10.07.22
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.
Na última edição desta rubrica, falámos de Serifo, jogador que desenvolveu toda a sua carreira profissional num único clube, o Leça; esta semana, toca a vez a um nome que, embora não tendo batido o recorde do guineense, mostrou a mesma dedicação a um único emblema – Joaquim Pereira da Silva, conhecido futebolisticamente pela alcunha de Martelinho, e que fica indelevelmente ligado à trajectória noventista do seu clube do coração, o Boavista.
O jogador com a camisola de que se tornou sinónimo
De facto, grande parte da carreira do extremo foi passada nos axadrezados do Porto, onde ingressou ainda em idade de júnior, vindo do Feirense, e onde passou nada menos do que doze épocas - ainda que, nas duas primeiras, tenha sido alvo de empréstimos, a Marco e Aves, respectivamente. Tendo sido figura importante em ambas as equipas durante as respectivas temporadas (pelo Marco, fez 32 jogos e marcou quatro golos, enquanto que pelo Aves alinhou 33 vezes, contribuindo com seis golos) o ainda jovem jogador foi, no início da temporada 1995/96, reintegrado no plantel boavisteiro, o qual não voltaria a abandonar durante precisamente dez anos, durante os quais conquistaria (merecidamente) o estatuto de capitão e figura maior do conjunto nortenho, ainda mais do que nomes como William, Jimmy Hasselbaink, Erwin Sánches ou até Ricardo. No total, foram 189 jogos e 23 golos pelos axadrezados, dos quais trinta (e quatro golos) durante a época mais bem-sucedida da História recente do clube – foi, aliás, seu o único golo da vitória contra o Porto, que permitiu ao Boavista de 2000/2001 ultrapassar os rivais nortenhos e ocupar o topo da tabela, onde viriam a terminar a referida prova.
Terá, pois, sido com relativa surpresa que os adeptos axadrezados viram a sua figura de proa abandonar o clube no fim da época 2004/2005, para rumar aos amadores espanhóis do Portonovo, uma equipa de dimensão substancialmente menor do que o Boavista. A 'aventura' no estrangeiro duraria apenas um ano (durante o qual o médio logrou apenas 14 exibições), tendo Martelinho regressado a Portugal em 2006/2007 para ingressar, não no Boavista, mas no igualmente nortenho Penafiel; após apenas nove partidas ao longo de uma época, no entanto, o extremo voltaria a rumar a Espanha, para nova temporada no Portonovo, antes de efectuar nova mudança de rumo, 'pendurando as botas' como futebolista de campo para ingressar na equipa de futsal do Cidade de Lourosa.
Terminada essa aventura, o histórico do Boavista – então já com 34 anos - viria mesmo a assumir a reforma, fazendo, como tantos outros dos nomes que aqui focamos, a transição natural para a função de treinador, primeiro dos juniores de Feirense e Boavista (as mesmas equipas que o haviam lançado como profissional, quinze anos antes) e, mais tarde, das equipas sénior do Cesarense e Lourosa, pelo qual efectuou duas passagens, tendo a primeira rendido à equipa o título de campeão da AF Aveiro 2012-2013. Uma carreira indubitavelmente honrosa, e nada menos do que fascinante, mas cuja principal contribuição para o imaginário colectivo dos adeptos portugueses será mesmo o 'lugar cativo' que, durante várias épocas, o jogador teve no flanco direito do Boavista de Jaime Pacheco, pelo qual se afirmou como um verdadeiro 'Grande dos Pequenos'.