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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.02.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

A música cómica ou humorística constituía, nos anos 90, um dos principais géneros na cena 'mainstream' portuguesa. Normalmente considerada mais 'de nicho', esta categoria de produção musical viveu, durante a referida década, um crescimento quase tão rápido como o 'pimba' ou o pop-rock, os dois principais géneros em que se tendia a inserir. Dos veteranos e pioneiros Ena Pá 2000 a artistas como os Mercurioucromos, José Figueiras e Fúria do Açúcar, passando por 'humoristas acidentais' como Zé Cabra, e mesmo algumas importações lusófonas, como Salsicha e Mário Jorge ou os Mamonas Assassinas, eram muitos os artistas que procuravam, de alguma forma, atingir o sucesso através da paródia mais ou menos explícita, parecendo, a dada altura, que não passava um Verão sem que mais uma destas músicas invadisse os 'tops' nacionais.

Nesse aspecto, o Verão de 1995 não foi excepção, tendo o inevitável 'hit' cómico desse ano pertencido a uns tais de Lunáticos, hoje um dos mais esquecidos (e, simultaneamente, puros e duros) 'one-hit wonders' do pop noventista português.

Apesar de o referido único hit, 'Estou na Lua' (porque eles eram Os Lunáticos, percebem?) ter posto crianças e jovens de Norte a Sul do País a cantar letras muito pouco próprias para a sua idade – à semelhança do que, na mesma altura, fariam os brasileiros Mamonas Assassinas – hoje em dia, é praticamente impossível encontrar informações sobre o pseudo-grupo centrado em torno do teclista e DJ leiriense Alex Santos.

E dizemos 'pseudo' porque, além do referido fundador (também produtor do material gravado) os únicos outros integrantes do grupo eram dois vocalistas, Miguel Dionísio e Manuel Pereira; os restante sons e instrumentos que se ouviam eram puramente sintetizados, numa manobra bem típica de certo pop da altura (e, verdade seja dita, ainda de hoje em dia) no qual estes Lunáticos se inserem.

Efectivamente, o som do 'grupo', pelo menos na sua música mais conhecida, salda-se naquele 'popzinho' leve e sem grandes pretensões artísticas, fadado a passar cem vezes por dia na rádio, a ser cantado na TV por futuras estrelas do 'stand-up' português, à laia de 'inside joke' e a suscitar cantorias do banco traseiro sempre que toca no carro a caminho da escola; e, nesse contexto, 'Estou na Lua' resulta maravilhosamente, sendo que há, ainda hoje, toda uma geração de portugueses que consegue cantar 'de cor' o refrão do tema, sem maiores 'ajudas' do que uma menção do título. Se ouvido na idade certa, este era daqueles temas que se entranhava nas sinapses, e lá ficava, adormecido, à espera de ser recordado – e cantarolado – a propósito de nada, literalmente décadas depois.

Infelizmente, o restante material dos Lunáticos não surtiu o mesmo efeito; se a relação entre o nome da música e da banda não for indicação suficiente (parece uma daquelas situações em que um grupo consegue que uma música 'estoure' sem sequer ter ainda nome, e tem que arranjar à pressa um que os associe ao seu tema-estandarte) os Lunáticos não pareciam, propriamente, ser um projecto a longo prazo, ou sequer destinado a passar de um único 'single'. Ainda assim, a crer no Google, o colectivo conseguiu, ainda, lançar quatro discos, dos quais o óbvio destaque vai para 'Muito À Frente', de onde é retirado o tema que os tornou, no Verão de 1995, um dos maiores fenómenos da música feita em Portugal.

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Capa de 'Não É Fácil', o profeticamente intitulado segundo álbum do grupo

Curiosamente, numa altura em que as vendas de música se contabilizam por temas individuais mais do que por álbuns, é difícil não pensar em como os Os Lunáticos poderiam ter beneficiado deste sistema, que lhes permitia ser um 'one-hit wonder' declarado, e manteria a sua música na consciência popular por um período mais alargado; no entanto, o som datado e meio 'fatela' do grupo assegura que o mesmo fique confinado apenas aos anos 90 – pelo menos até algum revivalista da nossa geração se lembrar de tentar trazer a música 'de volta', talvez num qualquer vídeo de TikTok, e puser mais uma geração de pré-adolescentes a cantar sobre mulheres nuinhas só com véu...

27.09.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E se na última edição desta rubrica falámos de um ‘one-hit wonder’ português de meados dos anos 90, com músicas voltadas ao humor e cantadas na nossa própria língua, hoje, falaremos de outro, substancialmente mais conhecido e menos ‘esquecido’, e cujo único sucesso continua, ainda hoje, a marcar presença em certos contextos, seja dentro do espectro das artes criativas, seja como banda sonora de um qualquer evento de ar livre; e porque se vivem precisamente, neste altura, os últimos resquícios da maravilhosa estação estival portuguesa, nada melhor do que deixarmos que essa mesma banda nos recorde das muitas razões para apreciar essa época do ano.

Como já devem ter percebido, estamos a falar d’A Fúria do Açúcar, grupo musical e humorístico imortalizado na consciência colectiva portuguesa pelo hino estival ‘Eu Gosto É do Verão’, mas que pouco mais sucesso conseguiu atingir, apesar de celebrar este ano as suas três décadas (!) de carreira.

Formada em 1991 por três personalidades do circuito humorístico – entre elas o líder João Melo, mais tarde apresentador de um programa televisivo também voltado a este espectro – A Fúria do Açúcar começou por ser um projecto de estética café-concerto, intercalando números musicais com ‘sketches’ humorísticos. Não demorou muito, no entanto, para que este paradigma se alterasse, com o grupo a decidir enveredar por um caminho estritamente musical, cujo primeiro fruto foi o álbum homónimo de estreia, lançado em 1996.

