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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

25.12.23

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 24 de Dezembro de 2023.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Qualquer adepto português dos anos 80, 90 e 2000 tem 'na ponta da língua' o nome de uma série de jogadores históricos dos campeonatos da época, dos elementos da Geração de Ouro a ídolos mais modernos, como o já lendário Cristiano Ronaldo. Numa categoria logo abaixo da destes, menos 'universais' mas não menos conceituados, existe todo um outro lote de jogadores que chegam a ídolos dentro do seu próprio clube, sem nunca extravasarem por aí além esse patamar, do qual, em Portugal, fazem parte nomes como Aloísio, Iordanov ou Isaías, para citar apenas exemplos ligados aos três 'grandes'.

É, também, deste último grupo que faz parte o nome que hoje recordamos, que celebra neste dia 24 de Dezembro o seu sexagésimo-sexto aniversário e que, há exactos trinta anos, partia para os últimos seis meses de uma carreira que abrangeu mais de uma década e meia, quase sempre ao serviço de apenas dois emblemas. Falamos de António Santos Ferreira André, médio-defensivo vila-condense formado no Rio Ave mas que, entre finais da década de 70 e meados da de 90, se celebrizou ao serviço primeiro do 'vizinho' Varzim e, mais tarde, do Futebol Clube do Porto, onde foi esteio do meio-campo durante grande parte da sua carreira.

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De facto, à excepção dos três primeiros anos da carreira sénior (passados com as camisolas do Rio Ave e Ribeirão) António André foi 'homem de dois clubes', amealhando mais de cem jogos pelo Varzim entre finais da década de 70 e meados da seguinte antes de se transferir para os 'Dragões' do Norte, onde viria a passar as nove temporadas até ao final de carreira. Durante esse período, o médio viria a disputar mais de duzentos e setenta e cinco jogos pelo clube das Antas, e ganharia tudo o que havia para ganhar: sete títulos de Campeão Nacional da I Divisão (o último dos quais celebrado há exactas trinta épocas, no Verão de 1994), três Taças de Portugal, seis Supertaças e, em 1987, a 'tríplice' europeia, com uma Taça dos Campeões Europeus, uma Supertaça Europeia e uma Taça Intercontinental, feito apenas superado já no século e Milénio seguintes, quando o 'super-Porto' venceria a Taça UEFA e a Liga dos Campeões em anos consecutivos. Pelo meio, ficaria também a natural e expectável chamada à Selecção Nacional, pela qual alinhou no Mundial de 1986 - aquele que viria a ficar na História por um dos melhores golos de todos os tempos, da autoria de Diego Maradona.

Ao 'pendurar as botas' e transitar para a função de olheiro (do FC Porto, claro), António André podia, assim, gabar-se de uma carreira ilustre, da qual se retirava com estatuto de ídolo, senão para a geração 'Millennial', pelo menos para os adeptos da 'X' - e sobre a qual se encontrará, certamente, a reflectir nesta quadra natalícia em que também completa sessenta e seis anos, na companhia do filho, o também futebolista André André, notabilizado no Vitória de Guimarães. Parabéns, e que conte ainda muitos!

23.11.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Em finais do século XX, a revista desportiva era já parte do panorama editorial de vários países de todo o Mundo, com publicações tão famosas e sonantes como a 'Sports Illustrated' norte-americana ou a 'France Football'; em Portugal, no entanto, o paradigma era um pouco diferente, com a imprensa desportiva (pelo menos a não-especializada) a ser dominada pelos três 'eternos' diários desportivos, que só em inícios do século XX deixariam espaço a revistas como a 'Futebolista'. Tal hegemonia não impediu, no entanto, que pelo menos uma publicação tentasse 'furar fileiras' e afirmar-se no espaço editorial desportivo português, tendo mesmo chegado a atingir um moderado grau de sucesso nesse desiderato.

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Exemplo dos dois tipos de grafismo da revista durante o seu tempo de vida (Crédito das fotos: OLX.)

Falamos da 'Mundial', uma revista que, apesar de se estender periodicamente a outros desportos, tinha como foco central (e perfeitamente natural) o futebol, que ocupou a maioria das capas da revista desde o seu lançamento, algures em meados dos anos 90, até ao seu desaparecimento das bancas, ainda antes do final do Novo Milénio. Infelizmente, não nos é possível precisar melhor o espectro temporal da publicação, dado esta ser – como a também noventista 'Basquetebol' – uma daqielas revistas das quais poucos vestígios restam para lá de uma série de anúncios da OLX e do ocasional 'post' nostálgico no Facebook – por outras palavras, uma Esquecida Pela Net.

Daquilo que as capas permitem averiguar, a 'Mundial' procurava ter cuidado em alternar o foco entre diversos clubes, bem como entre os principais jogadores de cada um deles, e até aos principais nomes internacionais da época – isto para além de uma marcada (e também bastante natural) vertente de apoio à Selecção Nacional, que vivia, à época, alguns dos seus melhores anos, com a Geração de Ouro a 'dar cartas'. De igual modo, a presença de artigos sobre outras modalidades e eventos - como o 'bodyboard', a Fórmula 1 ou até as Olimpíadas - vem da análise dessas mesmas capas, sendo praticamente impossível encontrar, hoje, dados sobre a editora, longevidade ou até número de páginas da revista – facto algo insólito, tendo em conta que outras publicações da mesma altura (1996-98, pelo menos) se encontram ainda bem documentadas na 'autoestrada da informação'! Ainda assim, é também possível observar uma mudança de grafismo na 'Mundial' entre 1996 e 98, presumivelmente para ajudar a dar um ar menos austero à revista, e mais condicente com o que o público jovem da época procurava de uma publicação deste tipo.

