Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

12.05.25

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Qualquer melómano velho o suficiente para ter tido interesse em música em inícios dos anos 90 não hesitará em apontar essa época como a era do nascimento do 'rap' e 'hip-hop' em Portugal, pelo menos no que ao 'mainstream' diz respeito. De facto, a primeira metade da última década do século XX marcava o momento em que o estilo musical nascido e popularizado do outro lado do Oceano Atlântico na década anterior extravasava a presença maioritariamente 'clandestina' que marcava nos bairros periféricos das grandes cidades, e 'explodia' nos ouvidos de toda uma geração de jovens prontos a receberem e assimilarem aquelas palavras de ordem e crítica social em ritmo sincopado. O culminar desta ascensão do chamado 'hip-hop tuga' seria, claro, a colectânea 'Rapública', lançada em 1994 e que popularizaria nomes como Black Company ou o produtor, Boss AC; no entanto, logo nos primeiros meses da década, já um grupo de jovens da mesma zona na Margem Sul do rio Tejo se havia aventurado na organização do primeiro festival de 'rap' nacional. Entre eles, encontrava-se um MC em ascensão, e que em breve viria a deixar a sua marca no panorama do 'rap' nacional: o moçambicano Sergio Matsinhe, mais conhecido pelo 'nome de guerra' General D.

General_D_the_godfather_of_Portuguese_hip_hop_in_L

Membro fundador dos supracitados Black Company (embora já não fosse a tempo de desfrutar dos benefícios trazidos pelo mega-sucesso 'Nadar') e envolvido em inúmeros outros projectos da cena à época, General D destacava-se pela 'africanidade' que injectava no seu 'rap'/'hip-hop', fosse no aspecto musical, fosse na grafia das letras ou mesmo na forma como as interpretava. Esta vertente algo mais original do que a média, bem como mais flexível e versátil, não tardou a colocá-lo no 'radar' de artistas mais comerciais, tendo a primeira gravação do jovem MC sido como convidado num tema dos Pop Dell'Arte, em 1990. Ainda antes de qualquer registo próprio, D surge também como um dos compositores e intérpretes da banda sonora de 'Até Amanhã, Mário', de 1993, um dos poucos filmes portugueses da época a granjear atenção por parte do público.

download (2).jpeg

Com tal nível de exposição mediática, o surgimento de registos próprios era inevitável, e, em 1994, General D lança mesmo o seu primeiro EP, o provocatoriamente intitulado 'PortuKKKal É Um Erro'. Esta denominação, aliada às letras críticas do racismo vigente na sociedade portuguesa, caíram como uma 'pedrada no charco' da bem-comportada cena musical nacional, e valeram a D a presença em muitas plataformas de debate público, para discutir os problemas vividos por imigrantes, retornados e seus descendentes no Portugal daquela época.

download.jpeg

Longe de 'descansar sobre os louros', no entanto, General D voltava ao 'ataque' menos de um ano depois, desta vez com um longa-duração, em conjunto com o grupo Os Karapinhas. O título 'Pé Na Tchôn, Karapinha Na Céu' deixa desde logo bem evidente a filosofia e atitude perante a vida de General D, embora se afirme como algo introspectivo e humilde face à barragem de ácidos comentários tecidos pelo MC nas suas letras. Um registo cáustico, mesmo para os padrões do 'hip-hop', e que posicionava General D como um dos principais 'activistas' da cena nacional, bem mais engajado e combativo do que os muito mais explicitamente comerciais Da Weasel, ou mesmo do que a maioria dos nomes presentes em 'Rapública'. O vídeo de 'Black Magic Woman' (que, ao contrário do que se possa pensar, não constitui uma versão da música dos Fleetwood Mac) estava também em alta rotação nos programas de 'videoclips' nacionais, cimentando o estatuto de Boss AC como uma das grandes 'esperanças' do 'rap' nacional, uma reputação que apenas aumentaria com participações em temas de Cool Hipnoise e Ithaka.

download (1).jpeg

O passo final na evolução de D seria, no entanto, dado apenas dois anos depois, em 'Kanimambo', o segundo (e, até hoje, último) álbum do MC. Agora acompanhado por colaboradores de luxo, como António Chainho ou o congénere brasileiro Gabriel o Pensador, o General debitava mais uma série de temas cáusticos (embora também mais trabalhados) que lhe permitiam continuar a 'somar e seguir' na cena. Uma bem-sucedida 'tournée' por Portugal, Espanha e França parecia anunciar a 'explosão' definitiva de D, o qual, concluída a mesma, se deslocaria até à Jamaica para trabalhar com os renomados Sly and Robbie...