No entanto, seria apenas com o seu segundo registo, ‘O Maravilhoso Mundo do Acrílico, lançado no ano seguinte, que o grupo de João Melo verdadeiramente penetraria na consciência popular – especificamente, através do segundo single retirado do álbum, uma faixa de índole sardónica cuja letra focava a comercialização em torno da época de Verão, e da idealização de que a mesma é alvo por parte da maioria dos seres humanos. No fundo, uma daquelas faixas que apenas aparenta ser ‘parva’, tendo na verdade um significado escondido, à espera de quem o queira encontrar; o problema foi que, em 1997, quase ninguém quis.

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A capa do álbum de consagração do grupo

De facto, a maioria daqueles que cantarolavam alegremente esta música no carro, na escola ou até em casa certamente não terá dedicado muito tempo a esmiuçar o significado da letra, prestando mais atenção à voz pateta-de-propósito de Melo ou à instrumentação bem ao estilo surf-rock, que tornava a música numa ‘malha’ bem pegajosa. O resultado inevitável desta tendência foi a percepção daquilo que se pretendia que fosse uma denúncia social como precisamente aquilo que aparentava (ou fingia) ser – uma música tola e descartável para consumo imediato. Pior, essa é ainda hoje a principal forma como a canção é abordada, tendo a vertente de crítica social vindo a ser cada vez mais ignorada – algo que, certamente, não deixará de frustrar os músicos da banda.

Também certamente frustrante será o facto de – apesar de, como resultado do seu sucesso. se ter tornado banda residente do programa apresentado pelo vocalista – o projecto Fúria do Açúcar nunca ter conseguido replicar o sucesso daquele ‘single’ de 1997. Apesar de contar já com seis discos (um dos quais lançado após um hiato de quase exactamente dez anos), a banda de João Melo continua a ser conhecida e recordada por uma, e apenas uma, música. Música essa que – diga-se em abono da verdade – continua a ser tocada nos mais diversos e variados contextos, o que não deixa de ser um feito para uma faixa cómica lançada há quase um quarto de século; ainda assim, não será descabido pensar que Melo e Cª teriam certamente preferido que essa mesma faixa tivesse feito menos sucesso, se tal significasse que o resto do seu repertório se tornaria mais conhecido…

Seja como for, a verdade é que o ‘one hit’ destes ‘one-hit wonders’ se tornou bem mais icónico e duradouro do que a maioria das músicas deste tipo, sendo ainda hoje um hino nostálgico para toda uma faixa demográfica que viveu os seus melhores anos nas décadas entre 1980 e 2000; candidato ideal, portanto, para inclusão nesta secção do nosso blog…

13.09.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

‘Sou camionista, sou o maioooor…’ Se esta linha, retirada de uma das músicas mais populares de 1996, vos fez avivar a memória, vão com certeza gostar do post de hoje, em que abordamos a banda responsável pela sua criação e gravação – os Mercurioucromos.

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Formados em 1995 a partir da junção de duas outras bandas, o quinteto assumiu, desde logo, a sua vontade de fazer pop-rock com fortes laivos de comédia – não terá, decerto, sido à toa que o líder desta ‘pandilha’ musical, Carlos Carneiro, se viria mais tarde a afirmar como actor; os seus maneirismos, tanto vocais como de palco, faziam, aliás, lembrar um outro nome de referência do rock-comédia em Portugal: Manuel João Vieira, dos Ena Pá 2000.

A música dos ‘Cromos era, no entanto, algo mais voltada ao pop do que o rock ‘apunkalhado’ dos EP2000, como bem demonstra o seu grande hit, acima citado. No entanto, faixas como ‘Lobo Mau’ mostram que a banda também sabe ser mais agressiva e atmosférica quando necessário, demonstrando que os Mercurioucromos talvez fossem mais do que aparentavam. Fosse ou não esse o caso, a verdade é que a banda conseguiu mesmo ‘explodir’ logo com o primeiro álbum e respectivo ‘single’, que o ajudou a catapultar para vendas de 60 mil unidades, muito graças à rotação constante de que gozava nas rádios nacionais.

Infelizmente, tal como acontece com tantas outras bandas, tanto em Portugal como no estrangeiro, também o quinteto saído de ‘uma garagem lá para os lados de Benfica’ nunca conseguiu replicar o sucesso meteórico dessa estreia, figurando hoje como um dos grandes ‘one hit wonders’ da história da música moderna portuguesa. Chegaria ainda a haver um segundo álbum, lançado apenas um ano depois do ‘pico’ do sucesso, mas já demasiado tarde para evitar cair em ‘orelhas moucas’; sem nada tão forte como ‘Camionista Cantor’ para manter os ‘Cromos relevantes entre o seu público-alvo, o álbum teve vendas modestas, deixando para o CD-single exclusivo produzido para a revista Super Jovem a honra de ser o segundo lançamento mais conhecido da banda.

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A segunda coisa mais famosa que os Mercurioucromos lançaram...

Ainda assim, os Mercurioucromos tiveram o seu momento na História do pop-rock português, por muito fugaz que o mesmo tenha sido, e conquistaram o seu lugar na lista de bandas nostálgicas para uma determinada geração, que acompanhou e viveu o mesmo. Por isso, e por terem tido uma música que qualquer jovem em idade escolar sabia cantarolar naquele ano de 1996, o quinteto de Lisboa merece bem esta referência aqui nas páginas do Anos 90…

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