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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

10.06.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Em Junho de 1985 – há exactos trinta e nove anos – celebrava-se a adesão de Portugal à então chamada Comunidade Económica Europeia, ou CEE, o organismo regulador multi-nacional hoje designado por União Europeia, ou UE. À época, um grupo emergente da cena pop-rock portuguesa assinalava a efeméride através de um tema intitulado 'Portugal na CEE', cuja letra sarcástica (em bom Português) e melodia acessível lhes granjeavam a oportunidade de se lançarem para a ribalta – uma chance que o grupo não deixou de aproveitar, iniciando aí um percurso que os veria tornarem-se num dos artistas nacionais mais vendidos da década seguinte, e autores de uma série de sucessos intemporais do rock lusitano. Nove anos depois – e há quase exactos trinta – após um dos álbuns mais bem sucedidos da História do movimento e de um concerto igualmente memorável na capital, a banda chegava ao seu quarto álbum com uma mentalidade algo mais paranóica, e com a sensação de estar 'Sob Escuta'. E que melhor momento do que o rescaldo de mais umas eleições europeias (concluídas menos de vinte e quatro horas antes da publicação deste 'post') para recordar um dos discos mais vendidos do ano de 1994?

GNR_-_Sob_Escuta.jpg

Para quem ainda não tenha adivinhado, falamos dos portuenses GNR, que lançavam em Maio de 1994 o sucessor do icónico e imortal 'Rock In Rio Douro'. Gravado em Fevereiro desse mesmo ano no estúdio móvel da Valentim de Carvalho, e produzido pela própria banda, o disco trazia dez temas do típico pop-rock sarcástico e vagamente experimental da banda, alicerçado na voz inconfundível de Rui Reininho, secundado, pela última vez, pelos seus três 'asseclas' originais, já que o guitarrista Zezé Garcia viria a abandonar o grupo após este lançamento. Tal como no álbum anterior, verificava-se aqui, também, uma aproximação declarada aos sons e à cena musical do país vizinho, neste caso através da participação do guitarrista de flamenco Vicente Amigo nos temas 'Las Vagas' e 'Lovenita'. Nada de novo, portanto, mas ainda assim uma 'evolução na continuidade' de uma fórmula que vinha resultando em cheio para a banda – e lá diz o ditado que no que resulta, não se mexe...

E a verdade é que essa 'receita' voltou mesmo a resultar para a banda, cuja posição próxima do topo da hierarquia do pop-rock nacional lhes garantiu as vendas necessárias para inscrever 'Sob Escuta' no pódio dos álbuns mais vendidos do seu ano de lançamento. De igual modo, embora não haja nestes quarenta e dois minutos nada tão directo ou imediatamente apelativo como 'Sangue Oculto', do álbum anterior (ou outros 'hits' do grupo) este quarto lançamento contribuiu, ainda assim, com três faixas para a compilação 'Best Of' lançada dois anos depois - a supracitada 'Las Vagas', '+ Vale Nunca' e 'Dominó'. Mais um sucesso, portanto, a juntar à crescente lista que o grupo vinha construindo à época, e que, três décadas depois de ter sido editado, ainda soa tão bem, e tão actual, como à época do seu lançamento – a marca de qualquer bom disco. E, sem chegar a ser 'Rock In Rio Douro', 'Sob Escuta' é, inegavelmente, um muito bom disco, bem merecedor de ser revisitado poucas semanas após ter celebrado o seu trigésimo aniversário. Para esse fim, fica abaixo o 'link' de YouTube com o álbum completo, para ajudar a reavivar (e reviver) memórias...

08.06.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

A natural curiosidade e espírito inquisitivo inerentes à maioria das crianças e jovens tendem a fazer de campos como a ciência e a tecnologia pontos de interesse durante a fase de desenvolvimento e maturação do ser humano moderno, independentemente da sua proveniência ou da época em que tenha vivido. Assim, não é de espantar que uma publicação dedicada a transmitir informações sobre os últimos desenvolvimentos neste campo, de forma simples, compreensível e atractiva, tenha captado a atenção das faixas demográficas mais novas aquando do seu aparecimento, no dealbar da era da Internet.