...e não voltaria a ser visto durante quase duas décadas.

De facto, seria apenas em 2014 que um jornalista seguiria o 'rasto' de Sergio Matsinhe, vindo a encontrá-lo em Londres. Em entrevista exclusiva, o MC revelava ter passado maus momentos tanto na capital britânica como nas ruas de Nova Iorque, vivendo uma existência muito distante dos dias de glória nos palcos nacionais. A entrevista, e respectiva capa, ajudavam o General a regressar à consciência popular dos melómanos nacionais, mesmo a tempo da reedição dos seus dois registos, em 2015. O regresso aos palcos, no entanto, dar-se-ia apenas quatro anos depois, num evento na Altice Arena que reunía muitos dos 'pais fundadores' do 'hip-hop tuga' – não só General D, como também Boss AC, Black Company ou Chullage, entre outros. Um final merecidamente apoteótico para uma carreira (e vida) que foi do Céu ao Inferno, sempre de pés no chão e carapinha no ar, e que continua, até hoje, a deixar a sua marca em todo um movimento musical.

17.03.25

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

296x296bb.webp

Sim, tecnicamente, é 'batota' incluir um álbum musical lançado em 2022 num 'blog' sobre as décadas finais do século XX; no entanto, quando esse mesmo CD traz na capa um icónico 'Walkman' amarelo, e consiste de 'clássicos' radiofónicos por grupos como Os Lunáticos, Anjos, Santamaria ou Resistência, não há como não lhe dedicar espaço nestas nossas páginas. E embora haja que reconhecer que, passado o agradável 'choque' nostálgico, o alinhamento está longe de ser perfeito – as bandas acima citadas 'repetem' na segunda metade do disco, ao mesmo tempo que artistas tão ou mais seminais, como Silence 4, Excesso, D'ArrasarSantos & Pecadores, Pedro Abrunhosa, Paulo Gonzo ou Fúria do Açúcar, entre tantos outros, ficam de fora – o projecto em si é, ainda assim, de louvar, e deverá agradar a qualquer português das gerações 'X' e 'Millennial', mesmo sem lhe encher totalmente as medidas, e falhando no essencial da sua missão de capturar uma 'Polaroid' dos 'tops' nacionais da época. Fica lançado o repto para um potencial segundo volume; entretanto, podem recordar tempos mais simples e despreocupados ouvindo a primeira colectânea no Apple Music – embora, infelizmente, ainda não no YouTube...

03.02.25

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

As colectâneas de músicas populares ou de domínio público interpretadas por artistas ou grupos anónimos têm, desde sempre, representado uma forma fácil e em conta de fazer dinheiro, através da combinação vencedora entre a intemporalidade dos repertórios e a ausência de quaisquer encargos monetários, àparte os da própria produção e edição dos discos; e, sendo pródigo neste tipo de canção, não é de estranhar que o mercado infanto-juvenil tenha, também ele, visto surgirem ao longo dos tempos inúmeros exemplos de colectâneas deste género, algumas mais cuidadas e com tentativas de preservação histórica e cultural, e outras mais declaradamente oportunistas, muitas vezes tendo como base e 'cara' um fenómeno então popular entre a demografia-alvo. Como tantas vezes sucede, no entanto, é no meio que está a virtude – e é, também, no meio que se situa o disco de que falaremos em mais esta Segunda de Sucessos.