Tendo em conta o posterior sucesso da referida 'Futebolista' e outras publicações semelhantes, não deixa de ser bizarro que a 'Mundial' seja tão pouco lembrada entre os fãs de jornais e revistas de desporto nacionais. No entanto, uma das missões declaradas deste nosso blog é, precisamente, não deixar que tais artefactos de finais do século XX se percam para sempre, e, nesse aspecto, era nosso dever fazer a nossa parte para assegurar que esta 'Mundial' não era vetada ao esquecimento pela mesma geração que, em tempos, a comprou e leu religiosamente - uma missão que, esperamos, se venha a provar bem-sucedida.

23.10.23

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 22 de Outubro de 2023.

NOTA: Por motivos de relevância temporal, este Domingo será Desportivo; regressaremos aos Domingos Divertidos na próxima semana.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O que determina a carreira de um desportista profissional? Esta é, certamente, a pergunta que se colocam muitos fãs dos mais diversos desportos ao verem um atleta com todos os atributos técnicos e mentais para ser 'gigante' notabilizar-se apenas num clube de menores dimensões, sem nunca conseguir dar o 'salto' para um patamar superior, ou, dando-o, 'estatelar-se' ao comprido, nunca passando de 'arraia miúda' entre outros desportistas ao seu nível. É inegável que a sorte tem papel determinante nesta trajectória, quase tanto como atributos como a ética, brio profissional e dedicação – e um dos melhores exemplos disso mesmo é o atleta de que falamos neste post, no dia exacto em que completaria sessenta anos de vida, não fosse a doença prolongada que o vitimou prematuramente ainda antes dos cinquenta anos de idade, em 2012.

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O jogador com a 'sua' camisola.

Falamos de Rashidi Yekini, um dos mais famosos e ilustres 'Grandes dos Pequenos' de sempre do futebol português, e que quase redifine o conceito deste termo, tal como o definimos nos primórdios deste 'post'. Isto porque, apesar de os seus anos áureos terem sido passados ao serviço de um emblema fora da esfera dos 'três grandes', o jogador foi condecorado, durante esse mesmo período, não só com a Bota de Ouro para o então Campeonato Nacional da Primeira Divisão como também com o título de maior goleador de sempre pela Selecção do seu país, a Nigéria, na qual era presença frequente ao lado de nomes como Jay Jay Okocha, Finidi George, Daniel Amokachi, Victor Ikpeba, e os também 'portugueses' Emmanuel Amunike e Peter Rufai, este último outro 'Grande dos Pequenos' que aqui terá, em breve, o seu espaço; coube-lhe, aliás, a honra de marcar o primeiro golo de sempre do seu país numa competição internacional sénior, ao abrir o marcador na vitória por 3-0 frente à Bulgária no Mundial de 1994, momento que também rendeu uma das imagens icónicas do torneio. Para além deste feito histórico, Yekini fez parte da equipa Olímpica da Nigéria para os Jogos Olímpicos de Seoul, em 1988, teve papel determinante na conquista da Taça das Nações Africanas desse mesmo ano (onde foi o melhor marcador), e voltaria a marcar presença, há pouco mais de vinte e cinco anos, no histórico França '98, já com quase três décadas e meia de vida, mas ainda com o pé bem 'afiado'.

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A imagem que correu Mundo em 1994.

Como, portanto, é que um jogador destes tem como ponto alto da carreira as quatro épocas em que se tornou ídolo sadino? Especialmente tendo em conta que, durante esse período, Yekini fez pleno uso do seu principal atributo – o 'faro' de golo - marcando mais de noventa tentos em cerca de cento e quinze jogos e superiorizando-se a qualquer dos avançados dos 'grandes' na época iniciada há exactos trinta anos, em que conquistaria o título de melhor marcador, com vinte e um golos – isto já depois de, na época anterior, ter ultrapassado a bitola de um golo por jogo, marcando trinta e quatro em trinta e duas partidas (!) numa temporada que veria o Vitória FC regressar ao principal escalão do futebol profissional luso. Qualquer jogador com este tipo de trajectória meteórica (mesmo tendo já vinte e sete anos) teria, normalmente, bilhete 'carimbado' para um dos 'grandes' nacionais, senão mesmo europeus

É, no entanto, precisamente neste ponto da carreira de Yekini que a sorte entra em jogo. Isto porque o avançado almejou, sim, dar esse 'salto' - não para um 'grande' nacional, mas directamente para o estrangeiro - mas o mesmo não lhe correu, de todo, de feição. Incompatibilidades com os colegas de equipa nos gregos do Olimpiacos encurtaram a estadia do nigeriano no clube helvético (onde, mesmo assim, conseguiu uma média de quase um golo por cada parte de futebol jogada, marcando seis em apenas quatro partidas!) e a época seguinte, apesar de passada num dos maiores campeonatos do Mundo (a La Liga) viu o atleta disputar apenas catorze partidas, e conseguir uns parcos três golos, em dezoito meses ao serviço do Sporting de Gijón – de longe a pior marca da carreira do avançado até então.

1336244637_extras_mosaico_noticia_1_g_0.jpgYekini no Gijón

Tudo 'chamava' Yekini para 'casa' – e foi, precisamente, para lá que o nigeriano regressou, 'saltando' a fronteira e ainda chegando a tempo de fazer, em seis meses, números semelhantes aos que conseguira em Espanha no ano e meio anterior. Era, no entanto, óbvio que o avançado já não era o mesmo (a idade também pesava...) e a segunda passagem de Yekini pelo Setúbal saldou-se em apenas seis meses, findos os quais o nigeriano rumou à Suíça, para, ao fim de quatro longos e agonizantes anos, fazer finalmente uma temporada ao seu nível, obtendo uma média de um golo a cada dois jogos ao serviço do Zurique – catorze em vinte e oito partidas.

