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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

11.11.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Em Portugal, em meados do mês de Novembro, ocorre, quase invariavelmente, um estranho fenómeno: durante alguns dias, o clima torna-se ameno, solarengo e tipicamente outonal, em claro contraste com a habitual chuva que marca o Outono e início Inverno nas latitudes ibéricas. E apesar de haver, certamente, uma explicação científica para tão abrupta e temporária mudança climatérica, na sabedoria popular, esta 'bonança' fica ligada à lenda do S. Martinho, sendo o período em causa conhecido como 'Verão de S. Martinho'.

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Um típico dia de 'Verão de S. Martinho'

Escusado será dizer que, em meio a uma estação que – conforme atrás referido – se tende a pautar pela chuva, este período mais ameno, aliado ao feriado que lhe está associado, serve de pretexto para pôr de lado as galochas (pelo menos por uns dias) e usufruir de uns belos Sábados aos Saltos por parte das demografias mais jovens; pelo menos, era esse o caso nos anos 90, quando a oferta digital não era, ainda, atractiva o suficiente para suplantar um dia de sol, sem escola, e com os amigos da rua ou do bairro igualmente livres para um sem-número de brincadeiras. Antes (ou depois) disso, na escola, comiam-se castanhas, como forma de celebrar a festa em causa, e no próprio dia, celebrava-se também o Magusto – efemérides que apenas ajudavam a tornar mais atractiva aquela semana de sol no meio do Outono.

E apesar de a mesma passar rápido, e rapidamente a vida voltar ao mesmo 'rame-rame' frio e chuvoso de sempre, a cada ano, havia sempre aquele 'oásis' pelo qual esperar, e que garantia que pelo menos uma das semanas do período de Outono era passada no exterior, em jogos e brincadeiras com os amigos, numa espécie de 'despedida' definitiva do Verão, que assim 'abalava' no cavalo de S. Martinho rumo ao outro lado do Atlântico, deixando memórias de inesquecíveis Sábados aos Saltos, e a esperança de os poder repetir uma vez regressado o calor.

Feliz Dia de S. Martinho!

14.11.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E porque um dos discos mais importantes da maior e mais duradoura instituição do pop-rock português completou há duas semanas exactos trinta anos (e por, nessa Segunda, termos estado ocupados a celebrar o Halloween falando dos 'bruxos' Moonspell), nada mais justo do que lhe dedicarmos algumas linhas deste nosso espaço sobre música marcante da nossa época.

Dizer_Não_de_Vez_-_Xutos_e_Pontapés_(1992).jpg

Falamos de 'Dizer Não de Vez', o primeiro de quatro discos lançados durante a última década do século XX pelos lendários Xutos & Pontapés, à época já nome maior do rock português (com orçamento e liberdade criativa a condizer) mas ainda com as ganas e a 'pica' que viriam, drástica e dramaticamente, a perder na época seguinte. E é precisamente essa conjugação de experiência e genica que faz do disco de 1992 (bem como do seu sucessor, lançado no ano seguinte) uma das melhores obras na vasta discografia do conjunto lisboeta, reconhecida como tal mesmo entre os fãs da época, que levaram o single 'Chuva Dissolvente' ao primeiro lugar do 'top' nacional de singles. E com razão - inicialmente concebido para ser um álbum duplo (mais tarde dividido em dois por imposição da Polygram, numa obrigação contratual pouco apreciada pelo quinteto mas que acabou por lhe render dois sucessos de vendas, em vez de apenas um em formato duplo) 'Dizer Não de Vezº é um álbum absurdamente homogéneo, repleto de uma ponta à outra com o estilo de 'malhas' a que os Xutos já vinham habituando os ouvintes de 'rock' comercial 'made in Portugal'. Temas como o supracitado 'Chuva Dissolvente', 'Hás-de Ver', o psicadélico 'Lugar Nenhum', os resquícios da fase 'punk' 'Dia de S. Receber' (a melhor do disco) e 'Lei Animal', ou o encerramento com o bem típico 'O Que Foi Não Volta a Ser' tornam este álbum de aquisição obrigatória, não só para admiradores do grupo, mas também por quem queira saber a que soa o bom 'pop-rock' português de cunho clássico.