R-9509453-1481816526-6574.jpg

Lançado algures há trinta anos (embora o dia e mês sejam incertos) pela inevitável Vidisco, 'Caixinha de Sonhos – Canções Infantis' encaixa-se perfeitamente na descrição feita no início deste texto, apresentando duas dezenas daquele tipo de temas que qualquer criança aprende 'por osmose' entre amigos, na escola ou como 'ladainha' para brincadeiras tradicionais de rua ou jogos de 'palminhas'. Ou mais precisamente, três quartos do disco são compostos deste tipo de material, ficando o último reservado para temas então em alta entre a demografia-alvo - desde os genéricos de abertura de 'Pippi das Meias Altas' ou 'Vickie o Viking' até ao clássico de José Barata Moura, 'Joana Come A Papa'. O denominador comum entre estas duas vertentes é o virtual anonimato dos intérpretes, com mais de metade dos temas a ficarem a cargo de um grupo conhecido apenas como Carossel da Petizada, e os restantes a serem interpretados por cantoras (todas mulheres) e conjuntos cujos únicos outros créditos são outros discos deste mesmo tipo.

Um produto bem típico do seu género, portanto (e bem clássico, apesar do grafismo pseudo-psicadélico, bem indicativo da época de edição do trabalho) mas nem por isso menos bem conseguido ou capaz de cativar o seu público-alvo, sempre disposto a cantar, dançar e desfrutar destas 'cançonetas' clássicas, e ao qual a capa em moldes 'Photoshop sob o efeito de LSD, tão mau que é bom' não poderia deixar de agradar. É bem provável, aliás, que o mesmo se passe, ainda, com os jovens das actuais gerações Z e Alfa – ainda que, neste caso, a falta de imagens a acompanhar se possa revelar um obstáculo... Ainda assim, uma colectânea mais que meritória para partilhar com os filhos pequenos, e lhes proporcionar os mesmos momentos de que as suas mães e pais desfrutaram, trinta anos antes, com exactamente a mesma banda-sonora...

21.01.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2025.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Ao chegar finalmente a Portugal, em meados da década de 90, a TV Cabo trouxe consigo uma gama de canais suficientemente vasta para deixar estarrecido qualquer espectador que apenas recentemente vira o seu espectro de escolha duplicar de dois para quatro canais abertos e generalistas. E se a maioria das novas adições à grelha eram importadas directamente do estrangeiro, sem alterações (como nos casos dos canais generalistas de outros países, ou de canais temáticos como o Cartoon Network, TCM, VH1 ou MTV, que surgiam nas suas versões Britânicas) outros tantos eram alvo de adaptações para a realidade nacional (como os canais de documentários ou o Eurosport, que surgia com comentários de jornalistas nacionais) e outros ainda eram de 'fabrico próprio', senão em Portugal, pelo menos na Península Ibérica. Entre estes últimos contavam-se canais tão icónicos como o Viver/Vivir (e o seu 'colega de casa' menos casto, o famoso 'canal 18') os ainda hoje existentes Canal Hollywood, Sport TV e Canal Panda (do qual aqui paulatinamente falaremos) ou a estação que abordamos neste artigo, e que marcou época entre os jovens melómanos ibéricos da geração 'millennial': o saudoso Sol Música.

Canal Sol Musica.jpg

Inicialmente com transmissão simultânea em Portugal e Espanha, o Sol Música iniciou as emissões em 1997, desde logo com uma proposta diferenciada: a de servir como alternativa ibérica aos canais de música internacionais, MTV e VH1, da mesma forma que o VIVA vinha fazendo em França – um desiderato atingido, sobretudo, com a inclusão de uma percentagem significativa de artistas portugueses ou espanhóis na sua rotação de vídeos. Assim, sem nunca descurar os sucessos internacionais 'da moda', o canal musical ibérico aproveitava, simultaneamente, para dar a conhecer à sua demografia-alvo bandas e cantores que, de outra forma, poderiam não ter gozado de tal nível de exposição, fomentando assim a cena musical dos dois países da Península.