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No Zurique, o jogador gozou de um 'segundo fôlego' na carreira.

A carreira do goleador parecia, assim, gozar de um segundo fôlego, apesar da provecta idade (pelo menos em termos futebolísticos), mas foi sol de pouca dura. Os anos seguintes viram o avançado 'saltar' de emblema inexpressivo em emblema inexpressivo, até um novo regresso (no caso ao Africa Sports, 'gigante' africano onde um jovem Yekini se notabilizara) lhe permitir explanar de novo a veia goleadora, marcando mais de cento e dez golos em cento e trinta partidas entre 1999 e 2002.

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Yekini voltaria, em final de carreira, ao clube onde primeiro se revelara.

A carreira, no entanto, não foi terminada nessa segunda 'casa', nem na portuguesa, mas sim no Julius Berger, do seu país natal, onde ainda foi a tempo de contribuir com dez golos nas trinta partidas em que participou – isto, claro, se não contarmos com a temporada que realizou ao serviço do também nigeriano Gateway, aos quarenta e um anos (!), marcando sete golos em vinte e cinco partidas na temporada de 2005. Sete anos depois, problemas de saúde física e mental vitimavam o homem que, mais de uma década após a sua morte e três depois do seu período áureo, naquele que seria o dia do seu sexagésimo aniversário, continua a ser lembrado como o maior goleador de sempre do seu país, ídolo eterno do Estádio do Bonfim, e exemplo 'acabado' tanto de 'Grande dos Pequenos' como de jogador que merecia mais do que conseguiu na sua carreira. Que descanse em paz.

 

28.11.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Apesar de a música ter, pelo menos nas últimas décadas, uma relação simbiótica com certos aspectos do desporto, e do futebol em particular (basta lembrar os eternos 'cânticos' entoados a plenos pulmões por qualquer grupo semi-organizado de adeptos, e muitas vezes baseados em verdadeiros êxitos radiofónicos) foi apenas na ponta final do século XX que esse mesmo laço começou a ser explorado, primeiro através de singles entoados pelos próprios artistas (e, invariavelmente, algo embaraçosos), depois de álbuns de temas alusivos ao desporto-rei e, finalmente, através da incorporação de temas especialmente compostos para competições específicas. E a verdade é que o primeiro exemplo desta última categoria provou, desde logo, a validade desta última experiência, afirmando-se como um sucesso transversal tanto ao reduto desportivo como ao mercado 'pop' mais alargado.

Falamos de 'La Copa de La Vida' (também muitas vezes conhecida como 'The Cup of Life' ou simplesmente 'Allez, Allez, Allez') canção 'feita por encomenda' para o Mundial de França '98, e que ajudou a cimentar o seu intérprete, Ricky Martin, enquanto 'pop star' de apelo internacional, depois de a anterior 'Maria' o ter dado a conhecer ao Mundo. E a verdade é que esse êxito e fama foram bem merecidos, já que 'The Cup of Life' é uma daquelas 'malhas' irresistíveis e intemporais, que mesmo quem não a ouve há anos consegue trautear (não haverá, certamente, quem tenha ouvido esta faixa e não se lembre, pelo menos, do refrão 'Go, go, go, allez, allez, allez!'). Grande parte desse apelo deriva, precisamente, da intepretação entusiástica de Martin, um porto-riquenho sem qualquer razão de interesse no campeonato em causa (onde nem a sua selecção nem a dos EUA competiam) mas que não deixa por isso de 'dar o litro', aliando-se à 'gingada' e contagiante batida latina (que remete ao desporto-rei através do uso de apitos na faixa instrumental) para transmitir a emoção e paixão inerentes a qualquer competição desportiva, e ainda mais à maior prova futebolística a nível internacional.

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A capa do single da música.

Não é, pois, de estranhar que a referida música tenha tido 'vida' muito para lá do final do campeonato para a qual foi concebida, não só gozando de uma saudável presença nos 'tops' musicais da época como continuando a ser apreciada e até descoberta até aos dias que correm, afirmando-se como um dos melhores exemplos do poder de que um produto 'sinergístico' e 'trans-média' pode gozar, quando o seu processo de criação envolve mais coração do que calculismo – um pouco como acontece, aliás, com o próprio desporto a que alude...

 

24.11.22

NOTA: As imagens neste post foram cedidas em exclusivo ao Anos 90 pelo Sr. Joel Pereira, a partir da sua colecção pessoal. Ao mesmo, os nossos sinceros agradecimentos.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Enquanto principal competição futebolística ao nível das Selecções, não é de estranhar que cada novo Campeonato do Mundo desperte, durante as duas semanas em que se desenrola, o interesse dos periódicos desportivos um pouco por todo o Mundo, não sendo Portugal, de todo, excepção neste campo. No entanto, enquanto a maioria das publicações se contenta em fazer algumas capas alusivas ao certame, outros há que vão mais longe, dedicando suplementos inteiros à análise da competição em curso. O lendário jornal desportivo português 'A Bola' insere-se nesta última categoria, tendo dedicado, ao longo dos anos, vários números especiais da sua revista-suplemento a diferentes Mundiais – incluindo, em 1994, ao dos Estados Unidos.

