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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

09.02.25

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

O gosto pela música é uma das características mais inatas do ser humano, revelando-se, muitas vezes, logo desde tenra idade; o mesmo se passa com a tendência para imitar os gestos e comportamentos dos adultos, que principia assim que a criança tem idade suficiente para estar ciente do que a rodeia, e tomar decisões conscientes. Assim, não é de surpreender que um dos muitos brinquedos de sucesso entre as crianças dos anos 80 e 90 tenha tido por base uma combinação destas duas vertentes com a tecnologia da época, com um resultado final que não poderia deixar de ser irresistível. Nada melhor, portanto, do que dedicar mais um 'post' duplo a esta 'pérola' algo esquecida de muitos Domingos Divertidos.

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Falamos do gira-discos de brincar da Fisher-Price, o qual emulava o principal método de reprodução musical da época pré-dispositivos portáteis, mas substituindo as frágeis circunferências de vinil estriado por algo bastante mais resistente e adequado a ser manuseado pela demografia-alvo do brinquedo – no caso, discos em plástico duro, cada um deles codificado com uma respectiva cor pastel, que permitia às crianças em idade de pré-literacia saber que música neles estava contida sem, para isso, precisar de decifrar qualquer rótulo. Os temas, esses, consistiam de uma selecção de temas de domínio público, alguns deles especificamente criados para um público infantil (como 'A Ponte de Londres') e outros apenas de cariz apelativo para o mesmo (como a valsa 'Danúbio Azul'). E, apesar da 'distorção' natural derivada dos limitados aspectos técnicos do produto, a verdade é que cada um destes temas era perfeitamente inteligível, e muito agradável de ser ouvido.

No restante, o brinquedo funcionava exactamente como uma versão simplificada de um verdadeiro leitor de LP's, com o disco a ter de ser inserido no prato, a agulha posta em contacto com o mesmo e a corda dada antes de a canção poder ser reproduzida – uma mecânica que obrigava a criança a despender esforços mentais e processuais, ao mesmo tempo que lhe dava a conhecer o funcionamento de um gira-discos de verdade, como o que os pais possivelmente teriam na sala de casa. Assim, não é de admirar que muitos Domingos Divertidos se tenham transformado em Segundas de Sucessos graças a este 'sucedâneo' infantil de um produto para adultos, e à meia-dúzia de 'singles' incluídos no mesmo, que terão ajudado muitas crianças (portuguesas e não só) a descobrir e nutrir o gosto pela música.

Infelizmente, a era do CD viria a tornar este tipo de brinquedo obsoleto, nunca tendo havido uma 'versão' do mesmo em formato de Discman ou 'tijolo'. Assim, é provável que apenas os mais velhos de entre os leitores deste blog – crescidos ainda na era do vinil – recordem este saudoso produto; para esses, no entanto, é bem possível que este 'post' tenha despoletado uma vaga de nostalgia, e um daqueles momentos de recordação da infância (e respectivas exclamações de surpresa e espanto) tão característicos da natureza humana...

03.02.25

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

As colectâneas de músicas populares ou de domínio público interpretadas por artistas ou grupos anónimos têm, desde sempre, representado uma forma fácil e em conta de fazer dinheiro, através da combinação vencedora entre a intemporalidade dos repertórios e a ausência de quaisquer encargos monetários, àparte os da própria produção e edição dos discos; e, sendo pródigo neste tipo de canção, não é de estranhar que o mercado infanto-juvenil tenha, também ele, visto surgirem ao longo dos tempos inúmeros exemplos de colectâneas deste género, algumas mais cuidadas e com tentativas de preservação histórica e cultural, e outras mais declaradamente oportunistas, muitas vezes tendo como base e 'cara' um fenómeno então popular entre a demografia-alvo. Como tantas vezes sucede, no entanto, é no meio que está a virtude – e é, também, no meio que se situa o disco de que falaremos em mais esta Segunda de Sucessos.