Também por oposição à MTV e VH1, o Sol deixava a música falar (ou antes, tocar) mais alto, descartando a presença de apresentadores nos seus vários blocos musicais, e maximizando assim o tempo de transmissão de cada um deles, sem que se perdessem preciosos minutos com tentativas de entretenimento. Tal não significava, no entanto, que o canal não transmitisse notícias e reportagens sobre os principais acontecimentos da cena musical, apenas que essas emissões eram feitas de forma mais directa e assumida, e menos 'intermediada' – um risco que, apesar de tornar o canal menos apelativo para quem gostava dos 'video-jockeys' dos canais internacionais ou de programas como o 'Top +', o fazia também paragem de eleição para quem apenas queria 'ouver' videoclipes dos seus artistas e géneros musicais favoritos. Para estes, as noites de Sábado eram também um 'prato cheio', já que o canal dedicava este período a blocos de vídeos alusivos a apenas um artista ou banda, os quais podiam chegar a ser transmitidos durante várias horas.

Escusado será dizer que o sucesso do Sol Música foi quase imediato, tendo o mesmo granjeado suficientes audiências para justificar uma divisão 'regional', com o canal a dividir-se em dois (um para cada um dos países da Península Ibérica) há pouco mais de vinte e cinco anos, nas últimas semanas do século XX e do Segundo Milénio. Tal permitia aumentar ainda mais o volume de artistas nacionais integrados na programação de cada um dos canais, ajudando efectivamente a melhorar a proposta de valor inicial do canal, e a divulgar um maior número de bandas e artistas da cena musical de cada nação.

Apesar das aparentes vantagens desta divisão, no entanto, a mesma viria mesmo a representar o 'início do fim' das emissões do Sol Música em Portugal. De facto, apesar do continuado sucesso de que o canal ainda vem gozando no país vizinho, a vertente portuguesa do mesmo apenas duraria até 2005, altura em que as mudanças de paradigma a nível do consumo tanto de música como de televisão (e subsequente redução dos volumes de audiências) ditaram a substituição do Sol Música pelo Biography Channel – um daqueles canais 'para encher chouriços' da actual grelha da TV Cabo, cujo volume de audiências dificilmente ultrapassará o do seu antecessor. Talvez mais significativamente, esta alteração vinha acabar com uma 'era' da TV Cabo, e remeter ao domínio da memória nostálgica um canal com uma proposta verdadeiramente inovadora (e plenamente atingida), que terá ajudado a apresentar a grande parte da juventude 'millennial' portuguesa alguns dos seus artistas musicais favoritos (quer através dos videoclips, quer da compilação em CD que lograria lançar já nos primeiros meses do Novo Milénio), e que, vinte anos após a sua extinção e um quarto de século após a 'divisão' em dois, continua a representar um 'buraco' ainda por preencher na grelha a cabo nacional.

10.01.25

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

A cultura tem, tradicionalmente, sido um dos aspectos mais negligenciados na, e pela, sociedade portuguesa, que mostra normalmente apetência por formas de entretenimento menos substanciais e mais populistas; e apesar de este fenómeno se ter exacerbado no primeiro quarto do século XXI, a tendência em si vem sendo verificada pelo menos desde as últimas décadas do Segundo Milénio. Não é, pois, de surpreender que uma publicação explícita e expressamente dedicada a divulgar cultura tenha tido um ciclo de vida total de apenas pouco mais de uma década e meia, tendo o último número sido lançado há quase exactos trinta anos, a 28 de Dezembro de 1994. E porque a Quinta no Quiosque dessa semana foi, acidentalmente, dedicada a outro tema, nada melhor do que prestar agora uma homenagem póstuma (por cerca de duas semanas) a um dos mais importantes periódicos desaparecidos da imprensa portuguesa.

image.webp

(Crédito da foto: OLX)

Gerido e redigido por grandes nomes da literatura e do jornalismo português – Mário Zambujal e João Gobern contaram-se entre os seus editores, e Margarida Rebelo Pinto, Pedro Rolo Duarte, Luís de Sttau Monteiro e mesmo Herman José entre os redactores – o semanário Sete (estilizado como Se7e) nascera em 1977, com a proposta de divulgar espectáculos culturais de Norte a Sul do País, bem como transmitidos pela televisão, numa abordagem que se afirmava, declaradamente, como uma espécie de versão orientada para a cultura do tipo de jornalismo practicado pelos jornais desportivos. O objectivo, como naqueles casos, era dar visibilidade, espaço e projecção a temas tradicionalmente negligenciados pela imprensa tradicional, criando assim uma publicação 'de nicho' num mercado ainda receptivo às mesmas.

