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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

04.04.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Na última edição desta rubrica, falámos de 'Jardins Proibidos', a omnipresente balada que catapultou Paulo Gonzo para o sucesso estratosférico não uma, mas duas vezes durante os anos 90; ora, a segunda versão dessa balada – aquela que muitas crianças e jovens da época terão passado mais de um ano a cantar a qualquer oportunidade – trazia o intérprete original em dueto com outra então mega-estrela do pop-rock 'meloso' nacional. É dele, e da respectiva banda, que falaremos esta semana.

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Formados numa garagem em Talaíde, concelho de Cascais, Lisboa, ainda na década de 80, os Santos & Pecadores – Olavo Bilac (voz), Artur Santos (baixo), Pascoal Simões (teclas), Pedro Cunha (bateria) e Rui Martins (metais) - tinham, inicialmente, uma proposta algo mais voltada para o rock de tendências 'funky'; no entanto, aquando da 'explosão' na década seguinte - após a participação do seu vocalista no projecto Resistência, um supergrupo português do qual um dia aqui falaremos - a banda (já reforçada pelo guitarrista Pedro Almeida) apresentava um som significativamente mais leve e ligeiro, assente numa base pop-rock bem típica do período, à qual se juntavam toques 'soul', sobretudo oriundos das emotivas interpretações vocais de Olavo Bilac, o tal comparsa de Paulo Gonzo na versão de 1998 do mega-hit deste último.

E o mínimo que se pode dizer é que esta abordagem rendeu dividendos – 'Onde Estás?', o álbum de estreia do grupo lançado em 1995, foi um sucesso de vendas, muito por conta do 'single' 'Não Voltarei a Ser Fiel' - ainda hoje a música mais conhecida do grupo, a par da mais tardia 'Fala-me de Amor' - e da participação (por alguma razão desconhecida) da apresentadora televisiva Catarina Furtado. Nascia mais uma estrela em ascensão no então incandescente universo pop-rock português.

A música que ajudou a popularizar o grupo

Com tal sucesso logo à partida, podia-se esperar que os Santos & Pecadores fossem 'sol de pouca dura'; o grupo conseguiu, no entanto, contrariar essas previsões, lançando um segundo álbum três anos depois ('Love', de 1998) e, daí, partindo para uma carreira que duraria até 2014 e renderia mais cinco álbuns de estúdio, dois ao vivo, e duas colectâneas – nada mau, para quem dava todo o ar de vir a ser apenas mais um nome a juntar à longa lista de  'one-hit wonders' noventista...!

Infelizmente, a história dos Santos não tem um final feliz; em 2020, a banda demarca-se do vocalista Bilac após este ter aceite o convite para actuar num comício do controverso partido português Chega!, e no ano seguinte, em Maio, o membro fundador Rui Martins, responsável pelos metais, morre vítima de acidente de trabalho, após cair de um telhado em Santarém. Juntos, estes dois factores terão ditado o fim definitivo dos Santos & Pecadores, um daqueles grupos icónicos e inescapáveis da música radiofónica portuguesa dos anos 90 que se verifica, com alguma surpresa, terem durado bem mais do que apenas aquele momento inicial...

21.03.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Quando amanheces

Logo no aaaaarrr

Se agita a luz, sem querer

E MESMO O DIA!

VEM DE-VA-GAR!

PA-RA-TE-VE-EEEERRR...

Quem, nos anos de 1992 ou 1997, não cantou estas mesmas palavras (ou outras aproximadas), com estes mesmos arroubos e ênfases, e numa voz pseudo-rouca a tentar imitar – e, ao mesmo tempo, gozar com - a do cantor original, está neste momento no blog errado, pois será quase de certeza demasiado velho ou demasiado novo para ter vivido o momento específico a que o mesmo se refere.

Os outros, aqueles que se lembram do quão enorme foi a música a que esta letra se refere, certamente já pararam de ler durante uns momentos para completar a sua rendição da mesma, com o 'exagerómetro' ainda mais declaradamente no máximo – a única maneira aceitável de se cantar esse clássico da radiofonia 'brega' noventista chamado 'Jardins Proibidos'.