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Lançado algures há trinta anos (embora o dia e mês sejam incertos) pela inevitável Vidisco, 'Caixinha de Sonhos – Canções Infantis' encaixa-se perfeitamente na descrição feita no início deste texto, apresentando duas dezenas daquele tipo de temas que qualquer criança aprende 'por osmose' entre amigos, na escola ou como 'ladainha' para brincadeiras tradicionais de rua ou jogos de 'palminhas'. Ou mais precisamente, três quartos do disco são compostos deste tipo de material, ficando o último reservado para temas então em alta entre a demografia-alvo - desde os genéricos de abertura de 'Pippi das Meias Altas' ou 'Vickie o Viking' até ao clássico de José Barata Moura, 'Joana Come A Papa'. O denominador comum entre estas duas vertentes é o virtual anonimato dos intérpretes, com mais de metade dos temas a ficarem a cargo de um grupo conhecido apenas como Carossel da Petizada, e os restantes a serem interpretados por cantoras (todas mulheres) e conjuntos cujos únicos outros créditos são outros discos deste mesmo tipo.

Um produto bem típico do seu género, portanto (e bem clássico, apesar do grafismo pseudo-psicadélico, bem indicativo da época de edição do trabalho) mas nem por isso menos bem conseguido ou capaz de cativar o seu público-alvo, sempre disposto a cantar, dançar e desfrutar destas 'cançonetas' clássicas, e ao qual a capa em moldes 'Photoshop sob o efeito de LSD, tão mau que é bom' não poderia deixar de agradar. É bem provável, aliás, que o mesmo se passe, ainda, com os jovens das actuais gerações Z e Alfa – ainda que, neste caso, a falta de imagens a acompanhar se possa revelar um obstáculo... Ainda assim, uma colectânea mais que meritória para partilhar com os filhos pequenos, e lhes proporcionar os mesmos momentos de que as suas mães e pais desfrutaram, trinta anos antes, com exactamente a mesma banda-sonora...

08.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 06 de Janeiro, e Terça-feira, 07 de Janeiro de 2025.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

O advento e popularização do CD-ROM – e dos respectivos leitores, que substituíram as 'drives' de disquetes na maioria dos PCs a partir de meados da década de 90 – abriu toda uma nova gama de possibilidades em termos de programação, já que o novo formato tornava possível criar discos compatíveis não apenas com computadores, mas também com leitores de CD padrão. Não foi, por isso, de surpreender que um dos muitos tipos de 'software' criados e lançados na época em causa tenha tido como foco, precisamente, conteúdos musicais, que surgiam tanto em formato áudio (reproduzível num qualquer 'tijolo', aparelhagem ou Discman) como também interactivo, com acompanhamento de imagem, para quando o disco era inserido numa 'drive' de PC. Era, precisamente, esta a base de uma colecção de cinco CD-ROM dirigida a um público infantil e lançada algures em finais do ano de 1997, em conjunção com o histórico jornal Diário de Notícias, sob o nome de Cantigas de Roda.

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A colecção completa, retirada do nosso 'arquivo' pessoal.

Como a própria designação indica, o foco dos cinco volumes criados pela Cristaldata e pela Duplisoft eram as canções populares infantis passadas de geração em geração, normalmente num contexto de jogos tradicionais, de rua ou de roda (daí o nome), sendo a excepção o primeiro volume, que se focava exclusivamente em canções de temática natalícia, recolhendo exemplos de todo o País. Os restantes quatro lançamentos, no entanto, compilavam todos os clássicos do costume, lado a lado com alguns temas mais obscuras, que ajudavam também a dar a conhecer ao jovem público alguns temas menos conhecidos, e que poderiam ser do gosto do mesmo.

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O alinhamento de um dos volumes da colecção.

No cômputo geral, portanto, uma colecção que unia harmoniosamente e de forma natural o aspecto didáctico ligado à preservação da cultura popular com a diversão e alegria inerente aos temas contidos nos seus cinco volumes, criando assim uma combinação que não podia deixar de agradar à demografia a que esta colecção se destinava. Talvez por isso seja algo surpreendente ver que estas Cantigas de Roda se encontram algo Esquecidas Pela Net, obrigando a uma pesquisa muito específica (e munida de grande volume de dados) para sequer encontrar referências à mesma. Um destino algo injusto para uma série bem pensada, estruturada e conseguida (até mesmo as capas aparentemente mal feitas remetem deliberadamente à arte e pintura infantis), que 'fez tudo bem' e que, à data de lançamento, não terá deixado de granjear alguns fãs entre o segmento mais tardio da geração 'millennial'. Cabe, pois, ao nosso 'blog' servir, mais uma vez, como 'recuperador' de material (quase) perdido, e dar a recordar esta colecção, pouco depois de se completarem exactos vinte e oito anos sobre o lançamento do seu primeiro volume.

24.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2024.
 
Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.
 
