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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

09.10.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Quem era fluente em Inglês nos anos de viragem do Milénio talvez se lembre de ver, nas poucas tabacarias e bancas que vendiam banda desenhada importada, os 'comics' americanos da mascote da SEGA, o porco-espinho azul Sonic, e do seu 'melhor inimigo', Knuckles, que criavam toda uma nova mitologia não só para ambos os personagens, mas para todo o mundo de origem dos mesmos, o planeta Mobius. O que muitos dos que folheavam e adquiriam os volumes da Archie Comics não saberiam, no entanto, era que essa não era a única adaptação das aventuras do personagem a banda-desenhada, nem tão-pouco a primeira; de facto, alguns anos antes de os 'comics' da Archie chegarem a Portugal, já a Porto Editora editara um par de álbuns de capa dura com histórias alusivas ao porco-espinho e ao seu companheiro, o raposinho Tails, retiradas de uma revista de BD inglesa apadrinhada pela própria SEGA.   

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'Sonic The Hedgehog Vence os Badniks' e 'Sonic The Hedgehog - Ataque em Tornado' (este último derivado de uma tradução incorrecta de 'spin attack', que faz parecer que Sonic adquiriu a habilidade de marca do Diabo da Tasmânia, personagem da franquia Looney Tunes) chegavam às livrarias portuguesas em 1994, trazendo no seu interior uma selecção de histórias de 'Sonic: The Comic', publicação lançada no ano anterior pela inglesa Fleetway Editions, e que marcou a primeira tentativa de trazer Sonic e outros personagens da SEGA para os painéis de uma página de BD. Os dois volumes da Porto eram uma reprodução exacta, apenas traduzida, de álbuns semelhante lançados no Reino Unido, cada um constituído por quatro histórias da autoria de Nigel Kitching, retiradas de oito dos nove primeiros volumes da referida revista, ficando apenas em falta o número 7, por razões não especificadas em qualquer das fontes consultadas. Qualquer dos dois livros constituía, pois, uma excelente introdução 'condensada' ao universo do porco-espinho azul, além de aprofundar a história dos jogos lançados até então, agradando assim tanto a leitores 'novatos' como aos fãs da franquia.

No fundo, e à distância de quase exactos trinta anos, 'Sonic The Hedgehog Vence os Badniks' e 'Sonic The Hedgehog - Ataque em Tornado' (bem como a revista de onde foram retirados os seus conteúdos) pode ser visto como uma espécie de versão em BD do primeiro desenho animado de Sonic, 'Adventures of Sonic the Hedgehog', oferecendo relativamente à publicação da Archie o mesmo contraste que aquela série estabelecia com as 'sucessoras' 'Sonic The Hedgehog' e 'Sonic Underground', de tom mais sério e menos abertamente cómico: produtos diferentes, mas ambos mais do que válidos, e capazes de encontrar o 'seu' público, sedento de mais conteúdos relativos a um dos personagens de videojogos mais 'em alta' não só à época, como historicamente. Curiosamente, no entanto, os álbuns da Porto Editora tiveram o fim oposto, encontrando-se hoje relativamente Esquecidos Pela Net e retendo pouca nostalgia junto dos 'millennials' lusitanos, talvez por surgirem em formato de álbum (com o proibitivo preço de mil quinhentos e cinquenta escudos, mais do que uma mesada para o jovem médio da época) e não gozarem da mesma distribuição das revistas da Marvel e DC, Turma da Mônica ou Disney. Ainda assim, quem, à época, chegou a ter algum destes álbuns (ou ambos) certamente os terá 'devorado', logo antes (ou depois) de ligar a Mega Drive e tentar mais uma vez passar 'aquele' nível complicado de 'Sonic 2' ou 'Sonic & Knuckles'...

06.02.24

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

No passado Domingo, abordámos neste espaço os Micro Machines, uma de duas linhas de carros em extra-miniatura a conquistar o coração das crianças e jovens da geração 'millennial' (a outra terá aqui, paulatinamente, os seus quinze minutos). Nessa ocasião, não deixámos de salientar o facto de a referida linha ter dado azo a uma série de videojogos que, além do esperado sucesso imediato, conseguiram a 'façanha' de transcender a sua licença e perdurar, até hoje, nas memórias (e consolas antigas) dos 'gamers' daquela altura. Nada melhor, pois, do que dedicarmos esta Terça Tecnológica a relembrar os vários títulos que permitiram à gama da Galoob/Concentra (e, mais tarde, Hasbro) sobreviver para lá do seu tempo nas prateleiras do supermercado, hipermercado ou loja de brinquedos mais próxima.

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O primeiro destes, que levava o mesmo nome da própria licença, saía logo em 1991, para a Nintendo original, mas será mais lembrado pelas gerações 'X' e 'millennial' pelas suas versões em 16-bits (no PC, Super Nintendo e Mega Drive) e pela conversão monocromática para Game Boy, lançadas entre 1993 e 1995.

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Exemplo da jogabilidade da versão para Mega Drive.

Em qualquer destas variantes, a premissa era a mesma, que viria a orientar todos os restantes títulos da franquia: um jogo de corridas visto de cima, à maneira de um 'RC Pro Am' ou 'Ivan Ironman Stewart's Super Off-Road, mas com uma dose extra de personalidade, reflectida tanto no conceito das pistas (ambientadas em diferentes partes da casa, como a mesa de jantar ou o balcão da cozinha) como na criação de personagens para conduzirem as miniaturas, cada uma com um 'visual' bem distinto e a condizer com o seu carro. O sucesso foi imediato, e em qualquer dos sistemas 'Micro Machines' gozou de volumes de vendas bastante saudáveis, sendo a versão para a Nintendo original ainda hoje considerada clássica.

