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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

15.10.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O chamado 'jogador de um clube só' – aquele atleta que faz toda a carreira em apenas um emblema desportivo, mantendo-se fiel através de todos os altos e baixos do mesmo – sempre foi uma espécie rara, e nos dias que correm - em que o dinheiro fala, invariavelmente, mais alto – encontra-se praticamente em vias de extinção, pelo menos ao nível do futebol de alta competição. No período a que este blog diz respeito, no entanto, era ainda possível encontrar alguns atletas dessa estirpe, os quais – sem contar com os habituais empréstimos em inícios de carreira – passavam todo o seu período activo num só clube, normalmente aquele que os havia formado. O jogador de que falamos hoje, e que completa este fim-de-semana cinquenta e dois anos de idade, esteve perto de fazer parte desse lote, não fora um desentendimento com a 'casa-mãe' em finais de carreira; ainda assim, é a esse mesmo clube que qualquer adepto português da 'velha escola' o associa, e é também a ele que o seu nome ficará, indelevelmente, ligado.

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O jogador com a camisola do clube de sempre.

E, no entanto, até mesmo Jorge Paulo Costa Almeida – mais conhecido pelo seu primeiro nome e primeiro apelido – chegou, a dada altura, a ser Cara (Des)conhecida nos campeonatos nacionais, apenas mais um jovem promissor a desenvolver o seu futebol em emblemas históricos, mas fora da esfera dos três 'grandes' portugueses. De facto, após a chegada à idade sénior, logo no início da década de 90, aquele que viria a ser um dos grandes defesas-centrais do futebol luso era enviado para rodar durante uma época no 'vizinho' CS Penafiel, onde começaria desde logo a chamar a atenção, afirmando-se como elemento importante da equipa e amealhando vinte e três presenças, no decurso das quais contribuiria com dois golos.

A próxima aventura do central seria significativamente menos confortável, 'atirando-o' da cidade onde nascera e crescera para o ambiente insular da Madeira, onde viria a representar um dos maiores clubes das ilhas, o Marítimo. Tal desafio não amedrontou Jorge Costa, no entanto; pelo contrário, o jogador emprestado pelo Porto viria a afirmar-se como peça-chave da equipa, participando em quase todos os jogos da época 1991-92 e marcando ainda um golo pelos verde-rubros insulares.

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Cromo de um jovem Jorge Costa ao serviço do Marítimo.

Esta segunda época ao mais alto nível foi, aliás, suficiente para garantir ao central a inclusão no plantel principal do FC Porto, do qual não voltaria a sair até um desentendimento com o então treinador Octávio Machado, mais de uma década depois. No total, esta primeira fase de Jorge Costa no Porto veria o central representar o clube em quase duzentos jogos, sempre como esteio defensivo, ao lado de nomes como Paulinho Santos, Fernando Couto, Jorge Andrade ou Ricardo Carvalho, sagrar-se penta-campeão nacional, e notabilizar-se tanto como figura-chave na fase hegemónica do FC Porto como como um dos melhores do País na sua posição - distinção que lhe valeu lugar quase cativo também na Selecção Nacional, que representaria em cinquenta ocasiões e quatro torneios no decurso dessa mesma década, muitas vezes ao lado dos mesmos nomes com que emparceirava no centro da defesa portista.

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Cromo do jogador na caderneta do Euro 96, um dos torneios em que representou a Selecção Nacional.

Apenas um voto ao 'ostracismo' por parte de Octávio Machado, na segunda metade da época 2001/2002, seria capaz de afastar o carismático jogador do clube que o formara, sendo o mesmo forçado a embarcar na sua primeira aventura internacional, no caso ao serviço do Charlton, de Inglaterra, por quem ainda chegaria a tempo de figurar duas dezenas de vezes até ao final da Premiership daquele ano.

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O jogador durante o seu breve período no Charlton.

