30.07.24
A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.
Apesar de conhecida e oficialmente representada pelo canalizador aventureiro Mario, a Nintendo criou, ao longo da sua História, vários outros personagens que, sem serem tão icónicos como o italo-americano, são ainda assim instantaneamente reconhecíveis por qualquer fã de jogos de vídeo, a maioria dos quais surgidos na 'época áurea' dos videojogos, entre finais dos anos 80 e o Novo Milénio. De facto, só na primeira metade dos anos 90, a companhia japonesa tinha, além de Mario, uma mão-cheia de outras potenciais mascotes: havia Link (protagonista da série 'The Legend of Zelda'), o 'peluche animado' Kirby, os símios Donkey e Diddy Kong, o aventureiro espacial antropomórfico Fox McCloud e, claro, Samus Aran, a 'loiraça' astronauta que protagonizava 'Metroid', um dos mais populares títulos lançados para a Nintendo original de 8-bits.
Não é, pois, de espantar que, aquando do lançamento da consola de 16-bits da companhia, a Super Nintendo, todos estes personagens tenham tido direito a títulos próprios, com Fox a fazer a sua estreia em 'Star Fox', de 1993, e os restantes a 'transitarem' do universo 8-bits da NES e Game Boy para viver novas aventuras na recém-lançada máquina. 'Metroid' não foi, claro, excepção a esta regra e, há quase exactos trinta anos (a 28 de Julho de 1994) a Europa acolhia de braços abertos o terceiro título da franquia, e primeiro para 16-bits.
Explicitamente intitulada 'Super Metroid' (numa época em que a convenção era chamar a cada novo titulo 'Super', como forma de estabelecer ligação com a nova consola) a nova aventura espacial da Nintendo aderia à habitual fórmula para a criação de sequelas, oferecendo mais do mesmo, mas melhor. Níveis maiores, com mais segredos e melhores poderes, fomentavam a exploração (horizontal e vertical) pela qual a série se vinha tornando conhecida, enquanto que a história, surpreendentemente complexa para um título da época, estabelecia as bases para lançamentos futuros, em que a vida de Samus se tornaria uma autêntica 'novela mexicana'. Outra inovação eram os diferentes finais, cada um deles baseado no tempo gasto a completar o jogo e em acções e decisões tomadas durante o mesmo, como a opção de libertar criaturas amigáveis das suas prisões; no melhor deles, Samus posava sem o seu fato espacial, exibindo as suas curvas e deixando os jogadores 'pelo beicinho' mais de dois anos antes de Lara Croft sequer surgir em cena.
A imagem final da melhor das três conclusões do jogo, obtida ao completar a missão em menos de três horas.
Tendo em conta esta combinação de características, e o elevado grau de 'repetibilidade' do jogo, não é de estranhar que 'Super Metroid' seja considerado, ainda hoje, não só o melhor titulo da série, como um dos melhores videojogos de sempre, opinião partilhada tanto pelo público como pela crítica especializada. Surpreendente, sim, é o facto de esta ter sido a última aparição de Samus por um período de oito anos, já que Gunpei Yokoi e a sua equipa não foram capazes de materializar ideias para um título de 'Metroid' para Nintendo 64, tendo o criador da franquia deixado a Nintendo em 1996 e vindo a perecer num acidente de viação, no ano seguinte..
Por alturas do lançamento da Gamecube, no entanto, Samus estava de volta, com criadores diferentes mas o mesmo nível de competência e qualidade; desse ponto em diante, a astronauta de fato vermelho e amarelo não mais voltaria a falhar o lançamento de qualquer outra consola da Nintendo, sendo cada nova aventura quase unanimemente elogiada, mesmo quando a história ou jogabilidade apresentavam claras lacunas, como em 'Metroid: Other M', para Nintendo Wii. Quanto a 'Super Metroid', mesmo trinta anos e várias gerações de consolas após o seu lançamento, continua a ser não só considerado um dos melhores jogos da franquia, e de sempre, como também alvo de adaptações e modificações não-oficiais por parte da comunidade 'hacker' – um sinal inequívoco de que um título se mantém relevante. Parabéns, e que a sua influência se faça ainda sentir por muitos e bons anos.