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Não é, pois, de espantar que, logo em 1994, surgisse no mercado uma sequela, 'Micro Machines 2: Turbo Tournament'. E o mínimo que se pode dizer é que os programadores da Codemasters seguiram à risca a regra de qualquer boa sequela, oferecendo 'mais do mesmo', mas em versão alargada e melhorada: o leque de veículos estende-se agora, também, a aeronaves e barcos - cada um dos quais com pistas próprias e adequadas à sua utilização – e o 'naipe' de personagens do original volta a marcar presença, agora acrescido de uma 'caricatura' da jornalista e crítica de videojogos, Violet Berlin.

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'Micro Machines 2' na Mega Drive.

Como se não bastasse, no entanto, a companhia fez questão de oferecer ainda alguns atractivos adicionais, com a versão para Mega Drive a ser lançada com um adaptador especial para jogos em conjunto, e a de PC a contar com um editor integrado, que permitia aos jogadores criarem novos veículos ou pistas – uma opção tão popular que foi integrada em 'Turbo Tournament '96', uma espécie de 'actualização' lançada para a Mega Drive no ano em questão. O sucesso, esse, voltou a ser considerável, com as novas adições a 'caírem no gosto' dos jogadores, pesassem embora as semelhanças com o original.

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'Turbo Tournament '96' era lançado em exclusivo para Mega Drive.

Ainda antes do fim do ciclo de vida das consolas 16-bit, é lançado 'Micro Machines Military', um exclusivo para Mega Drive que, como o nome indica, adaptava o conceito do jogo a um ambiente militar, com tanques e pistas no deserto; os adeptos de outras consolas teriam, no entanto, de esperar até ao ano seguinte, já na era 32-bits, para voltarem a conduzir as populares miniaturas, agora num contexto poligonal, ainda que não exactamente tri-dimensional.

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'Micro Machines V3' saía em 1997 para a PlayStation original, e nos três anos seguintes para PC, Nintendo 64 (onde se chamou 'Micro Machines 64 Turbo') e Game Boy Color, respectivamente. Em qualquer dos casos, a proposta era a mesma de sempre, mas em ambientes 3D – excepto, claro, no Game Boy Color, onde se aproximava mais da dos dois primeiros jogos.

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A mesma jogabilidade, agora em pseudo-3D.

E se esses haviam feito sucesso no seu tempo, 'V3' mostrou-se ainda mais bem-sucedido e influente, atingindo rapidamente o prestigiado estatuto de platina na PlayStation, vendendo bem apesar de críticas menos unânimes do que as dos seus antecessores, e sendo ainda hoje considerado como a versão 'definitiva' dos jogos da franquia.

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Tendo em conta este sucesso, é nada menos que surpreendente que o jogo seguinte, 'Micro Maniacs' – lançado já nos primeiros meses do Novo Milénio - troque os carrinhos em miniatura por corridas a pé. Ainda que significativa, no entanto, esta mudança não foi, ainda assim, suficientes para fazer os 'gamers' da época virar as costas àquilo que era, essencialmente, uma variação (ou semi-sequela) de 'V3', a qual, apesar de menos lembrada do que os seus antecessores, é, ainda assim, um dos jogos mais bem-cotados da fase final da vida da PlayStation original.

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Em 'Micro Maniacs', os participantes percorrem as pistas a pé, mas a fórmula mantém-se, no restante, inalterada.

O mesmo, no entanto, não se pode dizer do título seguinte, uma tentativa falhada de 'reboot' para a era 128-bit que passou despercebida no mercado da altura. Assim, caberia ao título seguinte, lançado em 2006 e sugestivamente intitulado 'Micro Machines V4', recuperar a reputação da franquia, uma missão que viria a completar com sucesso, relembrando os adeptos de videojogos da razão para o sucesso da mesma, e mantendo-os ocupados com as suas vinte e cinco pistas e mais de sete centenas e meia de veículos – um número inimaginável aquando do lançamento original de 1991, com os seus oito ou dez carros seleccionáveis!

Após 'V4', no entanto, a série entraria no mesmo hiato da própria gama Micro Machines, e passar-se-ia mais de uma década até que aparecesse novo jogo – até hoje o último da franquia - intitulado 'Micro Machines World Series' e lançado no Verão de 2017 para os PCs e consolas da época. E se o sucesso de vendas, e relativo sucesso crítico, deste título servir de indicação, será seguro afirmar que o legado dos mini-carros no mundo virtual está assegurado, e que também a Geração Z terá a oportunidade de descobrir o que fez os seus pais apaixonar-se pela representação destas miniaturas em formato digital e interactivo, quando tinham a mesma idade...

24.01.24

NOTA: Este post é respeitante a Terça-feira, 23 de Janeiro de 2024.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Apesar de a prática de confiar diferentes versões de um mesmo título interactivo a companhias diferentes não ser inédita, quer no Mundo das consolas, quer no dos PC's, não é, de todo, habitual ver os jogos subsequentes serem tratados como duas entidades completamente distintas; de facto, tal fenómeno tende a ocorrer apenas quando as referidas versões têm diferenças significativas e aparentes, seja a nível de género ou de jogabilidade (como sucedeu, por exemplo, com os primeiros jogos de Harry Potter em inícios dos anos 2000). No entanto, há quase exactamente trinta anos, verificava-se o caso mais famoso e mediático deste género de ocorrência, quando as rivais de 16-bits, Super Nintendo e Mega Drive, recebiam dois jogos subordinados à mesma licença que, apesar de à primeira vista idênticos, eram de facto substancialmente diferentes uma vez iniciada a experiência de jogo.