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Falamos da 'Super Interessante', a adaptação portuguesa da revista brasileira do mesmo nome (também ela bastante famosa) surgida há quase exactamente um quarto de século (em Abril/Maio de 1998) pela mão de Carlos Madeira e do Grupo Impresa, um dos nomes maiores no campo do 'publishing' e dos periódicos em Portugal. Com grafismo e proposta editorial exactamente semelhantes ao da 'irmã mais velha', a revista trazia (e continua a trazer) mensalmente às bancas uma variedade de artigos focados, sobretudo, na ciência e tecnologia, mas cujo espectro se alargava a campos como o da sociedade, cultura e até natureza; no entanto, é inegável que foi o foco nas duas primeiras vertentes (à época menos exploradas nas bancas portuguesas) a principal razão do sucesso da revista, que celebra este ano a marca de vinte e cinco anos de publicação ininterrupta – um marco ainda mais impressionante tendo em conta o rápido declínio e extinção da imprensa escrita tradicional!

Mais - em relação aos primeiros exemplares impressos naquele já longínquo ano de 1998, a 'Super Interessante' actual difere apenas na casa editorial, que é agora a G+J Portugal, uma subsidiária da Motorpress anteriormente conhecida como All Media, e que tomou as rédeas da publicação em 2018. De resto, a proposta é exactamente a mesma, e – presumivelmente – continua a encontrar o seu público, prova de que, por vezes, não são necessárias grandes inovações ou truques de 'marketing' para fazer vingar uma publicação – basta uma linha editorial coerente e conteúdos de qualidade, como os que esta revista continua a oferecer aos seus leitores mês após mês.

18.05.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Uma das principais regras não-escritas da comunicação social é que o sensacionalismo 'vende'; apesar de o código deontológico dos jornalistas os cingir à verdade dos factos, a forma de apresentar e transmitir esses mesmos factos possui elasticidade suficiente para englobar uma abordagem mais propositalmente 'exagerada' e alarmista, por oposição ao estilo sóbrio e neutro que a maioria da sociedade ocidental tende a associar a este tipo de cargo. Esta mesma flexibilidade levou, por sua vez, ao surgimento de um tipo específico de jornalismo (e publicação) inteiramente dedicado a essa vertente mais sensacionalizante da transmissão de informação, o qual recebeu o epíteto de 'tablóide', derivado do formato adoptado pelos primeiros exemplares do género. Inicialmente associado sobretudo aos países anglófilos, nomeadamente o Reino Unido e os EUA, este tipo de jornal viria, nas décadas seguintes, a expandir-se também a outros países – incluindo, já na 'recta final' do século XX, Portugal, que acolhia há quase exactos trinta anos o primeiro tablóide 'declarado' da História da imprensa nacionalÇ o jornal '24 Horas'.

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E dizemos 'declarado' porque Portugal possuía já algumas publicações cujo conceito 'beirava' o dos tablóides ingleses, fosse mais discretamente (como sucedia com 'A Capital' e 'Tal & Qual', este último do mesmo director do '24 Horas') ou mais 'descaradamente' (como no caso do jornal 'O Crime'); no entanto, o periódico inaugurado a 5 de Maio de 1998 foi o primeiro a assumir o objectivo de constituir uma 'versão portuguesa' de jornais como os ingleses 'The Sun', 'Daily Star' e 'Daily Mirror' ou os norte-americanos 'National Enquirer', 'The Star' e 'The Globe' - dos quais adoptava, inclusivamente, o grafismo de capa, com um esquema de cores centrado no vermelho, branco e preto e chamadas de capa sensacionalistas impressas em letras garrafais.

E tal como os seus 'antecessores espirituais' haviam encontrado o seu público nos respectivos países, também o '24 Horas' conseguiu, rapidamente, estabelecer uma base de leitores, com grande parte dos portugueses a aderir, mais ou menos ironicamente, à proposta do jornal, que (para quem nunca havia lido, ou sequer visto, um tablóide) se assemelhava a uma espécie de 'versão noticiosa' das revistas cor-de-rosa e de 'fofocas' que dominavam o mercado de periódicos da época. Esta forte adesão inicial permitiu ao jornal firmar-se (e afirmar-se) dentro do panorama noticioso português, dando o mote para um 'reino' de mais de uma década nas bancas nacionais que, pesem embora algumas controvérsias (em especial a ligada ao processo Casa Pia, que resultou em buscas na redacção e processos criminais por acesso indevido a dados pessoais) não deixa de ter sido marcante para toda uma geração de portugueses.