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A capa do suplemento (crédito: Joel Pereira/OLX)

Esta revista, simplesmente designada pelo mesmo nome da competição, e que se encontra hoje quase totalmente Esquecida Pela Net (obrigado, Sr. Joel, pela cooperação no envio de fotos) tinha uma estrutura semelhante à de outros números do Magazine A Bola, reunindo uma série de artigos e secções mais ou menos detalhadas alusivas ao tema em causa; no caso, podemos encontrar entre as suas páginas, entre outros, uma galeria de cartazes alusivos à competição, bem exemplificativos do estilo gráfico adoptado pelos organizadores, e uma relação de atletas com ligação ao Campeonato Português presentes entre as equipas em prova – sempre com a qualidade jornalística que era, e continua a ser, apanágio do jornal em causa. O resultado é um suplemento que, à época, terá certamente feito as delícias dos leitores do periódico – entre os quais não deixavam de se contar uma enorme quantidade de crianças e jovens – da mesma forma que alguns dos seus outros congéneres, como o relativo à Geração de Ouro, lançado alguns anos depois, e de que aqui, paulatinamente, falaremos.

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Algumas das páginas e secções da revista (crédito: Joel Pereira/OLX)

Em suma, com a produção e lançamento desta revista em conjunto com o diário-base, 'A Bola' soube capitalizar sobre um nicho de mercado pouco explorado – é, aliás, de admirar que este seja o único suplemento deste tipo a surgir na senda de um certame como um Mundial de Futebol – sem com isso descurar os seus habituais padrões de qualidade, criando uma publicação com um 'tempo de vida' e interesse forçosamente mais limitado do que outros da mesma série, mas que não deixa, ainda assim, de ser um valioso documento de época para fãs de futebol que desejem reviver (ou, até, conhecer) um dos Mundiais da fase áurea de finais do século XX

23.11.22

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Apesar de ser tão ou mais popular em Portugal quanto no resto da Europa ou na América do Sul e Latina, o futebol só recentemente se tornou tema viável para obras de banda desenhada criadas em território luso, sendo os seus principais representantes a série de humor 'Os Campeões' e a também cómica (ainda que de forma não intencional) 'Cristiano Ronaldo Strike Force'; antes destes exemplos – todos criados já do lado de 'cá' do Novo Milénio – o único exemplo de BD expressamente dedicada a este tema era o álbum de cariz didáctico e informativo sobre a 'História dos Campeonatos do Mundo', lançado pelas Edições ASA em meados da década de 80.

Esta escassez de títulos dedicados ao desporto rei 'made in Portugal' obrigava, por sua vez, os jovens bedéfilos lusos a recorrer a fontes do país irmão, o Brasil, para satisfazerem a sua vontade de ler 'histórias aos quadradinhos' ambientadas em torno de jogos de 'bola'. Mesmo do outro lado do Atlântico, no entanto, a oferta não era tão abundante quanto se pudesse pensar – além do personagem Pelezinho, criado por Mauricio de Sousa (também criador da Turma da Mônica) e que apareceria apenas esporadicamente durante os anos 90, sendo mais tarde 'sucedido' por Ronaldinho, apenas um título dedicava verdadeiramente a sua atenção ao futebol, muito por conta da paixão assolapada do seu protagonista pelo desporto – a qual, por sua vez, levaria à publicação de uma memorável série de quatro revistas na Primavera de 1994.

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Três das quatro capas da série.

Falamos de 'Zé Carioca na Copa', o título alternativo dado aos números 1997 a 2000 da edição normal da revista 'Zé Carioca', e justificado pela presença de uma história principal em que o simpático papagaio procura (e consegue) viajar para os EUA, a fim de assistir ao vivo ao Mundial que ali se desenrolava naquele ano. Escusado será dizer que, pelo caminho, o nosso herói vivia uma série de peripécias e vissicitudes – muitas delas ligadas à dificuldade em sair do próprio Brasil, derivada da sua perpétua falta de fundos monetários – que requeriam o uso de toda a sua 'malandrice' para ultrapassar, na prossecução do objectivo-mor delineado.

Editada durante uma das fases áureas da edição brasileira da revista (pouco depois de uma das poucas mudanças de 'visual' que não foram acompanhadas de um decréscimo de qualidade) esta história em quatro partes apresenta, evidentemente, um altíssimo nível técnico, como era apanágio da publicação na altura (o qual, aliás, fica bem patente logo nos cuidados desenhos das capas acima reproduzidas) prometendo muitas e boas gargalhadas aos fãs de futebol, do personagem, ou simplesmente das revistas de BD da Disney publicadas pelo ramo brasileiro da Abril à época.

De referir que, além destes quatro números, houve ainda um outro, especial, também intitulado 'Zé na Copa' e lançado em 1998, como brinde na compra de outras revistas Disney, como forma de assinalar a competição realizada nesse ano; no entanto, a informação sobre esta BD disponível na Internet não vai muito além da capa, pelo que nos é impossível analisá-la mais a fundo.

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Capa da edição especial alusiva ao Mundial de França '98

No cômputo geral, e apesar do exemplo existente ser de alto nível, a ausência de mais publicações alusivas aos Campeonatos Mundiais é desapontante, sendo que nem o outro grande fã do desporto-rei da banda desenhada da época, o Cascão da Turma da Mônica,teve direito a qualquer história ou número especial na sua revista. Ainda assim, como diz o ditado, o que existiu foi 'melhor que nada', especialmente dado que 'Zé Carioca na Copa' é tão bom que ainda se 'aguenta bem' nos dias de hoje, quase trinta anos após a sua publicação – um feito que, convenhamos, não está ao alcance de qualquer um...