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Comparação gráfica entre os jogos de Super Nintendo (esquerda) e Mega Drive (direita)

Tratavam-se dos jogos alusivos ao filme 'Aladdin', um dos vários mega-sucessos de que a Walt Disney gozou durante a sua chamada 'renascença' em finais do século XX, e o segundo a ter honras de adaptação a videojogo, após 'A Pequena Sereia', em inícios da década. Lançados no Inverno de 1993/94 (em Novembro de 1993 no caso do título da Sega, e em finais de Janeiro de 94 no caso do da Nintendo), ambos se inseriam no género de acção e plataformas que era quase sinónimo com jogos licenciados da época; no entanto, a jogabilidade de ambos apresentava diferenças consideráveis, resultantes da abordagem escolhida por cada um dos dois estúdios responsáveis – a Virgin Interactive, que assinava o jogo de Mega Drive e que viria também, mais tarde, a ser responsável pelo excelente jogo d''O Rei Leão', e a Capcom, que já na altura dispensava apresentações como criadora de jogos de acção com vertente 'arcade'. O resultado eram dois jogos tão diferentes quanto excelentes, que fomentam ainda hoje debates sobre qual dos dois será o melhor.

Algumas das principais diferenças entre os dois títulos prendem-se com a utilização de uma espada por parte de Aladdin (que não consta da versão para Super Nintendo), a existência de níveis diferentes e exclusivos em cada versão, e sistemas de pontuação, saúde e 'vidas' diferentes, que tornam cada um dos dois jogos numa experiência distinta. A decisão sobre qual deles é superior torna-se, assim, numa questão de simples preferência, já que do ponto técnico são igualmente excelentes, com a ressalva de a versão para Mega Drive ter sido o primeiro jogo interactivo desenhado à mão, com a colaboração de uma equipa de artistas da própria Disney - o que revela o cuidado posto em cada faceta desse merecido clássico.

Ainda assim, e apesar de grande parte dos jogadores que tiveram contacto com o título da Super Nintendo o defender acerrimamente, foi mesmo a versão para Mega Drive que perdurou no imaginário dos ex-jovens da época, por ter servido de base à maioria das outras versões do jogo lançadas tanto na mesma época (para PC e Game Boy, por exemplo) como em anos subsequentes (para consolas como o Game Boy Color). A excepção é a versão para Game Boy Advance, lançada em 2004, e que tem por base o título da Capcom.

Seja qual for a preferência, no entanto, qualquer das duas versões continua, mesmo nos dias de hoje, a assegurar uma experiência de jogo desafiante e divertida, como era sinónimo dos jogos da Disney à época; prova disso mesmo, aliás, é que versões tanto destes jogos como dos d''O Rei Leão' continuam, até hoje, a ser lançadas para cada nova geração de consolas, e a conquistar fãs entre os 'gamers' da 'geração Z', tal como o fizeram durante o seu 'ciclo de vida' original. Motivo mais que suficiente para lhes darmos destaque (a ambos!) nestas páginas, quando se celebram três décadas sobre o seu lançamento inicial nas 'rivais' de 16-bits.

 

27.12.23

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 26 de Dezembro de 2023.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

O sucesso das mascotes da Sega e Nintendo - Mario e Sonic - e dos sucessivos lançamentos das respectivas franquias fez com que a maioria das editoras de jogos de computador e consola de inícios e meados dos anos 90 redobrassem esforços para criarem, também elas, a sua própria versão do canalizador 'bigodudo' ou do ouriço-cacheiro azul e supersónico. Escusado será dizer que a esmagadora maioria destas tentativas falharam redondamente - com personagens como Bubsy a serem, hoje, mais objecto de chacota do que de admiração - e seria apenas já em plena era dos 32 bits que criações deste tipo voltariam a atingir unanimidade entre os fãs de jogos de plataformas, com a dupla Crash Bandicoot e Spyro a conquistar os corações dos fãs da PlayStation, bem secundados nesse e noutros sistemas por Rayman (a excepção da regra no tocante a mascotes da 'primeira vaga') e Croc. Pelo caminho, prontos a serem 'repescados' como tema de vídeos sarcásticos anos depois, ficavam o referido Bubsy e 'pares' como Awesome Possum e o personagem de que falamos hoje, criado pela Acclaim como 'resposta' a Sonic, mas que não foi além de dois jogos medianos durante a era 16-bits.

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Capa da versão para Mega Drive.

De seu nome Aero the Acro-Bat, a criação em causa - que, como o nome indica, se tratava de um morcego equilibrista - surgia pela primeira vez em solo europeu nos últimos meses do ano de 1993, primeiro em versão para Mega Drive e mais tarde (há quase exactos trinta anos, a 23 de Dezembro de 1993) para a 'concorrente' Super Nintendo. Em ambos os casos, o título em causa destacava-se, desde logo, pelos gráficos, bem acima da média para os padrões da época, e que constituíam o principal argumento de venda para a Acclaim; infelizmente, os restantes elementos deixavam algo a desejar, o que impediu que Aero se afirmasse ao mesmo nível dos personagens a que procurava fazer frente. Isto porque, apesar de original - com mecânicas que surgiam também no primeiro jogo de Bubsy, lançado no mesmo ano, e que seriam, inclusivamente, utilizadas pela própria Sega alguns anos depois, em 'Sonic e Knuckles' - a jogabilidade pecava por querer ser tão rápida quanto a de Sonic, num jogo que requeria muito maior precisão ao explorar e atravessar os ambientes amplos (tanto em altura como comprimento) que perfaziam cada nível. O resultado, tal como sucedia com Bubsy, eram repetidas mortes resultantes de 'saltos às cegas' ou movimentos demasiado rápidos, o que tornava o jogo algo mais frustrante do que os títulos de 'primeira categoria' do género, sem no entanto impedir que fosse uma boa 'opção de recurso' para os detentores das consolas 16bit da época.

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Capa da versão da sequela lançada para Super Nintendo.

