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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.06.24

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

O conceito de um produto Esquecido Pela Net já não será, de todo, desconhecido dos leitores deste blog; de bebidas sem qualquer presença nostálgica a capas de revistas há muito esquecidas, foram já várias as temáticas aqui abordadas sobre as quais a informação não ia além de uma ou outra imagem ou registo, obrigando a uma abordagem mais especulativa, dedutiva e teorética. No entanto, até mesmo o mais obscuro dos produtos tinha, normalmente, um qualquer elemento que permitia aprofundar a temática em torno do mesmo, fossem memórias pessoais (como no caso do sumo do Astérix), pistas contextuais, ou mesmo informações contidas numa qualquer indexagem dos primórdios da Internet. A revista que trazemos do Quiosque esta Quinta desafia, no entanto, esse paradigma, afirmando-se como o produto mais obscuro alguma vez abordado neste nosso blog – sim, mais do que o sumo do Astérix, até hoje o único 'post' do Anos 90 sem qualquer imagem associada.

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Isto porque a imagem acima, retirada de um leilão do OLX entretanto extinto, representa A ÚNICA INSTÂNCIA da revista Ultra Som presente em toda a Internet, sendo a capa da mesma a única fonte de informações sobre a publicação ou os seus conteúdos, já que o leilão não oferecia informações mais específicas quanto à mesma. Tudo o que é possível saber quanto a esta obscuríssima publicação fica, portanto, reflectido na capa, que mostra tratar-se de uma revista de música de carácter generalista (Luís Represas e os Sétimo Céu partilhavam, aparentemente, as páginas do número 1 com Iron Maiden, Moonspell, Joe Satriani, Santamaria e ainda um artigo sobre música de dança), com preço unitário de trezentos e cinquenta escudos (uma soma considerável para a época em causa) lançada algures nos primeiros meses do ano de 1998 (ou não fosse a capa alusiva ao álbum Virtual XI, dos Iron Maiden, lançado em Março desse ano). Já o estilo editorial e de redacção, outras possíveis secções da revista (como críticas a discos) e outras questões referentes a conteúdos permanecem, infelizmente, uma incógnita, já que a Ultra Som parece ter-se 'afundado' sem rasto num mercado dominado pelo hegemónico Blitz e onde começavam, também, a despontar outras revistas mais especializadas.

Assim, em prol de aprofundar e melhorar este artigo, pedimos a quem conheça ou tenha informações sobre esta publicação que entre em contacto connosco; afinal, se pessoas do Mundo inteiro conseguiram, trabalhando em conjunto, encontrar a potencial fonte de uma música anónima, certamente também a base de fãs do Anos 90 conseguirá identificar aquela que é, até ver, a Revista Mais Misteriosa da Internet...

28.08.23

NOTA: Este 'post' é correspondente a Sábado, 26 de Agosto de 2023.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Os festivais de música ao ar livre vêm-se, desde há três décadas, afirmando como um dos principais elementos do Verão português, a ponto de quase fazerem falta quando não se realizam, como durante a época de pandemia em 2020-21. Mas se cada ano parece adicionar mais e mais eventos deste tipo ao já preenchido calendário estival, continua a haver apenas um certo e determinado número de festivais verdadeiramente icónicos e sinónimos com esta época do ano, alguns dos quais entretanto desaparecidos (como o saudoso Ermal) e outros que celebram por esta altura aniversários históricos. O Festival do Sudoeste, por exemplo, comemorou o ano passado os seus vinte e cinco anos, e, este ano, é a vez de outro nome sonante da cena 'ao vivo' estival lusitana ter atingido um marco 'de respeito', ao assinalarem-se os trinta anos sobre a primeira edição do lendário Festival Paredes de Coura.