22.11.22

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Enquanto competição mais importante do panorama do futebol a nivel internacional (isto é, de selecções por oposição a equipas) não é de admirar que cada nova edição do Mundial de Futebol desperte, forçosamente, uma quota-parte de interesse, que nem mesmo controvérsias como a actualmente vigente em relação ao Qatar conseguem eliminar totalmente. Com isto em mente, ão-pouco é de admirar que, derivado desse mesmo interesse, surjam no mercado, a cada quatro anos, uma verdadeira catadupa de novos produtos licenciados alusivos à competição, normalmente adornados com a respectiva mascote e prontos a servirem como recordação eterna da referida competição – entre os quais se conta, invariavelmente, um jogo de vídeo oficial, permitindo não só recriar a competição e respectivas fases de acesso em casa, como também mudar (ainda que apenas virtualmente) o decurso da mesma, com base na perícia de dedos.

Os Mundiais dos anos 90 não foram, de todo, excepção a esta regra – pelo contrário, por terem decorrido numa época em que os jogos de vídeo gozavam a sua era dourada, todas as três competições daquela década tiveram direito a reprodução electrónica nos principais sistemas da altura, tendo algumas delas, inclusivamente, adquirido o estatuto de clássicos (ainda que menores) entre a oferta de jogos da época.

Foi o caso, por exemplo, de 'World Cup Italia '90', jogo que muitas crianças e jovens portugueses receberam de oferta com a sua Mega Drive – no inescapável e icónico cartucho triplo que incluía, ainda, outros dois clássicos da época, 'Columns' (o concorrente da Sega ao lendário 'Tetris') e o jogo de corridas de motos, 'Hang-On' - mas que surgiu também na Master System, ainda que apenas um ano depois. E a verdade é que é discutível se o jogo da US Gold teria conseguido o estatuto de clássico sem esse 'empurrão', já que se trata de um jogo de futebol bem típico e dentro da média do que era feito na época, com vista isométrica ao estilo dos (verdadeiros) clássicos 'Sensible Soccer' e 'Goal', e música - sim, música! - a mascarar a ausência de som ambiente.

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As capas dos três jogos alusivos à competição de 1990, e um exemplo da jogabilidade da versão para Mega Drive

Em suma, um título divertido, mas que sem a (genial) estratégia de marketing por parte da Sega, talvez nunca se tivesse destacado de entre os titulos de desporto para as consolas da mesma. De referir que este jogo recebeu, ainda, uma versão para os computadores caseiros da época ('Italy 1990', também conhecido como 'World Class Soccer') a qual fica, sem quaisquer surpresas, muito próxima dos supramencionados 'Sensi' e 'Goal' no tocante a gráficos e jogabilidade, sendo, também ele, um jogo bastante típico e mediano para o que o mercado dos PCs oferecia na época.

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Capa do jogo, e exemplo da jogabilidade da versão para Super Nintendo

O mesmo, sem tirar nem pôr, se pode dizer de 'World Cup USA '94', novamente produzido pela US Gold (na sua última aparição antes de entregarem o 'trono' à Electronic Arts) para todos os sistemas da época (incluindo os PCs da era pré-Pentium e placas aceleradoras, que desta vez não teve direito a título exclusivo lançado separadamente) e que, previsivelmente, tem muitas semelhanças com o seu antecessor, nomeadamente a vista a partir de cima. É claro que os aspectos técnicos surgiam muito mais cuidados, reflectindo os consideráveis avanços tecnológicos almejados apenas naqueles quatro anos, mas de resto, não há muito a dizer, sendo este – de longe – o menos memorável dos títulos oficiais lançados durante a década em análise.

Felizmente, a mudança de 'governo' revelar-se-ia mais bem sucedida do que alguém alguma vez poderia imaginar, ao ponto de, chegada a altura de lançar mais um título alusivo a um Mundial de Futebol, a nova 'chefe' ter já conseguido instaurar uma franquia tão bem sucedida que lhe permitia lançar jogos praticamente em piloto automático (algo que, aliás, sucede até aos dias de hoje) e atingir, ainda assim, padrões de qualidade consideravelmente elevados.

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Capa e jogabilidade do título de 98

É o caso de 'World Cup '98', uma mera versão reduzida e simplificada do absolutamente clássico 'FIFA '98: Road to the World Cup' - com vários modos de jogo a menos, e um acervo de equipas forçosamente limitado às participantes no certame em causa, mais duas mãos-cheias de 'repescados', entre eles uma equipa de Portugal da fase áurea da Geração de Ouro – mas que não deixou, ainda assim, de ser um sucesso de vendas, muito por conta da reputação de que a série principal já começava a gozar. Como seria de esperar, os avanços técnicos em relação ao jogo de 1994 são consideráveis (ou não se tivesse, entretanto, entrado na era dos jogos em 3D, com ambiente realista e comentários quase em tempo real) embora, no cômputo dos jogos da época, e especificamente da série FIFA, o título tenha menos destaque, quer a nível técnico, quer de jogabilidade, limitando o seu público a quem ainda não tinha 'FIFA '98', ou a quem fazia questão de ter absolutamente TODOS os títulos lançados pela editora de referência para jogos de desporto de finais do Segundo Milénio.

Antes de darmos por concluída esta breve revisão dos títulos electrónicos oficiais dos Mundiais dos anos 90, uma nota ainda para alguns jogos que, apesar de não gozarem da licença oficial, faziam ainda assim questão de incluir no nome a chamativa expressão 'World Cup'. É o caso, nomeadamente, de 'Nintendo World Cup', jogo de costela 'arcade' pura e dura lançado para NES em 1990, em que cada equipa apenas tinha cinco jogadores e faltas e foras-de-jogo eram conceitos inexistentes; e que serviu de base ao não menos popular 'Soccer', para Game Boy, bem como para alguns jogos com a licença 'Captain Tsubasa', por terras japonesas.