Aero chegou, aliás, a fazer sucesso suficiente na altura para justificar o lançamento de uma sequela, no ano seguinte. Tal como costuma suceder com títulos de 'continuação', 'Aero the Acro-Bat 2' (que era dedicado ao piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, morto essa Primavera como consequência de um acidente de viação) contentava-se em oferecer 'mais do mesmo', embora com níveis ainda maiores que os do original e uma nova habilidade para Aero, que podia agora atacar em linha recta descendente, permitindo eliminar inimigos directamente por baixo de si. De resto, mantinham-se a maioria das mecânicas do original, bem como a estrutura de diversos 'mundos', cada um dividido em três 'actos' (ou níveis) bem à maneira de Sonic. No mesmo ano, saía também um título paralelo, que levava o mesmo nome do rival de Aero, 'Zero The Kamikaze Squirrel', e de estrutura e jogabilidade muito parecidas às dos dois jogos do morcego.

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Na Europa, 'Zero the Kamikaze Squirrel' sairia apenas para Mega Drive, em Julho de 1994.

O sucesso, esse, tornou a ser moderado (para ambos os jogos) levando ao fim do legado do morcego acrobata - pelo menos no imediato, já que o primeiro jogo viria, já no Novo Milénio (concretamente em 2002), a ser 'refeito' e lançado para Game Boy Advance, tendo os planos para relançar também a sequela vindo a ser cancelados em favor de outros títulos originais. Já na década de 2010, Aero surgia também na Virtual Console da Nintendo Wii, embora neste caso apenas no Japão, tendo esse sido, verdadeiramente, o 'último fôlego' da mascote, cuja base de fãs era, já, puramente de culto.

Trinta anos após o seu surgimento no mercado, e quase década e meia após a sua última aparição, é fácil perceber o porquê de Aero não ter vingado no super-povoado mercado dos 'jogos de mascotes' de inícios dos anos 90; ainda assim, no entanto, os dois jogos do morcego acrobata constituem, ainda hoje, boas alternativas para quem procura algo um pouco diferente dos habituais Sonic e Mario - desde que, bem entendido, não se utilize a mascote da Acclaim como substituição dos dois heróis mencionados...

12.09.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

No início dos anos 90, o lançamento de um jogo de computador ou consola não era, ainda, o acontecimento que chega a ser hoje em dia; a imprensa especializada estava atenta aos novos lançamentos, claro, mas no que tocava ao consumidor comum, os únicos jogos que se destacavam eram os que apareciam em programas de televisão, anúncios ou formavam o foco central de uma longa-metragem (como aconteceu, lendariamente, com 'Super Mario Bros. 3' na aventura infanto-juvenil 'O Génio'), ou os que causavam furor por outros motivos.

Um dos primeiros lançamentos a procurar alterar este paradigma foi 'Sonic The Hedgehog 2', que teve direito a dia de lançamento com 'nome' próprio (embora não muito original, já que se chamou apenas 'Sonic 2 Day') e alardeado em vários meios de comunicação; no entanto, talvez o exemplo mais famoso deste fenómeno celebra esta Quarta-feira, 13 de Setembro de 1993, exactos trinta anos, e é referente a um jogo tão popular quanto 'Sonic 2', mas bastante menos inócuo. Falamos da famosa 'Mortal Monday', que fez milhões de entusiastas dos videojogos um pouco por todo o Mundo (Portugal incluído) acorrer às lojas para adquirir a versão caseira de um dos maiores êxitos dos salões de jogos do ano anterior, o infame 'Mortal Kombat'.

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Cartaz norte-americano alusivo ao evento.

Numa época em que os lançamentos (não só de jogos de vídeo como também de filmes, séries, discos ou livros) tendiam a sofrer de intervalos de vários meses, ou até anos, entre o seu lançamento na América do Norte e a chegada à Europa, a 'Mortal Monday' fez, desde logo, História devido ao facto de a Midway ter coordenado os lançamentos americano e europeu do jogo, permitindo aos detentores de consolas da SEGA um pouco por todo o Mundo desfrutar da 'sua' versão exactamente ao mesmo tempo; já os que preferiam as consolas da Nintendo teriam de esperar mais alguns anos pela chegada do jogo aos 'seus' sistemas, já que as versões para Super Nintendo e Game Boy apenas ficariam disponíveis na 'Mortal Monday' para os consumidores norte-americanos, vindo a ser lançados na Europa apenas em Outubro de 1993 e Fevereiro de 1994, respectivamente. Ainda mais demorariam as versões para os computadores da altura, que só chegariam aos lares europeus a meio do ano seguinte, já depois de ter sido também lançado um jogo electrónico LCD alusivo ao título.

Ainda assim, esta 'décalage' costumeira e já esperada não reduz o impacto da 'Mortal Monday', uma iniciativa pioneira e extremamente bem sucedida, ainda que apenas parcialmente realizada a nível do continente europeu. 'Mortal Kombat', esse, tornar-se-ia um dos grandes clássicos da época, e daria azo a uma série de sequelas que perdura até aos dias de hoje, indo já na nona (!) geração. Da franquia em si, no entanto, falaremos em outra ocasião; por agora, ficamo-nos pela recordação de um dia que, certamente, deixou lembranças em quem nele conseguiu participar, e levar para casa um dos mais controversos e antecipados lançamentos de inícios dos anos 90...

 

01.08.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Tal como a grande maioria das outras propriedades intelectuais apelativas ao público infanto-juvenil – e enquanto maior 'febre de recreio' da História do Portugal moderno – 'Dragon Ball Z' não deixou de contar, entre os seus inúmeros produtos de 'merchandise', com um par de jogos de vídeo, lançados para as consolas da altura; e porque na última edição desta rubrica falámos do jogo oficial da sequela, 'Dragon Ball GT: Final Bout', nada mais justo do que - depois de termos abordado a série original de 'Dragon Ball' na última Segunda de Séries – darmos hoje alguma atenção aos títulos interactivos alusivos à saga 'Z'.

