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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

08.07.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

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Apesar de não ser imediatamente óbvia, a relação entre os mundos do futebol e da música tem, tradicionalmente, sido simbiótica. De sucessos 'pop' adaptados a cânticos (e vice-versa) a músicas especificamente conotadas com o desporto-rei, ou mesmo tematizadas em torno deste, têm sido muitos os exemplos desta sinergia desde que o futebol se tornou um espectáculo globalista e massificado; quando a este paradigma se junta também a vertente comercial a que o desporto em causa vem, cada vez mais, sucumbindo, a existência de discos oficiais para as competições internacionais da UEFA e FIFA torna-se lógica ao ponto de parecer óbvia.

E de facto, foram poucos os Campeonatos do Mundo ou Europeus dos últimos trinta anos a não se fazerem acompanhar de um álbum oficial repleto de 'malhas' evocativas do ambiente em torno da competição em causa; o primeiro grande exemplo desta tendência deu-se em 1996, quando a Inglaterra juntou dois dos seus grandes 'amores' num só conjunto de doze faixas a que chamou 'The Beautiful Game', e voltou a ser assim com quase todas as competições subsequentes, logo a começar pelas duas seguintes, nomeadamente o Mundial de França '98 e o Euro 2000. É ao álbum oficial deste último que, em época de novo Europeu, dedicamos abaixo algumas linhas.

Por comparação a 'The Beautiful Game' e até ao álbum do France '98, o disco do Euro 2000 revela desde logo uma abordagem algo distinta, mais centrada na coesão musical e criação de atmosferas do que no investimento em grandes nomes da música mundial. De facto, onde o disco de '96 trazia nomes como Jamiroquai, New Order, Primal Scream, Supergrass, Blur ou Pulp, e o de '98 contava com Ricky Martin (com a imortal 'The Cup of Life') Youssou N'Dour, Gypsy Kings, Daniela Mercury, Chumbawamba e Skank, entre outros, o único nome mais imediatamente reconhecível do álbum de 2000 será o dos pop-rockers Republica, ficando as restantes faixas a cargo de DJs e artistas de música electrónica relativamente desconhecidos fora da esfera do Europop e Euro-disco. E apesar de a estratégia escolhida até fazer sentido, dado o campeonato em causa ter sido realizado em dois dos 'centros nevrálgicos' deste estilo de música, a verdade é que essa falta de variedade e grandes nomes limitou severamente o potencial público-alvo do álbum, limitando o seu apelo a quem gostava de música electrónica na sua vertente mais 'azeiteira'.

Não quer isso dizer, no entanto, que o álbum fosse um falhanço total; nenhum conjunto de músicas encabeçado pela monstruosa 'Campione 2000' merece esse epíteto. No entanto, quando comparado aos seus dois antecessores, e a alguns lançamentos posteriores, este é, sem dúvida, um lançamento mais limitado (por definição) e, como tal, menos presente na memória colectiva dos fãs de futebol. Uma pena, já que um dos melhores Europeus de sempre merecia, decididamente, ter gozado de uma banda sonora à altura do futebol praticado...

24.06.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No contexto certo, um tema musical pode ter tanto impacto, e fazer tanta diferença na percepção de um todo, quanto um logotipo ou qualquer outro elemento gráfico ou de apresentação; o do desporto não é excepção a esta regra, bastando relembrar a mais que icónica sequência de introdução dos jogos da Liga dos Campeões para comprovar esse facto. Assim, não é de surpreender que as entidades reguladoras de certos desportos, entre eles o futebol, procurem associar os seus principais eventos a um determinado tema ou canção, normalmente composto propositadamente para o certame, na esperança que o mesmo se imortalize entre o público adepto e faça perdurar na memória o evento que representa; e apesar de nem todas estas tentativas serem particularmente bem sucedidas, algumas chegam a almejar um determinado nível de tracção cultural, sendo um dos melhores exemplos a faixa sobre a qual versa o 'post' de hoje.

