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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

17.03.25

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

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Sim, tecnicamente, é 'batota' incluir um álbum musical lançado em 2022 num 'blog' sobre as décadas finais do século XX; no entanto, quando esse mesmo CD traz na capa um icónico 'Walkman' amarelo, e consiste de 'clássicos' radiofónicos por grupos como Os Lunáticos, Anjos, Santamaria ou Resistência, não há como não lhe dedicar espaço nestas nossas páginas. E embora haja que reconhecer que, passado o agradável 'choque' nostálgico, o alinhamento está longe de ser perfeito – as bandas acima citadas 'repetem' na segunda metade do disco, ao mesmo tempo que artistas tão ou mais seminais, como Silence 4, Excesso, D'ArrasarSantos & Pecadores, Pedro Abrunhosa, Paulo Gonzo ou Fúria do Açúcar, entre tantos outros, ficam de fora – o projecto em si é, ainda assim, de louvar, e deverá agradar a qualquer português das gerações 'X' e 'Millennial', mesmo sem lhe encher totalmente as medidas, e falhando no essencial da sua missão de capturar uma 'Polaroid' dos 'tops' nacionais da época. Fica lançado o repto para um potencial segundo volume; entretanto, podem recordar tempos mais simples e despreocupados ouvindo a primeira colectânea no Apple Music – embora, infelizmente, ainda não no YouTube...

04.03.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 03 de Março de 2025.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No que toca ao mundo da música, a Finlândia é normalmente associada, sobretudo, a sonoridades mais pesadas, inseridas no âmbito de géneros como o metal ou o rock gótico. Há quase exactos vinte e cinco anos, no entanto - nos meses da viragem do século e Milénio - o país escandinavo seria responsável por aquela que seria a grande música do primeiro Verão do século XXI, uma faixa de electrónica dançável que conseguia gerir perfeitamente as vertentes mais 'credível' e mais comercial, e que colocou a juventude do ano 2000, em Portugal e não só, a 'rappar' e a tentar inventar coreografias para acompanhar a batida.

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Falamos de 'Freestyler', o único êxito do duo conhecido como Bomfunk MC's, e que ajudou (e de que maneira!) a catapultar as vendas do álbum de estreia do mesmo, 'In Stereo', lançado no ano anterior. Com a sua mistura de hip-hop e batidas electrónicas, bem típica da época (sonicamente próxima de um Fatboy Slim, Prodigy ou mesmo dos momentos mais 'agitados' de uns Gorillaz) a música conquistou de imediato os corações de grande parte das gerações 'X' e 'millennial', passando desde logo a integrar a banda-sonora de muitos eventos e festas privadas levadas ao cabo ao longo dos seis a doze meses seguintes ao seu lançamento na Europa, em Fevereiro de 2000.

Esse sucesso levou, por sua vez, a que as referidas demografias descobrissem, também, 'malhas' como 'B-Boys Fly Girls' e 'Uprocking Beats', que, embora constituíssem meras variações da mesma fórmula, eram também dotadas de refrões suficientemente apelativos para 'ficarem na cabeça', sendo mesmo possível que alguns os tenham retido durante os vinte e cinco anos transactos.Infelizmente, o álbum caía na habitual armadilha de colocar todas as melhores músicas na frente, fazendo com que poucos chegassem alguma vez a passar de meio do álbum.

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Ainda assim, no entanto, as três músicas referidas teriam sido mais que suficientes para colocar os Bomfunk MC's no mapa; infelizmente, no entanto, tal não foi o caso, com os dois álbuns seguintes da dupla a passarem totalmente despercebidos no mercado europeu (ao ponto de poucos saberem que os mesmos existem), tendo o duo vindo a separar-se pouco depois do lançamento do terceiro LP, em 2005. Treze anos depois, no entanto, os Bomfunk voltavam à activa – e apesar de essa reunião não ter, até agora, rendido frutos, será talvez legítimo esperar que, a qualquer altura, o duo possa resumir a carreira do ponto em que a deixaram, com o lançamento de alguns 'singles' ou mesmo de um quarto álbum. Resta saber se o nome por si só chegará para reconquistar uma audiência para quem os finlandeses nada mais são do que uma recordação ligada a festas de Verão na infância e adolescência, e que provavelmente ainda hoje pensam que o jovem de 'rastas' que se passeava pelo vídeo oficial de 'Freestyler' – e que surgia na capa do 'single' - era um dos integrantes do grupo...