E a verdade é que, numa fase inicial, a ideia correu bem; tão bem, de facto, que o Se7e se tornaria o seu próprio 'carrasco', motivando a abertura de espaço para a cultura nos jornais tradicionais e inspirando o surgimento de concorrentes 'de peso', como a 'TV Guia' e as suas congéneres. Ainda assim, o jornal 'fazia pela vida', tendo conseguido resistir à década de 80 e aos primeiros anos da seguinte; em 1994, no entanto, o 'sonho' viria mesmo a terminar, com a passagem para o formato de magazine a não resultar – ao contrário do que aconteceria, anos mais tarde, com o 'resistente' e semi-competidor Blitz – e o periódico a ser mesmo forçado a encerrar actividades, já nos últimos dias do ano.

Ainda assim, apesar de desaparecido, o 'Se7e' deixou uma marca considerável o suficiente no panorama cultural nacional para, trinta anos após a sua extinção definitiva, ser ainda lembrado e homenageado como um conceito verdadeiramente novo e inovador, e uma autêntica 'pedrada no charco' da imprensa portuguesa, que daria o mote para o aumento de publicações periódicas especializadas no mercado português e daria espaço à cultura num País que tantas vezes a negligencia. Razões mais que suficientes, portanto, para lhe prestarmos homenagem (ainda que atrasada) nesta nossa rubrica dedicada às revistas e jornais das bancas lusitanas do século XX.

08.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 06 de Janeiro, e Terça-feira, 07 de Janeiro de 2025.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

O advento e popularização do CD-ROM – e dos respectivos leitores, que substituíram as 'drives' de disquetes na maioria dos PCs a partir de meados da década de 90 – abriu toda uma nova gama de possibilidades em termos de programação, já que o novo formato tornava possível criar discos compatíveis não apenas com computadores, mas também com leitores de CD padrão. Não foi, por isso, de surpreender que um dos muitos tipos de 'software' criados e lançados na época em causa tenha tido como foco, precisamente, conteúdos musicais, que surgiam tanto em formato áudio (reproduzível num qualquer 'tijolo', aparelhagem ou Discman) como também interactivo, com acompanhamento de imagem, para quando o disco era inserido numa 'drive' de PC. Era, precisamente, esta a base de uma colecção de cinco CD-ROM dirigida a um público infantil e lançada algures em finais do ano de 1997, em conjunção com o histórico jornal Diário de Notícias, sob o nome de Cantigas de Roda.

20250102_165719.jpg

A colecção completa, retirada do nosso 'arquivo' pessoal.

Como a própria designação indica, o foco dos cinco volumes criados pela Cristaldata e pela Duplisoft eram as canções populares infantis passadas de geração em geração, normalmente num contexto de jogos tradicionais, de rua ou de roda (daí o nome), sendo a excepção o primeiro volume, que se focava exclusivamente em canções de temática natalícia, recolhendo exemplos de todo o País. Os restantes quatro lançamentos, no entanto, compilavam todos os clássicos do costume, lado a lado com alguns temas mais obscuras, que ajudavam também a dar a conhecer ao jovem público alguns temas menos conhecidos, e que poderiam ser do gosto do mesmo.

566463740_a9f00e33-d4d4-4e55-82f8-42b2c32b2f7c.web

O alinhamento de um dos volumes da colecção.

No cômputo geral, portanto, uma colecção que unia harmoniosamente e de forma natural o aspecto didáctico ligado à preservação da cultura popular com a diversão e alegria inerente aos temas contidos nos seus cinco volumes, criando assim uma combinação que não podia deixar de agradar à demografia a que esta colecção se destinava. Talvez por isso seja algo surpreendente ver que estas Cantigas de Roda se encontram algo Esquecidas Pela Net, obrigando a uma pesquisa muito específica (e munida de grande volume de dados) para sequer encontrar referências à mesma. Um destino algo injusto para uma série bem pensada, estruturada e conseguida (até mesmo as capas aparentemente mal feitas remetem deliberadamente à arte e pintura infantis), que 'fez tudo bem' e que, à data de lançamento, não terá deixado de granjear alguns fãs entre o segmento mais tardio da geração 'millennial'. Cabe, pois, ao nosso 'blog' servir, mais uma vez, como 'recuperador' de material (quase) perdido, e dar a recordar esta colecção, pouco depois de se completarem exactos vinte e oito anos sobre o lançamento do seu primeiro volume.