Separados por apenas um ano, e com mais em comum do que apenas a licença – ambos foram lançados para consolas da Sega e ambos, curiosamente, apenas no Japão e no Sul da Europa, onde a série tinha maior repercussão – os dois títulos referentes ao capítulo 'do meio' da saga Dragon Ball deixaram, cada um, a sua marca na considerável base de fãs da série em Portugal, embora por razões (e a níveis) diferentes: um por ser raro de encontrar, e se ter tornado um êxito dos primórdios dos emuladores, o outro por ter alavancado momentaneamente as vendas da desafortunada consola em que aparecia, somente 'às costas' do nome, e sem que ninguém soubesse ao certo como se jogava...

Começando pelo início, em 1996 – já na recta final da vida útil da consola, e mais de dois anos após o seu lançamento no Japão e nas 'vizinhas' Espanha e França – surgia nos escaparates portugueses o primeiro jogo da saga editado em território nacional, lançado para Mega Drive, e que partilhava a capa com a primeira cassette relativa à série editada pela Prisvídeo, 'Dragon Ball Z - O Super Herói'.

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E a verdade é que esse 'atraso' – presumivelmente criado pelo facto de 'Z' não ter estreado em Portugal até esse ano – prejudicou enormemente o impacto do jogo no nosso País, já que, em 1996, poucas eram as crianças que ainda adquiriam novos títulos para Mega Drive, começando grande parte delas a 'evoluir' para as consolas de 32 bit; não deixa, aliás, de ser caricato que o jogo de 16-bit da saga tenha sido lançado no mesmo ano do de 'nova geração'! Também curioso é o facto de a Ecofilmes, distribuidora oficial da Sega em Portugal, ter inicialmente feito planos para lançar o cartucho original japonês do jogo, juntamente com um adaptador para que o mesmo 'coubesse' em Mega Drives europeias; escusado será dizer que tal ideia não teve seguimento, tendo a edição lusa contado, no interior da caixa, com o cartucho francês.

A edição nacional do jogo trazia os textos em francês

Já ao nível da jogabilidade em si, o 'Dragon Ball Z' da Mega Drive é um bom jogo de luta 16-bit, típico das consolas dessa geração, mas com o atractivo adicional de os personagens poderem voar – ou antes, pairar no ar – o que não só ajudava a emular o clima da série como também adicionava um elemento extra à jogabilidade; no cômputo geral, no entanto, este era o típico título 'esmaga-botões' da época, perfeito para 'lutas' a dois contra um amigo, mas que não tirava o 'trono' a Street Fighter ou Mortal Kombat – nem procurava fazê-lo, preferindo 'viver' do sucesso da série que lhe 'dava a cara'.

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O mesmo, aliás, se pode dizer do seu sucessor, surgido no mesmo ano na malfadada Sega Saturn, e que causou considerável 'falatório' nos recreios nacionais da época, não só pela sua recriação fiel dos cenários e personagens da série, mas também por ninguém saber ao certo qual o objectivo, ou o que devia fazer para ganhar. As lutas eram, assim, muitas vezes confusas e prolongadas, com a maioria dos jogadores a tentar apenas encher a barra de activação do poder especial de cada personagem, para poder ver a animação do mesmo, que parecia saída de um epísódio – se, claro, esse episódio fosse realizado em 3D. O resto do tempo era passado em trocas infindáveis de socos e pontapés, destinadas tão-sómente a atingir o objectivo em causa, enquanto se usava de auto-persuasão para tentar fazer crer que se gostava do jogo – porque, se era do Dragon Ball Z, tinha de ser bom. Ainda assim, e apesar de os críticos da época terem gostado, o título da Saturn pode (e deve) ser considerado um passo em falso, sendo talvez demasiado complexo para o público-alvo da animação, que não pedia mais de um jogo de Dragon Ball Z do que a oportunidade de 'sacar' uns Kamehames para 'queimar' os amigos...

Exemplo da jogabilidade algo complexa do título para Saturn.

Apesar de bem-sucedidos na altura do seu lançamento, portanto, nenhum destes dois títulos (nem 'Final Bout') pode ser considerado um clássico da geração de consolas em que se inseriu; e por os (supostamente excelentes) jogos para NES e Super Nintendo não terem chegado a atravessar o oceano, seria necessário esperar até ao novo milénio para que um título alusivo a Dragon Ball Z se mostrasse verdadeiramente transformativo; ainda assim, os títulos acima analisados não deixaram de marcar época, e de saciar (com maior ou menor sucesso) o apetite de um público sedento de tudo quanto dissesse respeito à sua série favorita, e cujo nível de exigência era, por isso mesmo, significativamente mais baixo do que o habitual para outros jogos.

25.04.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

A década de 90 viu nascer muitas, senão a maioria, das mais icónicas consolas de videojogos de sempre. Da Mega Drive (lançada ainda nos anos 80, mas que teve na década seguinte o seu período áureo) à Super Nintendo, e da Playstation à Nintendo 64, passando pelo Game Boy original e Color, foram muitos e bons os sistemas que puseram os 'putos' de finais do século XX colados a um ecrã durante horas, a tentar passar 'aquele' nível 'daquele' jogo, ou a competir com os amigos em sempre acirrados duelos interactivos. Nem tudo foram, no entanto, rosas no campo dos jogos electrónicos durante aquela década, tendo havido também alguns 'falhanços' de monta a registar – um dos mais conhecidos dos quais completa este mês trinta anos, fazendo desta a altura perfeita para recordar a sua curta e azarada vida comercial.