Falamos de 'Campione', 'malha' eurodance puramente noventista (culturalmente, ainda se estava nos anos 90 em meados de 2000) composta e interpretada pelo DJ sueco E-Type, e cujo motivo musical remete a uma canção popular holandesa de cariz patriótico, intitulada 'Oranje Boven'; para quem não é oriundo dos Países Baixos, no entanto, a melodia será 'apenas' a daquela canção do Euro 2000, ficando mais ligada àquele Verão de futebol do que a qualquer fervor patriótico. E a verdade é que, fosse qual fosse a fonte de inspiração, E-Type fez um trabalho magnífico no tocante à composição da faixa, transformando-a num daqueles 'hinos' de que basta ver o título para imediatamente evocar o refrão e batida mais do que pegajosos, e colocar até o mais empedernido dos roqueiros a trautear o pseudo-cântico de estádio que serve de base aos mesmos. Não é, pois, de admirar que o próprio cântico em si tenha, posteriormente, sido adoptado para esse mesmo propósito na 'vida real', extravasando assim os limites da música em que se insere – o que não pode deixar de ser considerado um sinal de sucesso compositivo.

É, pois, por demais evidente que 'Campione' constitui um exemplo claro de sucesso no campo das sinergias entre eventos desportivos e o mundo da música, ainda que não atingindo o nível da referida música da Champions ou ainda de 'Força', o hino do Euro 2004 da autoria de Nelly Furtado. Ainda assim, uma composição mais que merecedora de menção nestas nossas páginas, numa altura em que se celebram vinte e quatro anos não só sobre o seu lançamento, mas sobre o evento a que serviu de banda-sonora oficial.

06.05.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Enquanto ícone cultural absoluto da última vaga de 'X' e primeira de 'millennials' portugueses, é com naturalidade que a 'Rua Sésamo' tem vindo a servir de tema dos mais diversos 'posts' neste nosso 'blog' nostálgico. Agora, após termos falado do programa em si, da revista que o complementava e – mais recentemente – das diversas colecções de livros que inspirou, chega o momento de falar do último artefacto cultural que o lendário programa da RTP deixou para a posteridade: os discos de canções retiradas dos episódios lançados pela Vidisco em inícios da década de 90, durante o auge da popularidade da série.

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Capa dos três álbuns da série.

Lançados ao ritmo de um disco a cada dezasseis meses (só 1991 não teve direito a uma edição da série) por razões de relevância temporal, os três álbuns de 'Canções da Rua Sésamo' seguiam uma fórmula semelhante, e já sobejamente testada nos meandros da música infantil. Cada volume reunía um número considerável de músicas retiradas de alguns dos segmentos e cenas mais memoráveis do programa, um pouco à semelhança do que sucedia, no mesmo período, com os álbuns da também mega-popular 'Arca de Noé'; a diferença, neste caso, é que os discos da Rua Sésamo contavam, ainda, com rendições de algumas das mais populares cantigas de roda e de recreio, que ajudavam a avolumar ainda mais o número de músicas de cada álbum, fazendo com que valessem o investimento por parte dos pais dos pequenos fãs do Poupas, Ferrão e restantes personagens da emissão da RTP.

Em comum, estas duas vertentes tinham a qualidade da interpretação, que, aliada à não menos excelente composição dos temas originais, contribuía para a excelente relação preço-qualidade de cada um dos três álbuns, colocando-os entre os melhores discos infantis editados em Portugal na época. E apesar de a popularidade da 'Rua Sésamo' se ter, inevitavelmente, esvaído, especialmente após o fim da emissão, não haverá, decerto, português nascido e crescido entre meados da década de 80 e os primeiros anos da seguinte que não recorde, até hoje, a letra e melodia de clássicos como 'Lixo no Lixo', 'Comigo Ninguém Faz Farinha', 'Sopa', 'O Telefone', '7 Notas Só', e tantas outras músicas que emprestavam ainda mais cor a um dos melhores programas de sempre da televisão portuguesa, e que tornavam esta série de álbuns presença obrigatória junto do gira-discos ou leitor de cassettes de qualquer criança nacional daquela época.

11.12.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Apesar de fazer parte integrante da cultura e costumes da ideologia católica e cristã portuguesa, o Natal não tem tradicionalmente, em termos musicais, a mesma expressão no nosso País de que goza, por exemplo, nos Estados Unidos ou Reino Unido. De facto, antes de David Fonseca se dedicar a criar 'hinos' nacionais para a quadra, eram poucos os artistas portugueses que se aventuravam na gravação de uma música de Natal, sendo a maioria dos álbuns e lançamentos do género em solo nacional constituídos por aquelas velhas músicas do domínio público que todos nos habituámos a ter como 'banda sonora' das compras de última hora. Com isto em mente, não deixa de ser surpreendente – e admirável – a tentativa da Vidisco de lançar um verdadeiro disco de Natal 'made in Portugal', com a edição de 'Natal – Música e Canções', logo na primeira quadra festiva da década de 90.