03.02.25

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

As colectâneas de músicas populares ou de domínio público interpretadas por artistas ou grupos anónimos têm, desde sempre, representado uma forma fácil e em conta de fazer dinheiro, através da combinação vencedora entre a intemporalidade dos repertórios e a ausência de quaisquer encargos monetários, àparte os da própria produção e edição dos discos; e, sendo pródigo neste tipo de canção, não é de estranhar que o mercado infanto-juvenil tenha, também ele, visto surgirem ao longo dos tempos inúmeros exemplos de colectâneas deste género, algumas mais cuidadas e com tentativas de preservação histórica e cultural, e outras mais declaradamente oportunistas, muitas vezes tendo como base e 'cara' um fenómeno então popular entre a demografia-alvo. Como tantas vezes sucede, no entanto, é no meio que está a virtude – e é, também, no meio que se situa o disco de que falaremos em mais esta Segunda de Sucessos.

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Lançado algures há trinta anos (embora o dia e mês sejam incertos) pela inevitável Vidisco, 'Caixinha de Sonhos – Canções Infantis' encaixa-se perfeitamente na descrição feita no início deste texto, apresentando duas dezenas daquele tipo de temas que qualquer criança aprende 'por osmose' entre amigos, na escola ou como 'ladainha' para brincadeiras tradicionais de rua ou jogos de 'palminhas'. Ou mais precisamente, três quartos do disco são compostos deste tipo de material, ficando o último reservado para temas então em alta entre a demografia-alvo - desde os genéricos de abertura de 'Pippi das Meias Altas' ou 'Vickie o Viking' até ao clássico de José Barata Moura, 'Joana Come A Papa'. O denominador comum entre estas duas vertentes é o virtual anonimato dos intérpretes, com mais de metade dos temas a ficarem a cargo de um grupo conhecido apenas como Carossel da Petizada, e os restantes a serem interpretados por cantoras (todas mulheres) e conjuntos cujos únicos outros créditos são outros discos deste mesmo tipo.

Um produto bem típico do seu género, portanto (e bem clássico, apesar do grafismo pseudo-psicadélico, bem indicativo da época de edição do trabalho) mas nem por isso menos bem conseguido ou capaz de cativar o seu público-alvo, sempre disposto a cantar, dançar e desfrutar destas 'cançonetas' clássicas, e ao qual a capa em moldes 'Photoshop sob o efeito de LSD, tão mau que é bom' não poderia deixar de agradar. É bem provável, aliás, que o mesmo se passe, ainda, com os jovens das actuais gerações Z e Alfa – ainda que, neste caso, a falta de imagens a acompanhar se possa revelar um obstáculo... Ainda assim, uma colectânea mais que meritória para partilhar com os filhos pequenos, e lhes proporcionar os mesmos momentos de que as suas mães e pais desfrutaram, trinta anos antes, com exactamente a mesma banda-sonora...

08.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 06 de Janeiro, e Terça-feira, 07 de Janeiro de 2025.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

O advento e popularização do CD-ROM – e dos respectivos leitores, que substituíram as 'drives' de disquetes na maioria dos PCs a partir de meados da década de 90 – abriu toda uma nova gama de possibilidades em termos de programação, já que o novo formato tornava possível criar discos compatíveis não apenas com computadores, mas também com leitores de CD padrão. Não foi, por isso, de surpreender que um dos muitos tipos de 'software' criados e lançados na época em causa tenha tido como foco, precisamente, conteúdos musicais, que surgiam tanto em formato áudio (reproduzível num qualquer 'tijolo', aparelhagem ou Discman) como também interactivo, com acompanhamento de imagem, para quando o disco era inserido numa 'drive' de PC. Era, precisamente, esta a base de uma colecção de cinco CD-ROM dirigida a um público infantil e lançada algures em finais do ano de 1997, em conjunção com o histórico jornal Diário de Notícias, sob o nome de Cantigas de Roda.