Infelizmente, o rápido declínio da imprensa escrita (não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo) viria, também, a vitimar o tablóide 'à portuguesa', cuja circulação sofreu um declínio acentuado a partir de 2009, obrigando mesmo ao encerrar de actividades a 30 de Junho do ano seguinte, um pouco mais de doze anos após a primeira edição do jornal. Esta extinção não significou, no entanto, o fim do jornalismo sensacionalista em Portugal – pelo contrário, o estilo do '24 Horas' criou raízes, embora não tanto na imprensa escrita; é, sim, nos canais noticiosos de televisão (como a TVI24 ou a CMTv) que fica mais patente o 'legado' da publicação de José Rocha Vieira, tornando-a mais do que apenas uma memória nostálgica para a geração a quem apresentou, há quase exactamente um quarto de século, uma nova forma de fazer jornalismo, e que ajudou a polarizar quanto aos méritos relativos da sua existência durante os doze anos seguintes...

 

18.05.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

O mês de Maio tem tido, para as crianças e jovens portugueses das últimas décadas, um significado muito especial; isto porque – à excepção do atípico 'ano pandémico' de 2021, em que o mês escolhido foi Outubro - é neste mês que chegam às superfícies comerciais (e, por vezes, companhias privadas) uns simpáticos bicharocos arredondados, de antenas e olhos esbugalhados, prontos a serem levados para casa e a morarem na prateleira.

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Sim, falamos do Pirilampo Mágico, a mascote introduzida pelo grupo de instituições de caridade CERCI (sigla para Cooperativas de Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas), em 1987, e cuja venda contribui directamente para ajudar as crianças com deficiências mentais. Originalmente revestido de peluche, e mais recentemente em borracha, o Pirilampo atravessa décadas, séculos, milénios e gerações relativamente imutável – para além do material de revestimento, a maior inovação registada foi mesmo o uso de duas cores, também em anos recentes – e sempre com um público cativo, pronto a adicionar mais um dos bicharocos à sua colecção.

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A versão mais recente do Pirilampo, com o corpo em borracha

Apesar deste carácter mais ou menos 'eterno', no entanto, não há dúvida de que foi na primeira década da sua existência que o Pirilampo teve a sua fase áurea, sendo provável que provenham dese período a maioria das memórias nostálgicas associadas à mascote das CERCI. Quem era de uma certa idade naqueles finais dos anos 80 e início ou meados dos 90 certamente se recordará de, anos depois, abrir uma gaveta e de lá de dentro 'saltar' um Pirilampo, pensado perdido após substituição pelo 'irmão' mais novo; ou talvez a memória seja de uma fila de Pirilampos de diferentes cores alinhados na prateleira, cada um com a característica fita branca com o logo das CERCI a servir-lhe de cauda. Seja qual fôr a lembrança, é quase certo que esta existe, pois havia pouco quem, à época, não adquirisse o bicharoco, senão anualmente, pelo menos com alguma regularidade.

Prova do 'estado de graça' do Pirilampo durante aqueles primeiros dez ou quinze anos era, também, a existência de diversos temas oficiais da campanha, sempre cantados por algumas das principais celebridades nacionais do respectivo ano. Estes temas chegaram, aliás, a sair em disco, primeiro em 1993 (disco que reúne a 'nata' dos grupos vocais infantis portugueses da época, com Ministars, Onda Choc e Popeline a marcarem presença nos três temas da 'cassette', ao lado de nomes como Toy, Paco Bandeira, Dulce Pontes, Marco Paulo ou Carlos Alberto Moniz) depois em 1999 (em que o CD-Single continha, como 'lado B', uma versão em 'rap' do tema, intitulada 'Pirilampo Rap'!) e, finalmente, em 2006, em comemoração antecipada dos vinte anos da campanha; resta saber se, numa altura em que se celebram exactos vinte e cinco anos sobre o nascimento da mascote, voltará a ser distribuído (agora, provavelmente, em 'streaming') alguma nova versão da música oficial da mesma...

Medley de todas as músicas do Pirilampo Mágico, da sua criação até ao ano 2000.

Seja qual fôr o caso, no entanto, é inegável que o Pirilampo Mágico constitui já parte indelével não só da cultura e calendário portugueses, como das memórias de infância de, pelo menos, duas gerações - e, tendo em conta a colaboração com a Microsoft e o Banco Montepio na campanha Building the Future, em 2021, esse paradigma não parece vir a alterar-se nos próximos anos; aos 35 anos, o Pirilampo está vivo, recomenda-se, e continua tão Mágico como sempre...

