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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

02.05.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Há precisamente uma semana, falámos neste mesmo espaço dos ovos Kinder, uma das mais icónicas guloseimas entre as crianças e jovens de Portugal desde a sua entrada no mercado, há já mais de quatro décadas; e apesar de, nesse 'post', termos abordado de relance os brindes dos referidos ovos, é inegável que aquela que, para muitos, era a principal razão para comprar estes ovos merece o seu próprio capítulo neste nosso 'blog'. É, pois, sobre as Quinquilharias contidas naqueles memoráveis cilindros amarelo-ocre que falaremos esta Quinta – especificamente, sobre as colecções de figuras que representavam o 'Santo Graal' desta categoria de brinde.

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De facto, apesar de nunca deixar de ser agradável encontrar dentro do ovo o tradicional carrinho ou avião, ou uma das assumidamente criativas obras de micro-engenharia baseada em eixos e rodas-dentadas, qualquer criança ou jovem na posse de um Kinder Surpresa tinha a secreta esperança de que o mesmo ocultasse um 'boneco' de qualquer que fosse a série então vigente – e foram muitas as promovidas pela Kinder durante este período. Normalmente tematizadas em torno da antropomorfização de uma espécie animal e de um qualquer conceito-base (como hipopótamos desportistas ou incongruentes tubarões persas) estas colecções exibiam, invariavelmente, enorme atenção ao detalhe, praticamente ao nível da dos brindes que o McDonald's veiculava, na mesma época, no tradicional Happy Meal – ainda que a uma escala bastante mais pequena, aproximadamente do mesmo tamanho das Matutolas, da Matutano, ou das figuras da linha Monsters In My Pocket – tornando-as assim particularmente apetecíveis para um público-alvo com gosto tanto pelo coleccionismo como pelos 'bonecos' e figuras de acção.

Foi, pois, com naturalidade que estas diferentes colecções conseguiram sucesso consecutivo junto da demografia em causa, e se tornaram os mais desejados e cobiçados de todos os brindes oferecidos pela Kinder ao longo da sua existência em território luso, o que, por sua vez, torna também natural que sejam motivo de destaque da secção dedicada a pequenas 'bugigangas' neste nosso 'blog' nostálgico - sobretudo por, algures no Novo Milénio, a Kinder ter deixado de lado estas colecções, 'atirando-as' para a categoria de 'relíquias' que as gerações Z e Alfa nunca terão ensejo de partilhar com os seus antecessores. Quem cresceu com estes bonecos, no entanto, certamente não terá dificuldade em explicar aos mais jovens a razão do apelo dos mesmos – bastando, para isso, mostrar-lhes a presente edição desta nossa rubrica...

11.04.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Já aqui por várias vezes mencionámos a euforia em redor de 'Dragon Ball Z' como a maior febre a alguma vez assaltar os recreios portugueses. Ainda mais do que o seu antecessor, e certamente mais do que a sequela, a segunda parte da trilogia de adaptações em desenho animado da banda desenhada de Akira Toriyama captou os corações das crianças e jovens nacionais de uma forma que nem mesmo séries como 'Tartarugas Ninja', 'Os Simpsons' ou 'Power Rangers' haviam conseguido. Absolutamente tudo o que levasse estampadas as feições de Son Goku e amigos, fosse oficial ou pirata, tinha mercado garantido entre a demografia infanto-juvenil – o que, claro está, levou a que muitas companhias tentassem a sua sorte. De entre estas, destacava-se a célebre 'dupla alimentar' de Matutano e Panrico, à época responsável por dois terços dos brindes e quinquilharias coleccionados pelos jovens portugueses. E se algo como um jogo ou simples conjunto de cartas fazia sentido, e mesmo um cubo desdobrável tinha a seu favor o curioso e apelativo formato, já a quinquilharia de que falamos neste 'post' só poderia mesmo ter tido sucesso 'às costas´ de uma franquia mega-popular.

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Isto porque, se o conceito de figuras tridimensionais recortáveis é inerentemente interessante para o público jovem, o facto de a versão oferecida pela Panrico em 1997 não ser autocolante, nem tão-pouco dispôr de uma base para ajudar a colocar as figuras em pé, ou mesmo uma simples caderneta onde as guardar, à imagem do que fazia a Matutano com as suas colecções, tornava-as meros gastos de papel, bem como de espaço nos bolsos ou estojos do público-alvo, destinados a acabar a a 'ganhar pó' numa qualquer gaveta ou canto da casa, esquecidos em favor de novos brindes mais apelativos.

