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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

09.03.23

NOTA: Este 'post' foi inspirado pelo vídeo da ZombiTV, que nos recordou destas e de outras 'quinquilharias' lançadas pela Matutano durante a sua fase áurea nos anos 90.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Os brindes das batatas fritas, cereais, Bollycao ou até iogurtes estiveram entre os aspectos mais marcantes da infância da geração nascida e crescida nas décadas de 80 e 90. Dos brindes dos ovos Kinder (que aqui terão o seu momento) aos pioneiros 'Tous' e 'Janelas Mágicas' do Bollycao a promoções lendárias como a dos Pega-Monstros, a dos Tazos, a das Matutolas ou a das Caveiras Luminosas (todas da Matutano) ou ainda o jogo dos Bollykaos, foram inúmeras as 'quinquilharias' que encheram os bolsos e o coração dos 'putos' daquela época, e que ainda hoje são recordadas com afeição e nostalgia por essa mesma demografia, pelos momentos divertidos que lhes proporcionaram.

No entanto, nem todos os brindes desse período da História são recordados apenas por serem 'tralhas giras' para trazer no bolso ou na mochila. Existiu, também, outro tipo de prémio, que se pautou sobretudo pela novidade e diferença em relação ás estratégias adoptadas pela 'concorrência' – e, em final dos anos 90 (mais concretamente em 1998) a Matutano lançou aquele que se tornaria o principal exemplo deste género de brinde: o jogo do '24'.

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E a verdade é que a 'febre' em torno desta promoção em particular é difícil de explicar, já que um jogo que propõe a realização de operações matemáticas (mesmo em troca de prémios) não seria, à primeira vista, o mais apelativo para a população infanto-juvenil; o '24', no entanto, superou todas as expectativas, cativando a imaginação (e desafiando a inteligência) da mesma geração de jovens portugueses que, anos mais tarde, embarcaria na 'onda' do Sudoku.

O conceito do jogo da Matutano é, aliás, bastante semelhante ao do popular 'puzzle' numérico, passando o objectivo por conseguir obter um resultado igual a '24' com os quatro algarismos contidos em cada cartão; para isso, era permitido a cada jogador utilizar qualquer das quatro operações matemáticas, devendo o mesmo depois explicar o seu raciocínio.  Um exercício que, até então, parecia mais adequado às aulas de Matemática do que ao recreio, mas que, surpreendentemente, conseguiu tracção entre a demografia-alvo de alunos do segundo e terceiro ciclos do Ensino Básico, talvez por apelar à vertente competitiva e 'exibicionista' própria dessa idade – afinal, quem não gosta de se gabar que é mais esperto que os amigos, e de o conseguir depois provar cabalmente?

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Exemplo de um dos cartões do jogo.

Fosse qual fosse o motivo, a verdade é que o jogo do '24' rapidamente se tornou um 'aliado' dos professores de Matemática, que conseguiam fazer dele uma aula tão produtiva quanto divertida, que ajudava efectivamente os alunos a praticar o cálculo mental e consolidar conceitos como o das fracções – uma frase que, certamente, poucos esperariam ler no contexto de um brinde das batatas fritas!

Como havia sucedido com todas as outras 'febres' efémeras, no entanto, também o tempo do jogo do '24' chegou ao fim, assim que a Matutano engendrou e lançou a promoção seguinte. Ainda assim, quem foi da idade certa naqueles idos de 1998 certamente terá memórias de tentar resolver as 'contas' que saíam nas batatas, e de assim aprender Matemática sem nunca suspeitar de nada – um feito que apenas vem comprovar o génio desta icónica promoção da Matutano, e o poder influenciador que a companhia tinha entre os jovens daquela época.

02.12.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Qualquer pessoa que já tenha sido jovem, ou que conviva regularmente com jovens, sabe que, por vezes, há coisas que se tornam 'moda' sem que seja possível explicar porquê – e os anos 90 não foram, certamente, excepção a esse respeito; antes pelo contrário, a década a que este blog diz respeito foi responsável por vários exemplos desta tendência, cada um mais surpreendente que o outro, das míticas meias brancas de raquetes ao assunto do blogue de hoje, os artigos de vestuário e acessórios promocionais.

