeiro, onde os ovos permanecem como eram em Portugal naquela época – embora o elevado volume de problemas e escândalos em que a Kinder se vê periodicamente envolvida possa, potencialmente, servir como elemento desencorajador dessa 'viagem' nostálgica. O melhor mesmo, para poupar tempo, dinheiro e potenciais dissabores, será utilizar esta breve homenagem a um dos grandes doces da infância portuguesa de finais do século XX como forma de 'regressar' àquele tempo, ainda que apenas mentalmente, e sentir na boca aquele 'gostinho' da primeira trinca num ovo Kinder...

20.03.24

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

A Primavera é, tradicionalmente, a estação associada à germinação e crescimento de plantas, já que, apesar de ser possível manter vasos dentro de casa durante todo o ano, é normalmente no período entre Março e Junho que a natureza cria e desenvolve novos rebentos. Não é, pois, de surpreender que fosse também nestes meses que as crianças e jovens portugueses se entretivessem com a sua própria versão 'caseira' desse mesmo processo, regando e vendo desenvolver-se o 'cabelo' ou 'pelagem' dos chamados 'cabeças de relva'.

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O 'antes e depois' dos icónicos bonecos.

Conhecidos nos países anglófonos como 'chia pets' - dada a variante de sementes normalmente contida no seu interior - este tipo de 'personagens' eram, normalmente, criados a partir de invólucros de serapilhaira, ou outro material semelhante, recheados de terra, na qual eram inseridas as referidas sementes que, quando regadas, desencadeavam o seu ciclo de crescimento natural, brotando gradualmente da terra na vertical, num efeito muito semelhante ao do cabelo humano; bastava, pois, desenhar ou colar um par de olhos e um nariz 'de batata' a uma destas 'bolas' para criar uma figura vagamente humanóide, à qual nascia, em tempo real, 'cabelo' verde, para gáudio dos seus proprietários.

De facto, a relação extremamente favorável entre o nível de cuidados necessários (poucos) e a recompensa (rápida e apelativa) tornou estes 'cabeças-de-relva' numa verdadeira febre anual entre as crianças e jovens, sobretudo se ainda estivessem em idade de se impressionar com tais coisas. E apesar de, nas décadas subsequentes, o apelo destas 'criaturas' se ter significativamente reduzido - a ponto de ser, hoje em dia, quase impossível encontrar um à venda - quem alguma vez fez crescer 'cabelo' na 'cabeça' de um deles certamente terá memórias nostálgicas e agradáveis desta experiência primaveril, tornando-a bem merecedora de ser recordada na altura em que tem início mais uma 'estação das plantas'.

07.12.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

A era pré-digital pôs, verdadeiramente, à prova a teoria, há muito vigente, de que até o mais básico dos produtos pode ser tornado emocionante se 'vendido' da forma correcta e ao público correcto; de facto, ao longo da última metade do século XX, foram muitos os produtos à primeira vista desinteressantes que se tornaram sucessos, quer fruto de uma elaborada campanha de 'marketing' e publicidade, quer simplesmente por oferecerem uma ou mais características apelativas para a demografia a que se destinavam – a qual, sem surpresas, era muitas vezes menor de idade.

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De facto, as crianças de finais do Segundo Milénio serviram como 'mesa de teste' para muitas ideias mais ou menos estapafúrdias da mente de empresários e comerciantes, algumas das quais viriam a falhar na sua busca de sucesso, ao passo que outras excederiam todas e quaisquer expectativas; entre estas últimas, encontrava-se a categoria de produtos de que falaremos esta Quinta-feira, e que conseguiu a proeza de, com apenas um pequeno ajuste, transformar um produto corriqueiro e até banal de aborrecido em apetecido.

Falamos das borrachas de cheiro, 'febre' escolar dos anos 80 que, na década seguinte, apenas tinha ainda perdido uma fracção do seu apelo e preponderância nos estojos das crianças e jovens portugueses. Como o próprio nome indica, tratavam-se, pura e simplesmente, de borrachas como quaisquer outras (embora, normalmente, em formatos apelativos, muitas vezes evocativos do cheiro que soltavam) às quais era injectado um aroma, que fazia com que, sempre que utilizadas ou simplesmente seguradas perto do nariz, as mesmas trouxessem à mente o produto que representavam; uma borracha em forma de morango, por exemplo, traria um aroma a esse fruto, o mesmo se passando com outras em forma de ananás, melancia, gelado, ou o que mais viesse à mente das companhias produtoras e distribuidoras destes objectos.

