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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

18.08.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...

…como é o caso dos clubes de jovens.

Os anos 80 e 90 foram palco de um estranho fenómeno, criado por certas entidades comerciais e culturais como forma de aliciar o público infanto-juvenil: os chamados ‘Clubes de Jovens’.E se em décadas anteriores, esta denominação tinha já sido usada para designar literais espaços onde os jovens se podiam reunir e passar os tempos livres, nestas duas décadas, a expressão passou a ser usada para designar um conceito mais abstracto, mas não menos bem-sucedido junto do público-alvo.

clube amigos disney pub.jpg

Quem nunca viu esta publicidade na sua revista favorita?

Existentes para entidades tão diversas quanto editoras e supermercados, estes Clubes tendiam, ‘grosso modo’, a ter o mesmo modelo: as crianças inscreviam-se, mandavam certos dados pessoais, e passavam a fazer parte de uma lista que recebia em casa, em exclusivo e de forma periódica, brindes e outras ofertas alusivas à temática do Clube. Estes brindes consistiam, normalmente, de uma revista (de conteúdo mais ou menos interessante, mas normalmente mais cuidada do que a natureza promocional poderia fazer adivinhar) e pequenas ‘quinquilharias’ que pouco custavam a produzir e que, simultaneamente, faziam a alegria das crianças médias da época, como autocolantes.

Exemplos destes clubes eram inúmeros, começando logo nos anos 80 com o Clube Amigos Disney (este de molde um pouco diferente, suportado por um programa de televisão e mais focado em ajudar as crianças a completar as suas colecções de revistas aos quadradinhos) e expandindo-se, na década seguinte, para entidades como o Clube Rik e Rok (associado à cadeia de hipermercados Jumbo, hoje Auchan) e o Clube Caminho Fantástico, que fazia verdadeiramente jus ao seu nome, e que adquiriu estatuto de inesquecível junto de  uma ‘fatia’ específica da população jovem, muito graças aos seus fabulosos Almanaques anuais, recheados de jogos, passatempos, receitas e curiosidades, a maioria submetida pelos próprios leitores. E como estes três – os exemplos mais imediatos, sobretudo por os dois últimos serem usufruídos lá por casa – haveria muitos mais, todos sensivelmente com o mesmo ‘modus operandi’, e todos com o seu público cativo – afinal, qual é a criança que não gosta de receber coisas pelo correio, sobretudo quando lhe são relevantes e totalmente gratuitas?

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Um dos fantásticos almanaques anuais do clube da Caminho

Infelizmente, este foi mais um daqueles conceitos que a era da Internet veio tornar obsoletos – hoje em dia, os passatempos, promoções e até artigos que anteriormente sairiam na simbólica revista tendem a estar disponíveis online, tornando redundante todo o processo de inscrição e espera pelo próximo envelope recheado de coisas interessantes. Uma pena, pois – como os leitores deste blog certamente concordarão – tratava-se de um conceito apelativo, e que seria hoje visto como uma excelente manobra de ‘marketing’, por permitir a fidelização de uma demografia de grande interesse para a maioria das marcas, a um custo muitas vezes negligenciável. Mas quem sabe? Talvez nesta era das redes sociais, alguém resolva reviver o conceito, adaptando-o ao século XXI e às novas tecnologias digitais; afinal, nem seriam precisas assim tantas mudanças, e o custo seria ainda mais baixo, dado já não ser necessário produzir conteúdos físicos para justificar a inscrição. Empresários – fica a dica…

01.04.21

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

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E se inaugurámos esta secção com os inesquecíveis Matutazos, hoje, falamos de algo não menos memorável e icónico para os ‘putos’ daquela geração: as cadernetas de cromos, sobretudo as editadas pela Panini, que detinha o monopólio quase absoluto deste género de publicação, e à qual poucas concorrentes ousaram fazer frente, e sempre sem sucesso.

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Nos anos 80 e 90, este símbolo era praticamente sinónimo de colecções de cromos...

Apesar de os cromos ainda existirem e serem vendidos hoje, ninguém pode negar não só que os mesmos já não têm a mesma expressão que em tempos tiveram, como que os tempos áureos para este tipo de passatempo foram os anos 80 e 90. Durante estas duas décadas, cada nova propriedade ou moda que cativasse a criançada tinha direito a caderneta de cromos própria, a qual era (mais ou menos) avidamente colecionada e completada pela miudagem de Norte a Sul do País.