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
 
Já aqui anteriormente falámos dos concursos de talentos vocais infantis, um formato muito popular na última década do século XX, e que, em Portugal, ficava ligado sobretudo à época natalícia, altura em que era invariavelmente transmitido o 'Sequim d'Ouro', o clássico festival internacional com sede em Itália e que visava apurar o melhor mini-cantor do Mundo. Talvez por isso a SIC tenha escolhido, precisamente, a Véspera de Natal para lançar aquela que era, essencialmente, uma versão nacional desse tradicional certame, e que adoptava mesmo uma expressão italiana para a sua denominação.
 

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De facto, essa astúcia ao nível do 'timing' permitiu a 'Bravo Bravíssimo' encontrar de imediato um público mais do que receptivo logo a partir da estreia, há exactos trinta anos, na Consoada de 1994. Tão-pouco viria esse sucesso a diminuir a curto prazo - pelo contrário, 'Bravo Bravíssimo' viria a manter-se no ar durante nada menos do que oito anos (sobrevivendo, inclusivamente, à passagem do Milénio) sempre com um formato imutável, com Ana Marques e José Figueiras como apresentadores, e com níveis de adesão na casa dos milhares de crianças, todos com esperança de serem considerados as novas 'mini-estrelas' nacionais. O aspecto diferenciado em relação a 'Sequino d'Ouro' ficava por conta dos campos abrangidos e aceites no programa, que extrapolavam a música e o canto e se estendiam à dança e até mesmo à ginástica, dando assim oportunidade a que ainda mais crianças mostrassem os seus talentos ao País em geral. E a verdade é que, de entre os muitos nomes que passaram pelo programa ao longo dos seus oito anos, alguns viriam mesmo a tornar-se conhecidos do grande público num contexto mais geral e alargado, como é o caso do futuro vencedor do Festival da Eurovisão, Salvador Sobral, do fadista Ângelo Freire, ou do artista de dobragens Fernando Fernandes, ou FF.
 

 
De muitos outros, não reza necessariamente a História, mas mesmo esses terão tido, depreende-se, alguns benefícios a curto prazo resultantes da sua participação no programa, sobretudo se bem qualificados. E ainda que 'Bravo Bravíssimo' tenha, eventualmente, chegado ao fim natural do seu ciclo de vida - embora parecesse ainda ter algo a oferecer ao paradigma televisivo de inícios do século XXI - o legado que deixou ao fim de oito anos foi suficiente para o tornar um dos mais emblemáticos programas televisivos do seu tempo, e o cimentar como parte da memória nostálgica dos 'millennials' portugueses, que tinham a mesma idade dos concorrentes à altura da estreia e provavelmente sonhavam, como eles, poder ir à televisão mostrar os seus talentos 'ao Mundo'; para eles, aqui fica a recordação, por altura dos exactos trinta anos da primeira transmissão do programa.
 

10.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024.

NOTA: Por razões temáticas, todas as Terças-feiras de Dezembro serão de TV.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

De entre os elementos que anunciavam e compunham o Natal infantil português dos anos 90 e 2000, um dos mais salientes eram os anúncios televisivos alusivos à quadra – ou melhor, UM anúncio televisivo em particular, que qualquer 'millennial' português saberá de imediato identificar, e que foi tradição anual nos canais generalistas nacionais até ao dealbar da década de 2010.

De facto, os 'spots' publicitários natalícios da cadeia de supermercados e hipermercados Continente, e a respectiva banda sonora, são, para toda uma geração, quase tão emblemáticos da quadra como o 'Natal dos Hospitais' ou o som do Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras. Aliás, há até motivos para dizer que 'Bem Vindos Ao Mundo Encantado dos Brinquedos' é, para a referida demografia, a 'outra' música de Natal portuguesa por excelência, trazendo à mente visões da então mascote da cadeia, a avestruz Leopoldina, a movimentar-se por entre verdadeiras pilhas de brinquedos, que apenas aguçavam a vontade de visitar o mais rapidamente possível o Continente mais próximo, e se deliciar com a variedade de opções para presentes de Natal.