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A colecção completa, retirada do nosso 'arquivo' pessoal.

Como a própria designação indica, o foco dos cinco volumes criados pela Cristaldata e pela Duplisoft eram as canções populares infantis passadas de geração em geração, normalmente num contexto de jogos tradicionais, de rua ou de roda (daí o nome), sendo a excepção o primeiro volume, que se focava exclusivamente em canções de temática natalícia, recolhendo exemplos de todo o País. Os restantes quatro lançamentos, no entanto, compilavam todos os clássicos do costume, lado a lado com alguns temas mais obscuras, que ajudavam também a dar a conhecer ao jovem público alguns temas menos conhecidos, e que poderiam ser do gosto do mesmo.

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O alinhamento de um dos volumes da colecção.

No cômputo geral, portanto, uma colecção que unia harmoniosamente e de forma natural o aspecto didáctico ligado à preservação da cultura popular com a diversão e alegria inerente aos temas contidos nos seus cinco volumes, criando assim uma combinação que não podia deixar de agradar à demografia a que esta colecção se destinava. Talvez por isso seja algo surpreendente ver que estas Cantigas de Roda se encontram algo Esquecidas Pela Net, obrigando a uma pesquisa muito específica (e munida de grande volume de dados) para sequer encontrar referências à mesma. Um destino algo injusto para uma série bem pensada, estruturada e conseguida (até mesmo as capas aparentemente mal feitas remetem deliberadamente à arte e pintura infantis), que 'fez tudo bem' e que, à data de lançamento, não terá deixado de granjear alguns fãs entre o segmento mais tardio da geração 'millennial'. Cabe, pois, ao nosso 'blog' servir, mais uma vez, como 'recuperador' de material (quase) perdido, e dar a recordar esta colecção, pouco depois de se completarem exactos vinte e oito anos sobre o lançamento do seu primeiro volume.

10.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024.

NOTA: Por razões temáticas, todas as Terças-feiras de Dezembro serão de TV.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

De entre os elementos que anunciavam e compunham o Natal infantil português dos anos 90 e 2000, um dos mais salientes eram os anúncios televisivos alusivos à quadra – ou melhor, UM anúncio televisivo em particular, que qualquer 'millennial' português saberá de imediato identificar, e que foi tradição anual nos canais generalistas nacionais até ao dealbar da década de 2010.

De facto, os 'spots' publicitários natalícios da cadeia de supermercados e hipermercados Continente, e a respectiva banda sonora, são, para toda uma geração, quase tão emblemáticos da quadra como o 'Natal dos Hospitais' ou o som do Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras. Aliás, há até motivos para dizer que 'Bem Vindos Ao Mundo Encantado dos Brinquedos' é, para a referida demografia, a 'outra' música de Natal portuguesa por excelência, trazendo à mente visões da então mascote da cadeia, a avestruz Leopoldina, a movimentar-se por entre verdadeiras pilhas de brinquedos, que apenas aguçavam a vontade de visitar o mais rapidamente possível o Continente mais próximo, e se deliciar com a variedade de opções para presentes de Natal.

Escusado será dizer que, apesar de esforços continuados, o Continente não mais logrou repetir o sucesso destas cadeias; anúncios subsequentes, já com a segunda mascote Popota ao lado de Leopoldina, eram bem conseguidos, mas falhos em termos de banda sonora quando comparados com o seu antecessor – ainda que, assumidamente, o mesmo tivesse colocado a fasquia absurdamente alta. Assim, a geração nascida ou crescida durante as décadas de 90 e 2000 pode, mesmo, gabar-se de ter assistido, em primeira mão, aos melhores anúncios de Natal alguma vez criados em Portugal, cuja música (que podia perfeitamente ter sido lançada como 'single' comercial, pois encontraria sem dúvida o seu público) ainda hoje saberão sem dúvida cantar 'de trás para a frente' e 'de cor e salteado...'