 

13.05.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O cinema dos anos 90 foi frutíferos, acima de tudo, para actores de três géneros específicos: o romance, a acção e a comédia. E enquanto que Richard Gere, Brad Pitt, Johnny Depp e Leo DiCaprio arrasavam corações, e Bruce Willis, Stallone, Schwarzenegger e Van Damme arrasavam 'mauzões', no campo da comédia, agigantavam-se dois nomes: Robin Williams e Jim Carrey.

Em lados opostos do espectro de carreira – um já veterano de duas décadas, o outro ainda a lançar carreira – estes dois homens travaram, ao longo da década, uma fascinante batalha pela supremacia no campo da comédia 'mainstream' juvenil, a qual rendeu ao mundo do cinema alguns dos melhores exemplos de sempre do género; e enquanto Robin conquistava o público alvo com o seu trabalho de voz em 'Aladdin' e 'Ferngully', além de filmes como 'Papá Para Sempre', 'O Fabricante de Sonhos' ou 'Flubber - O Professor Distraído', Carrey utilizava da melhor maneira a sua impressionante elasticidade facial para dar vida a desenhos animados 'de carne e osso', em filmes como 'Doidos Á Solta', 'A Máscara', 'Batman Para Sempre' ou o binómio de filmes de Ace Ventura.

Desenrolava-se, assim, uma batalha fascinantemente 'taco a taco', que coincidiu até mesmo nos seus pontos mais fracos, tendo ambos os actores visto os seus filmes menos memoráveis serem lançados no mesmo ano, 1997. Mas se o referido 'Flubber', de Robin Williams, rapidamente cairia no esquecimento, a contribuição de Jim Carrey afirmar-se-ia, ainda assim, como um pouco mais memorável.

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Não, não existe imagem melhor do cartaz português do filme (crédito da imagem: Wook)

Prestes a completar vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal (a 16 de Maio de 1997), 'O Mentiroso Compulsivo' destaca-se hoje em dia, sobretudo, por ter marcado o final da 'fase cómica' da carreira de Carrey, tendo o actor procurado, em filmes subsequentes, diversificar o seu leque de géneros, com resultados surpreendentemente favoráveis; aqui, no entanto, o comediante surge ainda firmemente apoiado nas bocas, expressões e caretas que o haviam tornado conhecido, e que faziam, à época, o gáudio do público-alvo. No papel do titular mentiroso compulsivo – um advogado a quem um desejo de aniversário do filho obriga a apenas dizer a verdade durante 24 horas – Carrey tem inúmeras oportunidades para utilizar todo o seu repertório de expressões faciais, bem como os restantes truques no seu arsenal, das vozes aos gestos exagerados; pena é que o filme não seja suficientemente bom para dissipar a sensação de que a performance de Carrey nada mais é do que 'mais do mesmo', e que mais valia estar a ver novamente qualquer dos outros filmes do actor lançados até essa altura da década.

De facto, embora ainda hoje seja frequentemente exibido na televisão portuguesa, e esteja disponivel no Netflix europeu, 'Liar Liar' (o título original do filme) não é particularmente memorável, sendo até um pouco 'piroso' e sentimental, como só os filmes de família dos anos 90 o sabiam ser; comparado com a restante obra de Carrey, fica a faltar à obra de Tom Shadyac aquela sensação de anarquia e imprevisibilidade que o actor sempre trazia a qualquer um dos seus papéis. Como despedida do actor do mundo da comédia familiar, é, certamente, bem menos do que o mesmo merecia, e dá até algumas indicações sobre as razões que o levaram a afastar-se deste género – por sinal, no momento certo, justamente quando se arriscava a ficar, para sempre, 'preso' a um tipo de papel.

Em suma, na filmografia de Jim Carrey, 'O Mentiroso Compulsivo' perde-se entre as referidas obras-primas da comédia noventista e os não menos bem-conseguidos dramas que se lhes seguiram (e dos quais aqui paulatinamente falaremos), e só mesmo a efeméride do aniversário da estreia justifica que lhe sejam dedicadas estas linhas - isso e o facto de, à época, o filme ter (por qualquer razão inescrutável) sido pretexto para a oferta de um calendário de bolso na revista 'Super Jovem', que, ainda hoje, talvez seja a melhor coisinha associada a esta descartável comédia...

O YouTube não tem o 'trailer' em português, mas pelo menos tem os 'bloopers'...