24.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2024.
 
Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.
 
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
 
Já aqui anteriormente falámos dos concursos de talentos vocais infantis, um formato muito popular na última década do século XX, e que, em Portugal, ficava ligado sobretudo à época natalícia, altura em que era invariavelmente transmitido o 'Sequim d'Ouro', o clássico festival internacional com sede em Itália e que visava apurar o melhor mini-cantor do Mundo. Talvez por isso a SIC tenha escolhido, precisamente, a Véspera de Natal para lançar aquela que era, essencialmente, uma versão nacional desse tradicional certame, e que adoptava mesmo uma expressão italiana para a sua denominação.
 

OIP.jpg

De facto, essa astúcia ao nível do 'timing' permitiu a 'Bravo Bravíssimo' encontrar de imediato um público mais do que receptivo logo a partir da estreia, há exactos trinta anos, na Consoada de 1994. Tão-pouco viria esse sucesso a diminuir a curto prazo - pelo contrário, 'Bravo Bravíssimo' viria a manter-se no ar durante nada menos do que oito anos (sobrevivendo, inclusivamente, à passagem do Milénio) sempre com um formato imutável, com Ana Marques e José Figueiras como apresentadores, e com níveis de adesão na casa dos milhares de crianças, todos com esperança de serem considerados as novas 'mini-estrelas' nacionais. O aspecto diferenciado em relação a 'Sequino d'Ouro' ficava por conta dos campos abrangidos e aceites no programa, que extrapolavam a música e o canto e se estendiam à dança e até mesmo à ginástica, dando assim oportunidade a que ainda mais crianças mostrassem os seus talentos ao País em geral. E a verdade é que, de entre os muitos nomes que passaram pelo programa ao longo dos seus oito anos, alguns viriam mesmo a tornar-se conhecidos do grande público num contexto mais geral e alargado, como é o caso do futuro vencedor do Festival da Eurovisão, Salvador Sobral, do fadista Ângelo Freire, ou do artista de dobragens Fernando Fernandes, ou FF.
 

 
De muitos outros, não reza necessariamente a História, mas mesmo esses terão tido, depreende-se, alguns benefícios a curto prazo resultantes da sua participação no programa, sobretudo se bem qualificados. E ainda que 'Bravo Bravíssimo' tenha, eventualmente, chegado ao fim natural do seu ciclo de vida - embora parecesse ainda ter algo a oferecer ao paradigma televisivo de inícios do século XXI - o legado que deixou ao fim de oito anos foi suficiente para o tornar um dos mais emblemáticos programas televisivos do seu tempo, e o cimentar como parte da memória nostálgica dos 'millennials' portugueses, que tinham a mesma idade dos concorrentes à altura da estreia e provavelmente sonhavam, como eles, poder ir à televisão mostrar os seus talentos 'ao Mundo'; para eles, aqui fica a recordação, por altura dos exactos trinta anos da primeira transmissão do programa.
 

25.11.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No que diz respeito a nomes sonantes e incontornáveis da música portuguesa, há uma banda que se continua a destacar acima de todas as outras: os Xutos e Pontapés. Mesmo no ocaso da carreira e com uma fracção da relevância e base de fãs que tinham no pico da carreira, o colectivo liderado por Tim continua a ser o primeiro nome que vem à mente da grande maioria dos melómanos portugueses ao listar artistas musicais de destaque na cena nacional. É, pois, tudo menos surpreendente que os roqueiros lisboetas tenham sido alvo, por ocasião dos seus vinte anos de carreira, de um álbum de tributo, que reúne outros tantos artistas, dos mais diversos estilos, para interpretar algumas das mais conhecidas 'malhas' do grupo.