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Falamos da Mega CD, a tentativa falhada da Sega de criar um 'add-on' para a Mega Drive que a tornasse compatível com o formato mais 'na berra' à época, o CD-ROM – dois anos antes de sequer se falar na Sega Saturn, mas numa altura em que a eterna rival Nintendo anunciava uma parceria com a Sony para criar algo idêntico para a Super Nintendo, algo que nunca viria a materializar-se. Escusado será dizer que este ambicioso projecto representou um considerável desafio tecnológico para a Sega, requerendo mudanças no 'hardware' da Mega Drive (com a adição de um segundo CPU, capaz de suportar as velocidades de processamento requeridas pelo novo acessório) que viriam a encarecer sobremaneira a produção da Mega CD, fazendo com que a mesma tivesse um custo exorbitante também para o consumidor.

Não deixa, portanto, de ser surpreendente que o acessório tenha, inicialmente, sido bem recebido pelos diferentes mercados de teste, incluindo o relativamente diminuto mercado japonês, onde a Mega Drive (ou Genesis, como é conhecida nas regiões NTSC) tinha uma implantação relativamente reduzida. No caso da Europa, onde a Mega CD era acompanhado por três jogos (incluindo uma compilação de títulos da Mega Drive) já é mais fácil perceber o atractivo deste acessório, mas torna-se ainda assim difícil justificar o elevadíssimo preço, sobretudo tendo em conta o valor do dinheiro em 1993!

Quando aliado à lendariamente diminuta biblioteca de jogos (um problema partilhado com o 'outro' 'add-on' para a Mega Drive, o não menos infame 32X), este factor levou a que o entusiasmo em torno do novo acessório 'esfriasse' rapidamente, tendo as vendas declinado a tal ponto que, pouco mais de seis meses após o seu lançamento na Europa, a Sega deixava de aceitar propostas de jogos para a consola, e, a partir de 1995, virava todas as suas atenções e esforços para um novo projecto, o qual teria no CD-ROM a sua base de armazenamento de raiz; e a verdade é que, apesar de muito melhor sucedida do que esta antecessora (o que, convenhamos, não era difícil) essa consola teria um percurso não menos 'azarado' que aqui exploraremos em outra ocasião. Quanto à Mega CD, exactos trinta anos após o seu lançamento na Europa, a mesma continua, ainda hoje, a constituir um exemplo acabado de uma ideia demasiado ambiciosa para os recursos disponíveis, e que poderia (e deveria) ter sido melhor explorada pela sua casa-mãe.

20.12.22

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Numa era em que qualquer conteúdo digital está disponível à distância de um clique e de uma micro-transacção, sob a forma do chamado 'downloadable content' ou DLC, é fácil esquecer que, há trinta ou quarenta anos atrás, nos primórdios dos jogos de PC da era pré-Pentium, existia já uma versão 'embrionária' desta forma de aquisição de conteúdos. De facto, o modelo popularizado nos anos 80 e 90 e vulgarmente denominado 'shareware' (programas informáticos cuja versão 'básica' era distribuída de graça, e os conteúdos adicionais podiam ser adquiridos individualmente mediante um módico investimento) pode, legitimamente, ser considerado um antecessor do DLC, estando, até, sujeito a alguns dos 'tiques' característicos do mesmo - entre os quais a criação e disponibilização de pacotes de níveis para diferentes jogos tematizados em torno de vários conceitos, dos quais um dos mais populares era o Natal.

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A versão natalícia de Lemmings

De facto, no auge do modelo 'shareware', foram várias as séries de jogos que lançaram níveis, ou até episódios inteiros, com motivos invernais e natalícios, entre eles 'Lemmings', 'Duke Nukem' e, famosamente, o excelente 'Jazz Jackrabbit', da Apogee; e se em alguns destes casos as alterações se limitavam a mudanças gráficas (com os habituais e característicos 'enfeites' natalícios) em outros, como o referido 'Jazz', chegavam mesmo a afectar a jogabilidade, que se tornava mais 'escorregadia', como era característico dos níveis 'de gelo' dos jogos de acção e plataformas na altura.

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O excelente 'Jazz Jackrabbit Christmas'

Tão popular era esta tendência, aliás, que a mesma se chegou mesmo a estender às consolas, nomeadamente às da Sega, como a Mega Drive ('James Pond 2: Codename Robocod' é essencialmente um jogo de Natal subaquático) e à Sega Saturn, onde o cultuado 'Nights: Into Dreams' tinha direito a um episódio de Natal, 'Christmas Nights', lançado em 1996 - isto já sem falar dos jogos alusivos a 'Sozinho em Casa', lançados tanto para as 8 e 16-bits da Sega e Nintendo como para o PC.

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'Christmas Nights Into Dreams', um exclusivo para Sega Saturn lançado em 1996

No entanto, foi mesmo no meio 'shareware' que esta tendência foi mais popular, e terá sido nesse âmbito que a maioria dos leitores deste blog terá convivido com a mesma, nos saudosos tempos em que uma disquete ou um CD de demos de uma revista de computadores constituía uma verdadeira caixinha de surpresas - à boa maneira, aliás, de um presente de Natal...

06.12.22

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Apesar de não estar entre as mais lucrativas dos anos 90, a franquia 'Dune' – título de uma série de obras literárias de ficção científica da autoria de Frank Herbert – não deixou, ainda assim, de gozar de algum sucesso nos anos 80 e 90, facto que fica comprovado pela existência tanto de uma adaptação cinematográfica como de uma série de jogos de computador alusivas ao universo da série – dois dos principais indicadores de sucesso de uma propriedade intelectual, tanto à época como hoje. Assim, numa altura em que o segundo dos três títulos para PC celebra trinta anos sobre o seu lançamento, vale a pena dedicar algumas linhas a recordar esta icónica série de jogos interactivos.