Escusado será dizer que, apesar de esforços continuados, o Continente não mais logrou repetir o sucesso destas cadeias; anúncios subsequentes, já com a segunda mascote Popota ao lado de Leopoldina, eram bem conseguidos, mas falhos em termos de banda sonora quando comparados com o seu antecessor – ainda que, assumidamente, o mesmo tivesse colocado a fasquia absurdamente alta. Assim, a geração nascida ou crescida durante as décadas de 90 e 2000 pode, mesmo, gabar-se de ter assistido, em primeira mão, aos melhores anúncios de Natal alguma vez criados em Portugal, cuja música (que podia perfeitamente ter sido lançada como 'single' comercial, pois encontraria sem dúvida o seu público) ainda hoje saberão sem dúvida cantar 'de trás para a frente' e 'de cor e salteado...'

21.10.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Domingo, 21 de Outubro de 2024.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

A aptidão para a música é algo que, sem ser inato, se começa a desenvolver desde muito cedo na maioria das crianças – pelo menos a julgar pelo grau de interesse que os instrumentos de brincar despertam nas mesmas, quase desde que conseguem andar e falar. De facto, muito antes da indescritível flauta de Bisel das aulas de música da escola vir tirar toda e qualquer vontade de aprender novos instrumentos - pelo menos durante alguns anos – já a maioria dos humanos de tenra idade começa a gravitar para aqueles 'fazedores de ruído', sabiamente adaptados pelas companhias produtoras para se adequarem a mãos ou bocas mais pequenas. E se grande parte deste mercado consiste tão sómente de instrumentos 'a sério' produzidos a uma escala mais reduzida, outro segmento comporta as verdadeiras 'estrelas' deste 'post' – aqueles instrumentos que, não obstante poderem ser tocados, ficam ainda assim muito mais perto de serem brinquedos do que apetrechos musicais credíveis.

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Dois exemplos bem típicos de instrumentos de brincar da época.

E produtos deste tipo eram, certamente, coisa que não faltava no Portugal das décadas de 80 e 90. Entre brindes de jogos de feira, produtos da 'loja dos trezentos' e outros algo mais cuidados e comprados nas velhas lojas de brinquedos tradicionais, o grau de acessibilidade destes 'brinstrumentos' era alto, e a escolha variada o suficiente para satisfazer até a mais exigente das crianças, indo de cornetas ou bombos em plástico a mini-pianos electrónicos que cabiam na palma da mão (e que não devem ser confundidos com os também muito populares órgãos electrónicos, que se inserem firmemente na categoria de instrumentos 'reais') passando por tambores de lata e até produtos que quase roçavam a categoria de verdadeiros instrumentos, como as 'melódicas' ou as baterias de brincar, ou que o eram de facto, como as então muito prevalentes harmónicas.

Recaísse a escolha sobre que instrumento recaísse, no entanto, uma coisa era certa – iria ser necessário aos pais e familiares da criança em causa uma dose de paciência quase tão grande quanto a sua resistência a sons dissonantes. Isto porque mesmo crianças que não tinham acesso a qualquer dos instrumentos acima listados não deixavam de tentar fazer a sua própria forma de 'música', mesmo que esta surgisse sob a forma de colheres de pau a bater em baldes ou caixas de plástico, ou tampas de panela a serem entrechocadas à guisa de pratos – o que, até certo ponto, remete de volta para o argumento feito no início deste 'post', sobre a apetência por música ser inata.

Tal como sucede com muitos dos produtos abordados neste 'post', também os instrumentos de brincar sofreram tanto um declínio como uma mutação. Embora seja ainda possível encontrar mini-guitarras com luz e som e outros instrumentos semelhantes nas hoje lojas chinesas, a simulação de criação de música passou, sobretudo, para o domínio electrónico, com programas como 'Rock Band' e 'Guitar Hero' a tomarem o lugar das velhas cornetas em plástico ou tambores de lata. Quem teve o privilégio de dar largas à sua 'veia artística' num destes instrumentos mais 'clássicos', no entanto, certamente guardará memórias nostálgicas daqueles Domingos Divertidos passados a 'fazer barulho' pela casa inteira, e a 'destruir' inadvertidamente os ouvidos aos pais...

17.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 17 de Setembro de 2024.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Já aqui anteriormente abordámos a forte influência brasileira na música portuguesa de cariz mais popular, vulgo música 'pimba', fosse através de simples influência rítmica (com bases adaptadas, ou mesmo directamente 'roubadas', a estilos como o forró e o axé) ou da presença de artistas naturais de além-mar entre o lote de nomes associados ao género, bastando neste último caso lembrar Roberto Leal, Iran Costa ou mesmo Netinho. A esta lista há, também, que juntar uma dupla de cantores cómicos que qualquer jovem português de finais dos anos 90 se lembra de ver figurar nos interlúdios musicais do 'Super Buereré', e que conseguiram fazer com que uma das suas músicas entrasse na 'rotação' musical dos recreios nacionais da época.