Durou pouco, no entanto, este afastamento, e na época seguinte, sob as ordens do novo treinador José Mourinho, Jorge Costa via restituído o seu estatuto de peça-chave numa equipa que, sem ainda o saber, estava prestes a embarcar numa segunda fase hegemónica, que culminaria com a histórica conquista da Liga dos Campeões, em 2005, já após a igualmente inédita captura da Taça UEFA, na época anterior. Em ambas as ocasiões, Jorge Costa marcava presença no centro da defesa, contribuindo com toda a sua experiência para aqueles que estavam entre os momentos mais gloriosos da História dos 'Dragões'.

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Jorge Costa celebra a conquista da Liga dos Campeões de 2004/2005, ao lado de outra lenda do FC Porto, Vítor Baía.

Poucos meses depois, no entanto, nova reviravolta, com a chegada de Co Adriaanse à equipa nortenha, e subsequente nova perda de estatuto por parte do capitão portista, que era novamente (e publicamente) afastado; tal como anteriormente, o central optou, nesta ocasião, por ingressar numa aventura no estrangeiro, desta vez a título definitivo, e seria no Standard de Liège, ao lado do ex-colega Sérgio Conceição, que viria a fazer a última época da sua carreira, aos trinta e quatro anos. Vinte partidas e dois golos longe dos holofotes europeus marcavam, assim, a despedida de um jogador que, doze meses antes, tinha ocupado lugar de destaque sob os mesmos – um final algo indigno para um dos melhores e mais notáveis jogadores dos campeonatos portugueses das décadas de 90 e 2000, e da Selecção Nacional da fase 'Geração de Ouro'.

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No Standard de Liège, durante a última época como profissional.

Tal como tantas outras caras – (Des)conhecidas ou não – de que aqui vimos falando, também Jorge Costa optou, após o término de carreira, por enveredar pela carreira de treinador, a qual iniciaria logo após o encerramento de actividades nos relvados, como adjunto do Braga. Dentro em breve, assumiria o comando dessa mesma equipa como técnico principal, e os anos seguintes vê-lo-iam treinar emblemas tanto em Portugal – Académica, Olhanense, Paços de Ferreira, Arouca, Académico de Viseu e Vila das Aves, onde actualmente milita – como um pouco por toda a Europa - tendo passado pelos romenos do Cluj e Gaz Metan, pelos cipriotas do AEL Limassol, pelos gregos do Anorthosis, pelos franceses do Tours - e até em países como a Tunísia (com duas passagens pelo CS Sfaxien) e Índia (onde treinou o Mumbai City FC), além da Selecção Nacional sénior do Gabão.

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Na qualidade de treinador.

Uma carreira cuja diversidade surge como contraponto à relativa estabilidade de que o portuense gozara enquanto jogador de campo, e que, infelizmente, nunca almejou o mesmo estatuto ou sucesso, mas que oferece uma continuidade honrosa para uma das 'lendas' da Primeira Divisão nacional 'das antigas'. Parabéns, e que conte ainda muitos.

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A camisola 2 é, ainda hoje, sinónima com o jogador.

09.07.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Um adepto moderno a quem se fale de Nuno Santos certamente pensará, de imediato, no aguerrido ala-esquerdo actualmente ao serviço do Sporting. Quem tenha acompanhado os campeonatos nacionais desde antes de estes se chamarem Ligas, no entanto, terá em mente dois outros nomes, ambos, curiosamente, de guarda-redes: um, mais velho, 'grande dos pequenos' do Vitória de Setúbal de Eric Tinkler e Chiquinho Conde, o outro eterno suplente do Sporting durante o mesmo período, mas que, já no Novo Milénio, conseguiu afirmar-se entre as redes de alguns 'históricos' de menor dimensão. É sobre este último - que completa hoje, 09 de Julho de 2023, quarenta e cinco anos – que versará este post.

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Um jovem Nuno Santos.