De referir, no entanto, que não é apenas 'Dune II' que celebra este ano o seu trigésimo aniversário – o primeiro jogo de 'Dune' data, também ele, de 1992, pelo menos na sua versão para PC e Amiga.

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Trata-se de uma mistura de aventura gráfica e estratégia, bem ao estilo do que se vinha fazendo na época, e que – previsivelmente – segue a trama da obra de Herbert, dando ao jogador o controlo de Paul Atreides, herói da história, e a missão de impedir que o clã Harkonnen consiga controlar o comércio de especiarias no planeta Arrakis, onde a acção se desenrola. Para tal, Paul terá de construir um exército à altura, mas também garantir que a extracção de especiaria se mantém a um nível aceitável, e ainda forjar laços pessoais e políticos com os outros personagens – tudo isto em tempo real.

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Exemplo da jogabilidade e gráficos do primeiro jogo da série.

O resultado é um jogo relativamente inovador, que consegue misturar com sucesso dois géneros normalmente bastante distintos, sem alienar os fãs de qualquer um deles, e com o mínimo de desvio possível da história original de Herbert. O sucesso, esse, seria tanto que o jogo seria, mais tarde, convertido para um formato CD-ROM – com novos e impressionantes gráficos – e ainda para a 'condenada' Sega Mega CD.

Por muito sucesso e influência que o primeiro título tenha tido, no entanto, é 'Dune II' que verdadeiramente insere a série nos anais da História dos jogos para PC, por se ter afirmado, essencialmente, como o criador do género RTS (real-time strategy).

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De facto, embora não tenha sido o primeiro jogo deste género, foi este o título responsável por implementar a maioria dos elementos que os fãs do género passaram a esperar encontrar num jogo desse estilo, de ferramentas para gestão de recursos a opções para construção de edifícios: mais, ao contrário do primeiro jogo, o jogador podia agora escolher controlar qualquer uma das facções residentes em Arrakis, não ficando limitado aos 'bons da fita' - e, claro, a tentação de assegurar que os vilões de Harkonnen conseguiam o monopólio das especiarias era, muitas vezes, demasiado forte para ser resistida...

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Um ecrã certamente bastante familiar para fãs de jogos de estratégia.

Por estas e outras razões, e apesar de alguns defeitos e limitações ao nível da inteligência artificial (francamente expectáveis, dado tratar-se de um título pioneiro do género) 'Dune II' – mais tarde lançado também para Mega Drive - continua, aos trinta anos, a merecer o estatuto de clássico não só do género de estratégia, mas de toda a 'cena' PC de inícios da década de 90, cujo sucesso levou mesmo, seis anos depois do seu lançamento - já na 'era Pentium' - à criação de um 'remake', de nome 'Dune 2000', e que (além da esperada 'lavagem de cara' decorrente da evolução tecnológica sentida entre os dois jogos) adicionava novos elementos de jogabilidade sem, com isso, estragar a 'fórmula vencedora' do seu antecessor.

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Ainda assim, e como diz o 'slogan' dos Corn Flakes da Kellogg's, 'o original é sempre o melhor' (além de, como diz o senso comum, as sequelas raramente serem tão boas como os originais) e 'Dune 2000' é, hoje, o menos lembrado dos três jogos originais alusivos à saga.

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'Mais do mesmo', mas melhorado - a 'receita' de 'Dune 2000'.

Não se ficaria, no entanto, por aqui a presença de Paul Atreides e restantes habitantes de Arrakis no plano virtual, vindo o novo Milénio a juntar mais dois jogos à lista – 'Emperor: Battle For Dune' , uma sequela de 'Dune 2000', e 'Frank Herbert's Dune', baseado na mini-série do mesmo nome, ambos de 2001 - antes de uma série de títulos cancelados ter enviado a franquia para o 'limbo' informático; ainda assim, e como diz o ditado, nada dura para sempre, e a produção de um novo filme alusivo à série suscitou, já este ano, o lançamento do primeiro jogo de Dune em mais de duas décadas, 'Dune. Spice Wars' – o qual, sem qualquer surpresa, se inscreve, como os seus antecessores, no género da estratégia em tempo real. Com um segundo jogo já anunciado, embora sem data de lançamento, resta saber se este lançamento representa o início de uma segunda vaga de títulos alusivos a 'Dune' no mercado PC, e se a mesma conseguirá gozar do mesmo nível de sucesso atingido pelos originais dos anos 90...

22.11.22

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Enquanto competição mais importante do panorama do futebol a nivel internacional (isto é, de selecções por oposição a equipas) não é de admirar que cada nova edição do Mundial de Futebol desperte, forçosamente, uma quota-parte de interesse, que nem mesmo controvérsias como a actualmente vigente em relação ao Qatar conseguem eliminar totalmente. Com isto em mente, ão-pouco é de admirar que, derivado desse mesmo interesse, surjam no mercado, a cada quatro anos, uma verdadeira catadupa de novos produtos licenciados alusivos à competição, normalmente adornados com a respectiva mascote e prontos a servirem como recordação eterna da referida competição – entre os quais se conta, invariavelmente, um jogo de vídeo oficial, permitindo não só recriar a competição e respectivas fases de acesso em casa, como também mudar (ainda que apenas virtualmente) o decurso da mesma, com base na perícia de dedos.

Os Mundiais dos anos 90 não foram, de todo, excepção a esta regra – pelo contrário, por terem decorrido numa época em que os jogos de vídeo gozavam a sua era dourada, todas as três competições daquela década tiveram direito a reprodução electrónica nos principais sistemas da altura, tendo algumas delas, inclusivamente, adquirido o estatuto de clássicos (ainda que menores) entre a oferta de jogos da época.