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De facto, das dezasseis músicas que compõem o álbum, nem uma se insere em qualquer das categorias supramencionadas: não há aqui 'standards' dos anos 40 a 60, canções cantadas porta-a-porta por crianças norte-americanas, e nem mesmo 'A Todos Um Bom Natal' – 'A' cantiga de Natal portuguesa – aqui marca presença. O alinhamento do disco é, assim, composto por uma mistura de canções tradicionais, como 'Noite Feliz', uma ou outra peça clássica ('Avé Maria', interpretado aqui por C. Morgan) e muitos temas menos conhecidos e mais obscuros, metade dos quais a cargo do misterioso conjunto Bola de Neve, e a outra da responsabilidade dos não menos anónimos Linucha, Ana Maria, Rui Pilar e Arlindo de Carvalho, além do referido C. Morgan. Uma equipa de perfeitos desconhecidos (quase todos especializados na produção de música 'por encomenda', embora Ana Maria tenha tido uma série de 'singles' na década de 60) que 'casa' bem com o título e capa perfeitamente genéricos do álbum.

De facto, reside aí a maior pecha de 'Natal – Música e Canções': apesar do conceito e temática interessantes e até algo inovadores, toda a execução do álbum tem aquela aura 'às três pancadas' típica de muitos lançamentos do género, e que, inevitavelmente, os relega para aqueles clássicos expositores de cassettes e CDs das tabacarias e bombas de gasolina, ou para a secção de 'super-desconto' do supermercado – e, a julgar pela ínfima expressão deste lançamento, tanto à época como três décadas e meia depois, é mesmo de crer que terá sido também esse o destino de 'Natal – Músicas e Canções'. Uma pena, pois conceptualmente, este disco poderia ter-se afirmado como alternativa às mesmas colectâneas importadas com a mesma dúzia de músicas de que, mesmo na altura, já todos estávamos cansados, bastando para isso ter tido uma execução um pouco mais cuidada...

07.08.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Qualquer propriedade intelectual que consiga algum sucesso – seja entre o público infanto-juvenil ou mesmo entre os mais 'crescidos' – estará sempre sujeita ao aparecimento de produtos que tentam utilizar a sua imagem para vender algo pouco ou nada relacionado com a mesma. Mas enquanto que a utilização dos sobrinhos do Pato Donald como porta-voz de cereais ainda pode ser vista como uma conexão com algum sentido, o mesmo não se pode dizer da presença de Songoku e seus amigos na capa de um CD de Europop.

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Um dos mais bizarros produtos já abordados no Anos 90 (crédito da imagem: OLX).

Que a maior febre de recreio de sempre em Portugal não poderia nunca ficar imune a este fenómeno era um dado adquirido; a estranheza vem do método escolhido para capitalizar sobre a popularidade da série. Isto porque, das sete músicas de 'Dragon Ball Z - Vivam os Meus Amigos' (lançado em 1997, no auge da popularidade da série) apenas as três escritas propositadamente pelo chefe do projecto, Fernando António dos Santos ('Kameame', 'Saber Ser Guerreiro' e 'Dragon Mix',) tentam estabelecer ligação com o 'anime' de Akira Toriyama, não constando sequer do alinhamento os lendários temas de abertura de qualquer dos (então) dois capítulos da saga. Mais – as músicas tão-pouco são interpretadas pelos actores da série, ficando, em vez disso, a cargo de vocalistas genéricos, alguns sem sequer direito a apelido nos créditos, caso do vocalista principal Cândido ou de uma tal Ana Margarida.

Quanto ao estilo musical, é o que se poderia esperar – um Eurodance marcadamente 'pimba', típico do período, e que não ficaria a mais num disco dos Excesso, D'Arrasar ou Santamaria (bandas que Cândido e os seus comparsas parecem, aliás, estar a tentar imitar.) Quem esperava algo mais tolo ou divertido, ao estilo de uns Aqua, poderá ficar desapontado, mas aqueles para quem a presença de Songoku na capa já constitui razão suficiente para a compra serão, sem dúvida, menos exigentes – à semelhança, aliás, dos responsáveis por este projecto, que nem sequer se preocuparam em colocar a imagem correcta na capa, já que o CD é alusivo a Dragon Ball Z, mas a ilustração é retirada do ÍNÍCIO da série original, com Songoku pré-adolescente e ainda de 'kimono' azul, e Yamcha com a sua roupa de fora-da-lei, antes de ambos trocarem as respectivas vestes pelo tradicional vermelho da escola do Mestre Tartaruga Genial!