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O jogo da Nintendo tinha uma forte costela 'arcade'

O outro grande exemplo desta tendência foi a série 'Tecmo World Cup', que chegou a ter títulos lançados em 1990 (o primeiro) e 1998, mas que viu também serem organizadas competições em quase todos os anos intervenientes, tornando as duas datas correctas em meras coincidências. Tal como 'Nintendo World Cup', trata-se de uma série mais divertida que realista, de jogabilidade extremamente simples (nos primeiros jogos, praticamente só é preciso um botão para se ser bem-sucedido) e com mais em comum com 'Super Sidekicks', da Neo Geo, do que com as séries 'FIFA' ou 'International Superstar Soccer', constituindo assim uma excelente proposta para quem gosta do seu futebol virtual 'descompromissado' e mais parecido com uma partida de rua do que com a alta competição.

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Capa e jogabilidade da versão para Master System da edição '93 de 'Tecmo World Cup'.

Em suma, não é difícil de perceber que os Mundiais dos anos 90 – tal como os seus sucessores – serviram de inspiração para uma gama bem variada de títulos, a maioria dos quais sem muito que os distinguisse dos seus congéneres mais 'generalistas', mas qualquer deles certamente instigador de profunda nostalgia em pelo menos um segmento dos leitores deste blog.

20.11.22

NOTA: Dada a natureza temporalmente sensível do post de hoje, trocámos a ordem dos posts de Domingo, sendo que celebraremos o Domingo Divertido na próxima semana.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

E numa altura em que tem início mais um Mundial de futebol – o qual, apesar de uns meses adiantado em relação ao 'normal' e envolto em controvérsia, não deixa ainda assim de ser um evento de monta no panorama desportivo mundial – nada melhor do que recordarmos as competições deste calibre que tiveram lugar nos anos 90.

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E a verdade é que os adeptos noventistas não tiveram de esperar muito para ver o primeiro Mundial de Futebol da nova década, o qual teve lugar logo no primeiro Verão da mesma. Tratou-se do Mundial de Itália  '90 (segunda nação 'repetente' no tocante à recepção de eventos deste tipo) hoje em dia melhor lembrado pelo mítico jogo licenciado lançado para a Sega Mega Drive, mas que, visto a mais de três décadas de distância, marcou também uma certa transição entre o futebol da 'velha escola' dos anos 80 e o estilo que marcaria a primeira metade da década seguinte; esse sentimento de 'fim de uma era' é, aliás, hoje em dia exacerbado pela presença da Alemanha Ocidental, vencedora do certame e que, sem o saber, participava no seu último evento desportivo nessa capacidade, vindo a queda do Muro e respectiva unificação vindo a ocorrer meros meses depois, em Outubro de 1990, e das equipas da União Soviética e Checoslováquia, também elas à beira da dissolução como resultado da Guerra Fria, no ano seguinte. Mais a Oeste, o Mundial de '90 foi, também, responsável pelo 'nascimento' dos Camarões para o Mundo do futebol, bem como pela re-emergência do futebol inglês das trevas em que habitara na década de 80, tendo começado a criar as condições para a criação daquele que é, hoje, o maior campeonato de futebol do Mundo (a famosa Premiership) alguns anos mais tarde. Em termos futebolísticos, no entanto, tratou-se de um Mundial pobre, longe das emoções e momentos de antologia criados pelos seus antecessores directos, e que se destaca apenas por ter proporcionado aos adeptos uma das últimas oportunidades de ver craques como Diego Maradona em acção a nível internacional.

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O mesmo não se pode dizer do Mundial de 1994, disputado nos EUA, um país ainda hoje emergente para o futebol, mas certamente entusiástico em relação ao mesmo, e cuja equipa conseguiria uma inesperada qualificação para os oitavos-de-final (na qualidade de 'melhor terceiro'), tendo sido eliminados pelos futuros campeões, o Brasil (ironicamente, no Dia da Independência norte-americano, 4 de Julho.). Agora já com a Alemanha unificada e a Rússia (enquanto país independente) no lote de participantes, este Mundial ficou marcado pela final decidida a 'penalties' – a primeira na História da competição – e pela consagração da segunda 'fase imperial' do Brasil enquanto nação futebolística, com uma equipa extraordinária em que pontificavam nomes como Bebeto, Dunga, Romário e tantos outros bem conhecidos dos adeptos da época. Os 'canarinhos' não eram, no entanto, a única equipa a revelar ao Mundo autênticos craques – a Bulgária, por exemplo, viu despontar nesta competição a 'lenda' Hristo Stoichkov, grande responsável pela sua surpreendente prestação na prova. No cômputo geral, um Mundial de transição, mas bem melhor sucedido do que o seu antecessor.

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Qualquer marca atingida pela prova de '94 seria, no entanto, largamente superada pelo seu sucessor, o lendário Mundial de França '98 – talvez a mais 'presente' e memorável competição internacional da década para a maioria das crianças e jovens da época. Vencida pela anfitriã França - então ainda 'movida' a Zinedine Zidane - frente a um Brasil já sem muitos dos seus nomes do certame anterior, mas que contava na frente de ataque com um certo jovem de cabeça rapada e apelidado de 'Fenómeno', a prova mostrou já um estilo de futebol exacerbadamente moderno, próximo ao praticado hoje em dia, e proporcionou aos adeptos momentos de enorme emoção, como os provocados pelos intensamente emotivos jogos das meias-finais (que viram o Brasil eliminar a entusiasmante Holanda, praticante do segundo melhor futebol do certame, e a França sobrepôr-se à 'surpresa' Croácia) e da própria final, em que a nação anfitriã, 'movida' a Zinedine Zidane, soçobraria perante a 'Canarinha', que se sagraria assim vice campeã mundial.

