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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

17.10.25

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O género de terror para (e com) adolescentes – em que um assassino mascarado persegue e mata um grupo de jovens – foi um dos mais bem-sucedidos das décadas de 80 e 90, com clássicos como 'Halloween' ou 'Sexta-Feira 13' a estabelecerem as bases que inúmeros filmes e franquias exploraram ao longo dos dez a quinze anos seguintes. Nos anos 90, ver-se-ia nova mudança de paradigma, com a trilogia 'Gritos' a redefinir o género injectando um toque de humor e meta-comentário à fórmula que continuava a ser seguida à risca por filmes como 'Sei O Que Fizeste No Verão Passado', 'A Faculdade' ou 'Destino Final' – uma mudança que seria tão bem recebida pelo público-alvo que daria a um grupo de humoristas de créditos firmados a ideia de amplificar os elementos humorísticos utilizados por aquela trilogia para criar uma paródia declarada de todo um género cinematográfico. O resultado – que viria, sem que ninguém soubesse ou esperasse, a originar tanto uma franquia própria como todo um novo género – chegava às salas de cinema nacionais há quase exactos vinte e cinco anos (a 13 de Outubro de 2000) e captava de imediato a atenção de toda uma demografia, que incorporaria várias das suas falas no 'calão' diário, num daqueles exemplos de existência de um 'meme' uma década antes de tal conceito ter sido inventado.

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A obra em causa era, claro, 'Scary Movie – Um Susto de Filme', um projecto dos irmãos Wayans que, de uma assentada, parodiava não só os mais populares filmes de terror adolescente, mas também outros trabalhos cinematográficos de realce à época – com alusões aos inevitáveis 'Matrix', 'O Sexto Sentido' e 'Projecto Blair Witch' – e até anúncios publicitários contemporâneos, um dos quais serve de base à mais famosa e icónica cena do filme. A fórmula, essa, era simples: recriações, muitas vezes plano a plano, de cenas dos referidos filmes, mas com variações inesperadas, irreverentes, e politicamente incorrectas: Carmen Electra (no papel originalmente interpretado por Drew Barrymore no início do primeiro 'Gritos') a escapar à morte graças ao silicone dos peitos, o personagem de David Arquette no mesmo 'Gritos', Dewey, a ser transformado em 'Doofy', uma caricatura de um indivíduo com deficiências cognitivas, um assassino que se 'moca' juntamente com o grupo de 'janados' local (sem nunca tirar a máscara), e mil e uma referências a alguns dos mais 'batidos' axiomas dos filmes para adolescentes, como a utilização de actores já algo longe da faixa etária que representam ou a tendência dos personagens para perderem a capacidade de reagir inteligentemente ao ouvirem um barulho.

Uma estratégia que resultava em pleno no imediato, mas que (um pouco como acontecia, na mesma altura, com o videoclip para 'All The Small Things', dos Blink-182) limitava o filme a um espaço e tempo tão determinado como limitado. Isto porque quem não soubesse a que se referia cada uma das piadas (ou seja, quem não fosse da faixa etária correcta ou conhecesse minimamente os filmes em causa) ficaria inevitavelmente 'perdido', sem saber porque (ou do que) era suposto estar-se a rir. Para quem percebia a premissa, no entanto (e tinha menos de vinte e cinco anos na altura da estreia) 'Scary Movie – Um Susto de Filme' era provavelmente a película mais divertida do ano, e punha milhares de jovens da viragem do Milénio a gritar 'Wazaaaaaaaap?' uns para os outros em pátios de escola de Norte a Sul do País – tal como, aliás, sucedia também em outras nações na mesma altura. E embora, hoje em dia, o mesmo deva ser devidamente contextualizado (sendo muito do seu humor actualmente visto como problemático, para não falar em datado) não haverá decerto quem tivesse cerca de quinze anos no ano 2000 e não diga que adorou 'Scary Movie' quando o foi ver ao cinema,

