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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

06.10.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Numa das nossas Quartas aos Quadradinhos, falámos da BD franco-belga, a qual, nos anos 90, gozava ainda de enorme popularidade entre as camadas jovens da população portuguesa; e, de entre os vários nomes que chegavam a Portugal oriundos daqueles países (a grande maioria pela mão da Meribérica-Liber) um destacava.se acima de todos, tendo visto dois novos álbuns ser editados, marcado presença em suplementos de BD, e sido mesmo alvo da primeira de várias adaptações cinematográficas em 'acção real' (bem como da estreia no cinema de um dos seus filmes animados, realizado na década anterior) durante o referido período.

Falamos, é claro, de Astérix, o irredutível guerreiro gaulês que compensa a baixa estatura com uma 'dose extra' de coragem, inteligência e espírito de luta, que o ajudam a levar, invariavelmente, a melhor sobre os romanos que procuram dominar a aldeia onde habita, defendida com 'unhas e dentes' não só pelo pequeno herói, mas por todos os seus vizinhos, com a ajuda da poção mágica preparada pelo druida da mesma. À época já com mais de três décadas e meia de 'vida', o personagem criado em 1956 por René Goscinny e Albert Uderzo revelava-se, no entanto, verdadeiramente intemporal, continuando a cativar a imaginação das crianças adeptas de banda desenhada, não sendo, pois, de surpreender que a última década do século XX tenha visto surgirem no mercado uma série de novos produtos alusivos ao pequeno gaulês, tanto de índole individual (como o excelente jogo de tabuleiro que muito em breve aqui abordaremos) como inseridos num contexto promocional.

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As folhas de recortes da promoção podiam trazer desde simples moitas até alguns dos personagens principais da BD.

É, precisamente, uma dessas promoções que vamos recordar neste post – especificamente, a que oferecia folhas de recortes cartonados que, após coleccionados, permitiam montar a irredutível aldeia gaulesa a que o pequeno guerreiro chama casa. Oferecidos algures na primeira metade da década (os 'copyrights' das imagens são de 1993) na compra de qualquer das gamas de iogurtes da marca Longa Vida (os mesmos onde, pela mesma altura, se puderam também adquirir cromos dos Looney Tunes), os vinte e sete cartões - cada um com diversas peças que podiam ir de simples moitas aos próprios protagonistas, e que se montavam dobrando e colando as abas indicadas - eram um daqueles brindes 'baratos', típicos daquela época da História, cuja eficácia reside mais naquilo que prometiam do que propriamente na sua qualidade; e, neste caso, a 'promessa' era, a todos os níveis, aliciante – afinal, que criança portuguesa da época não gostaria de ter a aldeia gaulesa na prateleira do quarto?

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Aspecto de alguns dos edifícios da aldeia após devidamente 'construídos'

Como não podia deixar de ser, no entanto (ou não estivéssemos nos anos noventa) a promoção trazia, ainda, associada uma aliciante extra, sob a forma de um concurso que permitia ganhar centenas de prémios, com natural destaque para os cheques de meio milhão de contos e para as viagens ao então também 'em alta' Parque Astérix, em França. É claro que a maioria das crianças saía, invariavelmente, de 'mãos a abanar' neste aspecto, independentemente da quantidade de iogurtes que consumissem (é essa, afinal, a essência dos concursos deste tipo) mas, conforme acima referimos, essa situação acabava por não deixar grande 'mossa' face à perspectiva de conseguir montar todo o conjunto, e ter a aldeia do Astérix em 'exibição' no quarto. Foi essa motivação que a Longa Vida soube (e bem) explorar, e que ajudou a fazer desta promoção um relativo sucesso numa época em que folhas de recortes em cartão 'manhosos' eram, ainda, aceites como brindes promocionais perfeitamente viáveis, desde que dissessem respeito a personagens populares. Outros tempos...

15.07.21

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

E porque em edições passadas desta rubrica já recordamos colecções de cromos promocionais associadas a produtos alimentares (como a das Tartarugas Ninja, veiculada pela Panrico) chegou hoje a vez de falar da série ‘Viaja Com os Looney Tunes’, oferecida em 1992 pela Longa Vida, em conjunção com os seus produtos lácteos, nomeadamente os seus iogurtes de aromas.

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Os 25 cromos que constituíam a colecção

Uma das mais perenes propriedades intelectuais da História (como fica bem provado pela estreia, esta semana, da segunda parte de Space Jam, exactos vinte e cinco anos após o primeiro filme e quase cinquenta (!) após a produção do último ‘cartoon’ da era clássica de Bugs Bunny e companhia) os Looney Tunes são daqueles produtos com os quais nunca se pode errar muito – qualquer que seja a época da História em que estejamos, produtos baseados em torno dos mais famosos personagens da Warner Bros irão, inevitavelmente, encontrar o seu público. Assim, uma colecção de cromos protagonizada pelos mesmos – numa década em que o coleccionismo, e os cromos em particular, estavam em alta – era uma proposta mais que segura por parte da Longa Vida, o que torna algo surpreendente que esta série de autocolantes não seja, hoje em dia, tão lembrada quanto os ‘Tous’ do Bollycao, por exemplo.

A situação torna-se tanto mais surpreendente quando verificamos que a produtora de lacticínios teve, inclusivamente, a inteligência de associar esta colecção a uma promoção, a qual habilitava os participantes a uma viagem para três pessoas aos estúdios da Warner Bros nos Estados Unidos, em troca de cinco ‘costas’ de cromos da colecção e, claro, dos dados pessoais da criança (quem hoje se preocupa tanto com dar os seus dados pessoais à Amazon ou ao Facebook, certamente não se recorda das regras dos concursos do ‘nosso’ tempo…)

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As regras do concurso eram reproduzidas nos versos dos cromos da colecção

Mesmo sem este atrativo extra, no entanto, esta série de cromos fazia o suficiente para justificar a tentativa de coleccionar todos os 25 autocolantes que a compunham; os desenhos, que retratavam os personagens em diversas partes do Mundo e eras da História, eram previsivelmente cuidados, e os produtos a que estavam associados, bastante acima da média do seu campo em termos de qualidade. Assim, não deixa de ser surpreendente que o único vestígio desta colecção, hoje em dia, venha de uma página de leilões espanhola (!), da qual, aliás, foram tiradas as imagens que ilustram este post - daí o estado ‘menos que perfeito’ dos itens representados, que parecem ter passado as duas décadas desde a promoção ao sol.

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Exemplo de embalagem promocional alusiva a esta colecção, representativa do melhor sabor de iogurte de aromas

Mesmo com estas limitações, no entanto, é bem evidente que, no seu tempo (e em bom estado), estes terão sido cromos bastante apetecíveis para o seu público-alvo – o que torna a suscitar a pergunta: porque terão sido tão ‘esquecidos pela Internet’ (e pelas ex-crianças dessa época)? A resposta continuará, por agora, a ser uma incógnita – mas entretanto, e graças aos Anos 90, estes cromos já têm pelo menos uma página de tributo na Internet...

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