25.11.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No que diz respeito a nomes sonantes e incontornáveis da música portuguesa, há uma banda que se continua a destacar acima de todas as outras: os Xutos e Pontapés. Mesmo no ocaso da carreira e com uma fracção da relevância e base de fãs que tinham no pico da carreira, o colectivo liderado por Tim continua a ser o primeiro nome que vem à mente da grande maioria dos melómanos portugueses ao listar artistas musicais de destaque na cena nacional. É, pois, tudo menos surpreendente que os roqueiros lisboetas tenham sido alvo, por ocasião dos seus vinte anos de carreira, de um álbum de tributo, que reúne outros tantos artistas, dos mais diversos estilos, para interpretar algumas das mais conhecidas 'malhas' do grupo.

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Explicitamente intitulado 'XX Anos, XX Bandas' (aproveitando a simbologia do X, desde sempre inerente à imagem da banda) o álbum em questão era lançado algures há vinte e cinco anos, nos últimos meses do Segundo Milénio, ainda mais do que a tempo de atingir o topo das tabelas de vendas, embora não de figurar na lista dos mais vendidos do ano. E se o próprio conceito do disco já era, só por si, suficiente para assegurar o sucesso do mesmo, a Valentim de Carvalho (a editora de sempre dos Xutos) não se ficou por menos, e, ao invés de lançar algo 'amanhado' aos Pontapés, reuniu a 'nata' musical portuguesa para prestar homenagem ao grupo, sem olhar a estilos musicais - ao longo destas duas dezenas de músicas pode ouvir-se desde o rap de Boss AC ou Da Weasel ao 'grunge' de Lulu Blind, passando pelo puro punk lisboeta de Despe & Siga e Censurados (estes últimos reunidos expressamente para gravar a sua faixa para o projecto, 'Enquanto a Noite Cai'), pelo rock gótico-teatral dos Mão Morta, pelo 'folk-punk' de Quinta do Bill e Sitiados e pelo trip-hop dos Cool Hipnoise. O foco maior fica, no entanto, por conta do pop-rock, segmento em que os Xutos & Pontapés se inserem, sendo o grupo de Tim e companhia aqui homenageado por 'colegas de cena' como Clã, Jorge Palma, Ornatos Violeta, GNR, Entre Aspas, Rádio Macau, Sétima Legião ou Rui Veloso, além dos Ex-Votos, projecto de Zé Leonel, membro fundador dos Xutos e figura-chave da cena 'punk' do bairro de Alvalade, com a qual o grupo mantinha laços estreitos numa fase inicial, e cujo primeiro álbum celebra também este ano três décadas de existência. Para a 'chuva de estrelas' ficar completa, só ficou mesmo a faltar um representantes do 'heavy metal', como Moonspell ou RAMP.

Com tal diversidade musical (e por parte de um alinhamento de luxo) não é de admirar que o principal foco de interesse de 'XX Anos, XX Bandas' seja mesmo descobrir como cada um dos artistas transformou o tema original para o adaptar ao seu estilo – tal como não se afigura surpreendente que os resultados sejam algo variáveis, embora mantendo sempre o alto padrão de qualidade expectável por parte dos nomes envolvidos. Goste-se mais ou menos de um ou outro tema, no entanto, seria difícil pedir melhor tributo à maior banda portuguesa de todos os tempos, ou melhor maneira de celebrar um marco como o dos vinte anos de carreira, que o grupo assinalou também com um lendário concerto no Festival do Sudoeste, em suporte a este mesmo disco. De facto, mesmo a um quarto de século de distância, 'XX Anos, XX Bandas' continua a constituir uma excelente experiência sonora, pelo que a melhor maneira de terminar este 'post' é mesmo com a partilha do álbum em causa, disponível na íntegra no YouTube, e que permite constatar e comprovar tudo o que sobre ele foi dito nas últimas linhas. Reservem, portanto, uma hora e vinte minutos, e desfrutem de uma 'constelação' de artistas a tocar algumas das mais icónicas canções da História da música moderna em Portugal.

