30.09.21
NOTA: Este post corresponde a Quarta-Feira, 29 de Setembro de 2021.
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...
…como é o caso das notinhas passadas na sala de aula.
Quem nunca...?!
Hoje em dia caídos em desuso – ao ponto de haver quem pergunte se ainda se passam notas nas aulas – estes pedacinhos de papel dobrados e passados de mão em mão esperando que a professora não reparasse eram, na época pré-telemóveis, o meio de comunicação por excelência na sala de aula, sendo ao mesmo tempo menos óbvio e mais abrangente do que as também clássicas conversas em surdina; afinal, uma nota em papel podia ser enviada a alguém que se sentasse do outro lado da sala, enquanto que os ditos sussurros ficavam, normalmente, limitados aos colegas do lado, de trás e da frente, sem que houvesse possibilidade de expandir o raio de acção sem levantar a voz e ser ‘apanhado’.
Mais – estes papelinhos eram bastante mais versáteis que as conversas aos cochichos, podendo ser usadas para fins tão distintos como a maledicência (quer de colegas, quer de professores), a passagem de ‘cábulas’, a simples troca de ideias ou a sua utilização mais clássica, descobrir se a pessoa de quem gostávamos também gostava de nós – aqui com a vantagem de, para o adolescente médio de qualquer época da História, ser bastante mais fácil fazer essa pergunta por escrito, por meio de um papel, do que cara-a-cara com a pessoa.
Apesar da confiabilidade e versatilidade, no entanto, as notas também tinham os seus riscos, acima de todos, o de o papel ser interceptado pelo professor ou professora e (horror máximo!) lido em voz alta em frente de toda a gente – situação que se agravava ainda consideravelmente se a nota dissesse respeito a alguém presente na mesma sala, e fosse de teor romântico ou sexual…
Ainda assim, e apesar do risco de ocorrerem situações deste tipo, a passagem de papéis na aula (juntamente com alternativas como comunicar com a turma da tarde através de saudações e mensagens escritas na própria carteira, como se fazia por estes lados) era um dos rituais mais infalíveis e imorredouros da experiência de andar na escola nos finais do século XX e inícios do novo milénio, o que faz com que seja ainda mais triste perceber que, como muitas outras, esta foi uma tradição que se perdeu com o advento da comunicação digital. Nada melhor, portanto, do que utilizar precisamente um meio digital para recordar esse que era (foi) um dos meios de comunicação analógica por excelência…