Ainda assim, no momento, aquelas duas dúzias de desenhos em relevo 'tridimensional' dos heróis e vilões da série mais popular de sempre em Portugal terão sido razoavelmente satisfatórios enquanto brinde, e capazes de arrancar um sorriso a quem os retirasse do Bollycao ou das Donettes; à distância de trinta anos, no entanto, é fácil ver 'através' deste brinde, que se afirma como um dos menos interessantes de entre a miríade que lutava pela atenção das crianças portuguesas da época, e hoje interessante apenas para coleccionadores.

21.03.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Qualquer jovem dos anos 90 se recorda do 'frisson' de encontrar, escondido num qualquer canto da casa ou mesmo no centro da mesa da sala na manhã de Domingo de Páscoa, um ou mais ovos de chocolate, prontos a serem 'devorados' sozinhos ou em família. No entanto, mais atractivos ainda do que o próprio chocolate eram os brindes que tendiam a vir 'acoplados' a estes ovos, e que iam de 'quinquilharias' mais simples a objectos ligados a qualquer potencial licença de que os ovos dispusessem.

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Exemplo moderno da tendência em causa.

Normalmente disponibilizados no exterior do ovo, por oposição ao seu interior, como no caso dos ovos Kinder, estes brindes tendiam a dividir-se em duas categorias: os de 'tamanho real' (como os memoráveis carros e peluches disponibilizados com os Kinder Gran Sorpresa) e aqueles que pouco mais eram do que versões maiores das icónicas miniaturas e brinquedos dos ovos de chocolate 'pequenos', comprados no café ou supermercado. E apesar de os primeiros serem, por razões óbvias, mais apetecíveis, a verdade é que até mesmo os mais pequenos faziam sucesso entre o público-alvo; afinal, qual é a criança que não gosta de receber brindes grátis?

Ao contrário de muitas outras tradições de que falamos nestas páginas, esta é uma prática que se mantém relativamente imutável até hoje, sendo quase inevitável ver, por esta altura do ano, ovos de chocolate multi-coloridos nas prateleiras das mais variadas lojas de Norte a Sul do País, muitos deles oficialmente licenciados, e outros com brindes quase maiores do que eles a oferecerem um atractivo adicional, como é o caso dos peluches de Coelhinho da Páscoa dos ovos da Milka. Assim, e por oposição ao que sucede com a maioria dos tópicos por nós abordados, esta é uma tradição partilhada tanto pelas gerações 'X' e 'millennial' como pelas 'Z' e 'Alfa', que - imagina-se - surjam na escola após as férias de Primavera tão 'impantes' com os seus brindes e 'quinquilharias' pascais como os seus pais quando tinham a mesma idade...

05.10.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Para as crianças e jovens portugueses de finais do século XX, os cereais de pequeno-almoço faziam parte daquele lote de produtos (encabeçado pelas batatas fritas, produtos da Panrico e ovos de chocolate) que aliavam um sabor agradável à ainda mais agradável possibilidade (aliás, quase sempre certeza) de receber um brinde grátis na embalagem – com a vantagem adicional de, por serem considerados saudáveis, constituírem parte mais frequente e menos polémica das compras da família. E se as referidas batatas da Matutano e derivados do Bollycao se ficavam, a maior parte das vezes, por um cromo ou 'quinquilharia' mais pequena, à medida dos seus pacotes, este tipo de produto podia investir em brindes maiores e (ainda) mais atractivos, levando a que, nos últimos anos do século XX e primeiros do seguinte, chegassem a haver malgas ou CD-ROM com jogos inteiros de computador colados às caixas de cereais da Kellogg's e Nestlé.

No início da década de 90, no entanto, os brindes tendiam a ser mais simples, embora nem por isso menos atraentes e atractivos; e embora muitas dessas ofertas tenham, entretanto, caído no esquecimento colectivo da geração que os procurou em cada nova caixa de cereais, pelo menos uma provou ser especial o suficiente para perdurar através dos anos – os reflectores para bicicleta oferecidos pela Kellogg's algures na primeira metade da década.