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Celebrado anualmente, em Julho e Agosto, na região com o mesmo nome, no Alto Minho, o coloquialmente chamado 'Couraíso' perfila-se, a par do não menos icónico Vilar de Mouros, como o mais destacado festival de música da região Norte de Portugal, tendo, ao longo das suas três décadas, atraído um sem-número de artistas de renome aos seus palcos, e tornado-se local de 'romaria' quase obrigatória para os fãs de pop-rock e rock alternativo portugueses. O que poucos dos que anualmente rumam à Praia Fluvial do Tabuão saberão, no entanto, é que as origens do seu 'paraíso' musical anual remontam a uma era em que muitos deles ainda nem sequer eram nascidos - nomeadamente, ao ano de 1993, quando um grupo de amigos do município decide, de forma independente, organizar um festival de música. Para esse efeito, criam panfletos feitos à mão e impressos de forma não menos artesanal e, aproveitando algum apoio monetário da Câmara Municipal, começam a contactar bandas, com o objectivo de formar um cartaz. Após vários altos e baixos - todos contados com enorme humor por um dos organizadores no podcast do Expresso dedicado à História do festival - acabam por conseguir confirmar cinco nomes, todos nacionais: Ecos da Cave, Gangrena, Cosmic City Blues, Boubacaba e Purple Lips actuam num palco improvisado a 20 de Agosto de 1993, configurando aquele que foi, efectivamente, o primeiro cartaz de Paredes de Coura.

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Cartazes da primeira e segunda edições do certame.

E a verdade é que a perserverança dos organizadores rendeu dividendos: aquele primeiro festival foi bem-sucedido o suficiente para, no ano seguinte, atrair uma banda tão conhecida e respeitada na cena nacional como os Ena Pá 2000, que se juntavam aos históricos Tédio Boys e a mais quatro bandas (incluindo duas repetentes da primeira edição) num cartaz bastante mais atractivo que o do ano anterior. E se 1994 já representou um considerável avanço em relação ao primeiro ano, 1995 elevou o festival a ainda outro nível, podendo considerar-se o ano em que Paredes de Coura verdadeiramente 'explodiu'. Blind Zero, Braindead, Pop Dell'Arte, More República Masónica e Primitive Reason formavam parte de um cartaz ainda cem por cento nacional, mas nem por isso menos atractivo - antes pelo contrário. O ano intermédio da década de 1990 é, ainda, histórico por ser o primeiro (e único) em que o festival foi dividido entre dois dias, no caso 19 e 20 de Agosto.

A partir daí, foi sempre a somar: logo no ano seguinte, o festival passa a ter três dias de duração, durante os quais actuam nomes de monta do panorama nacional, como Da Weasel, e, há exactos vinte e cinco anos, acolhe os primeiros artistas internacionais a pisar os seus palcos, com Red House Painters, Atari Teenage Riot, Anne Clark, The Divine Comedy e Tindersticks a juntarem-se a ídolos nacionais como Moonspell, Clã, Zen, Blind Zero, Belle Chase Hotel e os então 'enormes' Silence 4. A edição seguinte, última do século XX - que trazia nomes como The Gift, Lamb, Gomez, dEUS, Suede, Mogwai, Sneaker Pimps e uns Guano Apes então em estreita relação com o nosso país, é considerada pelo próprio organizador João Carvalho como a apoteose do festival, e a garantia de que o mesmo perduraria ainda durante muitos anos. E a verdade é que, desde então, já lá vão vinte e três, sem que o festival perca a força, relevância ou fama entre os fãs de boa música independente em Portugal e no estrangeiro - antes pelo contrário, como o comprova a sua colocação entre os melhores festivais de música da Europa por parte da prestigiada revista Rolling Stone, em 2005. Parabéns, Paredes de Coura - e que continues a ser uma referência na cena 'ao vivo' nacional durante ainda mais trinta anos.