Formado pelos 'leões' de Alvalade, onde ingressou aos treze anos, após duas épocas iniciais no União de Coimbra, Nuno Filipe Oliveira Santos conseguiu 'sobreviver' aos sucessivos 'cortes' e dispensas habituais nas camadas jovens, tendo completado todo o seu percurso ao serviço do emblema verde e branco até, na época 1996/97, se ver sujeito à segunda fase da carreira de um jovem jogador sénior, ao ser enviado, por empréstimo, para o 'satélite' ribatejano dos leões, o Lourinhanense. Ali, num contexto competitivo menos exigente, e onde um jogador com a sua qualidade se conseguia destacar e diferenciar, não é de surpreender que Nuno Santos tenha conseguido fazer uma boa primeira época, defendendo as redes dos ribatejanos em quinze ocasiões.

Dado este auspicioso início de carreira sénior, não é, também, de admirar que o Sporting tenha repetido a 'experiência' nas duas épocas seguintes; infelizmente, estes empréstimos subsequentes não correriam de feição ao guarda-redes, que se veria remetido ao estatuto de suplente até mesmo no modesto emblema, com apenas sete jogos realizados no conjunto das duas épocas.

A viragem do Milénio via, assim, Nuno Santos regressado a 'casa', e integrado na equipa B dos 'leões'. E se essa primeira época do século XXI lhe renderia, novamente, apenas cinco jogos pelas 'reservas' e um pela equipa principal, já a temporada seguinte veria, finalmente, a sua carreira reentrar nos 'eixos', com o empréstimo ao histórico Estrela da Amadora a permitir ao guardião estabelecer-se como titular indiscutível pela primeira vez na sua carreira – ao todo, foram vinte e cinco jogos com a camisola listrada do clube que acaba de regressar à I Liga. Este acréscimo de experiência permitiu ao guardião posicionar-se como primeira opção para a baliza do Sporting B na época seguinte, realizando vinte e seis jogos, bem como dois pela equipa principal.

O ano de 2003, no entanto, veria Santos mais uma vez remetido para outras paragens, com novo empréstimo, desta feita ao Penafiel; e seria este empréstimo que, verdadeiramente, 'lançaria' a carreira de Nuno Santos, que viria a passar as três temporadas seguintes como primeira opção para as redes do clube nortenho, que defenderia em mais de oitenta jogos – sempre, curiosamente, por empréstimo do Sporting - ao lado de outros nomes instantaneamente reconhecíveis das ligas profissionais lusas, como Marco Ferreira e Martelinho.

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O guardião nos tempos do Penafiel.

Seria, aliás, ainda por empréstimo que o guarda-redes ingressaria no seu clube seguinte, o Vitória de Guimarães de, entre outros, Kabwe Kasongo, ao serviço do qual se desvincularia, finalmente, dos 'leões', após quase duas décadas de ligação ao clube de Alvalade.  Ainda assim, a experiência por terras de D. Afonso Henriques não correria de feição ao guardião, que se veria novamente como figura periférica no plantel vimaranense durante as três épocas seguintes.

Assim, em inícios da época 2009/2010, aos trinta e um anos, o guardião trocaria um Vitória por outro, rumando a Setúbal para mais uma época honrosa, seguindo as passadas do seu homónimo alguns anos antes e realizando dezoito jogos entre as redes sadinas. Na temporada seguinte, nova 'mudança', com breve passagem por Portimão (onde nem chegou a aquecer o banco) antes de nova 'guinada' a norte, agora rumo a Barcelos, para fazer dez jogos ao serviço do histórico Gil Vicente. Ainda por terras nortenhas, o guarda-redes ingressaria depois no Sporting da Covilhã, onde seria primeira escolha durante a época 2011/12, amealhando vinte e três jogos antes de regressar à 'casa' onde fora feliz, nos arredores do Porto.  

Apesar da sua 'história' com o Penafiel, no entanto, esta segunda passagem pelo clube resultaria em apenas seis jogos no conjunto das duas épocas, motivando nova mudança, agora para o GD Ribeirão, por quem Santos realizaria dezassete jogos antes de 'pendurar as chuteiras', aos quase trinta e seis anos, pondo um ponto final numa carreira que praticamente define o termo britânico 'journeyman' (algo como 'andarilho') e que põe a nu o quão repletas de 'altos e baixos' podem ser as carreiras de jogadores que não conseguem afirmar-se como 'de topo'.