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Talvez os dois formatos mais comuns do brinde em causa.

À partida, pode parecer surpreendente ver algo tão prosaico quanto um reflector de bicicleta – uma peça de equipamento relativamente barata e amplamente disponível nas lojas especializadas – ser não só escolhido como oferta deste tipo, mas também activamente cobiçado pelo público-alvo; no entanto, neste caso, a razão para tal estatuto era por demais simples, prendendo-se com o facto de cada um dos reflectores contar com um rebordo em plástico, estilizado para evocar as mais populares mascotes da marca, que adicionava um toque de personalidade às rodas da bicicleta de quem tivesse a sorte de os tirar da caixa; lá por casa, por exemplo, havia um, verde e em formato de galo, que parece ter sido o mais comum de entre os disponíveis.

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O efeito dos reflectores em causa após colocados na bicicleta.

Assim, e apesar da peculiaridade da proposta, não é difícil perceber o que fez desta uma das mais bem-sucedidas promoções de cereais de sempre em Portugal – o brinde em causa representava a união de uma série de interesses das crianças e jovens da época, e tinha verdadeira utilidade no dia-a-dia. Pena que, com a extinção dos brindes nas caixas de cereais, a Geração Z tenha deixado de ter a possibilidade de experienciar a emoção de enfiar a mão num pacote acabadinho de abrir e 'vasculhar' no interior para ver o que tinha saído; quem viveu aqueles tempos, no entanto, certamente nunca esquecerá – e brindes como o aqui abordado são, em grande parte, responsáveis pelo acesso de nostalgia que tal lembrança continua, ainda hoje, a causar.

 

23.08.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

De entre os muitos codificadores e elementos que formavam parte de qualquer ida à praia dos anos 80 ou 90, e que hoje se esbateram ou desapareceram, um dos mais saudosos para quem tinha a idade certa naquela época serão, decerto, as avionetes que sobrevoavam certas praias, desfraldando atrás de si 'slogans' publicitários alusivos a fosse que companhia fosse que as tivesse contratado.

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Uma visão entusiasmante para qualquer criança ou jovem noventista.

De facto, era práctica corrente, em certas partes do litoral português de finais do século XX, alugar estes veículos aéreos para, através deles, veicular mensagens publicitárias ou divulgar eventos ou novos produtos. Mas, para além do 'desafio' de tentar ler o que dizia a faixa desfraldada antes de o avião se afastar demasiado, este tipo de iniciativa tinha, para os jovens daquela época, ainda um outro atractivo, ainda mais importante: por vezes, abriam a escotilha inferior e deixavam cair no areal brindes, normalmente bolas e colchões insufláveis ou t-shirts, que alguns 'sortudos' melhor posicionados acabavam por levar para casa, de forma inteiramente grátis.

Por muito aliciantes que fossem, no entanto, estes brindes estavam longe de ser fáceis de conseguir; era preciso não só ser rápido, para chegar à beira-mar antes de os brindes tocarem o chão, mas também ágil, para conseguir 'esgueirar-se' por entre a 'maralha' que pretendia deitar a mão a uma do limitadíssimo número de unidades disponíveis. Escusado será dizer que eram mais as vezes em que o 'puto' comum da época saía de 'mãos a abanar' do que as que tinha sucesso, mas quando tal acontecia, era difícil disfarçar a alegria e o orgulho.

Apesar de eficazes na sua estratégia, é fácil de perceber o porquê de as avionetes publicitárias terem sido 'reformadas'; a conjunção da passagem de quase todas as campanhas para um formato digital com as preocupações ambientais e os custos associados ao aluguer de equipamento, impressão de faixas e criação de brindes - tudo isto para, com sorte, conseguir mais alguns clientes - contribuiu para a obsolescência deste tipo de meio de divulgação, que faria muito pouco sentido no Mundo digital de hoje em dia. Quem lá esteve, no entanto, certamente não esquece a emoção de olhar para cima, ao ouvir aproximar-se um avião durante um dia na praia, e ver que se tratava de um destes veículos publicitários...