'Vivam os Meus Amigos' destaca-se, assim, sobretudo pelo fascínio exercido por uma obra que consegue não acertar plenamente em absolutamente NADA, e cuja própria existência é, em si mesma, fascinantemente bizarra, justificando os elevadíssimos preços que o disco consegue em sites de leilões. Para quem ainda nutra alguma curiosidade mórbida quanto ao que se pode ouvir nesta 'pérola' da exploração comercial, fica abaixo o álbum completo, para que possam ser tiradas conclusões próprias...

20.02.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E em pleno período de Carnaval, nada melhor do que recordar aquele que foi um dos discos de maior sucesso entre a 'criançada' portuguesa noventista, e que tinha como intérpretes uma dupla de palhaços, um dos símbolos máximos desta época do ano.

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Capa e alinhamento do álbum.

Falamos do primeiro dos quatro (!) álbuns alusivos ao programa infantil Batatoon, lançado em 1999, e que foi talvez o expoente máximo do 'império' comercial derivado daquele que foi, também, um dos maiores sucessos da década junto do público-alvo, cuja licença se estendia ainda a uma revista e a um sem-número de produtos com as caras dos apresentadores Batatinha e Companhia; no entanto, era mesmo o CD ou cassette que os pequenos fãs do programa mais procuravam, tendo-se este álbum rapidamente tornado um êxito, não só em termos de vendas, mas também de popularidade entre a demografia em causa.

As razões para tal estatuto eram simples, e estavam ligadas ao facto de, ao contrário de outros álbuns infantis licenciados do mesmo período, como o d''Os Patinhos', este lançamento consistir, não apenas de duas ou três faixas 'licenciadas' – neste caso, os dois temas-título e a música dos 'Parabéns', as músicas mais populares do programa - rodeadas de versões de cantigas do domínio público; em vez disso, o restante alinhamento consistia de músicas verdadeiramente ouvidas no contexto do programa da TVI, aproximando assim o disco de algo como 'As Canções do Lecas' ou dos álbuns do Buereré ou da Arca de Noé, que se podem considerar seus precursores directos

O que muitas das crianças que vibravam ao som de 'Croc Croc' ou 'O Cãozinho Entra na Roda' certamente não saberiam à época era que estas mesmas músicas eram adaptações quase directas do repertório da famosa Xuxa, lenda viva dos programas infantis brasileiros, ou de outros conjuntos infantis daquele país, como o Trem da Alegria, com apenas muito ligeiros ajustes de linguagem para os trazer do Português do Brasil para o europeu, reduzindo assim a necessidade de compôr e gravar temas originais...

Comparação entre a versão original brasileira de 'Croc Croc' e a adaptação portuguesa incluída no álbum.

Mérito, ainda assim, para os dois intérpretes, que conseguiram não só 'trazer' estas músicas para o outro lado do Oceano Atlântico, mas também torná-las sucessos junto de um público infantil algo diferente do do brasileiro – até porque muitos destes temas tinham já mais de uma década de existência quando 'aterraram' na Península Ibérica pela mão dos dois palhaços. E apesar de muitas das crianças que corriam às prateleiras das lojas de discos ou supermercados para adquirir o CD só quererem ouvir o 'Ba Bata Batatoon' ou o tema de abertura, a verdade é que Batatinha e Companhia (ou os seus produtores) ofereciam um produto mais cuidado e completo do que a média, fazendo com que o dinheiro investido neste álbum ou nos seus sucessores directos se pudesse considerar bem gasto.

 

06.02.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Quando se pensa em vozes próprias para gravar um disco, ou até mesmo uma só música, o tom propositalmente agudo e nasalado de um palhaço não é, decerto, a primeira coisa que vem à mente; e, no entanto, só em Portugal, foram pelo menos dois os casos de palhaços a conseguirem enorme sucesso com a edição de álbuns inteiramente cantados por eles. Assim, neste que é o mês do Carnaval, dedicar-nos-emos a explorar a carreira musical desses artistas, começando esta semana pelo palhaço Croquete, e dedicando a próxima rubrica ao mítico álbum do Batatoon, sucesso absoluto junto do público infantil e, curiosamente, parcialmente criado e interpretado pelo antigo parceiro de Croquete, o palhaço Batatinha.

