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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

27.06.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 26 de Junho de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Numa altura em que o dinheiro se torna cada vez mais digital e virtual – havendo mesmo quem se oponha explícita e abertamente ao pagamento em notas ou moedas – e em que os cartões Multibanco surgem na vida dos jovens em idades cada vez mais novas, o conceito de um recipiente onde se depositavam, religiosa e afanosamente, os 'trocos' que compunham a mesada ou semanada, ou as notas maiores recebidas nos anos e Natal, pode parecer perfeitamente obsoleto, e até algo pitoresco. E, no entanto, tal objecto fez parte integrante da infância e adolescência de qualquer português integrante da geração 'millennial' ou de qualquer das anteriores, perfilando-se muitas vezes como um 'baú do tesouro' ou até como o 'salvador da Pátria' em momentos de maior 'aperto' financeiro.

mealheiros-portugal.jpg

Um modelo bem típico - em todos os sentidos.

Falamos, é claro, do mealheiro (ou 'cofre'), eternamente simbolizado na cultura popular sob a forma de um porquinho, mas que, para os jovens portugueses de finais do século XX, tinha uma aparência substancialmente diferente, normalmente oval ou cilíndrica, e decorada a toda a volta com motivos que iam desde padrões 'da moda' a personagens de banda desenhada e filmes, ou até logotipos de bandas ou clubes desportivos - curiosamente, foi apenas nos últimos anos que o 'porquinho mealheiro' propriamente dito penetrou na sociedade portuguesa, através de uma série de cofres 'de autor', cada um decorado consoante um determinado tema. De igual modo, ninguém no seu 'perfeito juízo' pensaria em partir o mealheiro, como tantas vezes se vê em filmes ou livros: isto porque, além de serem feitos de lata (e, como tal, manifestamente difíceis de quebrar) estes mealheiros tinham, regra geral, tampas removíveis, bastando aplicar pressão no sítio certo para que as mesmas saltassem e permitissem acesso aos conteúdos do cofre, anulando assim a necessidade de recorrer a medidas drásticas. Até mesmo a outra variante popular de mealheiros – estes, sim, de gesso, e esculpidos em forma de animais ou figuras humanas caricaturadas – possuía uma pequena tampa em borracha, extremamente fácil de levantar, tornando assim redundante o habitual martelo utilizado por inúmeros personagens de ficção para aceder às suas economias. Um toque manifestamente prático, e que maximizava a funcionalidade destes mealheiros, os quais seria um 'crime' partir, dada a sua função dupla como atraentes objectos de decoração para a prateleira do quarto – um propósito no qual os mealheiros mais 'tradicionais' também não se saíam, diga-se, nada mal...

Fosse qual fosse a 'variante' preferida, no entanto, não haverá nos dias que correm português na casa dos trinta ou mais anos que não tenha, na infância, guardado as suas (parcas) economias em formato físico, num mealheiro, quiçá sonhando com o dia em que teria o suficiente para adquirir os patins em linha ou a consola há tanto desejados. Pena é, apenas, que o avanço tecnológico tenha negado também esta experiência à Geração Z, ficando assim a mesma restrita exclusivamente ao domínio nostálgico das gerações mais velhas, e a páginas como a deste 'blog' nostálgico, onde não deixa, ainda assim, de receber a devida (e merecida) homenagem.

15.03.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Quem foi aluno da instrução primária ou preparatória durante a última década do século XX certamente associará os seus tempos de escola a uma série de experiências e elementos que deixariam perplexa a geração dos cartões electrónicos e pautas digitais: a importância atribuída a pequenos pedaços de cartão ou plástico retirados de pacotes de batatas fritas, o 'ritual de passagem' que era ter o carimbo no cartão da escola a certificar que se podia sair sozinho, a experiência de ter de se deslocar até à própria escola para ver as notas do período (e a 'aventura' que era encontrar a pauta da nossa turma, geralmente consultada 'ombro a ombro' com pelo menos mais um colega), a responsabilidade de levar na carteira o dinheiro para o 'bolo' da tarde, ou o assunto desta Quarta de Quase Tudo, o transporte do almoço a partir de casa dentro de um cesto de vime.