17.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 16 de Agosto de 2023.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Os meses de Julho e Agosto continuam, ainda hoje, a marcar o período em que muitas crianças e jovens portugueses vão de férias, e em que outros tantos voltam das mesmas - processo esse que envolve, invariavelmente, longas e aborrecidas viagens de carro ou de transportes públicos até ao destino escolhido. E se, hoje em dia, é relativamente simples mitigar o aborrecimento dos mais novos durante essas deslocações, por intermédio de iPads ou consolas portáteis, nos anos 90, a história era algo diferente - e, apesar da existência dos Game Boy, Game Gear e jogos LCD, os livros e revistas de banda desenhada continuavam a ter um papel preponderante no entretenimento da demografia em causa, nomeadamente através de publicações como o Disney Gigante e o Almanacão de Férias da Turma da Mônica, dois óptimos 'companheiros' para as crianças lusas que partiam em viagem no Verão de 1991.

Quem tinha a sorte de se deslocar ao estrangeiro (ou, pelo menos, de andar de avião) nesse mesmo período, no entanto, dispunha ainda de um terceiro companheiro de viagem, disponibilizado pela companhia aérea nacional TAP. Tratava-se da chamada 'Tap Júnior', uma revista de bordo especificamente dirigida aos mais novos e que contava, entre outros atractivos, com a sempre popular banda desenhada da Disney, então força dominadora nos quiosques de Norte a Sul do País.

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Capa do número 2, única disponível na Web.

Foram pelo menos quatro os números desta revista (ou suplemento) publicados a partir de Julho de 1991, todos com trinta e seis páginas, e cada um com um sortido de histórias (curtas ou mais compridas) do extenso acervo da Abril, algumas das quais chegariam mesmo a sair em outras publicações 'oficiais' da editora. Infelizmente, mais informações são impossíveis de conseguir, já que a revista foi totalmente Esquecida Pela Net, sendo o único registo a sua entrada na 'Bíblia' da Disney, o site I.N.D.U.C.K.S - de onde foi tirada a capa que ilustra esta publicação, único registo desta publicação de que poucos se lembrarão, mas que constituiu uma iniciativa louvável por parte da TAP para distrair os seus passageiros mais novos naquele início dos anos 90.

13.07.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Comprar certos produtos alimentícios (como cereais, batatas fritas, produtos à base de pão ou ovos de chocolate) era, para a juventude dos anos 90, sinónimo de ganhar uma qualquer 'quinquilharia' de brinde com o pacote; e se a Matutano era a 'rainha' deste tipo de oferta, com quase todas as suas promoções a entrarem na 'História' nostálgica portuguesa, o Bollycao da Panrico pouco lhe ficava atrás, tendo sido responsável por várias outras das ofertas mais memoráveis daqueles anos mágicos de finais do século XX. E, dessas, talvez a mais saudosamente recordada tenha mesmo sido a original – a dos cromos conhecidos como 'Tous'.

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Introduzida no país vizinho ainda nos anos 80, a emblemática colecção 'aterrava' em Portugal logo no início da década seguinte, tornando-se a primeira de muitas promoções de que as crianças e jovens nacionais desfrutariam ao longo dos vinte anos seguintes; e se o conceito era relativamente simples (tratavam-se, apenas, de autocolantes, sem qualquer 'especialidade' ou 'truque') o grafismo irreverente e a personagem ao estilo desenho animado ou 'graffitti' aliaram-se ao 'factor novidade' para garantir que esta colecção ficava indelevelmente gravada na memória colectiva da geração 'millennial'.

O sucesso dos 'Tous' foi, aliás, tal que a colecção gozou, à época, de uma segunda série e, três décadas mais tarde, de um 'reboot', pela mão da Paniniem que a carismática personagem verde se via envolvida em acções mais actualizadas - como participação nas redes sociais, entre outras – como forma de aliciar a nova geração digital. No entanto, para os seus antecessores, foram mesmo aquelas duas séries de inícios dos 'noventa' – num total de cento e quinze cromos, cinquenta da primeira série e sessenta e cinco da segunda – que deixaram 'marca', a um nível a que, poucos anos mais tarde, apenas promoções bem mais elaboradas e publicitadas (como os Tazos ou os Pega-Monstro) conseguiriam almejar, tendo mesmo sido recordada por Nuno Markl num episódio da sua 'Caderneta de Cromos'. Como reza o adágio dos Corn Flakes da Kellogg's, 'o original é sempre o melhor' – e, no caso dos 'Tous', tal afirmação só se pode considerar verdadeira.