Escusado será dizer que a combinação de custos de produção e venda praticamente nulos com popularidade entre o público-alvo tornou estas borrachas numa das quinquilharias mais rentáveis do período em causa, tendo a maioria das crianças portuguesas da época tido contacto com pelo menos um exemplo das mesmas ao longo dos seus anos na escola. E ainda que a 'moda' dos produtos com cheiro não tenha tido a mesma expressão em Portugal do que em países como os EUA, estas borrachas (a par dos sabões em forma de animal da Body Shop) permaneceram na memória colectiva dos 'X' e 'millennials' portugueses até aos dias de hoje, não tendo nunca verdadeiramente desaparecido do imaginário infanto-juvenil nacional – o que, só por si, é razão mais que suficiente para lhes dedicarmos algumas linhas nesta nossa rubrica sobre 'quinquilharias' bem-amadas dos 'putos' lusitanos de finais do século passado...

29.11.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Qualquer criança ou jovem (e mesmo muitos adultos) deseja ser, senão herói ou heroína de uma fascinante aventura, pelo menos protagonista da mesma; e se, hoje em dia, as redes sociais proporcionam, até certo ponto, a possibilidade de viver esse sonho, na era pré-Internet de massas, quem quisesse sentir-se como o 'personagem principal' de uma história que todos queriam ouvir tinha que arranjar outros meios de o fazer. Algures nos anos 90, uma série de companhias aperceberam-se do potencial lucrativo deste tipo de desejo, e dedicaram-se à criação de cópias físicas daquele tipo de narrativa que as crianças contam a si mesmas ao dar azo às suas fantasias; nasciam, assim, os livros personalizados.

livro-personalizado-salvando-o-natal_small.webp25af742506e2cbe16da208707ddcb61b.webpExemplo moderno do produto em causa, antes e depois da personalização

Para um adulto, tanto da época como dos dias de hoje, este tipo de produto (que, aliás, continua a ser disponibilizado, embora o seu interesse para a geração dos 'diários online' seja questionável) mais não passava do que uma forma de 'sacar' dinheiro a pais e educadores com um mínimo de esforço. Isto porque bastava aos criadores destes livros escrever uma única narrativa e ir inserindo o nome e fotografia de cada remetente, conforme necessário – aproximadamente o equivalente a contar uma história a uma criança pequena inserindo o seu nome no lugar do da personagem principal, mas transposto para um formato físico e vendido a 'peso de ouro'. Para o público-alvo, no entanto, a premissa dava asas à imaginação, abrindo na mesma uma série de possibilidades, qual delas mais entusiasmante – a ponto de, acredita-se, o produto final parecer mesmo algo desapontante, numa daquelas situações em que a antecipação se revela, inevitavelmente, mais ambiciosa do que o produto final.

Este apelo à imaginação era, aliás, o principal motivo pelo qual tantas crianças dos 'noventas' queriam um destes livros, quanto mais não fosse para se poderem gabar aos amigos e conhecidos de terem tido um livro escrito 'para eles' - uma afirmação, conforme vimos, incorrecta, mas sobre a qual apenas os adultos sabiam toda a verdade. E apesar de, nos dias que correm, o TikTok e Instagram permitirem moldar qualquer narrativa conforme se deseje, é de crer que haja ainda, por esse Portugal afora, crianças e jovens (sobretudo pré-adolescentes) que se deixem entusiasmar pela ideia de ser protagonista do seu próprio conto; afinal, por muito diferente que as gerações actuais sejam dos 'millennials' e 'X', há coisas que nunca mudam – e o desejo de uma criança de ser o herói ou heroína da sua própria narrativa é, sem dúvida, uma delas...