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Nuno é, hoje, adjunto do Guimarães, que também representou enquanto jogador.

Ainda assim, é bom saber que a vida pós-futebol correu de forma bem menos atribulada a Nuno Santos, que desde há várias épocas integra os quadros do Vitória de Guimarães, na qualidade de treinador-adjunto, e cujas passadas são seguidas pelo sobrinho, o também guarda-redes Fábio Santos, actualmente no Gondomar. Felicidades, e que conte muitos!

22.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 21 de Agosto de 2022.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.

Apesar de o mundo do futebol ser dos que mais exalta os seus 'craques', nem todos os jogadores mais memoráveis da História do desporto-rei foram, necessariamente, sobredotados ou prodígios de talento; muitos deles destacaram-se por outras qualidades, como a raça, a entrega, a dedicação a um determinado clube, a aparência bizarra ou original, ou simplesmente a longevidade no seio de uma determinada liga. O homem de quem vamos, nas próximas linhas, traçar um esboço de carreira faz, precisamente, parte deste segundo lote - apesar de ter chegado a ser internacional portuguêm em plena era da Geração de Ouro e a jogar no Real Madrid, dificilmente será recordado como um portento técnico; quaisquer memórias positivas a ele associadas terão, precisamente, a ver com os factores acima elencados, em particular a sua dedicação a um clube específico do campeonato português.

Falamos de Carlos Secretário, eterno defesa-direito do FC Porto da fase hegemónica, e que dedicou ao emblema nortenho nove das suas quinze épocas como profissional de futebol - mais de metade do total da sua carreira - apenas entrecortadas por uma passagem algo 'desastrada' pelo referido Real Madrid, por quem não conseguiu almejar mais do que treze jogos antes de voltar à 'casa de partida', para mais seis épocas. Conforme é apanágio desta secção, no entanto, não é nessas épocas ao mais alto nível que nos focaremos; pelo contrário, neste post, contaremos a história futebolística de Secretário enquanto foi uma Cara (Des)conhecida do panorama desportivo português.

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O defesa ao serviço da Selecção das Quinas, em 1999

Nascido em S. João da Madeira a 12 de Maio de 1970, foi, com naturalidade, no clube local que o jovem Secretário iniciou a sua formação futebolística, já relativamente tarde, aos 14 anos; os quatro anos que mediariam até à sua estreia como sénior veriam, ainda, o lateral passar pelas academias de Sporting e Porto, iniciando-se aí, aos dezassete anos, a relação do atleta com a agremiação azul e branca. A estreia como profissional, no entanto, dar-se-ia não no seio do clube das Antas, mas (ainda) mais a Norte, em Barcelos, onde um Secretário de apenas dezoito anos amealharia vinte e nove jogos e dois golos ao serviço do clube local, o Gil Vicente.

De Barcelos, o atleta rumaria, na época seguinte, a Penafiel, onde permaneceria por duas épocas, afirmando-se como presença quase indiscutível na equipa; no total, foram sessenta e quatro jogos com a camisola dos penafidelenses, com mais dois golos a juntar à conta pessoal do defesa. Nas duas épocas seguintes, ao serviço do Famalicão e Braga, respectivamente, o defesa conseguiria a proeza de totalizar números exactamente iguais, terminando cada uma das épocas com exactamente trinta e uma exibições e...dois golos!

Seria aqui, no final da época 1992-93 (e já como internacional sub-21 por Portugal) que Secretário chegaria, finalmente, à sua casa (quase) definitiva, onde viria a 'morar' por duas vezes: primeiro entre 1993 e 1996, contabilizando 86 jogos e mantendo a sua média de dois golos por época (num total de seis) e depois entre 1998 e 2004, período durante o qual alinharia praticamente cento e trinta vezes pelo clube das Antas, ainda que sem qualquer golo. Pelo meio, ficavam a referida (e azarada) passagem pelo campeonato espanhol, e umas nada despiciendas trinta e cinco internacionalizações AA, com duas competições internacionais disputadas ao serviço das Quinas (os Campeonatos Europeus de 1996 e 2000) e um golo marcado.