22.06.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Para quem já nasceu (ou cresceu) num Mundo quase totalmente digital, os simples prazeres que deleitavam as crianças e jovens das gerações anteriores podem parecer estranhos e até caricatos; tal como a geração 'Millennial' teve dificuldade em compreender o apelo de alguns dos jogos, brinquedos e brincadeiras que encantaram os seus pais, também a actual Geração Z ficará, certamente, a ponderar qual o interesse de um pequeno bocado de cartolina com uma imagem desenhada, sobre o qual se coloca uma peça de plástico para fazer a dita imagem ganhar cor.

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As duas 'fases' do efeito (crédito da foto: Ainda Sou Do Tempo)

E, no entanto, foi essa a premissa de uma das mais memoráveis promoções do Bollycao, lançada na ponta final da década de 80 e que subsistiria até aos primeiros anos da seguinte – as 'Janelas Mágicas'. Apesar de simples ao ponto de a sua premissa ter sido explanada em uma frase do parágrafo anterior, estes brindes fizeram as delícias de toda uma geração de crianças, ainda a alguns anos de terem a sua vida mudada para sempre pelos Pega-Monstros, Tazos, Matutolas e restante panteão de brindes inesquecíveis da Matutano, Panrico, e restantes marcas explicitamente dirigidas à sua demografia.

De facto, esta foi uma das primeiras ofertas tentadas por qualquer das duas marcas, sucedendo à pioneira colecção dos 'Tous', que também aqui terá, em tempo, o seu espaço; e a verdade é que, apesar de não ter feito o mesmo sucesso (até por o seu apelo ser menos generalizado, e mais especificamente dirigido a um público infantil, ainda passível de se deixar fascinar com tais efeitos) a colecção não deixou, ainda assim, de ser icónica para um certo segmento da demografia em causa, para quem o acto de deslizar aquele bocadinho de plástico por cima da imagem monocromática e a fazer ganhar cor nunca perdia o encanto ou o fascínio.

Escusado será dizer que uma promoção nestes moldes estaria, hoje em dia, destinada ao fracasso. Se algo como os Pega-Monstros ou até os Tazos ainda poderia suscitar o interesse dos jovens de hoje, com a sua vertente competitiva e algo intemporal, este é um conceito bem mais restrito a um tempo pré-digital, em que a tecnologia ainda era algo caro, raro e definitivamente 'para adultos'; para uma geração que vê efeitos mais fascinantes do que este de cada vez que liga o telemóvel, esta oferta teria um interesse praticamente nulo. Para a geração que os antecedeu, no entanto, passava-se precisamente o oposto, sendo que ainda haverá, certamente, algumas destas 'Janelas' 'esquecidas' em gavetas de quartos de infância de Norte a Sul do País...

01.06.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

A segunda metade da década de 90 traziam, entre a juventude portuguesa e não só, um renovado interesse na franquia 'Star Wars' (ou 'Guerra nas Estrelas') devido à combinação de um novo 'box-set' dos três filmes então disponíveis (a primeira a contar com as hoje infames alterações e 'melhoramentos' póstumos feitos pelo realizador George Lucas) e da estreia de um novo capítulo da saga (o quarto, ou antes, o 'primeiro') que fazia salivar os aficionados da trilogia original. Assim, não é de todo de estranhar que uma das principais companhias comerciais ibéricas – conhecida, aliás, pelos seus icónicos brindes – quisesse aproveitar o 'embalo' para aliciar os jovens portugueses e espanhóis a consumirem os seus produtos, através de uma promoção subordinada à franquia espacial.

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Tratava, claro está, da Matutano, que, por essa altura, inseria nos seus pacotes de batatas e 'snacks' os chamados 'mini-filmes' – na verdade, células translúcidas a imitar negativos de cinema, cada uma com uma imagem de um dos filmes originais, que podiam ser simplesmente armazenadas na inevitável caderneta (mais elaborada que o habitual, e repleta de fotos e desenhos alusivos à série) ou visionados numa estrutura própria, adquirida à parte, e que se assemelhava a uma versão bem menos sofisticada do tradicional ViewMaster de décadas anteriores - ou não fosse feita de papel e cartão, e construída mediante o tradicional método de 'corte e colagem'.

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A caderneta e o visionador de micro-filmes .