31.10.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Apesar de não ter tido tanta evolução ou expressão ao longo dos anos como o pop-rock, o hip-hop ou o rock alternativo, o metal não deixou, ao longo das décadas, de ter os seus próprios heróis em solo nacional, dos pioneiros Xeque-Mate a bandas como Ramp, Filii Nigrantium Infernalium, ou outras mais recentes como Painstruck ou Shadowsphere. No entanto, sempre que se fala deste estilo musical no contexto lusitano, surge inevitavelmente um nome que, a pulso, se conseguiu erguer acima de todos estes, afirmando-se hoje como a principal referência do metal português e que teve precisamente nos anos 90 a sua década de afirmação: os históricos Moonspell. E que melhor altura para recordar o legado daqueles que continuam a ser os embaixadores do metal nacional do que neste início da estação com dias mais curtos, 'cinzentos', e convidativos aos ambientes melancólicos por ele propostos?

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A primeira formação do grupo, como sexteto.

Formados em 1992 na zona da Brandoa, nos arredores de Lisboa, os Moonspell optariam, inicialmente, por um estilo mais extremo de metal, com tempos rápidos e vozes ora ríspidas, ora urradas, da responsabilidade do carismático Fernando Ribeiro. Este tipo de sonoridade ficaria oficialmente registado no EP de estreia do sexteto ('Under the Moonspell', de 1994) e nos seus dois primeiros discos, 'Wolfheart' e 'Irreligious' (de 1995 e 1996, respectivamente) mas não tardaria muito até os músicos que compunham o grupo começarem a dar largas à sua vertente mais experimental: 'Sin/Pecado' (de 1998), o disco da afirmação, trazia já alguns elementos electrónicos e passagens mais limpas (como na faixa 'Alma Mater', um 'hino' patriótico que, estivesse o grupo a lançar-se hoje, talvez fosse mal compreendido), e o sucessor 'The Butterfly Effect', do ano seguinte, era já um disco de rock-metal gótico-industrial, a 'milhas' de distância do metal extremo com toques 'folk' que caracterizara os primeiros álbuns da banda.

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O disco de afirmação do grupo, lançado em 1998.

Apesar de pouco consensual entre os fãs – que atribuíram a Ribeiro e companhia o sempre temido rótulo de 'vendidos' – esta sonoridade viria mesmo a marcar a transição do grupo para o novo milénio, que veria o grupo 'explodir' também em terras estrangeiras, e Fernando Ribeiro tornar-se um dos 'decanos' do metal português, no mesmo patamar de um António Freitas. Os dois álbuns seguintes do grupo exacerbavam as tendências góticas do seu som, com cada vez menor presença de vozes agrestes e cada vez maior proporção do tipo de passagens orquestrais, acústicas ou simplesmente melódicas que sempre haviam marcado o metal dos lisboetas. Só com 'Memorial', de 2005, é que a agressividade de outros tempos se voltaria a fazer sentir no som do grupo, que a misturaria às ainda presentes tendências góticas para fazer aquilo a que se convencionou chamar 'dark metal' – um som obscuro, pesado e melancólico, sem no entanto transpôr a linha de demarcação entre metal melódico e extremo.

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A formação mais recente do grupo.

Os álbuns seguintes continuariam a explorar esta vertente, mas sempre sem esquecer a veia gótica, tendo 'Alpha Noir/Omega White', de 2012, sido o primeiro a tornar efectiva a demarcação estilística, com cada um dos discos que o compunham a representar uma das duas vertentes do som do grupo. Um conceito ousado, e que abriria portas à experimentação de '1755', um álbum conceptual sobre o terramoto de Lisboa, com letras em português, lançado em 2017. E se o álbum seguinte – o mais recente do sexteto até agora – voltava a ser 'apenas' mais um álbum de metal, a verdade é que o mesmo dava, também, novo 'abanão' no som do grupo, com algumas tendências progressivas e até mais 'roqueiras' a surgirem no 'caldeirão' de elementos que é o som de Moonspell – um grupo que, pela referida amostra lançada o ano passado, se recusa a abraçar o seu estatuto como entidade veterana do movimento no nosso país, preferindo continuar a experimentar, inovar e correr o tipo de risco calculado que lhe permitiu, há já quase um quarto de século, iniciar o seu percurso rumo a uma fama e fortuna que escapava, e continua a escapar, a tantos outros colectivos do género, em Portugal e não só...

 

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