28.10.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Mesmo antes de ganhar a definição oficial de 'pimba', a música popular de cariz romântico era já uma das forças mais dominantes e dominadoras na cena cultural e artística portuguesa, sendo responsável pela criação de inúmeros êxitos e vendas de discos em volumes totalmente impensáveis para a maioria dos outros géneros, alicerçadas, sobretudo, em torno de três nomes: por um lado, Ágata, e, por outro, Roberto Leal e o homem a quem dedicamos este 'post', que acaba de nos deixar aos setenta e oito anos, tendo falecido no final da semana passada (concretamente na Quinta-feira, 24 de Outubro), vítima de cancro no fígado. Falamos de João Simão da Silva, alentejano (de Évora) mais conhecido nos palcos e ondas de rádio nacionais pelo seu nome artístico, Marco Paulo.

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Marco Paulo nos anos 90.

Tendo iniciado carreira ainda novo (em 1966, aos vinte e um anos), o cantor romântico português por excelência conseguiu a proeza de atravessar nada menos do que sete décadas musicais, sem nunca perder a relevância ou o reconhecimento dentro do seu género, e sabendo sempre reinventar-se, mesmo após os maiores dissabores e contrariedades; e apesar de o seu período áureo se ter dado na década anterior à que este blog visa relembrar, à entrada para a mesma, Marco Paulo era ainda um nome omnipresente na cultura popular portuguesa, continuando os seus maiores êxitos a ter alta rotação num certo sector radiofónico, e a serem instantaneamente reconhecíveis até mesmo para as demografias mais jovens. Ao invés de se 'sentar em cima dos louros', no entanto, o cantor continuava a trabalhar incansavelmente, juntando várias novas músicas à sua lista de êxitos (algumas das quais tiveram a distinção de ser parodiadas por Herman José, como Tony Silva, em programas como 'Hermanias') e descobrindo uma nova vocação como apresentador de televisão, com passagens bem sucedidas pela grelha da RTP em 1994 e 1996.

Quando tudo parecia correr pelo melhor, no entanto, surge o primeiro susto, com uma operação para remover um tumor no cólon, em Junho de 1996. Marco recupera, e prossegue a carreira de vento em popa, continuando a marcar presença em feiras, romarias e programas da manhã e de férias até ao dealbar da presente década, altura em que havia já celebrado os cinquenta anos de carreira. É nesse período que lhe é descoberto novo cancro, agora na mama (caso raríssimo em homens), que o cantor novamente debela. Três anos depois, contra todas as probabilidades, Marco recebe novo diagnóstico de cancro, agora no pulmão...e torna a sobreviver, retomando a sua posição ao lado de Ana Marques no programa, 'Alõ Marco Paulo', o qual apresentava ainda em Julho de 2024, antes de a sua saúde se deteriorar em virtude de novo tumor, este no fígado. E se o cantor lograra contrariar o ditado que diz que 'à terceira é de vez', o facto é que este quarto tumor se revelou demasiado agressivo para o fragilizado corpo do cantor, que acabaria mesmo por sucumbir ao seu 'velho inimigo', deixando mais pobre a cena musical de cariz popular e romântico, e de luto grande parte da população portuguesa, para quem já 'fazia parte do cenário', quer através das suas canções, quer da presença nos seus ecrãs de televisão. Que descanse em paz.

01.10.24

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 30 de Setembro de 2024.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Há quase exactos trinta anos, no Verão de 1994, ao aparecimento e rápida popularização de um novo género musical em Portugal: o rap/hip-hop cantado em Português. Até então confinado a 'rodas' e batalhas 'freestyle' nas ruas dos bairros pobres das duas grandes Áreas Metropolitanas, o estilo almejava, nesse ano, conquistar finalmente as ondas radiofónicas, muito por conta da compilação 'Rapública', e do mirabolante sucesso obtido pelo 'single' 'Nadar', dos Black Company, cujo refrão se tornou ubíquo nos recreios portugueses durante o ano lectivo seguinte. Mais do que veículo para um dos mais famosos e icónicos 'one-hit wonders' portugueses, no entanto, a referida colectânea serviu como instrumento de divulgação do estilo às massas, e subsequente criação de oportunidades para novos e desconhecidos artistas dentro do género.