 

Falamos de Salsicha e Mário Jorge, duo surpreendentemente Esquecido Pela Net, sendo quase impossível encontrar informações pessoais ou biográficas sobre qualquer dos dois elementos. Resta, pois, analisar a discografia do par, que consiste de apenas dois discos, lançados com nada menos do que duas décadas (!) entre si, e dos quais o primeiro é, evidentemente, aquele que mais directamente concerne a este blog. Isto porque foi de 'Dá Dá Dá', lançado algures em 1997, que saiu o grande 'hit' da dupla nas escolas portuguesas, o qual, ao contrário do que muitos imaginavam na época, não é homónimo do disco, tendo o título oficial de 'Dá Coração'.

Tal como as restantes nove músicas do disco – que acaba por ser mais EP do que LP, com os seus escassos vinte e sete minutos de duração – trata-se de um tema de cariz abertamente 'azeiteiro', baseado no ritmo e melodia do clássico 'La Bamba', com vastas doses de humor à mistura (patentes sobretudo nas interpretações caricaturais dos dois vocalistas) e uma daquelas letras que nunca deveriam ter sido ouvidas, e ainda menos repetidas, por crianças em idade pré-adolescente - as quais, verdade seja dita, mal tinham noção do que estavam a cantar, à semelhança do que acontecera com as letras dos Mamonas Assassinas um par de anos antes.

Salsicha e Mário Jorge podiam, aliás, quase ser vistos como uns 'Mamonas Assassinas do 'pimba'', já que apresentavam igual pendor para indumentárias multi-coloridas e chamativas (mais parecidas com fatos de circo ou roupas de personagens animados do que com vestuário real) e para uma pose entre o brejeiro, o irreverente e o teatral, bem evidenciada pelas letras e interpretações. De distinto do grupo paulista, o duo tinha a imagem andrógina, bem explícita na peruca feminina envergada por um dos membros e na versão de 'O Vira', êxito dos Secos & Molhados, grupo liderado pelo maior artista andrógino da História da música brasileira, o incomparável Ney Matogrosso. Para o público infantil, no entanto, nada disto interessava, ficando a referida demografia perfeitamente satisfeita só com a oportunidade de cantar e dançar ao som de 'Dá Coração', fosse durante os 'bonecos' de Domingo de manhã, no contexto de uma festa ou evento, ou simplesmente no pátio da escola.

Tal como tantos outros artistas 'da moda' entre as crianças, no entanto, também Salsicha e Mário Jorge rapidamente caíram no esquecimento, substituídos pela próxima 'sensação de recreio' oriunda do movimento 'pimba' ou 'europop'. É, portanto, com surpresa que se regista o regresso do duo com um segundo disco, mais de vinte anos após o primeiro! 'O Melhor Amigo do Homem', de 2018, segue as passadas do seu antecessor, e aproxima ainda mais o duo do legado dos Mamonas, com títulos como 'Revolution Gay' e uma versão de 'Sabão Crá-Crá' logo a abrir. Ao contrário do primeiro, no entanto, este álbum passou despercebido em Portugal, onde o panorama musical estava já muito, muito distante do contexto vivido em meados dos anos 90, e não tinha espaço para uma 'importação' do género 'pimba-cómico' de que as crianças haviam gostado durante cerca de um ano, três décadas antes. Quem viveu aqueles momentos musicais do Super Buereré por volta de 1997 já estará, certamente, a trautear aquele que era um dos grandes 'hinos' infantis da época, e que constituirá para sempre o legado deste duo brasileiro em terras lusitanas.

20.05.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Na última edição desta rubrica, falámos dos três volumes de 'Canções da Rua Sésamo', os quais se juntam às 'Canções do Lecas' aos LP's da Arca de Noé, ao disco dos Patinhos e aos dois álbuns do Batatoon no panteão de lançamentos infantis ligados a programas de televisão que se revelaram sucessos por direito próprio. Tal lista não estaria completa, no entanto, sem um outro álbum, que aproveitou em pleno a presença de um nome ligado à música para conseguir alguma tracção para além dos confins das composições para crianças, e penetrar na consciência popular portuguesa durante vários anos após o seu lançamento.