Não estamos, entenda-se, a referir-nos a 'merchandising' - oficial ou pirata - de uma qualquer propriedade intelectual – falamos, antes, daqueles produtos cuja função era, descarada e declaradamente, fazer publicidade a um qualquer produto ou serviço, da t-shirt oferecida pela garagem local à que se ganhava como 'prémio de participação' num qualquer concurso de uma grande marca, passando pelo supra-sumos desta tendência, o chapéu-de-chuva às riscas com um qualquer logotipo impresso nos 'gomos' brancos.

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Quem nunca teve ou quis um destes?

Para quem não viveu a época, é difícil explicar porque, e até que ponto, este acessório se tornou popular entre os jovens de uma certa idade; quem lá esteve, e ostentou com orgulho um destes chapéus (ou quis, mais que tudo, ter um) certamente se recorda de os mesmos terem, inclusivamente, mais valor do que um chapéu-de-chuva comprado na loja, mesmo que o dito-cujo ostentasse personagens de desenhos animados ou banda desenhada! Um verdadeiro mistério, que nem as três décadas subsequentes foram capazes de resolver.

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Parte da colecção do ano passado da Zara. Sim, a sério.

Mais – a vaga nostálgica que se vem abatendo sobre a geração agora na casa dos trinta a quarenta anos já se estendeu a este tipo de produtos, réplicas dos quais começam a surgir como parte integrante das novas colecções de grandes cadeias de 'fast fashion'; e ainda que os referidos guarda-chuvas ainda não tenham voltado 'à berra', certamente não tardará já muito até que algum 'iluminado' tente cobrar por um chapéu preto e branco a dizer 'Dunlop' – e, provavelmente, consiga vendê-lo a algum trintão nostálgico que se lembre de ter tido um quase exactamente igual ali por volta dos dez ou onze anos...

18.11.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Até finais da década de 90, os peluches estavam conotados, sobretudo, com a primeira infância, ou, na melhor das hipóteses, com elementos mais velhos, mas do sexo feminino (vulgo, eram 'para bebés' ou 'para meninas'); essa tendência sofreu, no entanto, uma completa inversão nos últimos anos do século XX, quando os bonecos feitos do referido material, sobretudo os acoplados a um porta-chaves, foram apropriados pelo movimento alternativo, e transformados em moda adolescente entre os então denominados 'freaks', que os exibiam orgulhosamente nos fechos das suas mochilas Eastpak, Jansport ou Monte Campo, ou até nas igualmente populares sacolas de sarja

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Um exemplo bastante típico do fenómeno explorado neste 'post'.

De facto, entre o último terço da década de 90 e meados da seguinte (e, em menor escala, até aos dias de hoje) não era, de todo, incomum ver jovens de ambos os sexos com penteados ousados, calções, calças e ténis largos e 't-shirts' de marcas radicais ou alusivas a bandas de metal ou propriedades intelectuais 'de nicho' trazerem pendurado da 'pasta' um ursinho (ou uma réplica de outro objecto do dia-a-dia, como um ténis, um estojo ou um telemóvel) feito de peluche; em inícios do novo milénio, quando a cultura 'pop' norte-americana começou a chegar em maior escala ao nosso país, este acervo ver-se-ia, ainda, acrescido de réplicas dos personagens de algumas das mais populares propriedades intelectuais dessa nova vaga, entre os quais se destacam largamente os quatro protagonistas infantis do icónico 'South Park'.