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Inicialmente concebida como mostruário do vibrante movimento hip-hop que vinha nascendo na Margem Sul do Rio Tejo, em localidades como o Barreiro, Almada, Amora ou Seixal, 'Rapública' era uma ideia do MC e produtor luso-caboverdiano Ângelo César Firmino – mais conhecido pelo 'nome de guerra' Boss AC – que estenderia convites aos grupos do seu 'círculo', mostrando-se mesmo disposto a alargar o espectro geográfico da colectânea com um convite aos Mind Da Gap, pioneiros da cena portuense que viria, anos depois, a 'eclipsar' a lisboeta. Face à recusa de Ace, Presto e Serial, no entanto, AC avançaria com um alinhamento de apenas cinco artistas (incluindo o próprio), cada um com uma 'amostra' de dois temas.

A acompanhar Boss nesta pioneira empreitada estariam Family, Zona Dread, Líderes da Nova Mensagem e, claro, Black Company, que em breve mostrariam o 'poderio' do hip-hop nacional a uma faixa alargada de ouvintes; em comum, os cinco artistas tinham a escolha do português para as letras (embora três temas surgissem em língua inglesa, e um em crioulo cabo-verdiano), e o carácter contestário e crítico das mesmas, como era apanágio da primeira vaga do género. Para 'single', era escolhido 'Nadar', um tema de letra menos 'dura' e refrão contagiante, cujo sucesso ultrapassaria quaisquer expectativas que os músicos pudessem ter alimentado, tornando-se o tema por excelência do Verão de 1995 em Portugal e ajudando a colectânea a vender umas impressionantes quinze mil cópias no primeiro ano, número que faz dela, ainda hoje, um dos discos do género mais vendidos em Portugal.

A principal consequência deste impacto inicial seria, no entanto, a demonstração de viabilidade do hip-hop enquanto género 'mainstream' em Portugal, que levaria, nos anos segiintes, à formação de uma cena pujante, bi-partida entre Lisboa e o Porto, e que revelaria bandas e artistas como Da Weasel, General D ou o próprio Boss AC, além de Mind Da Gap e Deallema, mais a Norte. Em suma, o movimento hip-hop português talvez não tivesse sido possível nem viável sem a coragem de Boss AC em lançar esta histórica colectânea, e as capacidades compositivas dos Black Company, que conseguiram pôr Portugal a cantar sobre os problemas de jovens pobres de bairros suburbanos durante um Verão inteiro. Razões mais que suficientes para darmos algum espaço à 'mãe' do chamado TugaHop, no ano em que se celebram exactos trinta anos sobre o 'nascimento' oficial do género.

08.07.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

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Apesar de não ser imediatamente óbvia, a relação entre os mundos do futebol e da música tem, tradicionalmente, sido simbiótica. De sucessos 'pop' adaptados a cânticos (e vice-versa) a músicas especificamente conotadas com o desporto-rei, ou mesmo tematizadas em torno deste, têm sido muitos os exemplos desta sinergia desde que o futebol se tornou um espectáculo globalista e massificado; quando a este paradigma se junta também a vertente comercial a que o desporto em causa vem, cada vez mais, sucumbindo, a existência de discos oficiais para as competições internacionais da UEFA e FIFA torna-se lógica ao ponto de parecer óbvia.

E de facto, foram poucos os Campeonatos do Mundo ou Europeus dos últimos trinta anos a não se fazerem acompanhar de um álbum oficial repleto de 'malhas' evocativas do ambiente em torno da competição em causa; o primeiro grande exemplo desta tendência deu-se em 1996, quando a Inglaterra juntou dois dos seus grandes 'amores' num só conjunto de doze faixas a que chamou 'The Beautiful Game', e voltou a ser assim com quase todas as competições subsequentes, logo a começar pelas duas seguintes, nomeadamente o Mundial de França '98 e o Euro 2000. É ao álbum oficial deste último que, em época de novo Europeu, dedicamos abaixo algumas linhas.

