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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

23.06.22

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Já aqui por várias vezes falámos do monopólio da Planeta DeAgostini no respeitante a enciclopédias ou séries educativas em fascículos. De cursos de inglês a colecções sobre dinossauros, cães, acontecimentos históricos ou qualquer outro tema, era praticamente certo que qualquer edição deste tipo surgida nas bancas portuguesas durante um determinado período de tempo teria a chancela da editora do globo.

No entanto, como também aqui discutimos no nosso último post, o referido domínio absoluto sobre o mercado dos fascículos não se afirmou suficiente para a editora, que, ainda nos anos 90, procurou diversificar a sua oferta para os campos da banda desenhada e das colecções de livros; e se na primeira destas categorias a Planeta se ficou por uma única série de seis álbuns produzidos para uma promoção da Repsol, a segunda trouxe à editora mais dois enormes sucessos a juntar ao seu impressionante portfólio, sob a forma das versões em livro das populares séries animadas 'Era Uma Vez...', do francês Albert Barillac.

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Mais do que apenas transpôr os episódios para um formato literário, no entanto, a Agostini utilizou os mesmos – disponibilizados em VHS, e mais tarde DVD, com cada um dos livros – como base para criar uma verdadeira obra didáctica, com o envolvimento de cientistas e pedagogos; o resultado foram duas memoráveis colecções, que muitos dos ex-jovens daquela época ainda recordam.

Sim, apenas duas – o capítulo 'do meio' da trilogia, 'Era Uma Vez...O Espaço', foi deixado de lado nesta iniciativa, por razões que não são inteiramente claras; assim, apenas 'Era Uma Vez...O Homem' e 'Era Uma Vez...A Vida' (re-intitulada 'Era Uma Vez...O Corpo Humano') tiveram direito ao tratamento 'intelectual', com cada uma a fomentar cerca de trinta volumes de conteúdo, sempre apoiado nas imagens e argumentos criados duas décadas antes por Barillac.

É claro que, tratando-se da Planeta DeAgostini, não podiam faltar as habituais ofertas que incentivavam à compra da colecção inteira – e, nesse capítulo, o esqueleto humano oferecido semanalmente, membro a membro, com os livros d''O Corpo Humano' perdeu apenas para o esqueleto de dinossauro da respectiva colecção como um dos melhores de entre estes 'incentivos'. A verdade, no entanto, é que as referidas colecções não necessitavam, de todo, deste tipo de táctica de vendas, já que ambas constituíam excelentes misturas entre pedagogia, factos científicos, e uma abordagem divertida e apelativa para o público-alvo – para além de, quando completas, formarem uma bonita imagem que 'fazia vista' em qualquer estante de livros de um quarto de criança ou adolescente.

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A junção das lombadas de todos os volumes das colecções criava um bonito efeito na estante

Assim, não foi de admirar que qualquer das duas edições tenha gozado de considerável sucesso junto da referida demografia, e sejam ainda hoje recordadas com enorme carinho e nostalgia por quem as coleccionou; razão mais que suficiente para lhes dedicarmos estas breves linhas.

O anúncio televisivo original para a colecção 'O Corpo Humano', datado de 1994

22.06.22

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

A adaptação de clássicos da literatura para banda desenhada não é, de todo, um fenómeno novo ou inédito, tendo mesmo sido o mote para pelo menos uma colecção de livros editada em Portugal (da qual, paulatinamente, aqui falaremos); de igual modo, não é exactamente incomum ver essas mesmas adaptações emergirem do sempre produtivo mercado franco-belga, o qual gosta, pontualmente, de colmatar os seus Astérix e Spirous com algo mais sério. Também a banda desenhada lançada por, ou em parceria com, empresas de outros sectores tem precedentes, bastando lembrarmo-nos do álbum de BD editado pela EDP ou da promoção em que a Nestlé oferecia dois álbuns inéditos e de capa dura com histórias da Walt Disney. O que é, sim, inédito e insólito é ver obras com estas características chegar a Portugal pela mão de uma editora conhecida, sobretudo, pelas suas obras educativas em fascículos, e ser lançada em parceria com uma gasolineira (!!)