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Falamos, é claro, de 'Super Buereré', também frequentemente conhecido como 'Ana Malhoa e Hadrianno', o álbum 'oficial' do icónico programa infantil de Ediberto Lima, lançado em pleno auge do mesmo, em 1996, e que pôs todo um país a recitar as cinco vogais do alfabeto latino juntamente com a 'versão portuguesa' da musa infantil brasileira Xuxa, e com um homem vestido de gorila. E se, descrito assim, o disco pode parecer um grotesco sonho febril causado pelo abuso de substâncias psicotrópicas, a verdade é que, no contexto português de meados dos anos 90, o conceito por detrás do mesmo fazia todo o sentido, juntando duas das estrelas favoritas das crianças da época – e duas das principais figuras da SIC de Ediberto Lima – numa alegada colaboração que, de facto, se ficava pelo aspecto plástico, já que o macaco Hadrianno se limitava a dançar e posar para as fotos com Ana Malhoa, a quem cabia todo o trabalho de interpretação.

Assim, mais do que uma colaboração alusiva ao programa que lhe dá título, este acabava por ser, sobretudo, mais um álbum de Ana Malhoa, então prolífica no 'universo paralelo' da música 'pimba', com a principal diferença a residir no grau de visibilidade da cantora, que abria estas doze canções a um público bem mais vasto do que o habitual. E a verdade é que o 'esquema' de Ediberto Lima resultou em cheio, não havendo criança ou jovem da época que – de forma irónica ou sincera – não soubesse entoar a 'Canção do Hadrianno' e, sobretudo, 'Começar no A', um dos 'hinos' da primeira vaga de 'millennials' lusitanos, que decerto ainda conseguem recitar de cor a letra da autoria de Toy (outro ícone da música 'pimba'), e talvez até recriar a saltitante coreografia; já das outras dez faixas, pouco reza a História, apesar de terem, decerto, servido de forma perfeitamente aceitável a sua função de 'enchimento' em torno dos dois 'singles', perfazendo um álbum que grande parte das crianças daquele ano de 1996 terá, decerto, 'implorado' aos pais para ter.

De facto, tal foi a procura pelo CD que, meses depois, o mesmo era reeditado, com capa e grafismo diferentes, a ordem das faixas alterada, e menos quatro canções (entre elas os dois 'singles', aqui presentes apenas em formato 'karaoke') sob o nome 'Super Buereré Vol. 2' – embora, ao contrário do que acontecia com os supracitados LP's da Rua Sésamo e Arca de Noé, de 'segundo' só tivesse mesmo o nome. Uma jogada de 'marketing' perfeitamente descarada, mas que terá, ainda assim, chegado para satisfazer os desejos das crianças que não tinham posses para comprar um disco inteiro, e que conseguiam, graças a este lançamento, desfrutar ainda assim de um mini-álbum, ainda que sem os dois principais 'chamarizes' do disco original.

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A capa alternativa que disfarçava o disco original de 'Vol. 2.'...

Fosse qual fosse o formato, no entanto, é inegável que 'Ana Malhoa e Hadrianno – Super Buereré' merece lugar de destaque na discografia infanto-juvenil dos anos 90, tanto pelo sucesso de que o seu programa-base gozava como pelo impacto que teve entre a sua demografia-alvo no período de doze meses imediatamente após o seu lançamento. E se dúvidas restarem, não há senão que pedir a um português nascido na segunda metade dos anos 80 para entoar a canção do alfabeto do programa, e observar o que imediatamente acontece...

Os dois mega-sucessos retirados do álbum, e inesquecíveis para qualquer ex-criança dos anos 90.

 

06.05.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Enquanto ícone cultural absoluto da última vaga de 'X' e primeira de 'millennials' portugueses, é com naturalidade que a 'Rua Sésamo' tem vindo a servir de tema dos mais diversos 'posts' neste nosso 'blog' nostálgico. Agora, após termos falado do programa em si, da revista que o complementava e – mais recentemente – das diversas colecções de livros que inspirou, chega o momento de falar do último artefacto cultural que o lendário programa da RTP deixou para a posteridade: os discos de canções retiradas dos episódios lançados pela Vidisco em inícios da década de 90, durante o auge da popularidade da série.

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Capa dos três álbuns da série.

