27.04.22
NOTA: Este post é relativo a Terça-feira, 27 de Abril de 2022.
A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.
O período compreendido entre o início da década de 80 e o dealbar do novo milénio foi, sem dúvida, um dos mais marcantes e revolucionários de todo o século XX no que toca à evolução tecnológica, em particular no domínio da chamada 'electrónica para o lar'; em pouco mais tempo do que leva a uma criança a atingir a idade adulta, a sociedade ocidental viu surgir um volume de novos recursos electrónicos sem precedentes, cujo período médio de obsolescência passava das várias décadas compreendidas entre, por exemplo, o gramofone e o gira-discos para os poucos anos que mediaram entre o auge de popularidade dos Walkman e a popularização dos seus sucessores, os Discman' – isto sem sequer falar no surgimento e rapidíssima evolução de novos meios de comunicação, em particular os hoje indispensáveis telemóveis.
Em meio a tal 'avalanche' de novos desenvolvimentos, não é de estranhar que algumas das tecnologias e 'engenhocas' surgidas durante esse fertilíssimo período em finais do século passado tenham ficado 'pelo caminho' antes mesmo de terem tempo de se popularizar – e, dessas, uma das primeiras que vem, de imediato, à mente são os chamados 'bips' ou 'pagers'.
Concebidos e comercializados pela primeira vez ainda nos anos 80, mas chegados a Portugal nos primeiros meses da década seguinte, os 'bips' são daqueles apetrechos difíceis de explicar ou até justificar a um nativo digital das gerações pós-'millenials', mas que para estes (e para os X que os antecederam) não só faziam todo o sentido, como se afiguravam como uma inovação tecnológica estonteante, que vinha revolucionar por completo o campo da comunicação à distância; no fundo, e vistos do futuro, o que aqueles pequenos rectângulos de afixar ao cinto representavam era nada mais, nada menos do que uma espécie de protótipo primitivo daquilo que viriam a ser os telemóveis.
Tal como estes, cada 'bip' tinha um número próprio, que quem quisesse contactar com o seu dono deveria marcar; a diferença residia no facto de que, ao invés de uma chamada, era enviada uma mensagem para o aparelho, assinalada pelo característico som que lhe deu o nome em Português; uma vez recebido este aviso (que não está muito longe das 'notificações' enviadas por telemóveis, computadores e 'websites' modernos) cabia ao dono do 'bip' ligar para o centro de controlo de chamadas para ouvir a mensagem recebida, a qual lhe era então transmitida quer por um operador humano, quer por uma voz robótica. Mais tarde, à medida que as possibilidades da tecnologia digital iam sendo descobertas, muitos 'pagers' substituiram este método analógico pelo envio de mensagens de texto digitalizadas, ao mesmo tempo que expandiam as suas funcionalidades para incluir o envio e recepção de 'emails', por exemplo.
Apesar destes avanços tecnológicos, no entanto, o 'bip' teve os dias contados praticamente desde o momento em que os primeiros telemóveis (dispositivos de certa forma semelhantes, mas muito mais imediatistas e avançados) chegaram ao mercado; o aparecimento, ainda antes do final da década, dos chamados PDAs (que estavam para os 'smartphones' actuais como os 'bips' estavam para os telemóveis da época) apenas veio acelerar o declínio destes aparelhos, cuja utilização em Portugal, como um pouco por todo o Mundo, sofreu uma queda a pique nos últimos anos do século XX. A chegada do novo milénio, com todas as suas possibilidades tecnológicas, trouxe consigo a 'morte anunciada' destes objectos, que – em pouco mais de uma década – passavam de prémio mais cobiçado de uma lendária promoção da Coca-Cola a peça de 'sucata' obsoleta, constituindo o exemplo prático perfeito de como a marcha tecnológica se alterou naqueles anos de 'viragem' de ano, século e milénio.
O icónico e muito desejado 'pager' da Coca-Cola
Corria ainda o ano de 2001 quando a TMN, principal fornecedora nacional do serviço, decide colocar um ponto final no mesmo, efectivando assim a 'morte' em definitivo de uma tecnologia que, dez anos antes, entusiasmara tantos portugueses, cansados de ficarem 'reféns' das cabines telefónicas e de 'tecnologias' como o Credifone; um fim algo inglório para um aparelho que, na sua época de lançamento, era inegavelmente útil, mas que chegou a terras lusitanas demasiado tarde para evitar ser 'apanhado' na 'enxurrada' tecnológica de que a última década do século XX foi palco.
Actualmente, os ´pagers´ sobrevivem, ainda e apenas, no sector médico e de saúde, onde encontraram uma demografia 'de nicho' para quem ainda retêm a utilidade, e em sistemas de irrigação e controlo de trânsito, que utilizam a mesma tecnologia; para o grande público da década de 2020, no entanto, estes aparelhos não são, hoje, mais do que uma memória, mais ou menos vagamente recordada após contacto com artigos como este...