E ainda que esta moda fizesse torcer o nariz a quem estava menos 'dentro' do movimento, a verdade é que a mesma era perfeitamente bem aceite por quem dele fazia parte, sendo uma das raras instâncias em que os jovens do sexo masculino não eram alvo de ridículo por parte dos colegas por uma decisão deste tipo – tendência que, aliás, se continua a verificar hoje em dia, em que o uso de peluches e outros artefactos alusivos à propriedade intelectual favorita são encorajados e utilizados com orgulho por jovens em idade de ensino secundário e até universitário. O que os mesmos talvez não saibam, no entanto, é que devem a possibilidade de expressar a personalidade desta forma à geração dos seus pais (ou, pelo menos, irmãos mais velhos), a primeira a normalizar o uso de peluches por jovens já em plena adolescência como forma de demonstrar individualidade e oposição às normas sociais estabelecidas – ainda que, como tantas outras tendências adolescentes dessa época e de outras, o mesmo se tenha popularizado ao ponto de deixar de ser uma transgressão, e se passar a inserir no campo da 'moda' pura e dura...

26.08.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

As toalhas de praia estavam entre os muitos elementos que as crianças e jovens dos anos 90 utilizavam como meio de afirmar a sua identidade, quer individual, quer enquanto parte de um grupo; e, durante uma parte significativa da segunda metade da referida década, houve uma toalha de praia em particular que se tornou visão frequente em praias de Norte a Sul do País, sobretudo em locais que reunissem altos volumes de 'malta nova'.

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Lá por casa, houve uma muito semelhante a esta...

Falamos, claro, da mítica toalha da Coca-Cola, um daqueles items cuja popularidade é tão difícil de explicar quanto inegável. O que é certo é que a dado ponto, algures entre o ponto médio da década de 90 e os primeiros anos do novo milénio, a toalha vermelha com o clássico símbolo da marca impresso sobre o comprimento tornou-se O 'item' de praia a ter, destronando as suas tradicionais antecessoras com padrões de palmeiras, pôr-do-sol e barcos à vela sobre fundos multi-cores, e até mesmo as igualmente desejáveis toalhas aveludadas e com motivos de desenhos animados. Curioso foi, também, o facto de (ao contrário do que acontecia, na mesma altura, com os iô-iôs comercializados pela Russell) esta 'febre' não se ter estendido a qualquer outro logotipo ou tipo de bebida - as toalhas 'da moda' eram APENAS, e só, as da Coca-Cola.

As origens da súbita 'proliferação' deste tipo de toalha poderão ter estado na mesma promoção que também ajudou a popularizar os 'bips' entre toda uma geração, mas a certa altura, os referidos items extravasaram os confins de qualquer iniciativa profissional, aparecendo (e com frequência) em lojas tanto de lavores como de praia, ao lado de outros artigos não associados a qualquer marca - coincidindo este período com o da sua maior popularidade entre as crianças e jovens.

Fosse qual fosse o contexto que deu origem a esta breve mas marcante 'febre', a verdade é que, durante vários Verões de finais do século XX, uma larga fatia da população jovem portuguesa 'trabalhou para o bronze' sobre um logotipo da Coca-Cola, provavelmente ao lado de vários amigos que ostentavam, com orgulho, precisamente o mesmo item - prova cabal, como se ainda fosse necessário, do poder que um logotipo memorável e uma boa estratégia de 'marketing' podem ter junto de uma determinada demografia...

20.05.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Como já por várias vezes referimos nestas mesmas páginas, os anos 90 foram uma das décadas por excelência para modas estranhas e algo incompreensíveis. Por muito que sejam os anos 80 quem detém essa fama no imaginário popular (e com alguma razão, diga-se de passagem), as modas mais extravagantes dessa década eram, sobretudo, as dos jovens adultos; já nos anos 90, eram as crianças e adolescentes quem incorria num 'crime de moda' atrás de outro, dos famosos fatos-de-treino estilo colete de visibilidade às não menos inexplicáveis meias de raquetes, chinelos de piscina de sola preta ou bolsinhas de trocos – isto sem sequer falar nos penteados. E, apesar de a maioria destas modas mais questionáveis se centrarem nos primeiros anos da década, o final dos 'noventas' também não ficaram imunes a tendências bizarras, das calças largas (com t-shirts a condizer) aos artigos de que falamos hoje, as camisolas com mangas falsas, ou duplas.