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E, no entanto, foi precisamente este o caso quando, em 1997, a Planeta DeAgostini se juntou à Repsol para editar uma colecção de seis adaptações dos romances policiais de Agatha Christie, da autoria dos criadores belgas François Riviére (também argumentista de séries como 'Victor Sackville' ou 'Alix') e J. P. Muniac. Uma escolha insólita para uma promoção de uma companhia de distribuição de gasolina, já que nenhum dos romances está sequer tangencialmente relacionado a esse campo, mas que terá certamente constituído uma agradável surpresa para quem os adquiriu, já que se tratam de adaptações de qualidade, com argumento e arte cuidados e que fazem jus ao material original.

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Página final de um dos álbuns

Os detalhes da promoção em si – apelidada Repsol Move – perdem-se nas areias do tempo, e a informação disponível sobre os próprios álbuns não vai além dos dados básicos e uma ou outra imagem no OLX (como as que ilustram este post), pelo que se pode considerar que a colecção Agatha Christie em BD foi Esquecida Pela Net; afigura-se, pois, mais relevante que nunca adicionar mais algumas linhas sobre estas insólitas publicações, cuja conjunção de factores é, ainda, difícil de acreditar ser real, e cuja conjuntura dificilmente se tornará a repetir, tornando-as caso único no panorama 'bedéfilo' nacional, quer dos anos 90, quer como um todo.

12.05.22

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Depois de na última visita ao Quiosque termos falado da primeira tentativa da Planeta deAgostini de lançar cursos de línguas em fascículos, chega hoje a altura de completarmos a nossa análise das publicações deste tipo veiculadas pela editora durante os anos 90, com a segunda e mais frequentemente recordada série de aprendizagem de línguas disponibilizada pela Agostini durante esse período, o bem-sucedido Disney Magic English.

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Lançada em Portugal em 1997 e dirigida, ao contrário do seu antecessor, a um público explicitamente infantil, para o qual tinha atractivos claros em relação à tentativa anterior (basta atentar na licença), a série Magic English propunha-se ensinar os rudimentos da língua inglesa através de um formato baseado em exemplos tanto escritos como audio-visuais. Assim, cada nova entrega da colecção era composta tanto pelo habitual fascículo, com a explicação do tema abordado em cada número e alguns exercícios práticos em formato escrito, como por uma cassette VHS (substituída, em reedições subsequentes, por um DVD) onde excertos de desenhos animados e filmes da Disney ajudavam a cimentar os conceitos expostos na parte escrita; a esperança era de que a combinação dos exercícios do fascículo e dos exemplos práticos incluídos no vídeo ajudasse o aluno a assimilar o vocabulário necessário, tornando-o assim auto-didacta do novo idioma.

O primeiro vídeo da série; os restantes estão disponíveis aqui mesmo, no 'nosso' Sapo

Para além dos fascículos, a série incluía ainda o habitual meio para arrumação dos mesmos (neste caso, uma caixa) e ainda um dicionário de termos em Inglês, para ajudar a cimentar a aprendizagem.

Apesar do objectivo do projecto ser por demais optimista, sobretudo quando aplicado a uma demografia conhecida pela sua reduzida capacidade de atenção e concentração, a verdade é que a colecção Magic English era bem estruturada e pensada, afirmando-se, mais do que como um produto feito 'às três pancadas' para aproveitar a licença milionária, como um excelente auxiliar de estudo para pais e professores que pretendessem iniciar as crianças no estudo da língua inglesa; os excertos utilizados em cada vídeo eram cuidadosamente escolhidos e enquadrados para serem sempre relevantes ao tema em causa, e era mesmo possível aprender algum vocabulário simples em cada cassette ou DVD da série – cujos atractivos começavam, aliás, desde logo no contagiante estribilho do genérico de abertura, que alguns dos leitores deste 'post' estarão, possivelmente, a entoar mentalmente neste preciso momento.

