Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.
Já aqui por diversas vezes mencionámos o fascínio que a juventude da década de 90 nutria pelos desportos radicais – perfeitamente ilustrada pelo sucesso não só de meios de locomoção como o skate, os patins em linha ou a BMX, mas também pelo sucesso do primeiro programa nacional inteiramente dedicado a este tipo de modalidade, o lendário Portugal Radical, que teve inclusivamente direito a uma versão em revista e a CD's de banda sonora lançados pelas principais editoras discográficas portuguesas.
Os desportos praticados na água não ficavam, de todo, de fora deste leque – antes pelo contrário, o 'surf', o 'bodyboard' e os seus 'parentes' menos famosos eram tão ou mais aliciantes para os jovens portugueses de finais do século XX e inícios do seguinte como qualquer dos desportos 'terrestres', como o demonstra a popularidade de toda e qualquer marca de vestuário alusiva a esse tipo de modalidade. Mais - ao passo que estes se tinham de contentar com 'clipes' no Portugal Radical e um ou outro jogo para PlayStation ou Nintendo 64 como forma de se 'mostrarem' ao público-alvo nacional, os desportos aquáticos gozavam, cada um, de várias publicações especializadas, exclusivamente dedicadas a noticiar os mais recentes desenvolvimentos e eventos no seio de cada modalidade.
No caso do 'surf', essa tarefa cabia, durante os anos 90, à Surf Magazine, uma daquelas publicações cujo conteúdo ficava bem explícito logo a partir do título: eram páginas atrás de páginas dedicadas à divulgação de novas pranchas, cobertura de eventos especializados, apresentação do perfil de alguns dos principais nomes da modalidade, e, claro, os inevitáveis concursos, ainda e sempre parte integrante de qualquer publicação comercial. Com um grafismo estranhamente sóbrio para uma publicação dedicada ao 'surf' e lançada em inícios de 90 – quando imperavam, na sociedade em geral, os padrões chamativos e cheios de contrastes entre cores pastel e 'neon' de fazer doer os olhos – a Surf afirmava-se, desde logo, como uma publicação sóbria, que tratava tanto os praticantes como os adeptos deste desporto de forma séria, e que não descurava a cobertura de outros elementos culturais populares entre a sua demografia-alvo, como a música; talvez por isso a publicação tenha conseguido ultrapassar a marca da década e meia de vida nas bancas, do seu lançamento em 1987 até à eventual extinção em 2003.
Edição de 1992 da Surf Portugal, ainda com o grafismo mais vibrante
Por muito impressionante que essa marca fosse, no entanto – e era – outra ainda mais admirável foi estabelecida pela principal 'concorrente' da Surf Magazine nas bancas noventistas, a Surf Portugal. De conteúdo muito semelhante à da 'rival' (não é, afinal de contas, possível expandir muito sobre o conceito de uma única modalidade desportiva) esta publicação terá, presumivelmente, encetado com a Surf Magazine uma relação semelhante à que, no final da década, se verificaria no mundo da imprensa de jogos de vídeo, com as famosas Mega Score e BGamer – sendo que a 'Surf Portugal' tinha o atractivo extra de, nos primeiros anos, ter lançado calendários anuais, que os fãs da modalidade certamente apreciariam poder ter na parede.
De destacar, ainda, o grafismo mais 'radical' dos primeiros anos desta revista – mais na linha do que se esperaria, tendo em conta o tema e o público-alvo – o qual rapidamente se transmutaria em algo bem mais sóbrio e adulto, presumivelmente como forma de ser levada mais 'a sério', ou apenas de competir com a rival. Fosse qual fosse o motivo, a verdade é que esta abordagem claramente resultou, levando a quase três décadas de publicação ininterrupta – uma marca impensável para a maioria das revistas especializadas, e ainda mais para as que versam sobre interesses 'de nicho'.
Número de 1993, já com o grafismo mais sóbrio
No final desta análise, fica a sensação de que, entre elas, as duas revistas de surf portuguesas terão feito as delícias dos adeptos da modalidade, que certamente apreciariam a possibilidade de escolher entre duas fontes de informação sobre o seu desporto favorito.
Não era apenas o 'surf' que tinha direito a representação nos quiosques e tabacarias nacionais, no entanto; o 'irmão pequeno' desta modalidade, o 'bodyboard', também contava com mais do que uma publicação disponível durante a época a que este texto respeita.
Exemplo dos diversos grafismos da Vert magazine ao longo das décadas
Destas, a mais famosa era a ainda resistente Vert Magazine, a auto-proclamada 'Bíblia do bodyboard nacional', que continua até hoje a servir como elo de ligação entre os membros da 'triBBo' e a sua modalidade de eleição, apresentando toda a gama de artigos acima discutidos aquando da análise às publicações de 'surf' e – como estas – assentando num grafismo sóbrio e abordagem séria à modalidade, que qualquer entusiasta certamente apreciará – um facto, aliás, corroborado pela longevidade da revista, cujo ciclo de publicação caminha também já a passos largos para as três décadas.
Como acontecia no caso do 'surf', também a referência do 'bodyboard' nacional tinha, na década em causa, concorrência à altura, sob a forma da explicitamente intitulada Body Board Portugal. De conteúdo bastante semelhante ao da rival – como também acontecia com as duas publicações dedicadas ao 'surf' - esta revista destaca-se, no entanto, por ser a única a aderir (ainda que apenas ocasionalmente) aos 'clichés' visuais normalmente associados aos desportos radicais da época – como o comprova a caveira demoníaca e puramente 'heavy metal' que se afadiga a tentar engolir o logotipo da capa do número da revista que abaixo reproduzimos... Ainda assim, tais ocorrências pautavam-se por excepções, sendo o grafismo, no cômputo geral, tão discreto como o de qualquer das outras revistas de que aqui falámos nos parágrafos anteriores.
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Em suma, os adeptos de 'surf' e 'bodyboard' dos anos 80, 90 e 2000 tinham, no que toca a publicações especializadas, tantas e tão boas opções como os entusiastas de carros ou motociclos – e mais do que os da maioria dos outros 'hobbies', como por exemplo a música. Uma situação, aliás, que se manteve no novo milénio, com o aparecimento de ainda mais publicações alusivas a estas duas modalidades – algumas, aliás, ainda existentes - embora nenhuma tão longeva quanto as analisadas neste post; ainda assim, mais uma prova de que a referida era foi mesmo a época de ouro dos desportos radicais...