05.12.21

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Já aqui falámos, aquando do último encontro entre Benfica e Sporting, na época passada, da importância que o 'derby' de Lisboa tem para os adeptos de ambos os clubes, ao ponto de, muitas vezes, o seu resultado ser quase mais importante do que o desempenho de cada uma das equipas na restante prova; agora, na ressaca de novo encontro entre os dois emblemas, já no âmbito da nova época, recordamos um jogo em que se verificou, precisamente, essa situação - o famoso 3-6 de 1994, ainda hoje uma das partidas mais históricas e recordadas da História do futebol português.

Ainda hoje custa a ver, para um adepto do Sporting...

Corria o mês de Maio de 1994, e o então Campeonato Português da I Divisão aproximava-se a passos largos do final, quando os eternos rivais da Segunda Circular lisboeta se encontravam, sob chuva torrencial, no velhinho e saudoso Estádio José Alvalade, em partida a contar para a 30ª jornada. O Benfica liderava a prova, mas o Sporting mantinha acesa a perseguição, 'mordendo os calcanhares' às águias na segunda posição da tabela. O 'derby' de Alvalade era, portanto, um daqueles jogos que ajudaria a definir a classificação: o Sporting precisava de ganhar para manter a luta em aberto, e não se deixar ultrapassar pelo outro rival de ambas as equipas, o FC Porto, enquanto que o Benfica tinha na partida uma oportunidade de cimentar a liderança, deixando os dois adversários na luta apenas pelo posto de vice-campeão.

E foi precisamente isso que acabou por se verificar, muito graças a uma das melhores exibições individuais de sempre num jogo do campeonato português, por parte de um 'loirinho' endiabrado com talento inversamente proporcional à altura, de seu nome João Vieira Pinto; o número 8 benfiquista ajudou a manter o Benfica na luta durante a primeira parte de um jogo que até havia começado com o Sporting em vantagem (por duas vezes), tendo os golos do empate sido apontados, em ambas as instãncias, por...João Vieira Pinto. Foi, também, dele o golo que deu a vantagem ao Benfica pela primeira vez, assegurando que os encarnados iam para o intervalo a vencer por 2-3, num jogo em que haviam estado em desvantagem por 1-0 e 2-1 (golos de Cadete e Figo.)

Na segunda parte, foi a vez de outro jogador benfiquista 'abrir o livro' – no caso, o avançado brasileiro Isaías, que ajudou a dilatar e avolumar o resultado em favor das águias, com dois golos consecutivos, aos 48 e 57'. Aos 74', Hélder Cristóvão dava ao resultado contornos de massacre, que nem um penálti tardio do 'mago' Balakov ajudou a suavizar; o Sporting saía, mesmo, de sua casa humilhado (e bem!) pelo eterno rival, e com o Campeonato definitivamente perdido (esta mesma equipa viria aliás, semanas depois, a pôr o ponto final numa época desapontante, ao perder também a Taça de Portugal para o outro rival, por 1-2 após finalíssima.)

À distância de quase três décadas, é fácil perceber porque continua este a ser um dos jogos mais falados de sempre do futebol português: um resultado de 3-6 é tudo menos comum, e quando associado a um 'derby', com todas as 'picardias' que esse tipo de jogo acarreta, ainda mais memorável se torna. E ainda que o Sporting tivesse, mais de uma década e meia depois, conseguido 'vingar-se' deste resultado com um 5-3 para a Taça de Portugal, o jogo de 14 de Maio de 1994 continua a ser uma das 'feridas abertas' para os adeptos leões, e um dos maiores motivos de orgulho para os adeptos benfiquistas que o presenciaram...

FICHA DE JOGO

SPORTING 3-6 BENFICA

14/05/1994

Estádio José Alvalade

Campeonato Nacional da I Divisão – 30ª Jornada

Árbitro: António Marçal

SPORTING: Lemajic; Nélson, Valckx, Vujacic e Paulo Torres (Pacheco, int.); Paulo Sousa, Capucho, Balakov e Figo; Cadete e Iordanov (Poejo, 60').

BENFICA: Neno; Hélder Cristóvão, Mozer, Abel Xavier e Veloso; Kenedy, Paneira, Schwarz e Aílton; João Vieira Pinto (Rui Águas, 78') e Kenedy (Rui Costa, 71').

GOLOS: 1-0 por Cadete (8'); 1-1, por João Vieira Pinto (30'); 2-1 por Figo (35'); 2-2, por João Vieira Pinto (37'); 2-3, por João Vieira Pinto (44'); 2-4, por Isaías (47'); 2-5, por Isaías (57'); 2-6 por Hélder Cristóvão (74'); 3-6 por Balakov (pen, 80'.)

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