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Essa análise ficará, no entanto, para a próxima Segunda de Sucessos; esta semana, voltaremos a nossa atenção para António Assunção, desde finais dos anos 70 conhecido pelo nome profissional de Croquete, e que se destaca dos seus restantes companheiros de profissão, precisamente, pelos seus dotes musicais, que lhe valeram a alcunha de 'Palhaço Cantor' e fomentaram uma vasta carreira discográfica ao longo das duas décadas seguintes. De facto, são nada menos do que cinco os álbuns de originais lançados sob esse nome, ao qual se junta ainda um sexto – o primeiro, 'Palhaços À Solta', de 1981 – em parceria com Batatinha. As crianças dos anos 90, no entanto, conhecerão Croquete, sobretudo, pelo seu quarto disco, 'Muita Fruta', lançado em 1991, mesmo a tempo de cativar toda uma nova geração de potenciais fãs, nascidos já depois do auge da carreira do artista.

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Composto por dez faixas, 'Muita Fruta' tem a particularidade de se inserir declaradamente num estilo 'pimba', sendo que, com ligeiros ajustes temáticos, sem os coros infantis e com a 'voz de palhaço' substituída por um verdadeiro vocalista, faixas como 'Fruto Eu Ou Frutas Tu' poderiam, perfeitamente, ser comercializadas a um público adulto, ao contrário do que acontecia, por exemplo, com o pop infantil de 'As Canções do Lecas', lançado no ano anterior, ou com as pitorescas 'cantilenas' movidas a guitarra acústica de José Barata Moura ou Carlos Alberto Moniz (as quais são, ainda assim, evocadas em 'Linda Romã', 'Ai Que Bom Que É' ou 'A Doença do Pomar Tropical'.) A maioria das faixas do álbum movem a ritmo de 'bailarico', ideal para animar festas de Carnaval ou de Verão de aldeia, e o instrumental do tema-título permite, até, perceber onde os Mamonas Assassinas foram buscar inspiração para a sua paródia da música popular portuguesa em 'Vira-Vira'. Aqui e ali, há uma tentativa de diversificar a sonoridade ou apresentar outras influências (sobretudo brasileiras, como em 'O Barco das Bananas', ou latinas) mas a base musical de Croquete, pelo menos neste álbum, fica mesmo no domínio do 'pimba', embora neste caso dirigido a um público mais jovem.

Curiosamente, apesar de a sua carreira ter continuado, com participações televisivas e milhares de espectáculos de Norte a Sul do País, Croquete só voltaria a gravar novo disco mais de uma década e meia depois de 'Muita Fruta'; sem surpresa, dada a imutabilidade e intemporalidade geracional da música 'pimba', o novo disco oferece mais do mesmo, ficando na linha de outras produções dirigidas a um público infantil, tal como já acontecia com o seu antecessor na respectiva época. Quanto ao intérprete em si, apesar da menor projecção mediática em relação ao ex-parceiro, o mesmo manter-se-ia na activa, tendo já celebrado a marca de quarenta anos a fazer rir as crianças portuguesas – um feito notável para aquele que foi não só o pioneiro da 'palhaçada' em solo nacional, como também um artista discográfico mais bem sucedido do que alguém poderia imaginar...

 

12.12.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No ano passado, por esta altura, falámos da música de Natal dos Anjos, uma tentativa morta à nascença de criar um novo clássico natalício 'made in Portugal'; agora, um ano volvido, falamos de uma outra tentativa gorada, neste caso a de criar uma espécie de 'We Are The World' à portuguesa, protagonizado em 1996 por um colectivo composto por alguns dos maiores nomes da cena 'popularucha' nacional.

Nominalmente atribuído a José Malhoa, presumivelmente o 'cérebro' por detrás do projecto, 'Um Pedido de Natal' (assim se intitula o tema) é, no entanto, claramente um esforço conjunto por parte de uma equipa repleta de 'craques' do 'pimba' nacional, com destaque para o igualmente veterano Tony Carreira, para o grupo Broa de Mel e para a filha de Malhoa, Ana, então no esplendor da adolescência e no auge da popularidade enquanto apresentadora do mítico espaço infantil da SIC, Buereré. O resultado é uma balada típica do estilo musical em que se insere que, não fossem as referências ao Natal na letra, pouca associação teria com esta quadra – de facto, a instrumentação em si traz um toque mais latino do que propriamente invernal ou natalício.