Assim, e apesar de o grupo considerar que a divisão de temas com 'Direito ao Deserto' influenciou negativamente o produto final em termos de alinhamento e conceito, 'Dizer Não de Vez' afirma-se como obra absolutamente essencial, não só no cômputo da discografia dos Xutos, como do pop-rock noventista português (nem mesmo o próprio grupo a conseguiu jamais suplantar em qualquer momento posterior) e merecendo bem esta homenagem (ainda que atrasada) no mês do seu trigésimo aniversário.

 

10.11.22

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

No próximo dia 14 de Novembro, celebra-se o feriado de São Martinho, uma data que, derivado da lenda que a inspira, fica indelevelmente ligada a um alimento em particular: as castanhas assadas. No entanto, a referida festa está longe de ser a ÚNICA ocasião em que se consomem os deliciosos frutos secos – pelo contrário, qualquer cidadão português que se preze aproveita qualquer desculpa para comer mais uma dose das mesmas.

Em décadas transactas, um sem-número de vendedores ambulantes compreenderam isto mesmo, e investiram numa profissão que, apesar de apenas ser lucrativa uma vez por ano, não deixava de render dividendos no período entre o regresso às aulas e o Natal. Com os seus carrinhos munidos de forno a carvão, prontos a produzir mais uma fornada de 'quentes e boas' em matéria de poucos minutos, os saudosos 'senhores das castanhas' foram, em tempos não muito distantes, presença frequente em qualquer esquina urbana do País, para gáudio da clientela de todas as idades. E a verdade é que a experiência de combater o frio da rua com uma dose de castanhas tão quente que quase queimava as mãos, servida no tradicional cone de jornal (normalmente composto de uma parte da secção de Classificados) terá, sem qualquer dúvida, marcado a infância e juventude de milhares de jovens portugueses, não só em finais do século XX como também em décadas anteriores.

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Uma visão em tempos comum nas ruas portuguesas, e hoje praticamente desaparecida

Com o passar dos anos e o dealbar do novo Milénio, no entanto, deu-se um fenómeno algo entristecedor: os vendedores de castanhas começaram, gradualmente, a desaparecer das ruas do País. Se tal teve a ver com o aumento de preço da matéria-prima (da última vez que foram vistos, estes carrinhos cobravam uns exorbitantes dois euros por dose) ou com regras de higiene respeitantes à confecção das castanhas ou aos embrulhos feitos de páginas de jornal (motivo que também 'matou' esta prática no contexto do tradicional 'fish and chips', no Reino Unido) é um enigma ainda hoje por desvendar: seja qual fôr a razão, no entanto, a verdade é que os carrinhos que em tempos popularam as ruas das cidades portuguesas no início do Inverno se encontram, hoje, totalmente extintos, não havendo já sequer um 'Astérix' que resista ainda e sempre à adversidade (em Lisboa havia um, na Praça de Londres, mas mesmo ele acabou por 'aposentar' o carrinho há já alguns anos). Uma pena, dada a presença que estes vendedores tradicionalmente tiveram na 'vida de rua' portuguesa, e um fenómeno algo surpreendente, dado o pendor turístico de cidades como Lisboa e o Porto, que privam assim não só os locais, como os turistas de uma experiência tradicional e autêntica do Inverno português. Resta, pois, às gerações que ainda compraram castanhas a estes senhores preservar a memória dessa figura icónica, e assegurar-lhe o lugar que bem merece na História da vida quotidiana contemporânea portuguesa.

