18.11.21
Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.
Na primeiríssima edição desta rubrica, falámos um pouco sobre os 'Tazos', talvez o brinde alimentício mais recordado e nostálgico dos anos 90; hoje, falamos finalmente da 'febre' que lhes sucedeu, e que atingiu níveis de sucesso quase (QUASE) semelhantes, embora se tenha afirmado como menos icónica a longo prazo.
Falamos das Matutolas, pequenas figuras de plástico sólido ou translúcido em forma de cabeça (ou se quiserem, 'tola') que, tal como os seus antecessores, fomentavam não só a vertente coleccionista inerente a qualquer criança, mas também a veia competitiva existente dentro dela. Isto porque, como os 'Tazos', as Tolas eram, ao mesmo tempo, objectos de colecção e peças de jogo, destinadas a serem apostadas, ganhas e perdidas nos recreios e pátios por esse Portugal afora – objectivo esse que, previsivelmente, foi mais do que confortavelmente atingido.
Tão-pouco era este o único ponto em comum entre as Tolas e a colecção que lhes antecedera; as próprias regras de como jogas Matutolas eram muito semelhantes às do jogo dos 'Tazos', ainda que esta variante se desenrolasse numa perspectiva vertical, ao invés de horizontal. Como nos 'Tazos', cada jogador apostava as suas Tolas, no caso colocando-as em pé, lado a lado, sobre uma superfície plana; cada participante utilizava, então, outra Tola para tentar derrubar o maior número possível de peças em jogo, passando (ou voltando) cada peça derrubada a ser pertença desse jogador.
Um jogo, no mínimo, tão viciante como o dos 'Tazos', e que veio preencher o 'vazio' que o fim dessa colecção havia deixado no instinto coleccionador das crianças portuguesas – pelo que não é de admirar que a recepção e expansão do mesmo tenham sido tão rápidas, e praticamente tão abrangentes, como as dos seus antecessores. No ano após o fim dos 'Tazos', não havia criança portuguesa que não coleccionasse, trocasse e apostasse as pequenas cabeças grotescas da Matutano com os amigos, e que não tivesse em casa um qualquer recipiente (fosse um Portatolas oficial ou simplesmente um qualquer tubo ou 'tupperware') recheado com as suas várias aquisições, muitas delas com falhas à laia de 'cicatrizes de batalha' (as Tolas de plástico translúcido, em particular) rachavam-se com surpreendente facilidade, e haverá decerto muito poucas que tenham sobrevivido inteiras até aos dias de hoje.)
Menos popular seria a inexplicável caderneta de autocolantes (?!) que servia função dupla como livro de regras - como se um jogo de recreio necessitasse de regras oficiais escritas num livro de instruções...
Os tubos de transporte 'Portatolas' e a inexplicável caderneta
Um último ponto em comum entre as Tolas e os 'Tazos' prendia-se com o facto de, também aqui, existirem modelos não ligados à Matutano, facilmente adquiríveis se se soubesse onde procurar, e muitas vezes mais esteticamente cuidadas que as próprias originais; no entanto, ao contrário do que acontecia com os 'Tazos', as Tolas 'falsas' eram tão bem acabadas que acabavam por ser poucos os jogadores que não as aceitassem como 'moeda de aposta' em meio às oficiais – o que, simultaneamente, facilitava sobremaneira a vida a quem não tinha por hábito (ou não era autorizado a) comer batatas fritas.
Um pacote de Matutolas 'não-oficiais' - ou antes, de Go Go Crazy Bones, o conceito que havia sido adaptado e renomeado como Matutolas...
Em suma, uma moda que, embora algo derivativa da que a precedera, foi ainda assim uma das três maiores da Matutano durante aquela década - juntamente com os Tazos e os Pega-Monstros, vindo as Caveiras Luminosas ainda um pouco atrás em termos de nostalgia nos tempos que correm - que marcou época tanto quanto qualquer uma delas, e que, como elas, acabou por conseguir lugar cativo no coração de muitas ex-crianças daquele tempo – embora as mesmas apenas tendam a lembrar-se dela após (e geralmente como consequência de) terem recordado os 'Tazos'...