'Have fun with Disney, every day! Have fun with Disney, every day! Have fun with Disney, e-ve-ry DAY!'

Assim, não é de estranhar que a série Magic English tenha feito tanto ou mais sucesso em Portugal do que em qualquer dos outros países onde foi lançada, e seja ainda hoje recordada com carinho pela geração à qual ajudou a ensinar Inglês; e apesar de muito deste sucesso se dever à presença de personagens Disney (as quais ajudavam a mitigar a vertente educativa do projecto) uma parte significativa do mérito deve mesmo ser atribuído aos criadores da série, por terem conseguido criar um produto educativo capaz de agradar e interessar genuinamente ao sempre difícil público a que se destinava - um privilégio normalmente reservado para propriedades como 'Rua Sésamo' e 'Artur'. Só por isso, Magic English já mereceria esta homenagem; o facto de se tratar de um lançamento genuinamente nostálgico apenas a torna duplamente merecedora.

21.04.22

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Um dos fenómenos mais característicos dos anos 80 e 90, e que se foi gradualmente perdendo nas duas décadas subsequentes, eram as colecções em fascículos; e, nesse campo, um nome se destacava acima de todos os outros: Planeta DeAgostini. O nome da editora espanhola aparecia, invariavelmente, associado a toda e qualquer edição deste tipo a surgir nas bancas portuguesas, transformando-a numa espécie de Panini dos fascículos coleccionáveis, e com o mesmo nível de popularidade.

Um dos factores que mais jogava a favor da Planeta nesse aspecto era a sua abrangência enquanto casa de edição; os temas das colecções propostas pela companhia ibérica durante o seu período áureo iam desde os dinossauros à guerra, passando por raças de cães, automóveis, e até - como veremos nesta série de duas partes - cursos de línguas, um dos quais se conta ainda hoje entre as edições mais memoráveis da Planeta.

Desse, no entanto, falaremos na próxima Quinta no Quiosque; hoje, cabe-nos avaliar a primeira tentativa da editora ibérica para ensinar idiomas ao grande público, através de duas séries de fascículos e cassettes áudio lançadas no início dos anos 90, relativas às línguas inglesa e francesa.

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(Imagem: CustoJusto)

Comercializados com o sempre apelativo epíteto de 'Novo Curso', e destinados a um público maioritariamente adulto, cada um dos conjuntos era composto por nove volumes, cada um constituído por vários fascículos, por sua vez acompanhados de uma cassette áudio com exercícios de pronúncia e audição relativos aos temas abordados naquele fascículo, para que os alunos pudessem praticar; no fundo, uma estrutura muito semelhante à de um tradicional livro escolar, em que cada fascículo representava um capítulo. Esta analogia podia, aliás, ser efectivada através da aquisição das tradicionais capas para guardar ou encadernar os fascículos, habituais entre as colecções da editora.

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Em termos de conteúdo, estes cursos nada ficavam a dever aos 'verdadeiros', embora tivesse a natural desvantagem de obrigar ao auto-didatismo, não sendo, por isso, especialmente benéfico ou propício a alunos que retirem mais proveito de ambientes de sala de aula, ou do acompanhamento de um tutor privado; para esses, estes fascículos talvez servissem como um bom complemento, ou forma de manter a matéria das aulas 'fresca' na memória, mas pouco valor teriam enquanto materiais únicos do aprendizado.

Ainda assim, a julgar pela frequência com que se encontram em sites como o OLX, estes cursos em fascículos terão, na sua época, tido sucesso suficiente para motivar a Planeta DeAgostini a realizar uma segunda incursão pelo universo dos cursos de línguas, desta vez com foco declarado no público infanto-juvenil, e com uma conhecidíssima licença como incentivo à compra; e os resultados (como veremos daqui a sensivelmente três semanas) foram, quase literalmente, 'Mágicos'...