Assim, e consistindo a parte musical da típica 'xaropada' processada, o principal interesse deste 'Pedido' reside na letra, a qual – apesar de simples e simplista, como é apanágio do estilo – não deixa de focar (e de forma surpreendentemente séria, ainda que superficial) uma temática importante, no caso, as separações forçadas entre familiares na noite de Natal, seja por obrigações laborais, desentendimentos pessoais, motivos de saúde (o tema viria, inclusivamente, a ser interpretado no 'Natal dos Hospitais'), ou simplesmente porque alguns dos membros do agregado se encontram em outra localidade ou até no estrangeiro. Uma temática bem relevante para o público-alvo da música (e do movimento 'pimba' em geral) e a que cada um dos intérpretes se entrega 'com tudo', em interpretações que ficam ali na divisória entre o emocional e o ridículo – como, aliás, viria a acontecer também com 'Mãe Querida', uma música de moldes muito semelhantes, mas alusiva ao Dia da Mãe, e que viria a tornar-se um sucesso 'viral' na era pré-Internet aquando do seu lançamento, dois anos mais tarde.

E ainda que (bem) menos lembrado do que esse clássico intemporal de meados dos 90, o 'Pedido' de José Malhoa e companhia não deixa de constituir uma tentativa honrada de gravar uma faixa em molde 'super-grupo', e apresenta muito daquele 'charme' típico do género; ou seja, sem fazer concorrência a 'A Todos Um Bom Natal', o facto é que há músicas bem piores para adicionar à 'playlist' natalícia nostálgica...

28.11.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Apesar de a música ter, pelo menos nas últimas décadas, uma relação simbiótica com certos aspectos do desporto, e do futebol em particular (basta lembrar os eternos 'cânticos' entoados a plenos pulmões por qualquer grupo semi-organizado de adeptos, e muitas vezes baseados em verdadeiros êxitos radiofónicos) foi apenas na ponta final do século XX que esse mesmo laço começou a ser explorado, primeiro através de singles entoados pelos próprios artistas (e, invariavelmente, algo embaraçosos), depois de álbuns de temas alusivos ao desporto-rei e, finalmente, através da incorporação de temas especialmente compostos para competições específicas. E a verdade é que o primeiro exemplo desta última categoria provou, desde logo, a validade desta última experiência, afirmando-se como um sucesso transversal tanto ao reduto desportivo como ao mercado 'pop' mais alargado.

Falamos de 'La Copa de La Vida' (também muitas vezes conhecida como 'The Cup of Life' ou simplesmente 'Allez, Allez, Allez') canção 'feita por encomenda' para o Mundial de França '98, e que ajudou a cimentar o seu intérprete, Ricky Martin, enquanto 'pop star' de apelo internacional, depois de a anterior 'Maria' o ter dado a conhecer ao Mundo. E a verdade é que esse êxito e fama foram bem merecidos, já que 'The Cup of Life' é uma daquelas 'malhas' irresistíveis e intemporais, que mesmo quem não a ouve há anos consegue trautear (não haverá, certamente, quem tenha ouvido esta faixa e não se lembre, pelo menos, do refrão 'Go, go, go, allez, allez, allez!'). Grande parte desse apelo deriva, precisamente, da intepretação entusiástica de Martin, um porto-riquenho sem qualquer razão de interesse no campeonato em causa (onde nem a sua selecção nem a dos EUA competiam) mas que não deixa por isso de 'dar o litro', aliando-se à 'gingada' e contagiante batida latina (que remete ao desporto-rei através do uso de apitos na faixa instrumental) para transmitir a emoção e paixão inerentes a qualquer competição desportiva, e ainda mais à maior prova futebolística a nível internacional.

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A capa do single da música.

Não é, pois, de estranhar que a referida música tenha tido 'vida' muito para lá do final do campeonato para a qual foi concebida, não só gozando de uma saudável presença nos 'tops' musicais da época como continuando a ser apreciada e até descoberta até aos dias que correm, afirmando-se como um dos melhores exemplos do poder de que um produto 'sinergístico' e 'trans-média' pode gozar, quando o seu processo de criação envolve mais coração do que calculismo – um pouco como acontece, aliás, com o próprio desporto a que alude...

 

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