19.11.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Apesar de a aprendizagem ser algo a que a maioria das crianças é aversa, qualquer educador sabe que, se a mesma for apresentada de modo leve e lúdico, há grandes probabilidades de ser bem aceite. Nos anos 90, uma série de fabricantes de produtos dirigidos ao mercado infanto-juvenil chegaram, eles próprios, a essa conclusão, e o resultado foi uma série de 'kits' lúdico-didácticos de alta qualidade, e que cativaram sem qualquer problema o sector da demografia-alvo com maior inclinação para 'aprender a brincar'.

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Exemplo moderno de um dos 'kits' em causa

Englobando uma vasta gama de áreas e campos, desde o fabrico de barras de sabão artesanais à geologia, paleontologia (com réplicas em miniatura de fósseis verdadeiros) ou astronomia (com uma versão mais avançada e cientificamente correcta dos populares 'projectores de estrelas' que pululam em lojas de electrónica baratas, dos chineses ou dos 'trezentos'), estes 'kits' propunham mais do que apenas um arremedo das profissões e especialidades que procuravam simular, adoptando uma abordagem verdadeiramente didáctica. A caixa de paleontologia, por exemplo, permitia à criança mais do que apenas 'brincar aos exploradores', fornecendo-lhe réplicas dos verdadeiros instrumentos dos paleontólogos, e instruções sobre como os usar; de igual modo, o 'kit' de sabão permitia fazer barras perfeitamente utilizáveis, e o de geologia incluía amostras sedimentais das várias pedras sobre as quais se focava. Esta fidelidade aos conceitos e conhecimentos científicos apenas ajudava a dar ainda mais apelo a estas caixas, tornando-as praticamente irresistíveis para qualquer jovem com interesse activo no assunto ou área que abordavam.

Ao contrário do que sucede com muitos dos outros produtos apresetados nestas páginas, estes 'kits' encontram-se, ainda, em fabrico, ainda que em moldes ligeiramente diferentes dos de então; no entanto, ao contrário do que sucedia em finais do século passado, tudo aquilo que propõem, permitem ou oferecem (com a óbvia excepção da componente física e táctil) encontra-se hoje disponível com apenas um par de cliques numa qualquer 'app' para telemóvel, tornando estas caixas algo obsoletas, e de pouco interesse para a Geração Z; para os seus antecessores, no entanto, dificilmente terá havido melhor maneira de aprender sobre estrelas, dinossauros, rochas, ou qualquer outro dos muitos campos sobre os quais estes mais do que valorosos produtos versavam.

11.10.23

NOTA: Este post é respeitante a Terça-feira, 10 de Outubro de 2023.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Formava parte integrante da decoração da grande maioria dos quartos de crianças e jovens dos anos 80 e 90, normalmente colocado a um canto, onde pudesse facilmente ser usado sem estorvar quem mais quisesse usufruir da divisão; por ocasião da visita de amigos, era uma das primeiras posses a ser orgulhosamente exibida, logo a seguir a qualquer consola que residisse ali por perto. Falamos, é claro, do órgão electrónico (da Casio ou qualquer outra marca), cuja entrada na consciência popular colectiva não só serviu para demonstrar que os avanços tecnológicos verificados naqueles anos podiam ser aplicados a outras áreas que não apenas a da informática e computadores, como também terá contribuído para despertar em muitos jovens o gosto pela música, e quiçá pelo próprio teclado enquanto instrumento de eleição.

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Os teclados Casio estavam entre os mais populares, a ponto de quase se tornarem sinónimos do produto em questão.

Já populares nos quartos de adolescentes norte-americanos e de outros países desde a década transacta, foi, no entanto, na década de 90 que os órgãos electrónicos começaram a formar parte integrante dos catálogos de Natal de supermercados e hipermercados, e a ocupar lugar de destaque no tipo de loja de brinquedos onde, anos antes, seria praticamente impensável ver ser vendido um instrumento 'a sério'. Escusado será dizer que este tipo de exposição não tardou a despertar a cobiça de toda uma geração de mini-aspirantes a músicos, que rapidamente passaram a incluir este instrumento em listas de presentes de anos e Natal, pesasse embora o preço algo proibitivo da maioria dos exemplares.