04.11.21

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

O ano de 1994 viu grande parte das crianças e jovens portugueses desenvolver uma verdadeira obsessão por dinossauros, as míticas criaturas pré-históricas relançadas na cultura popular pelo filme Parque Jurássico, um dos maiores êxitos de bilheteira – senão mesmo o maior – do ano anterior. Tendo a dita película encontrado grande parte do seu sucesso entre o público mais jovem, sobretudo o do sexo masculino, não foi portanto de surpreender que, durante os meses que se seguiram à sua exibição nos cinemas portugueses, essa mesma fatia de público tenha procurado coleccionar tantos objectos alusivos ao filme e à sua temática quanto possível. Fossem réplicas de dinossauros em borracha, livros sobre a vida destas criaturas ou até kits de escavação de fósseis, tudo o que se relacionasse com dinossauros ou com a pré-História em geral tinha sucesso quase garantido naquele ano de 1994.

No campo das publicações periódicas, o panorama não se afigurava por aí além diferente, pelo que a aposta de pelo menos uma editora neste autêntico filão de vendas também não se afigurou como por aí além surpreendente. A editora em causa foi a Planeta deAgostini, que aproveitou a deixa para acrescentar uma publicação sobre dinossauros ao seu já vasto leque de lançamentos pedagógicos, cursos de línguas e enciclopédias em fascículos semanais, 'adocicando-a' com um atractivo irresistível para os jovens da altura, e que garantiu que pelo menos o primeiro fascículo da série fosse um retumbante sucesso.

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Alguns dos muitos fascículos da série

Simplesmente intitulada 'Dinossauros!', esta série (originalmente oriunda do Reino Unido, onde fora criada pela Orbis Publishing) chegava às bancas na crista da onda da 'dinomania', oferecendo a quem coleccionasse todos os fascículos, não um, mas DOIS pontos de interesse; por um lado, a possibilidade de juntar todos os diferentes 'ossos' necessários à construção de um esqueleto-modelo de dinossauro, e por outro, o atractivo adicional de cada número incluir duas páginas com imagens em 3D, as quais podiam ser visualizadas com recurso aos óculos especiais oferecidos com o primeiro volume. Uma oportunidade bem aproveitada, portanto, para explorar não apenas a 'febre' dos dinossauros, mas ainda a do 3D, que na altura também grassava entre os jovens de todo o Mundo.

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Alguns dos brindes e acessórios oferecidos com a série

Qualquer conjugação destes dois elementos tinha enormes probabilidades de ser bem-sucedida, e no caso da dino-colecção da Agostini, foi exactamente isso que aconteceu, com muitas crianças a adquirirem, pelo menos, o volume inicial da série, o qual – como também era hábito naquela época – foi sujeito a uma oferta de lançamento, disponibilizando elementos extra pelo preço-base dos fascículos; a estratégia, como também era hábito, resultou em cheio, e aquele primeiro número, com o sempre popular T-Rex na capa, constituiu, à época, presença habitual nos quartos de crianças e jovens de Norte a Sul do País. Já os restantes fascículos eram comparativamente mais caros, ficando por isso reservados apenas aos mais fanáticos, e com mais dinheiro (e tempo) para gastar neste tipo de coleccionismo – o que, tendo em conta os níveis de concentração e atenção da criança média (tanto daquele tempo como de agora) poderá ter reduzido consideravelmente a dimensão do público-alvo desta série do número 2 em diante...

Ainda assim, esta foi uma colecção suficientemente memorável e temporã para justificar a inclusão neste blog nostálgico, cujo criador era, à época, da idade, sexo e persuasão ideais para sucumbir aos encantos de uma iniciativa como esta - tendo, como tal (e como muitos outros) tido em casa aquele primeiro fascículo da série...

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