Foi o caso, por exemplo, de 'World Cup Italia '90', jogo que muitas crianças e jovens portugueses receberam de oferta com a sua Mega Drive – no inescapável e icónico cartucho triplo que incluía, ainda, outros dois clássicos da época, 'Columns' (o concorrente da Sega ao lendário 'Tetris') e o jogo de corridas de motos, 'Hang-On' - mas que surgiu também na Master System, ainda que apenas um ano depois. E a verdade é que é discutível se o jogo da US Gold teria conseguido o estatuto de clássico sem esse 'empurrão', já que se trata de um jogo de futebol bem típico e dentro da média do que era feito na época, com vista isométrica ao estilo dos (verdadeiros) clássicos 'Sensible Soccer' e 'Goal', e música - sim, música! - a mascarar a ausência de som ambiente.

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As capas dos três jogos alusivos à competição de 1990, e um exemplo da jogabilidade da versão para Mega Drive

Em suma, um título divertido, mas que sem a (genial) estratégia de marketing por parte da Sega, talvez nunca se tivesse destacado de entre os titulos de desporto para as consolas da mesma. De referir que este jogo recebeu, ainda, uma versão para os computadores caseiros da época ('Italy 1990', também conhecido como 'World Class Soccer') a qual fica, sem quaisquer surpresas, muito próxima dos supramencionados 'Sensi' e 'Goal' no tocante a gráficos e jogabilidade, sendo, também ele, um jogo bastante típico e mediano para o que o mercado dos PCs oferecia na época.

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Capa do jogo, e exemplo da jogabilidade da versão para Super Nintendo

O mesmo, sem tirar nem pôr, se pode dizer de 'World Cup USA '94', novamente produzido pela US Gold (na sua última aparição antes de entregarem o 'trono' à Electronic Arts) para todos os sistemas da época (incluindo os PCs da era pré-Pentium e placas aceleradoras, que desta vez não teve direito a título exclusivo lançado separadamente) e que, previsivelmente, tem muitas semelhanças com o seu antecessor, nomeadamente a vista a partir de cima. É claro que os aspectos técnicos surgiam muito mais cuidados, reflectindo os consideráveis avanços tecnológicos almejados apenas naqueles quatro anos, mas de resto, não há muito a dizer, sendo este – de longe – o menos memorável dos títulos oficiais lançados durante a década em análise.

Felizmente, a mudança de 'governo' revelar-se-ia mais bem sucedida do que alguém alguma vez poderia imaginar, ao ponto de, chegada a altura de lançar mais um título alusivo a um Mundial de Futebol, a nova 'chefe' ter já conseguido instaurar uma franquia tão bem sucedida que lhe permitia lançar jogos praticamente em piloto automático (algo que, aliás, sucede até aos dias de hoje) e atingir, ainda assim, padrões de qualidade consideravelmente elevados.

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Capa e jogabilidade do título de 98

É o caso de 'World Cup '98', uma mera versão reduzida e simplificada do absolutamente clássico 'FIFA '98: Road to the World Cup' - com vários modos de jogo a menos, e um acervo de equipas forçosamente limitado às participantes no certame em causa, mais duas mãos-cheias de 'repescados', entre eles uma equipa de Portugal da fase áurea da Geração de Ouro – mas que não deixou, ainda assim, de ser um sucesso de vendas, muito por conta da reputação de que a série principal já começava a gozar. Como seria de esperar, os avanços técnicos em relação ao jogo de 1994 são consideráveis (ou não se tivesse, entretanto, entrado na era dos jogos em 3D, com ambiente realista e comentários quase em tempo real) embora, no cômputo dos jogos da época, e especificamente da série FIFA, o título tenha menos destaque, quer a nível técnico, quer de jogabilidade, limitando o seu público a quem ainda não tinha 'FIFA '98', ou a quem fazia questão de ter absolutamente TODOS os títulos lançados pela editora de referência para jogos de desporto de finais do Segundo Milénio.

Antes de darmos por concluída esta breve revisão dos títulos electrónicos oficiais dos Mundiais dos anos 90, uma nota ainda para alguns jogos que, apesar de não gozarem da licença oficial, faziam ainda assim questão de incluir no nome a chamativa expressão 'World Cup'. É o caso, nomeadamente, de 'Nintendo World Cup', jogo de costela 'arcade' pura e dura lançado para NES em 1990, em que cada equipa apenas tinha cinco jogadores e faltas e foras-de-jogo eram conceitos inexistentes; e que serviu de base ao não menos popular 'Soccer', para Game Boy, bem como para alguns jogos com a licença 'Captain Tsubasa', por terras japonesas.

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O jogo da Nintendo tinha uma forte costela 'arcade'

O outro grande exemplo desta tendência foi a série 'Tecmo World Cup', que chegou a ter títulos lançados em 1990 (o primeiro) e 1998, mas que viu também serem organizadas competições em quase todos os anos intervenientes, tornando as duas datas correctas em meras coincidências. Tal como 'Nintendo World Cup', trata-se de uma série mais divertida que realista, de jogabilidade extremamente simples (nos primeiros jogos, praticamente só é preciso um botão para se ser bem-sucedido) e com mais em comum com 'Super Sidekicks', da Neo Geo, do que com as séries 'FIFA' ou 'International Superstar Soccer', constituindo assim uma excelente proposta para quem gosta do seu futebol virtual 'descompromissado' e mais parecido com uma partida de rua do que com a alta competição.

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Capa e jogabilidade da versão para Master System da edição '93 de 'Tecmo World Cup'.

Em suma, não é difícil de perceber que os Mundiais dos anos 90 – tal como os seus sucessores – serviram de inspiração para uma gama bem variada de títulos, a maioria dos quais sem muito que os distinguisse dos seus congéneres mais 'generalistas', mas qualquer deles certamente instigador de profunda nostalgia em pelo menos um segmento dos leitores deste blog.

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