No cômputo geral, e apesar de a Selecção Nacional portuguesa – então a assistir ao dealbar da Geração de Ouro - ter primado pela ausência de qualquer das três competições, os Mundiais da década de 90 não deixaram (ainda mais que os da anterior, e quase tanto como os da seguinte) de deixar a sua marca entre os jovens adeptos da época, portugueses e não só; pena, pois, que o estilo de futebol nelas praticado se encontre, há muito, extinto em favor de um futebol mais táctico, pausado e pensado. Ainda assim, quem lá esteve (ou antes, quem viu pela televisão) certamente se lembrará das emoções que cada uma destas provas suscitou no seu pequeno coração de adepto, fazendo, sem dúvida, crescer a sua paixão pelo desporto-rei – o que, no fundo, se pode considerar um sucesso no que toca a uma competição deste tipo.

15.06.21

NOTA: Este post é relativo a segunda-feira, 14 de Junho de 2021.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A imagem é icónica – um jovem adolescente, de cabelo pontiagudo, conduz a bola por um campo interminável afora, aproximando-se de uma baliza que vai, gradualmente, aparecendo no horizonte. Uma vez as redes à vista, o mesmo desfere um potente remate; o guarda-redes adversário estica-se, mas em vão – a bola ultrapassa-o, em arco, e anicha-se literalmente nas redes, por vezes chegando mesmo a furá-las, tal a violência do tiro.

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Podem começar já a festejar...este já lá mora

A cena é, claro, retirada de ‘Captain Tsubasa’, quiçá a mais famosa série animada sobre futebol de todos os tempos, e uma velha conhecida das crianças portuguesas de finais do século XX e inícios do XXI. Isto porque, ainda antes da memorável transmissão, no canal Panda, da dobragem espanhola de ‘Captain Tsubasa J', e das subsequentes (e múltiplas) transmissões da série original e de ‘Road to 2002’ com dobragem portuguesa, sob o título ‘Oliver e Benji - Super Campeões’, a primeira encarnação da série já havia passado nas RTPs, no início da década de 90, com o título ‘Capitão Hawk’ - uma ‘mais ou menos tradução’ do título original da série – e na sua versão original em japonês. Ou antes, os primeiros 50 e poucos episódios passaram em japonês (na RTP1); a partir do episòdio 54, a série passa para a RTP2, e é, inexplicavelmente, transmitida na dobragem italiana!

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Cena-título do genérico da série original de 'Captain Tsubasa', transmitida na RTP em 1993

Ainda assim, este foi, para muitas crianças, o primeiro contacto com uma das mais míticas séries da primeira vaga de anime – contacto que se viria, posteriormente, a restabelecer aquando da transmissão da série no Panda (a ‘reprise’ na SIC e TVI já foi mais relevante para a geração seguinte do que propriamente para a que seguira a série em 93-94.)

O que muitos dos jovens fãs de Tsubasa talvez não soubessem (ou que entretanto podem ter esquecido) é que houve, durante os anos a que este blog diz respeito, várias outras séries sobre futebol a passar na televisão portuguesa – nenhuma, obviamente, com o nível de sucesso de Oliver, Benji e seus companheiros, caso contrário seriam recordadas até hoje. Ainda assim, em tempo de Europeu, vale a pena recordar estes desenhos animados, ainda que nenhum deles fizesse referência a esta competição ou fosse sequer feito neste continente.

E já que iniciámos este post com uma referência a Oliver e Benji, nada melhor do que continuar com uma breve alusão a uma série que pouco ou nada tinha a ver com esta. Senão veja-se – ‘O Ponta de Lança’ (no original ‘Ganbare, Kickers!’ trata de uma equipa de futebol de um colégio, que tenta a todo o custo não ser o ‘bombo da festa’ dos torneios inter-escolas, até se ver reforçada com um estudante de intercâmbio com algum jeito para a coisa, e que revoluciona o estilo de jogar do colectivo, bem como as suas ‘performances’ em campo. Ah, e o capitão e líder desta equipa é o guarda-redes, o único outro elemento com algum talento. E o dito guarda-redes usa boné. E o titular ponta-de-lança tem cabelo preto espetado. E o equipamento da equipa é branco. NADA a ver com ‘Tsubasa’, portanto…

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Qualquer semelhança é pura coincidência...

Sarcasmos à parte, ‘O Ponta-de-Lança’ é TÃO parecido com ‘Super Campeões’ que um espectador mais distraido corre mesmo o risco de confundir as duas séries. Previsivelmente, esta táctica declaradamente ‘copycat’ (‘Tsubasa’ foi criado em 1981 e transformado em anime em 1983; ‘Kickers’ é de 1985, e a versão anime, do ano seguinte) não se traduziu em sucesso, tendo a série tido apenas uma temporada, de 26 episódios, e passado quase despercebida pela RTP1, sensivelmente um ano depois de ‘Tsubasa’ ter sido transmitido na mesma emissora (até aqui o padrão se manteve!), sem no entanto conseguir suprir a lacuna deixada pela partida de Oliver e Benji.