XX_Anos_XX_Bandas_tributo.jpg

Explicitamente intitulado 'XX Anos, XX Bandas' (aproveitando a simbologia do X, desde sempre inerente à imagem da banda) o álbum em questão era lançado algures há vinte e cinco anos, nos últimos meses do Segundo Milénio, ainda mais do que a tempo de atingir o topo das tabelas de vendas, embora não de figurar na lista dos mais vendidos do ano. E se o próprio conceito do disco já era, só por si, suficiente para assegurar o sucesso do mesmo, a Valentim de Carvalho (a editora de sempre dos Xutos) não se ficou por menos, e, ao invés de lançar algo 'amanhado' aos Pontapés, reuniu a 'nata' musical portuguesa para prestar homenagem ao grupo, sem olhar a estilos musicais - ao longo destas duas dezenas de músicas pode ouvir-se desde o rap de Boss AC ou Da Weasel ao 'grunge' de Lulu Blind, passando pelo puro punk lisboeta de Despe & Siga e Censurados (estes últimos reunidos expressamente para gravar a sua faixa para o projecto, 'Enquanto a Noite Cai'), pelo rock gótico-teatral dos Mão Morta, pelo 'folk-punk' de Quinta do Bill e Sitiados e pelo trip-hop dos Cool Hipnoise. O foco maior fica, no entanto, por conta do pop-rock, segmento em que os Xutos & Pontapés se inserem, sendo o grupo de Tim e companhia aqui homenageado por 'colegas de cena' como Clã, Jorge Palma, Ornatos Violeta, GNR, Entre Aspas, Rádio Macau, Sétima Legião ou Rui Veloso, além dos Ex-Votos, projecto de Zé Leonel, membro fundador dos Xutos e figura-chave da cena 'punk' do bairro de Alvalade, com a qual o grupo mantinha laços estreitos numa fase inicial, e cujo primeiro álbum celebra também este ano três décadas de existência. Para a 'chuva de estrelas' ficar completa, só ficou mesmo a faltar um representantes do 'heavy metal', como Moonspell ou RAMP.

Com tal diversidade musical (e por parte de um alinhamento de luxo) não é de admirar que o principal foco de interesse de 'XX Anos, XX Bandas' seja mesmo descobrir como cada um dos artistas transformou o tema original para o adaptar ao seu estilo – tal como não se afigura surpreendente que os resultados sejam algo variáveis, embora mantendo sempre o alto padrão de qualidade expectável por parte dos nomes envolvidos. Goste-se mais ou menos de um ou outro tema, no entanto, seria difícil pedir melhor tributo à maior banda portuguesa de todos os tempos, ou melhor maneira de celebrar um marco como o dos vinte anos de carreira, que o grupo assinalou também com um lendário concerto no Festival do Sudoeste, em suporte a este mesmo disco. De facto, mesmo a um quarto de século de distância, 'XX Anos, XX Bandas' continua a constituir uma excelente experiência sonora, pelo que a melhor maneira de terminar este 'post' é mesmo com a partilha do álbum em causa, disponível na íntegra no YouTube, e que permite constatar e comprovar tudo o que sobre ele foi dito nas últimas linhas. Reservem, portanto, uma hora e vinte minutos, e desfrutem de uma 'constelação' de artistas a tocar algumas das mais icónicas canções da História da música moderna em Portugal.

11.11.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Um dos primeiros 'posts' musicais deste nosso blog versava sobre os Silence 4, ainda hoje quiçá o maior e mais reconhecível 'one-hit wonder' da História da música portuguesa – pelo menos, se descontarmos certos artistas 'pimba'. Nada mais justo, portanto, do que celebrar, esta Segunda-feira, o seu vocalista, David Fonseca, que comemora por estes dias os seus vinte e cinco anos de carreira a solo, numa iniciativa que dura já desde o ano passado.

David Fonseca.jpg

Originalmente conhecido como membro dos Silence 4, que 'estouravam' no Verão de 1998 com o lendário 'Silence Becomes It', David já nessa altura se destacava pelo seu timbre original e único, algures entre um Rui Reininho com menos arroubos e trejeitos e algum vocalista do movimento 'new wave' e gótico da década anterior. Foi, portanto, com naturalidade que, após o fim do grupo em causa (em 2001, quando já pouco mais eram do que uma memória distante na consciência popular portuguesa) o vocalista tenha mesmo decidido seguir carreira a solo, a qual se iniciava dois anos depois com 'Sing Me Something New'. Seguir-se-iam um EP, um álbum de 'sobras', oito álbuns 'normais' e outros tantos de Natal, estes últimos lançados anualmente entre 2009 e 2016, com direito a 'dose dupla' em 2015.