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Os penteados são tão anos 90 como as próprias camisolas...

Populares nos últimos anos da década, e inícios da seguinte, estas camisolas não têm, ao contrário de muitas das roupas de que aqui falamos, uma origem identificada, sendo daqueles fenómenos surgidos de um dia para o outro, e rapidamente adoptada por toda uma demografia. O objectivo era, claro, fazer parecer que se tinha uma t-shirt por cima de uma camisola fina de mangas compridas – um efeito que era, inclusivamente, reproduzido de forma literal por quem não tinha no armário uma destas peças: e ainda que o efeito visual não fosse tão espalhafatoso como o da maioria das outras tendências atrás referidas, ficava (e fica) ainda assim a pergunta: porquê?

De facto, ao contrário do que acontece com a maioria das outras modas juvenis, tornava-se difícil discernir o objectivo por detrás desta tendência em particular, o que pode explicar a longevidade relativamente curta da mesma, por oposição às suas contemporâneas; sem grande razão de ser, e sem celebridades mediáticas a servirem de porta-voz do estilo, as camisolas de dupla manga não tardaram a dar lugar a outros tipos de artigo, alguns tão ou mais peculiares do que elas. Talvez por isso, hoje em dia, estas camisolas mais não sejam do que uma vaga recordação para a maioria dos ex-jovens dos anos 90 – muitos deles os mesmos que, na altura, desejavam ardentemente ter um artigo deste tipo...

06.05.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Há coisas que não se explicam – e nos anos 90, houve MUITAS coisas que não se explicavam, a maioria delas no mundo da moda. Senão vejamos: foi esta a década dos fatos de treino de cores garridas, das meias de raquetes, das bolsinhas de trocos, e das peças de vestuário de que hoje falamos, os chinelos de praia com sola grossa e bonecos 'anime' na tira.

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Essencialmente isto, mas mais mal feito

Sim, antes de os chinelos deste tipo se tornarem, quase exclusivamente, em imitações mais ou menos bem feitas de modelos da Nike ou Adidas – incluindo-se nessa lista, também, os modelos infantis - os fabricantes de calçado tinham 'rédea solta' para dar largas à imaginação e criar sapatos um pouco mais imaginativos, sobretudo quando direccionados à população mais jovem; e, para muitos desses mesmos produtores, o conceito de 'dar largas à imaginação' passou por criar um 'template' de chinelo, o qual sofria, posteriormente, alterações apenas ligeiras, sobretudo ligadas ao padrão.

Quem foi de uma certa idade na viragem da década de 80 para a seguinte, e frequentou lojas de artigos de praia, certamente tem uma imagem mental bastante clara deste tipo de chinelo: base grossa, em borracha, de cor uniforme (normalmente preto ou azul-escuro) e tira branca decorada com personagens de 'anime', fossem licenciados (por aqui, recorda-se vagamente um modelo com desenhos do Capitão Falcão) ou retirados da imaginação de um qualquer ilustrador. Um sapato declaradamente e desavergonhadamente feio (para além de não ser especialmente barato) mas que explorava, e bem, o fascínio das crianças da época por tudo o que tivesse padrões inspirados em desenhos animados – e que, apesar de não se poder considerar ter sido uma 'febre', ainda era visto com alguma regularidade nos pés de uma determinada demografia da juventude portuguesa.

Felizmente, tal como os outros 'atentados à moda' descritos no início deste post, também estes chinelos acabaram por cair em desuso, ou pelo menos desaparecer das prateleiras das lojas de praia; enquanto existiram na consciência popular, no entanto, não deixaram de se afirmar como mais uma prova cabal de que 'gostos não se discutem', sobretudo os da juventude...

22.04.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

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Alguns exemplos de penteados bem 'noventistas'.