Apesar do seu longo e honroso vínculo ao FC Porto, no entanto, não seria nas Antas que Secretário viria a terminar carreira; ao invés, a última época do futebolista seria disputada ao serviço do Maia, tendo o lateral alinhado por vinte e quatro vezes com a camisola do clube dos arredores do Porto. Seria, aliás, também no Maia que Secretário iniciaria a sua nova carreira, a de treinador, que o veria passar por diversos clubes amadores e semi-profissionais dos campeonatos português (Lousada, Arouca, Salgueiros 08 e Cesarense) e francês (Lusitanos Saint-Maur e Créteil Lusitanos, clube que actualmente orienta); e apesar de não ter tanto 'brilho' como a sua carreira de jogador, esta nova etapa do ex-internacional português não deixa de ser honrada e honrosa, merecendo tanto respeito quanto foi atribuído à sua profissão passada. Numa altura em que o ex-defesa enfrenta problemas de saúde - tendo, por esse motivo, sido homenageado no último 'derby' entre Sporting e Porto - não queríamos, pois, deixar de homenagear o ex-atleta, a quem enviamos também votos de rápidas melhoras, e de que a carreira de treinador venha a ser tão notável como a de jogador profissional.

10.07.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.

Na última edição desta rubrica, falámos de Serifo, jogador que desenvolveu toda a sua carreira profissional num único clube, o Leça; esta semana, toca a vez a um nome que, embora não tendo batido o recorde do guineense, mostrou a mesma dedicação a um único emblema – Joaquim Pereira da Silva, conhecido futebolisticamente pela alcunha de Martelinho, e que fica indelevelmente ligado à trajectória noventista do seu clube do coração, o Boavista.

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O jogador com a camisola de que se tornou sinónimo

De facto, grande parte da carreira do extremo foi passada nos axadrezados do Porto, onde ingressou ainda em idade de júnior, vindo do Feirense, e onde passou nada menos do que doze épocas - ainda que, nas duas primeiras, tenha sido alvo de empréstimos, a Marco e Aves, respectivamente. Tendo sido figura importante em ambas as equipas durante as respectivas temporadas (pelo Marco, fez 32 jogos e marcou quatro golos, enquanto que pelo Aves alinhou 33 vezes, contribuindo com seis golos) o ainda jovem jogador foi, no início da temporada 1995/96, reintegrado no plantel boavisteiro, o qual não voltaria a abandonar durante precisamente dez anos, durante os quais conquistaria (merecidamente) o estatuto de capitão e figura maior do conjunto nortenho, ainda mais do que nomes como William, Jimmy Hasselbaink, Erwin Sánches ou até Ricardo. No total, foram 189 jogos e 23 golos pelos axadrezados, dos quais trinta (e quatro golos) durante a época mais bem-sucedida da História recente do clube – foi, aliás, seu o único golo da vitória contra o Porto, que permitiu ao Boavista de 2000/2001 ultrapassar os rivais nortenhos e ocupar o topo da tabela, onde viriam a terminar a referida prova.

Terá, pois, sido com relativa surpresa que os adeptos axadrezados viram a sua figura de proa abandonar o clube no fim da época 2004/2005, para rumar aos amadores espanhóis do Portonovo, uma equipa de dimensão substancialmente menor do que o Boavista. A 'aventura' no estrangeiro duraria apenas um ano (durante o qual o médio logrou apenas 14 exibições), tendo Martelinho regressado a Portugal em 2006/2007 para ingressar, não no Boavista, mas no igualmente nortenho Penafiel; após apenas nove partidas ao longo de uma época, no entanto, o extremo voltaria a rumar a Espanha, para nova temporada no Portonovo, antes de efectuar nova mudança de rumo, 'pendurando as botas' como futebolista de campo para ingressar na equipa de futsal do Cidade de Lourosa.

