26.11.23
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.
Ao longo da História do futebol, tem havido um sem-número de jogadores tão sinónimos com certos clubes que é difícil acreditar que alguma vez tenham defendido outros emblemas. O futebol português dos anos 90 e 2000 não foi, de todo, excepção a esta regra, e poderá ser surpreendente para os mais distraídos constatar que Sá Pinto e Pedro Barbosa nem sempre foram do Sporting, Nuno Gomes e Mantorras não foram formados no Benfica, e Fernando Couto ou Maniche também não são oriundos das escolas do FC Porto. A estes nomes, há ainda que juntar um outro, sinónimo com o Porto da fase hegemónica, mas que iniciou a carreira ainda um pouco mais a Norte, noutro histórico do futebol português, e que completou esta semana cinquenta e três anos de idade.
Com a camisola de que se tornou sinónimo.
Falamos de João Paulo Maio dos Santos, mais conhecido pelo diminutivo Paulinho, e que a maioria dos adeptos associa de imediato ao contingente de jogadores físicos e agressivos que compunha o plantel dos 'Dragões' durante grande parte da década de 90. O que muitos não saberão, no entanto, é que o homem que dava verdadeiro significado à expressão 'polivalente defensivo' iniciou a carreira com uma camisola listada, não de azul, mas sim de verde e branco, ao serviço do clube da sua terra-natal, o Rio Ave, em cujas escolas completara uma formação iniciada mais 'a sério' no Varzim, aos doze anos de idade.
Decorria a última temporada dos anos 80 (e, simultaneamente, primeira dos 90) quando o jovem Paulinho Santos, recém-graduado da equipa de juniores, era integrado no plantel principal dos vilacondenses, então nos escalões secundários do futebol português; apesar deste modesto início, no entanto, o talento do jovem não tardaria a vir à tona, e a utilização esporádica durante as primeiras duas épocas daria lugar à titularidade indiscutível na terceira, de 1991/92, onde ombrearia com vários nomes emprestados pelo seu futuro clube, como Cao, Tulipa e os também futuramente famosos Rui Jorge e Bino. Talvez tenha sido por intermédio destes que o talento de Paulinho Santos chegou aos ouvidos dos responsáveis portistas, mas seja qual tenha sido o modo de transmissão da mensagem, o resultado foi inevitável – no final da época, o médio-defensivo vilacondense rumava ao Estádio das Antas, para não mais o deixar até final da carreira.
O plantel titular do Rio Ave da época 1991/92, última do jogador nos vilacondenses. Paulinho Santos está ao centro na fila de cima.
O resto da História é bem conhecido: esteio defensivo da Selecção Nacional da fase Geração de Ouro no Euro '96 (onde chegou a jogar a lateral-esquerdo!), peça fulcral da equipa do Porto penta-campeã nacional, eterno 'arqui-inimigo' de João Vieira Pinto, e espectador 'de cadeirinha' (ou antes, de 'banco') aos triunfos europeus dos Dragões, quando já há muito trocara a titularidade pelo estatuto de veterano e 'lenda viva' dentro do plantel. No total, foram onze épocas e mais de duzentos jogos ao serviço do Futebol Clube do Porto, durante os quais conquistou tudo o que havia para conquistar, e partilhou o terreno de jogo com uma verdadeira 'litania' de nomes sonantes, de Jorge Costa a Aloísio (com quem partilhou o estatuto de 'lenda' do clube), Fernando Couto, Drulovic, Zahovic, Jardel, Capucho, Nuno Valente, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Deco ou o actual treinador dos azuis e brancos, Sérgio Conceição.
Com as Quinas, que defendeu no Euro '96 na posição de lateral-esquerdo.
O próprio Paulinho Santos viria, aliás, a enveredar ele próprio pela carreira de treinador, como aliás acontece com tantos ex-jogadores; sem surpresas, é na sua 'segunda casa' que Paulinho continua a exercer cargos técnicos, sobretudo como treinador-adjunto das camadas jovens e da equipa B, embora tenha chegado a ser adjunto da equipa principal durante um par de épocas em inícios da década de 2010.
Como adjunto da equipa principal do Porto, em 2013.
Já dentro de campo, o seu legado continua, igualmente, a ser honrado pelo filho, conhecido pela mesma alcunha do pai e actualmente ao serviço da equipa que viu o mesmo despontar para o futebol – uma forma honrosa de 'completar o ciclo' para um jogador que, embora tenha vivido os seus melhores anos noutras partes, nunca esqueceu o clube junto ao qual nasceu e cresceu, e graças ao qual se viria a afirmar enquanto jogador sénior. Parabéns, Paulinho Santos!a