De entre os muitos identificadores sócio-culturais ligados à aparência utilizados pelas demografias mais jovens, uma das principais é o cabelo. Dos cabelos 'indecentemente' compridos dos primeiros artistas de rock'n'roll (o facto de usarem fatinho de pouco interessava) até às declaradamente contestatárias 'cristas' dos 'punks', passando pelos cabelos longos que são quase imagem de marca de qualquer 'metaleiro', foram (são) muitas as instâncias em que um penteado foi sinónimo de inserção ou pertença a uma 'tribo' social.

Em outros casos, no entanto, os penteados surgem e espalham-se apenas como inexplicável opção estética, quer derivada da 'cópia' de uma celebridade (o famoso 'mohawk' com 'cabelo esparguete' do Cristiano Ronaldo adolescente, por exemplo) quer, apenas, porque 'toda a gente' também tem; e, nesse aspecto, os anos 90 foram pródigos em apresentar ao Mundo estilos 'só porque sim' que percorriam toda a gama entre o ridículo e o sublime.

Os penteados masculinos destacavam-se particularmente neste aspecto, indo desde o cabelo 'à tigela' que 90% dos rapazes da instrução primária tinham (dada a facilidade de executar o referido corte na própria casa de banho lá de casa) às 'farripas' estilo 'boy-band', passando pelo penteado espetado com gel (e potencialmente pintado de louro) característico do movimento alternativo.

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O inconfundível 'cabelo à tigela', talvez o mais popular corte dos anos 90.

Por comparação, as raparigas ficavam-se pelos mais convencionais 'rabos de cavalo' ou pelo cabelo solto, muito em voga na altura, fazendo-se a diferenciação, neste caso, sobretudo pela côr do cabelo, sendo que muitas das jovens mais 'alternativas', uma vez chegadas a adolescentes, punham 'tererés' ou pintavam o cabelo, normalmente de laranja ou vermelho; já as 'betinhas' privilegiavam o corte por baixo das orelhas, ou usavam o cabelo declaradamente comprido, e por vezes com madeixas de outro tom.

Em suma, apesar de não ter contido quaisquer 'horrores' equiparáveis ao 'mullet' ou ao actual 'man-bun' (o 'rabichinho' talvez tenha sido o equivalente mais próximo) a década de 90 foi, ainda assim, berço de muitas opções estético-capilares mais ou menos duvidosas, e variavelmente passíveis de causar embaraço aos seus (agora adultos) ostentadores, sempre que olhem para uma fotografia daqueles tempos...

 

20.04.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

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Quem foi jovem na viragem dos anos 90 para o século e milénio seguinte, certamente terá ainda programada, algures no seu ser, uma resposta inata, quase 'pavloviana', a uma determinada maneira de pronunciar as palavras 'Oh, Elsa' - nomeadamente, responder na mesma moeda, com precisamente a mesma entoação ao estilo cântico de futebol ('Oh Ellll-saaaaa!') e no máximo de volume que conseguir.

Isto porque, durante um determinado espaço de tempo entre o Verão de 1998 e finais da década, esse cântico foi omnipresente entre uma determinada camada da população portuguesa, afirmando-se como um daqueles 'memes' que antecedem a criação do próprio termo, e até da Internet 2.0. Durante aqueles 12 ou 18 meses, o grito foi entoado em pátios de escola, em transmissões em directo de jogos de futebol, em estádios, nos festivais de música de Verão onde tivera origem, por participantes em colónias de férias...enfim, onde houvesse 'malta jovem', aí se ouviria esse cântico, independentemente do contexto ou até sentido do mesmo naquela situação.