Por comparação a 'The Beautiful Game' e até ao álbum do France '98, o disco do Euro 2000 revela desde logo uma abordagem algo distinta, mais centrada na coesão musical e criação de atmosferas do que no investimento em grandes nomes da música mundial. De facto, onde o disco de '96 trazia nomes como Jamiroquai, New Order, Primal Scream, Supergrass, Blur ou Pulp, e o de '98 contava com Ricky Martin (com a imortal 'The Cup of Life') Youssou N'Dour, Gypsy Kings, Daniela Mercury, Chumbawamba e Skank, entre outros, o único nome mais imediatamente reconhecível do álbum de 2000 será o dos pop-rockers Republica, ficando as restantes faixas a cargo de DJs e artistas de música electrónica relativamente desconhecidos fora da esfera do Europop e Euro-disco. E apesar de a estratégia escolhida até fazer sentido, dado o campeonato em causa ter sido realizado em dois dos 'centros nevrálgicos' deste estilo de música, a verdade é que essa falta de variedade e grandes nomes limitou severamente o potencial público-alvo do álbum, limitando o seu apelo a quem gostava de música electrónica na sua vertente mais 'azeiteira'.

Não quer isso dizer, no entanto, que o álbum fosse um falhanço total; nenhum conjunto de músicas encabeçado pela monstruosa 'Campione 2000' merece esse epíteto. No entanto, quando comparado aos seus dois antecessores, e a alguns lançamentos posteriores, este é, sem dúvida, um lançamento mais limitado (por definição) e, como tal, menos presente na memória colectiva dos fãs de futebol. Uma pena, já que um dos melhores Europeus de sempre merecia, decididamente, ter gozado de uma banda sonora à altura do futebol praticado...

24.06.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No contexto certo, um tema musical pode ter tanto impacto, e fazer tanta diferença na percepção de um todo, quanto um logotipo ou qualquer outro elemento gráfico ou de apresentação; o do desporto não é excepção a esta regra, bastando relembrar a mais que icónica sequência de introdução dos jogos da Liga dos Campeões para comprovar esse facto. Assim, não é de surpreender que as entidades reguladoras de certos desportos, entre eles o futebol, procurem associar os seus principais eventos a um determinado tema ou canção, normalmente composto propositadamente para o certame, na esperança que o mesmo se imortalize entre o público adepto e faça perdurar na memória o evento que representa; e apesar de nem todas estas tentativas serem particularmente bem sucedidas, algumas chegam a almejar um determinado nível de tracção cultural, sendo um dos melhores exemplos a faixa sobre a qual versa o 'post' de hoje.

Falamos de 'Campione', 'malha' eurodance puramente noventista (culturalmente, ainda se estava nos anos 90 em meados de 2000) composta e interpretada pelo DJ sueco E-Type, e cujo motivo musical remete a uma canção popular holandesa de cariz patriótico, intitulada 'Oranje Boven'; para quem não é oriundo dos Países Baixos, no entanto, a melodia será 'apenas' a daquela canção do Euro 2000, ficando mais ligada àquele Verão de futebol do que a qualquer fervor patriótico. E a verdade é que, fosse qual fosse a fonte de inspiração, E-Type fez um trabalho magnífico no tocante à composição da faixa, transformando-a num daqueles 'hinos' de que basta ver o título para imediatamente evocar o refrão e batida mais do que pegajosos, e colocar até o mais empedernido dos roqueiros a trautear o pseudo-cântico de estádio que serve de base aos mesmos. Não é, pois, de admirar que o próprio cântico em si tenha, posteriormente, sido adoptado para esse mesmo propósito na 'vida real', extravasando assim os limites da música em que se insere – o que não pode deixar de ser considerado um sinal de sucesso compositivo.

É, pois, por demais evidente que 'Campione' constitui um exemplo claro de sucesso no campo das sinergias entre eventos desportivos e o mundo da música, ainda que não atingindo o nível da referida música da Champions ou ainda de 'Força', o hino do Euro 2004 da autoria de Nelly Furtado. Ainda assim, uma composição mais que merecedora de menção nestas nossas páginas, numa altura em que se celebram vinte e quatro anos não só sobre o seu lançamento, mas sobre o evento a que serviu de banda-sonora oficial.

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