Infelizmente, ao contrário do que acontecia com os icónicos Tazos, Pega-Monstros e Matutolas – ou até com algo como as Caveiras Luminosas – não havia muito para fazer com estes micro-filmes a não ser admirá-los, já que os mesmos não traziam qualquer aspecto interactivo, nem habilitavam o proprietário a quaisquer prémios, como as Raspadinhas ou o Jogo do 24, sendo o único factor distintivo dos mesmos a ligação ao 'franchise' de Lucas. Talvez por isso tenham sido das colecções menos recordadas de entre as várias sugeridas pela Panrico e Matutano à época, o que não impede que façam parte da memória nostálgica de quem era fanático pela 'Guerra das Estrelas' e ávido consumidor de batatas fritas naquela segunda metade da década de 90.

11.05.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Qualquer cidadão nacional que tenha tido a sua infância e adolescência entre finais da década de 80 e inícios do Novo Milénio concederá, sem grandes hesitações nem celeumas, o título de 'rainha dos brindes' à Matutano. Com promoções tão memoráveis quanto a das Matutolas, das Caveiras Luminosas, dos Pega-Monstros e, claro, dos lendários Tazos, a companhia de batatas fritas foi responsável por ditar quase todas as 'febres de recreio' daquelas décadas. E dizemos 'quase' porque a Matutano teve, durante esse período, a concorrência constante de três outros tipos de produtos alimentícios: os ovos de chocolate da Kinder, com as suas tradicionais colecções de mini-figuras, os cereais da Kellogg's e Nestlé, e os produtos da panificadora Panrico, responsável por marcas tão populares quanto o Bollycao, os Donuts e as Donettes.

Esta última, em particular, viu várias das suas promoções tornarem-se êxitos entre as crianças e jovens da época, com particular destaque para as icónicas colecções da 'Janela Mágica', na década de 80, e dos 'Tous', no início da seguinte, e para o jogo dos BollyKaos, já nos últimos anos do Segundo Milénio. Pelo meio, no entanto, houve outras promoções que, embora menos memoráveis, não deixaram ainda assim de ter sucesso, sobretudo devido ao seu uso de propriedades licenciadas; destas, destaque para as tatuagens temporárias (as então chamadas 'Decalcomanias') das Tartarugas Ninja, e para o brinde de que falamos hoje – os desdobráveis do Dragon Ball Z.

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(Crédito da foto: OLX)

Oferecidos com os produtos da panificadora algures em 1998 (quando a 'febre' em torno do 'anime' de Akira Toriyama ainda não apresentava sinais de abrandar) os referidos brindes conseguiam a tão almejada união entre custos de produção baixos e grau de apelatividade relativamente alto. Tratavam-se de simples cromos em papel cartonado que eram apresentados dobrados e que, quando abertos, revelavam uma imagem do 'anime', regra geral um 'close-up' de um dos personagens; um conceito tão simples quanto cativante, mas que se via severamente afectado pela fragilidade do material, que começava a rasgar ao mínimo toque mais intenso. Assim, por muito entusiasmante que fosse desdobrar o brinde e ver a imagem na sua plenitude, o processo tornava-se também, inevitavelmente, frustrante, sendo necessário passar quase tanto tempo a tentar que o brinde não se desfizesse quando manuseado como a apreciar a própria imagem.

Por essas e outras razões, torna-se difícil, à distância de um quarto de século e num contexto social completamente distinto, perceber como algo tão 'mal-amanhado' e básico conseguiu entreter e até entusiasmar fosse quem fosse; na conjuntura do ano em que o brinde foi lançado, no entanto – com a 'febre' do Dragon Ball Z ainda ao rubro e as novas tecnologias ainda numa fase muito mais incipiente – estes quadrados de frágil cartolina eram mesmo capazes de proporcionar alguns minutos de lazer, após o consumo de um Bollycao, a mostrar aos amigos, familiares ou colegas de escola o cromo adquirido, e a admirar a imagem nele impressa. Um bom exemplo de como a sociedade mudou nas últimas três décadas, e que certamente trará memórias nostálgicas a quem alguma vez tentou (ou conseguiu!) coleccionar os quarenta desdobráveis da série, á base de muitas semanadas repetidamente gastas em 'calorias más' no café do bairro ou bar da escola.

 

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