Mais curioso era que muitos dos que berravam a plenos pulmões pela Elsa nunca chegaram a saber de quem a mesma se tratava, ou de onde o grito surgira; muitos julgavam ter tido o mesmo origem num anúncio que passava na época (embora também esse simplesmente aproveitasse a febre) e para os restantes, era simplesmente uma coisa que se passara a fazer, que surgira de parte incerta e estava agora na moda. E a verdade é que mesmo a suposta origem do grito (alegadamente ideado como forma de um grupo de participantes no Festival do Sudoeste '98 localizarem uma amiga, chamada precisamente Elsa, e rapidamente tornado 'viral' entre os restantes campistas e, daí, para o resto do Mundo) pode não passar de uma 'lenda urbana'; na verdade, ninguém sabe ao certo a verdadeira origem do 'Oh Elsa' - com a possível excepção, claro, de quem o tenha criado.

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O Festival do Sudoeste, suposto local de origem do grito

Fosse qual fosse a sua origem, no entanto, uma coisa é certa - o cântico pegou, e durante mais tempo do que costuma ser regra para este tipo de coisa. Com o seu balanço ideal de potencial 'memético-viral', valor alto no 'irritómetro' e factor 'malta fixe', o grito passou, durante um breve mas marcante período, a constituir mais um elemento aglutinador e identificador da demografia jovem, que - ao contrário de outros - ultrapassava demarcações de 'tribos' ou níveis de popularidade, unindo toda a população nacional abaixo de uma certa idade num único e ensurdecedor clamor pela quase mítica Elsa, então (presume-se) já de há muito encontrada pelos seus colegas de festival, e para quem deverá ter sido no mínimo estranho ouvir, durante mais de um ano, metade do País utilizar o menor pretexto para berrar a plenos pulmões por ela...

22.12.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Na era pré-telemóveis, a única maneira de recordar e guardar datas e contactos importantes era registá-los nuns livrinhos especialmente criados para o assunto, em que cada página correspondia a um dia, e continha linhas especiais para anotar todas estas informações.

Isso mesmo - as agendas, um daqueles produtos que, a certo ponto durante os anos 80 e 90, representava um dos marcos da passagem à vida adulta, em que havia a necessidade de manter registos sobre coisas sérias. Talvez por isso tantas crianças quisessem ter o seu próprio exemplar, e talvez por isso a alternativa especificamente dirigida a esta demografia - lançada anualmente pela editorial O Livro, em parceria com a RTP, de meados da década de 80 até aos primeiros anos do novo milénio, e novamente em 2010, numa edição especial alusiva ao programa 'Caderneta de Cromos', apresentado por Nuno Markl - tenha feito tanto sucesso à época do lançamento.

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Capas das edições relativas aos anos de 1994 e 96

De facto, no período a que este blog diz respeito, 'A Minha Agenda', a agenda infantil da RTP - que além dos espaços para registo de informação, continha curiosidades, jogos, receitas e outros artigos de interesse para o público-alvo - tornou-se um verdadeiro marco da época natalícia portuguesa, sobretudo graças ao seu anúncio televisivo, cujo 'jingle' era tão ou mais 'pegajoso' que o actual do Pingo Doce, e terá decerto vindo à cabeça de pelo menos alguns dos nossos leitores assim que foi mencionado.

Por aqui, anda-se há dias a cantarolar isto...

Esse anúncio era, aliás, responsável pela criação de grande parte do desejo pel''A Minha Agenda', que no restante, não passava precisamente disso - de uma agenda, ainda que 'apimentada' pelos referidos conteúdos extra. Aliás, na mesma época, existia pelo menos uma opção tão boa ou melhor do que a publicação da RTP, no caso a Agenda Disney, que aliava um conceito semelhante ao d''A Minha Agenda' ao atractivo extra da licença oficial para uso das personagens Disney (lá por casa, era esta que se tinha, e nunca houve qualquer desejo pela troca).

No entanto, tal como no caso do 'Um Bongo', aqui explorado há algumas semanas, 'A Minha Agenda' era (foi, é) um produto cuja estratégia de vendas assentava, sobretudo, na força do seu 'jingle', que lhe dava uma vantagem em relação à concorrência, por muito forte que ela fosse; que o diga quem ficou quase imediatamente a desejar receber um destes volumes no sapatinho após ter sido sujeito ao anúncio num qualquer intervalo dos desenhos animados...