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Nos anos 90, ainda mais do que hoje em dia, os alunos de qualquer escola portuguesa dividiam-se em três tipos: os que almoçavam em casa, os que comiam o almoço da cantina, e os que levavam a comida de casa dentro do icónico 'cesto', devidamente identificado com o nome e turma escritos na etiqueta plastificada providenciada para esse fim. E a verdade é que, embora estivessem disponíveis no mercado lancheiras ao estilo norte-americano, havia pouco quem as tivesse ou utilizasse, optando a esmagadora maioria das crianças (e respectivos pais) por aqueles cestos de piquenique em vime ou verga, com fecho para garantir que a comida não se espalhava pela rua ou pelo chão da escola em caso de 'sacolejo' - e a verdade é que era muito difícil resistir a balançar o cesto enquanto se carregava com o mesmo até à escola ou à cantina, pelo que esta medida terá salvo muitas refeições... E embora não seja claro como nem porque é que estes cestos ficaram de tal forma associados com as refeições escolares, os mesmos não deixam, ainda assim, de ser parte icónica da experiência de frequentar um estabelecimento do ensino básico em finais do século XX.

Tal como os demais elementos que acima elencámos, os cestos de vime para o almoço encontram-se, hoje, praticamente extintos dos recintos escolares portugueses, substituídos pela versão actual da lancheira, feita em tecido, e não em plástico como as dos anos 90; desaparecimento esse que teve, aliás, início logo nos primeiros anos do Novo Milénio, relegando o cesto de almoço para a categoria de produto que subsiste, hoje em dia, apenas na memória colectiva. Ainda assim, quem levou diariamente o 'farnel' feito pela mãe dentro de um destes icónicos objectos certamente se terá recordado 'do seu', e dos muitos e deliciosos almoços e lanches retirados de dentro do mesmo, ao lado de inúmeros colegas com outros muitos parecidos, no tempo em que os mesmos constituíam A maneira, por excelência, de acomodar uma refeição infantil para transporte...

08.12.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Numa altura em que mais um ano se aproxima a passos largos do final, chega a altura em que, em décadas passadas, seria necessário actualizar uma parte essencial não só da decoração da cozinha ou escritório, mas também da carteira. Falamos, é claro, do calendário, uma das Quinquilharias que não podia faltar no bolso de qualquer cidadão português dos anos 90, 'entalado' entre o Cartão Jovem e o BI na carteira ou – mais tarde – enfiado na bolsa traseira das primitivas bolsas para telemóvel.

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Exemplo de um calendário promocional, no caso da CP

Rivalizando apenas com os isqueiros, canetas, porta-chaves e baralhos de cartas em termos de variedade e criatividade de 'decoração', os calendários de bolso tinham em comum o facto de serem, na sua esmagadora maioria, obtidos de graça, normalmente (embora nem sempre) como brinde promocional de uma qualquer empresa ou prestador de serviços; e, tal como as outras categorias de Quinquilharias acima enumeradas, era inevitável que a gaveta das 'bugigangas' de qualquer lar médio português acabasse repleta de um sem-número de calendários do mesmo ano (alguns deles, inclusivamente, duplicados) cujo último e fatídico destino era o balde do lixo – ou, com sorte, a colecção de algum dos residentes mais novos.

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Colecções como esta existirão ainda, certamente, em muitas casas de infância Portugal afora.

Sim, à semelhança dos objectos acima referidos – e de outros, como os Credifones – a natureza variada e facilidade de obtenção dos calendários de bolso tornava-os escolhas frequentes para os coleccionadores infanto-juvenis; é, aliás, bastante provável que haja, ainda, uma infinidade de colecções desse tipo espalhadas por sótãos e garagens por esse Portugal fora, prontas a render dinheiro em sites como o OLX, ou simplesmente – para os menos ambiciosos – a despertar memórias de tempos que já lá vão e não voltam, em que os telefones eram fixos (ou extremamente básicos) e a existência de objectos como calculadoras, 'pagers' ou calendários de bolso não só fazia sentido, como era activamente necessário – prova, como se a mesma ainda fosse necessária, de quanto a tecnologia revolucionou a forma de viver da sociedade ocidental (Portugal incluído) nos últimos trinta anos...

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