07.12.21

NOTA: Este post diz respeito a Segunda-feira, 06 de Dezembro de 2021.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

O Natal não é, exactamente, um tema comum no que toca a colectâneas de música alternativa; normalmente, as compilações deste tipo centram-se sobretudo nos clássicos intemporais (e de domínio público) que a maioria dos comuns mortais transforma em banda-sonora para esta época do ano,

Em 1995, no entanto, a editora independente portuguesa Dínamo Discos resolveu explorar precisamente esse conceito, juntando num mesmo disco alguns dos maiores e mais conhecidos artistas da música portuguesa e fomentando uma série de colaborações, as quais viriam mais tarde a fazer parte do disco. E o mínimo que se pode dizer é que, apesar do sucesso comercial não ter sido por aí além significativo, em termos qualitativos, a empreitada valeu bem a pena.

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Intitulado 'Espanta-Espìritos' e lançado em Novembro (com uma capa que remete mais ao Halloween do que propriamente ao Natal), o disco apresenta doze músicas bem eclécticas e diversificadas, com as sonoridades alternativas e a temática natalícia como únicos denominadores comuns – uma característica proposital, e que assegura que a colectânea oferece algo para os fãs de todos os géneros da música alternativa, com a notória excepção do hard rock e metal, talvez por serem géneros demasiado 'de nicho' ou pouco agradáveis ao ouvido do melómano médio português.

De resto, há para todos os gostos, do pop-rock de 'Final do Ano (Zero a Zero)' (interpretado por Xana dos Rádio Macau ao lado de Jorge Palma) ao fado de 'Minha Alma de Amor Sedenta', de Alcindo Carvalho, passando pelo funk Jamiroquai-esco de '+ 1 Comboio' (novamente com Jorge Palma em dueto com um elemento dos Rádio Macau, no caso o guitarrista Flak), o rock sarcástico-cómico de 'Família Virtual' (uma inesperada colaboração entre o fadista Carvalho e os anarco-ska-punks Despe & Siga) e 'Natal dos Pequeninos' - dueto de João Aguardela, dos Sitiados, com duas crianças - ou mesmo o hip-hop de 'Apenas Um Irmão', faixa que consegue a proeza dupla de inserir, à sorrelfa, uma palavra menos própria na letra (por sinal, bem rebelde e contestatária, como era apanágio do hip-hop português da época) e de pôr Sérgio Godinho a fazer rap ao lado dos mestres Pacman (hoje Carlão) e Boss AC – e quem nunca ouviu Sérgio Godinho numa música de rap, não sabe o que anda a perder...

Ouçam por vocês mesmos...

As restantes músicas são mais tradicionais deste tipo de empreitada, e desenvolvem-se num ritmo mais calmo e baladesco – o que não significa que tenham menos qualidade. 'A Rocha Negra', em particular, é um tema assombroso, em todos os sentidos, alicerçado numa grande prestação vocal, quase 'a capella' de Tim (ainda em fase de estado de graça com os seus Xutos) e Andreia (dos desconhecidos Valium Electric), enquanto 'São Nicolau' é um bonito tema em toada pop-rock, cantado por Viviane, dos Entre Aspas. Em suma, são poucos os temas mais fracos deste registo, e mesmo esses nunca passam o limiar do aceitável-para-bom.

Não deixa, pois, de ser surpreendente que o principal contributo de 'Espanta Espíritos' para a mùsica portuguesa tenha sido a inclusão de alguns dos seus temas em álbuns 'verdadeiros' de alguns dos participantes; como colectânea, e apesar de ter sido considerado um dos vinte melhores discos de Natal lançados em Portugal pela Time Out (uma daquelas distinções tão de nicho, que acaba por fazer pouco ou nenhum sentido) o álbum esteve longe de ser um sucesso, e encontra-se largamente esquecido nos dias que correm. Uma pena, visto que – como qualquer pessoa que tenha o álbum certamente afirmará – este se trata de um projecto que merecia bastante melhor do que apenas um estatuto de culto...

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