28.11.21

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Numa altura da História em que as gerações mais novas já nasceram rodeadas de todas as inovações que os seus pais viram surgir quando eram da mesma idade, as empresas vêem-se obrigadas a empregar esforços mais árduos do que nunca para impressionar o seu público-alvo. Hoje em dia, tudo é mais colorido, mais rápido, mais barulhento e com mais 'truques na manga' do que tudo o resto, na esperança de conseguir capturar a imaginação da hiper-tecnológica e hiperactiva 'Geração Alfa'.

Antes do 'boom' tecnológico de inícios do século XXI ter para sempre mudado o paradigma da publicidade e 'marketing', no entanto, era bem mais fácil a uma companhia tornar o seu produto num sucesso entre o público mais jovem; bastava, para tal, ter uma ideia verdadeiramente inovadora ou apelativa para a referida demografia – por mais simples que a mesma fosse – e desenhar em torno dela uma campanha de 'marketing' que a tornasse irresistível. Esta estratégia, liberalmente empregue ao longo de toda a segunda metade do século XX, tornou um sem-número de conceitos relativamente simples e modestos em mega-sucessos de vendas, e os anos 90 assistiram a um exemplo perfeito desse mesmo fenómeno, sob a forma da chamada Ondamania.

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Já conhecida no estrangeiro desde os anos 40 – com destaque para os Estados Unidos, onde foi criada e onde era conhecida como 'Slinky' – mas chegada a Portugal em meados da década em causa, a Ondamania mais não era do que uma mola em formato de concertina, em plástico de cores berrantes, e que tinha na sua resistência e maleabilidade o seu principal argumento. As Ondamanias podiam ser esticadas, dobradas, atiradas, usadas como iô-iô improvisado (ou não fossem molas) ou à laia de pulseira, sem que com isso se danificassem grandemente (os 'dentes' da mola abriam um pouco, mas a funcionalidade essencial não se alterava.) Só isto já seria suficiente para tornar o brinquedo num favorito entre a criançada, mas a Ondamania escondia ainda mais um truque na manga - ou antes, O truque: a Ondamania sabia descer escadas.

Sim, por muitos usos que a Mola Maluca (como também era conhecida) tivesse, a mesma não teria tido o sucesso que teve não fosse a habilidade que lhe havia sido atribuída de descer um lanço de escadas completo sem se desfazer ou enrodilhar; e a verdade é que ver aquele brinquedo de plástico inanimado menear-se pelos degraus abaixo, qual lagarta (a de cá de casa era verde, o que ainda acentuava mais a semelhança) era algo de estranhamente fascinante para a criança média da era pré-Internet.

O resultado foi o inevitável: aquele brinquedo criado por um engenheiro americano nos anos 40, para divertir crianças pobres, celebrava o seu 50º aniversário tornando-se 'febre' absoluta entre as crianças de classe média de um país a dois oceanos de distância. E 'febre' é mesmo a palavra para descrever o impacto da Ondamania – talvez não ao nível de uns Tazos (mas convenhamos, poucos fenómenos atingem esse nível), mas certamente mais popular do que um brinquedo do seu grau de simplicidade poderia alguma vez almejar a ser.

Como todas as febres, no entanto, também esta chegou ao fim; de um momento para o outro, as Ondamanias deixaram de ser presença constante nos quartos de cama infantis e pátios de recreio por esse Portugal fora, tornando-se apenas mais um brinquedo obsoleto, esquecido em favor da 'moda' que se seguia (que, no caso, viriam a ser os Diabolos.) E como seria de prever, um brinquedo de tal modo simples não teve grandes hipóteses de recuperar a sua popularidade, acabando (pelo menos em Portugal) por cair no esquecimento – pelo menos até, quase trinta anos depois do seu auge, um blog nostálgico resolver dedicar um artigo inteiro a recordá-lo...

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