E dizemos ‘mais ou menos’ porque um dos principais fatores de fazer colecções de cromos era saber escolher QUAL a colecção a fazer. Por muito ‘fixe’ ou ‘in’ que uma propriedade ou ‘franchise’ fosse, se não houvesse uma quantidade significativa de outras crianças também a fazer a colecção, não valia de nada investir tempo nem dinheiro, pois não só não haveria com quem trocar os ‘repetidos’, como também se perderia outra das principais características deste tipo de coleccionismo: o direito a exibir a caderneta completa aos amigos que ainda continuavam à procura dos últimos cromos que lhes faltavam. Se mais ninguém estivesse interessado, tudo o que restava era uma caderneta, que a criança entretanto perdia a vontade de completar. Terá talvez sido por isto que tantas cadernetas de cromos caíram no esquecimento, com a maioria dos ‘putos’ a preferir investir nas perenes colecções do futebol – expoente máximo deste passatempo apreciado, sobretudo, pelos rapazes – ou esperar para ver o que ‘pegava’ no grupo de amigos ou lá na escola.

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Duas das mais populares colecções de cromos nos anos 90, ambas editadas pela Panini.

Quando uma caderneta se tornava popular, no entanto, não havia volta atrás – até os jovens mais velhos, já demasiado ‘crescidos’ para tais criancices, entravam na onda, e eram vistos a trocar cromos nos corredores da escola tão afanosamente quanto qualquer ‘puto’ mais novo.

Era precisamente este aspeto coleccionista, de desafio e ‘gabarolice’, que tornava o ‘hobby’ dos cromos tão especial e divertido – e que, ao mesmo tempo, fazia com que as colecções lançadas já completas, com a caderneta e todos os cromos necessários e sem os famosos ‘repetidos’, se afigurassem tão pouco lógicas e fossem repudiadas pela maioria das crianças adeptas deste passatempo. Afinal, qual era a graça de ter ‘a papinha toda feita’, sem ter de trocar com os amigos nem comprar 30 saquetas numa semana à procura daquele cromo raro que ninguém parecia ter? Sem estes aspetos, mais uma vez, tudo o que sobrava era uma caderneta algo ‘parva’, e que nem demorava assim tanto a tornar ‘bonita’…

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Exemplo de uma colecção lançada já 'pronta a completar'.

Terá, talvez, sido também por isso que o passatempo dos cromos caiu em desuso entre a geração ‘do ecrã’, que prefere o imediatismo de ter o conteúdo todo disponível de uma só vez, ao invés de ter de porfiar, esperar e trabalhar para o conseguir ter completo. Ironicamente, a Geração Z talvez gostasse daquelas cadernetas já completas que os Ys repudiavam – afinal, tratavam-se da versão em cromos daquelas series da Netflix, lançadas na Plataforma todas de uma só vez…

Ainda assim, um tipo de cromo resiste ainda e sempre ao invasor. Por mais que as gerações se sucedam e os seus gostos mudem, o futebol nunca, mas nunca passa de moda, pelo que não é de surpreender que as colecções dedicadas ao desporto-rei sejam das poucas a ainda sobreviver no formato ‘clássico’ que tanto deliciou as crianças dos finais do Século XX. É, no entanto, pouco provável que se venha a assistir a um renascer do ‘hobby’ dos cromos, tal como ele era naqueles tempos – a sociedade ocidental mudou demasiado para que pequenos pedaços de plástico adesivo possam cativar as crianças do mesmo modo que o costumavam fazer… Como diriam os Metallica, ‘Sad But True’.

Os ‘90s kids’, no entanto, nunca esquecerão este passatempo de eleição nos recreios de escolas, encontros de amigos ou atividades extra-curriculares. Pelo que resta perguntar: qual a mais memorável colecção de cromos da vossa juventude? Por aqui, foram a do Dragon Ball Z (claro), a da França 98, e também a da World Wildlife Fund e das motos de corrida, estas ainda nos anos 80. E vocês? De quais mais gostaram? Partilhem nos comentários!

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