E já que falamos em animes de futebol, uma breve nota para recordar ‘I Ragazzi del Mundial’, ou ‘Soccer Fever’ (o título português era algo como 'A Febre do Mundial de Futebol'), uma co-produção entre o Japão e a Itália alusiva ao Mundial de 1994, e a única das séries aqui abordadas a ter ligação directa a uma prova real do mundo do futebol, ainda que não ao Campeonato Europeu.

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As personagens principais de Soccer Fever, de 1994

Nela, um jornalista reformado aproveita o entusiasmo do jovem neto pela prova em causa para recordar as peripécias que vivera mais de 60 anos antes, durante a cobertura do Mundial de 1930. Estas histórias serviam, então de pretexto para dar lições de ‘história ficcionada’ sobre a prova do início do século, numa espécie de ‘Horrible Histories’ futebolístico. Uma série bem escrita, bem animada e com um grande tema de abertura, mas que por qualquer razão passou despercebida aquando da sua transmissão no Canal Panda, em finais da década de 90 – e escusado será dizer que pelo menos essa transmissão portuguesa se insere na cada vez mais vasta categoria de Esquecidos Pela Internet…

Uma série com ESTE tema de abertura não merece cair no esquecimento...

O mesmo, aliás, se pode dizer da última série abordada neste post. Transmitida no Batatoon com o genérico título de ‘Histórias do Futebol’, afirmava-se como a verdadeira trasladação do conceito de ‘Horrible Histories’ para um contexto futebolístico, apresentando as viagens através do tempo de um locutor de futebol escocês (de boina e kilt – afinal, estávamos nos anos 90…) e do seu microfone, que tinha vida própria. Em cada episódio, este duo visitava uma época diferente da História (daí a parecença com Horrible Histories) para assistir a uma partida de futebol entre equipas convenientemente ‘adaptadas’ ao período em causa, durante os quais havia ensejo de realçar e explicar uma das regras oficiais do jogo (daí a tradução inglesa do título como ‘Official Rules of Football’.)

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Esta era, também, uma série bastante boa, sem ser nada de extraordinário; no entanto, nos dias que correm, a mesma parece ter sido quase totalmente esquecida pelos internautas, a ponto de haver exactamente UM tópico em toda a Internet lusófona que a recorda – e episódios, só em Inglês, naturalmente...

Como tema de abertura, este também não é nada mau...

Mesmo esquecidas como hoje em dia são (com a óbvia excepção de ‘Tsubasa’ que, qual fénix, regressa de tempos a tempos para cativar mais uma geração de jovens adeptos) vale a pena fazer menção a estas séries, que procuravam unir duas das principais paixões das crianças, sejam de que época forem. É de lamentar, pois, que apenas uma o tenha conseguido – se bem que, no fim das contas, uma seja melhor do que nada…

05.06.21

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

E porque por estes dias se disputa um Campeonato Europeu – no caso, de sub-21 – nada melhor que recordar um produto que fazia as delícias dos pequenos fãs de futebol sempre que uma destas competições se avizinhava – a  boa e velha bola com bandeiras dos países.

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Um ‘clássico’ das grandes superfícies nos anos 90, estas bolas faziam parte da vasta categoria de ‘quase oficiais’ – isto é, eram *quase* do tamanho e peso certos para serem bolas de futebol ‘verdadeiras’, sem nunca atingirem verdadeiramente esse limiar. Quem alguma vez jogou com elas – e teremos decerto sido muitos – com certeza se lembrará do comportamento das mesmas ao serem chutadas, que ficava algures entre uma ‘bola de balão’ mais pesada e uma bola de futebol verdadeira menos dura. Esta característica, aliás, fazia também com que estas bolas fossem ideais para jogos e actividades ao estilo ‘vólei’, já que a bola não doía tanto ao contactar com a mão como as verdadeiras bolas de voleibol, e não ‘voava’ tanto como as de balão.

Não é, no entanto, por nenhuma destas características que estas bolas são recordadas ainda hoje; o principal ‘claim to fame’ das bolas de futebol de países era o facto de, após alguns (poucos) usos, os bonitos painéis com as bandeiras dos referidos países – que tão atractivas tornavam estas bolas para a maioria das crianças – se começarem, aos poucos e poucos, a soltar. Ao princípio, nem se notava; era apenas um ‘descascanço’ aqui ou uma falha no couro ali, coisas normais de uso. Mais uns jogos, e caía o primeiro painel; sem problemas, ainda estão os outros todos, e pelo menos não foi o de Portugal que caiu primeiro. Só que, de losango em losango, iam-se todos soltando, e quando voltávamos a olhar tínhamos uma bola já meio ‘depenada’, e com a borracha toda a ver-se; o fim da história, claro, já todos o conhecemos…

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Ainda assim, com a sua óptima combinação de preço baixo e aspecto atractivo, as bolas de países acabavam por ser um bom investimento; primeiro, porque a maioria das crianças continuava a usar a bola mesmo depois de ‘descascada’ (só se deitava uma bola fora quando a câmara de ar se furava) e, em segundo, porque as bolas eram tão baratas e comuns que, mesmo durando pouco, eram fáceis de repor – bastava acompanhar os pais ao hipermercado mais próximo e sair de lá com uma, novinha, reluzente, e pronta a ‘rebentar’ em jogos diários com os amigos, na rua ou no pátio da escola.

Hoje em dia, estas bolas foram substituídas por outros modelos, nomeadamente a popular bola com as cores da bandeira nacional; para a maioria das crianças dos anos 90, no entanto, a bola das bandeiras foi, e provavelmente continuará a ser, A bola, protagonista de muitas e saudosas memórias dos jogos de futebol no recreio – com ou sem os losangos todos no sítio...

 

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