27.02.22
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.
Em geral, a carreira de um jogador português de sucesso segue um percurso determinado: 'descoberta' num qualquer clube regional, formação num 'grande', um ou outro empréstimo, eventual afirmação nesse mesmo 'grande' ou num dos diversos emblemas históricos de estatura ligeiramente menor que estes (como Braga, Guimarães ou Marítimo) e, potencialmente, uma saída para um clube estrangeiro, normalmente já depois de esse mesmo jogador ter captado a atenção dos adeptos e, muitas vezes, dos seleccionadores nacionais dos diversos escalões.
No entanto, apesar de comum, esta fórmula não é imutável; muito pontualmente, aparece um jogador que se desvia desta norma, sem por isso deixar de conseguir fazer um percurso de sucesso dentro da sua profissão de eleição. É precisamente esse o caso do homem de quem falamos hoje, um jogador cujos feitos são por demais conhecidos – bateu, por exemplo, o recorde de Eusébio de golos internacionais por Portugal, que manteve até Cristiano Ronaldo o superar, e foi o primeiro português a marcar em duas fases finais de Mundiais – e que se afirmou como uma das mais importantes figuras da turma das Quinas da fase pós-Geração de Ouro...sem nunca ter jogado ao mais alto nível em Portugal.
De facto, aquando da sua primeira chamada à Selecção (para um jogo contra a Arménia, em 1997) Pedro Miguel Carreiro Resendes – conhecido para o futebol pela alcunha que atravessou gerações na sua família, Pauleta – jogava já no Salamanca, aonde chegara vindo directamente da Segunda Divisão de Honra portuguesa, onde chamara a atenção dos espanhóis enquanto goleador dos 'canarinhos' do Estoril. Nessa época (apenas a sua segunda enquanto jogador profissional), Pauleta apontara uns estonteantes dezoito golos em 29 partidas, demonstrando a veia finalizadora que, mais tarde, viria a pôr não só ao serviço da Selecção Nacional, como também de emblemas bem maiores.
O Estoril da época 1996-97
Antes da fama e glória internacional ao serviço do Salamanca, La Coruña, Bordéus e Paris Saint-Germain, e da humilde 'reforma' no minúsculo São Roque, no entanto (antes mesmo da época de revelação no Estoril) já Pauleta vinha demonstrando o seu 'faro' de golo ao serviço de emblemas dos seus Açores natais, primeiro como amador ao serviço do Santa Clara (ainda longe da estatura de que goza hoje em dia), Operário e Angrense, e mais tarde no União Micaelense, emblema com quem assinou o primeiro contrato profissional e por quem viria a contribuir com onze golos em 23 partidas, nos primeiros passos do que viria a ser uma carreira lendária. Para trás ficava, ainda, um breve período como formando no FC Porto, por quem assinara no seu último ano de júnior, antes de as saudades de casa o levarem de volta às ilhas – uma circunstância que não deixa de fazer pensar como teria sido a carreira do goleador português se tivesse despontado a Norte, e num dos maiores clubes lusitanos, em vez de no contexto insular e de divisões inferiores em que na verdade se revelou.
Tal como se desenrolou, no entanto, a carreira do 'Milhafre dos Açores' continua a afirmar-se como talvez a mais inusitada de sempre para um jogador de Selecção, e a colocá-lo em lugar de destaque no panteão dos craques de verde e vermelho vestidos; nada mau para um açoriano que nunca chegou a jogar na Primeira Divisão nacional...