Sim, esses mesmos – os que deram título a uma das primeiras grandes telenovelas 'made in Portugal', e que mesmo antes disso já haviam ganho um segundo fôlego derivado de uma re-gravação em formato de dueto, com o cantor original Paulo Gonzo a fazer parelha com Olavo Bilac, dos na altura não menos enormes Santos & Pecadores. É essa, aliás, a versão que a maioria das crianças em idade escolar na metade final dos 90's recordará, e terá parodiado vezes sem conta no pátio da escola – até por a mesma ter sido um dos temas mais tocados nas rádios portuguesas durante esse ano, tendo como único rival 'Dei-te Quase Tudo', tema interpretado por....Paulo Gonzo!

E já ren-di-do

Vê-te-che-gaaaaar

Nesse ou-tro mun-do

Só teu

Onde-eu-que-RIA!

En-trar-um-DIA!

P'RA ME PER-DE-EEEERRRRR...!

Sim, é justo dizer que, três anos antes do fim do Segundo Milénio, Alberto Ferreira Paulo (mais vulgarmente conhecido por uma alcunha inspirada nos Marretas, que acabou por virar nome artístico) era o nome maior da música popular portuguesa, pelo menos na vertente não-pimba - embora, em abono da verdade, o seu som fosse adjacente à vertente mais romântica desse género. Embora a sua carreira fosse já longa, e extremamente bem sucedida – o seu primeiro disco em português, onde se incluía a versão original de 'Jardins', havia já apresentado volumes de vendas impressionantes – foi com a segunda versão do seu grande 'hit', e o álbum a que servia de avanço, o quintuplatinado (!) 'Quase Tudo', que Paulo Gonzo adquiriu, verdadeiramente, o estatuto de celebridade da música portuguesa, atingindo aquele grau de popularidade que quase torna um artista num 'meme' de carne e osso. De facto, em 1997, ainda a mais de uma década da invenção do termo ou mesmo do advento da Internet 2.0, já Paulo Gonzo era um 'meme' – conhecido por todos, gozado por muitos, e icónico em diversos sectores da sociedade, embora por motivos distintos.

Mais surpreendente é perceber que a carreira do homem que muitos consideram uma das principais figuras da música romântica portuguesa de finais dos anos 90 já conhecera um primeiro pico de sucesso, ainda na década de 70, como integrante da Go Graal Blues Band, um seminal colectivo de...blues -rock!

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A Go Graal Blues Band. Paulo Gonzo é o primeiro à esquerda.

No total, foram quatro discos com a banda, antes de uma audição lhe render uma nova alcunha, e um novo rumo para a carreira – primeiro com letras em inglês e algumas re-interpretações de clássicos do 'soul' e R'n'B, e mais tarde com declarada propensão romântica e letras em português. Seria esta última fase que o posicionaria como figura de proa de um certo movimento musical português, granjeando-lhe desde prémios na cerimónia anual do conceituado jornal 'Blitz' até colaborações com Pedro Abrunhosa (outro 'gigante' de vendas da época) e, já no novo milénio, a honra de compôr o tema oficial de apoio à Selecção Portuguesa de futebol, em pleno pico do período hegemónico da Geração de Ouro. E embora muitos destes feitos tenham sido conseguidos antes, e independentemente, do sucesso de 'Jardins Proibidos', não há dúvida de que o referido tema ajudou a catapultar uma já honrosa carreira para um patamar totalmente diferente.

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Paulo Gonzo, na época do auge do sucesso

No novo milénio, e apesar de se manter tão activo como sempre, Paulo Gonzo perdeu muita da relevância que havia tido nos anos finais do século XX. À medida que 'Jardins Proibidos' se desvanecia da consciência popular, com o fim da novela, o artista lisboeta passou a ser apenas 'mais uma' das 'caras conhecidas' da música portuguesa, sem jamais ter recuperado o estatuto de verdadeira super-estrela de que gozou naquele período de alguns anos em que a sua música-estandarte era o tema mais ouvido nos lares médios portugueses. Para a geração que presenciou esse momento cultural, no entanto, haverá sempre uma determinada melodia e conjunto de palavras que desencadearão, infalivelmente, uma torrente de memórias, e um reflexo condicionado – o de entoar a plenos pulmões, com voz rouca e pseudo-torturada e muitos esgares faciais, o resto da malfadada letra.

P'RA ME PER-DERRRR

NE-SSES RE-CAN-TOOOOS

ON-DE TU AN-DAS, SO-ZI-NHA. SEM MIM!

ARDO EM CIÚ-ME

NESSE JARDIIIIIIM...

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