Lançados ao ritmo de um disco a cada dezasseis meses (só 1991 não teve direito a uma edição da série) por razões de relevância temporal, os três álbuns de 'Canções da Rua Sésamo' seguiam uma fórmula semelhante, e já sobejamente testada nos meandros da música infantil. Cada volume reunía um número considerável de músicas retiradas de alguns dos segmentos e cenas mais memoráveis do programa, um pouco à semelhança do que sucedia, no mesmo período, com os álbuns da também mega-popular 'Arca de Noé'; a diferença, neste caso, é que os discos da Rua Sésamo contavam, ainda, com rendições de algumas das mais populares cantigas de roda e de recreio, que ajudavam a avolumar ainda mais o número de músicas de cada álbum, fazendo com que valessem o investimento por parte dos pais dos pequenos fãs do Poupas, Ferrão e restantes personagens da emissão da RTP.

Em comum, estas duas vertentes tinham a qualidade da interpretação, que, aliada à não menos excelente composição dos temas originais, contribuía para a excelente relação preço-qualidade de cada um dos três álbuns, colocando-os entre os melhores discos infantis editados em Portugal na época. E apesar de a popularidade da 'Rua Sésamo' se ter, inevitavelmente, esvaído, especialmente após o fim da emissão, não haverá, decerto, português nascido e crescido entre meados da década de 80 e os primeiros anos da seguinte que não recorde, até hoje, a letra e melodia de clássicos como 'Lixo no Lixo', 'Comigo Ninguém Faz Farinha', 'Sopa', 'O Telefone', '7 Notas Só', e tantas outras músicas que emprestavam ainda mais cor a um dos melhores programas de sempre da televisão portuguesa, e que tornavam esta série de álbuns presença obrigatória junto do gira-discos ou leitor de cassettes de qualquer criança nacional daquela época.

11.12.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Apesar de fazer parte integrante da cultura e costumes da ideologia católica e cristã portuguesa, o Natal não tem tradicionalmente, em termos musicais, a mesma expressão no nosso País de que goza, por exemplo, nos Estados Unidos ou Reino Unido. De facto, antes de David Fonseca se dedicar a criar 'hinos' nacionais para a quadra, eram poucos os artistas portugueses que se aventuravam na gravação de uma música de Natal, sendo a maioria dos álbuns e lançamentos do género em solo nacional constituídos por aquelas velhas músicas do domínio público que todos nos habituámos a ter como 'banda sonora' das compras de última hora. Com isto em mente, não deixa de ser surpreendente – e admirável – a tentativa da Vidisco de lançar um verdadeiro disco de Natal 'made in Portugal', com a edição de 'Natal – Música e Canções', logo na primeira quadra festiva da década de 90.

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De facto, das dezasseis músicas que compõem o álbum, nem uma se insere em qualquer das categorias supramencionadas: não há aqui 'standards' dos anos 40 a 60, canções cantadas porta-a-porta por crianças norte-americanas, e nem mesmo 'A Todos Um Bom Natal' – 'A' cantiga de Natal portuguesa – aqui marca presença. O alinhamento do disco é, assim, composto por uma mistura de canções tradicionais, como 'Noite Feliz', uma ou outra peça clássica ('Avé Maria', interpretado aqui por C. Morgan) e muitos temas menos conhecidos e mais obscuros, metade dos quais a cargo do misterioso conjunto Bola de Neve, e a outra da responsabilidade dos não menos anónimos Linucha, Ana Maria, Rui Pilar e Arlindo de Carvalho, além do referido C. Morgan. Uma equipa de perfeitos desconhecidos (quase todos especializados na produção de música 'por encomenda', embora Ana Maria tenha tido uma série de 'singles' na década de 60) que 'casa' bem com o título e capa perfeitamente genéricos do álbum.

De facto, reside aí a maior pecha de 'Natal – Música e Canções': apesar do conceito e temática interessantes e até algo inovadores, toda a execução do álbum tem aquela aura 'às três pancadas' típica de muitos lançamentos do género, e que, inevitavelmente, os relega para aqueles clássicos expositores de cassettes e CDs das tabacarias e bombas de gasolina, ou para a secção de 'super-desconto' do supermercado – e, a julgar pela ínfima expressão deste lançamento, tanto à época como três décadas e meia depois, é mesmo de crer que terá sido também esse o destino de 'Natal – Músicas e Canções'. Uma pena, pois conceptualmente, este disco poderia ter-se afirmado como alternativa às mesmas colectâneas importadas com a mesma dúzia de músicas de que, mesmo na altura, já todos estávamos cansados, bastando para isso ter tido uma execução um pouco mais cuidada...

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