Isto porque, embora existissem modelos mais básicos e condicentes com o poder de compra da maioria dos portugueses à época, era aplicado a este instrumento o mesmo princípio usado com as calculadoras e agendas electrónicas – ou seja, quantas mais funções, melhor. Os órgãos mais cobiçados eram aqueles que, além das funcionalidades básicas, contavam ainda com sons programáveis (alguns bastante estranhos, e bem ao gosto da juventude da época), faixas de acompanhamento electrónicas, compatibilidade com microfones, e outros extras por demais aliciantes, e considerados quase indispensáveis – mesmo que o limite da capacidade musical de muito do público alvo começasse e acabasse nos 'Martelinhos'. Quem tinha um aparelho destes mais 'apetrechados' passava, pois, a contar com um motivo de 'gabarolice' imediata, enquanto os restantes se viam obrigados a continuar a utilizar a versão mais simples de que dispunhavam, e a sonhar com o modelo desejado.

Tal como muitas outras 'febres' de que falamos nesta e noutras rubricas do nosso 'blog', também os órgãos electrónicos acabaram por perder preponderância na vida dos jovens das gerações Z e 'millennial', substituídos pela mais recente 'engenhoca', brinquedo 'da moda', consola ou telemóvel na lista de prioridades; ainda assim, quem tomou parte naquele breve mas marcante período em que toda a gente tinha um instrumento desses, ainda hoje sentirá, possivelmente, vontade de ir à garagem buscar o seu e 'dar uns toques', tal como fazia no seu quarto de juventude, há coisa de trinta anos...

07.09.23

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

Hoje em dia, quando se fala em bolachas cobertas de chocolate, a mente da maioria dos portugueses vira-se, quase de imediato, para as Oreos (chegadas a Portugal em 1995, e que aqui terão, paulatinamente, o seu espaço) ou para as não menos icónicas Belgas de chocolate; para a geração nascida e crescida nos anos 80 e inícios de 90, no entanto, a referência a este tipo de bolachas evoca um outro nome, tão icónico como saudoso – o das Belinhas.

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A única imagem das Belinhas disponível na Internet.

Fabricadas pela hoje desaparecida Aliança e vendidas num icónico pacote vermelho e prateado, as Belinhas consistiam, basicamente, de um misto entre 'wafer' e bolacha Maria recoberto de cacau, criando uma dicotomia que, como qualquer criança atestará, resulta sempre extremamente bem. Talvez por isso estas bolachas fossem das mais populares e cobiçadas nos recreios lusos dos anos 80 e inícios da década seguinte, onde a sua designação se tornou, inclusivamente, num sinónimo de 'calão' para o bom e velho 'calduço', neste caso acompanhado da expressão 'toma lá Belinhas!º

O aspecto pelo qual estas bolachas eram mais conhecidas, e se tornaram icónicas, era o facto de as bolachas das pontas gozarem, regra geral, de uma cobertura de cacau mais densa e espessa, que as tornava preferidas em relação às suas congéneres do meio do pacote, normalmente mais parcas nesse particular. Assim, qualquer criança ou jovem confrontado com um pacote de Belinhas não hesitaria a escolher uma das da ponta – até porque, se não o fizesse, alguém o faria por si...

Toda esta popularidade não foi, no entanto, suficiente para evitar que as Belinhas fossem retiradas do mercado algures na primeira metade dos anos 90, por motivos e sob circunstâncias ainda hoje pouco conhecidas, até por estas bolachas se contarem entre os muitos produtos da época hoje Esquecidos Pela Net. Esta saída de cena 'pela porta do cavalo' não significou, no entanto, a perda total de relevância das Belinhas entre as gerações 'X' e 'millennial' – antes pelo contrário, o desaparecimento das bolachas da Aliança das prateleiras dos supermercados apenas veio dar razão ao ditado que afirma que 'a ausência faz o amor aumentar', já que as mesmas estão entre os produtos mais saudosamente recordados por quem alguma vez as comeu. E depois de as contemporâneas 'Joaninhas', da Triunfo, terem mesmo acabado por ser relançadas no mercado (e com algum sucesso), quem sabe não serão as Belinhas as próximas a gozar de uma 'segunda vida', e a conquistar os corações de toda uma nova geração de pequenos consumidores?

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