Terminada essa aventura, o histórico do Boavista – então já com 34 anos - viria mesmo a assumir a reforma, fazendo, como tantos outros dos nomes que aqui focamos, a transição natural para a função de treinador, primeiro dos juniores de Feirense e Boavista (as mesmas equipas que o haviam lançado como profissional, quinze anos antes) e, mais tarde, das equipas sénior do Cesarense e Lourosa, pelo qual efectuou duas passagens, tendo a primeira rendido à equipa o título de campeão da AF Aveiro 2012-2013. Uma carreira indubitavelmente honrosa, e nada menos do que fascinante, mas cuja principal contribuição para o imaginário colectivo dos adeptos portugueses será mesmo o 'lugar cativo' que, durante várias épocas, o jogador teve no flanco direito do Boavista de Jaime Pacheco, pelo qual se afirmou como um verdadeiro 'Grande dos Pequenos'.

 

13.02.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

O Futebol Clube do Porto 'conquistador' da Europa – aquela equipa treinada por José Mourinho, e da qual o mesmo levaria vários elementos consigo ao transitar para os ingleses do Chelsea – tinha na defesa um dos seus grandes esteios. A linha mais recuada do clube do Norte nesses anos de glória de inícios do século XXI contava com o histórico do clube, Jorge Costa, e ainda vários nomes que se tornariam indiscutíveis da Selecção Portuguesa pós-Geração de Ouro - Paulo Ferreira (à direita), Nuno Valente (a esquerda) e ao centro Ricardo Carvalho, todos os quais seguiriam o seu treinador rumo a Inglaterra. No meio de todas estas estrelas passadas e futuras, mais discreto mas não menos importante, alinhava um 'centralão' que, embora não tendo tido a mesma boa fortuna dos seus companheiros de defesa, conseguiu, ainda assim, tornar-se um nome histórico dos Dragões.

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Falamos de Pedro Emanuel, um produto da prolífica escola do Boavista de finais dos anos 80 e inícios de 90 – que também deu ao mundo futebolístico nomes como João Vieira Pinto, Jorge Couto, Nuno Gomes, Ricardo, Litos ou Frechaut, os três últimos colegas de equipa de Emanuel aquando do seu regresso a 'casa' – que viria a fazer carreira entre os dois clubes da Cidade Invicta, contabilizando mais de cem jogos por cada um deles (no Boavista, ficou a um jogo de completar 150) e assumindo-se como peça importante na 'fase áurea' de ambos.

O que muitos adeptos talvez não saibam é que – à semelhança dos colegas de equipa Deco e Nuno Valente – Pedro Emanuel passou várias épocas a 'pagar dividendos' nas divisões inferiores antes de 'dar o salto' para a ribalta; no caso, foram três os clubes 'menores' representados em outras tantas épocas, curiosamente sempre com números extremamente semelhantes – cerca de 30 jogos (29 no Marco, 31 na Ovarense e 28 no Penafiel) e exactamente dois golos por cada uma das equipas.

Talvez tenha sido esta consistência que levou os olheiros do Boavista, numa jogada que faria corar o Sporting da era moderna, a repararem novamente no jovem que haviam dispensado da sua academia anos antes, voltando Emanuel a ser contratado pelos axadrezados no início da época 1996/97, quando ainda contava apenas vinte e um anos, e, como tal, apresentava ainda enorme margem de progressão, que acabaria mesmo por demonstrar – a restante carreira do atleta foi já descrita em parágrafos anteriores.

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O jogador durante o seu período no Boavista

Quando se retirou do futebol competitivo para se dedicar à função de treinador, Pedro Emanuel era (justamente) considerado uma 'lenda' do Futebol Clube do Porto; um nome, talvez, ofuscado pela 'constelação' que o rodeava, mas que não deixou, ainda assim, de ter papel preponderante nos triunfos e conquistas de um dos melhores períodos da História do clube nortenho – algo com que talvez nem sonhasse quando, ainda adolescente, envergava briosamente os emblemas de uma série de clubes das divisões amadoras...

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