Face ao sucesso do filme junto do seu público-alvo, não é de admirar que Keenan, Shawn e Marlon Wayans tenham procurado tornar 'Scary Movie' numa franquia, tendo sido produzidos mais quatro (!) filmes ao longo da década seguinte; infelizmente, como costuma suceder neste tipo de casos, cada novo acrescento à série era menos original e bem-conseguido que o anterior, e nenhum chegava aos calcanhares do original – embora a primeira sequela não seja uma má proposta para uma Sessão de Sexta dupla, tendo inclusivamente um argumento mais forte que o do primeiro filme. O mesmo se pode dizer das inúmeras séries de 'imitadores' surgidos imediatamente após o lançamento do primeiro filme (embora alguns, como 'Oh, Não! Outro Filme De Adolescentes' chegassem a ser bem-conseguidos) e, sobretudo, da insuportável série de 'filmes temáticos' lançada por dois dos produtores em finais da década, cada um como paródia (sem qualquer graça) de um género específico, dos filmes de fantasia aos românticos, históricos ou de desastres.

Apesar deste legado mais do que questionável, no entanto – e de não ter envelhecido particularmente bem, tanto pelo conceito como pelo humor – 'Scary Movie – Um Susto de Filme' é, ainda assim, um dos filmes icónicos para a geração que atravessava a adolescência nos anos de viragem do Milénio, mais do que merecendo ser recordado na semana em que se completam vinte e cinco anos sobre a sua estreia nacional – um evento cuja melhor maneira de celebrar será, evidentemente, com um 'Wazaaaaaaaaaap??'

19.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

'Eu vejo pessoas mortas.' Nos primeiros meses do Século XXI e do Terceiro Milénio, esta frase (ou alguma variação da mesma) era praticamente inescapável, sendo reproduzida, referenciada ou parodiada nos mais diversos meios e veículos de comunicação, sobretudo os de índole humorística, podendo facilmente inserir-se no restrito grupo de elementos mediáticos que constituíam 'memes' mais de uma década antes de esse termo ser criado ou penetrar na cultura popular. No entanto, toda esta exposição mediática acabava por constituir uma 'faca de dois gumes', já que o foco exclusivo nessa única linha de diálogo acabava por quase eclipsar a criação mediática da qual era proveniente – nomeadamente, um dos maiores (e melhores) filmes da viragem do Milénio.

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Estreado nas salas de cinema portuguesas há quase exactos vinte e cinco anos (a 14 de Janeiro de 2000, menos de duas semanas após o início do novo ano, século e Milénio), 'O Sexto Sentido' conseguia a proeza de fazer da sua estrela principal o elemento menos falado e elogiado da sua produção, recaindo as atenções quase exclusivamente nos dois nomes que ajudou a lançar, a saber, o realizador indo-americano M. Night Shyamalan e a 'mini-estrela' Haley Joel Osment, então com apenas onze anos, cuja personagem (uma criança com poderes psíquicos) era responsável pela famosa linha que ainda hoje simboliza o filme. E a verdade é que, ainda mais do que Bruce Willis (o referido actor principal, aqui em interpretação incaracteristicamente subtil e cheia de 'nuances') ambos estes nomes mereciam plenamente a aclamação de que eram alvo, o primeiro pela realização acima da média e inesperada conclusão do argumento, e o segundo por uma prestação muito acima da de outros actores da sua idade, ficando famosa a comparação entre esta sua actuação e a de Jake Lloyd como Anakin Skywalker em 'Guerra das Estrelas Episódio I – A Ameaça Fantasma', alguns meses antes. E embora ambos ficassem aquém do seu potencial em termos de carreira - com Shyamalan a revelar rapidamente ter apenas um único truque na manga (as conclusões cada vez menos inesperadas) e Osment a deixar o Mundo do cinema poucos anos depois, ainda adolescente - neste seu filme de estreia em particular, ambos pareciam ter pela frente futuros auspiciosos nas suas respectivas profissões.

Foi, portanto, sem surpresas que o público cinéfilo (português e não só) viu 'O Sexto Sentido' tornar-se num dos maiores sucessos daquele primeiro ano do 'novo calendário', e inscrever o seu nome na História do cinema como um dos 'clássicos modernos' do género 'thriller' psicológico. E ainda que, hoje em dia, o mesmo seja lembrado sobretudo graças 'àquela' frase (e às suas incontáveis paródias) não restam dúvidas de que se trata mesmo de um filme acima da média, merecedor de toda a atenção que mereceu aquando do seu lançamento, e também da homenagem que ora lhe prestamos, no final da semana em que se celebra um exacto quarto de século sobre a sua estreia em Portugal.

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