A sonoridade desta nova fase alicerçava-se numa base ainda mais 'pop' que os Silence 4, ainda que numa vertente mais de 'cantautor', aproveitando o multi-instrumentalismo do músico. Não é, pois, de surpreender que as suas canções melodiosas e agradáveis tenham 'caído no gosto' do grande público ao longo dos últimos vinte anos, como já o haviam feito as do seu grupo original, ainda no Segundo Milénio. Parabéns pelo marco, David, e que venham mais vinte e cinco!

29.10.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Na breve elegia a Marco Paulo com que ocupámos o nosso 'post' anterior, fizemos fugazmente menção à carreira televisiva do cantor, que se soube reinventar como apresentador durante a década de 90; nada mais justo, pois, do que utilizarmos este espaço dedicado à TV portuguesa do referido período para explorar mais a fundo os dois programas que o ícone da música romântica apresentou na sua primeira passagem pelos ecrãs nacionais.

A primeira dessas duas emissões, que comemorou no passado mês de Abril trinta anos sobre a sua estreia, levava o título do maior êxito de sempre do cantor, utilizando-o como trocadilho inteligente com o recém-encontrado 'segundo amor' de Marco Paulo, a televisão. Nas palavras do próprio, 'Eu Tenho Dois Amores' procurava ser um programa de índole pessoal, cujo intuito passava, parcialmente, por permitir aos fãs do cantor descobrir detalhes sobre a sua carreira, podendo as questões ser enviadas por carta para serem lidas e respondidas em directo; além deste aspecto, o programa propunha também uma vertente de 'talk-show' mais tradicional, com convidados ligados ao entretenimento, com quem Marco Paulo trocava impressões, e números musicais. O sucesso foi imediato e retumbante, tendo a presença e carisma de Marco Paulo tornado o programa num sucesso de audiências, que logrou aproximar-se da centena de episódios ao longo de mais de um ano de transmissão semanal.

O sucesso desta primeira tentativa motivou uma segnnda, meros meses após o fim de 'Eu Tenho Dois Amores', e agora com um foco mais declarado na divulgação de números musicais, como indicava o próprio título, 'Com Música no Coração'. De facto, neste segundo programa, Marco Paulo retirava-se voluntariamente da ribalta, deixando o (literal) palco para os artistas convidados de cada programa poderem divulgar o seu trabalho, e ressurgindo apenas no final de cada música, para uma breve entrevista aos mesmos. Uma iniciativa louvável em prol da música popular portuguesa, ainda que focada apenas na de cariz mais popular – algo natural, tendo em conta o 'ideólogo' (ou, pelo menos, 'cara') do projecto – que conseguiu também algum sucesso, embora não tanto quanto o seu antecessor, mais centrado na personalidade forte e afável do cantor tornado apresentador.

Primeiro e último episódios do programa em causa.

E ainda que o fim de 'Com Música no Coração' assinalasse a 'retirada' de Marco Paulo dos ecrãs portugueses, o 'bichinho' da apresentação televisiva nunca deixaria o cantor, que acabaria mesmo por regressar à RTP uma terceira vez, mais de um quarto de século após a sua última transmissão, para um novo programa ao lado da popular humorista Ana Marques. Tal como os seus antecessores, 'Alô Marco Paulo' revelar-se-ia um sucesso, ficando no ar mais de três anos, e sendo apenas interrompido pelo agravamento do estado de saúde do cantor, que ainda assim compareceu semanalmente até meros meses antes da sua morte. Na 'hora' da despedida, fica a ideia de um artista multi-talentoso e multi-facetado, que conseguiu a proeza de ter tanto sucesso com o seu 'segundo amor' como com o primeiro, e cujo falecimento deixa na televisão portuguesa um 'buraco' apenas marginalmente menor do que o que criou no meio musical.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub