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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

25.03.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Na última Saída de Sábado, abordámos a chegada a Portugal da FNAC, uma das poucas cadeias de venda de artigos tecnológicos e multimédia ainda resistentes no País. No próprio dia em que dedicávamos algumas linhas à cadeia francesa, no entanto, faltavam menos de vinte e quatro horas para se celebrar o aniversário de uma outra loja muito semelhante, também ela ainda hoje presente nas grandes superfícies nacionais e que, de facto, é praticamente dois anos mais velha do que a FNAC Portugal; assim, seria omisso da nossa parte não dedicar algumas linhas à grande 'concorrente' da cadeia francesa em solo português, a Worten.

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Inaugurada a 12 de Março de 1996, como subsidiária do poderoso grupo Sonae (hoje Sonae Continente) a Worten pode ser considerada a cadeia-irmã do popular hipermercado, de enfoque menos generalista e mais centrado na electrónica e multimédia (daí as comparações com a FNAC). Ainda que sem a facilidade em obter livros importados da concorrente, a cadeia compensava esta 'falha' oferecendo preços ainda mais competitivos que os da companhia francesa (ou outros concorrentes da época, como as lojas Singer, de que também aqui em tempo falaremos), tornando-se assim, rapidamente, o local de aquisição de electrodomésticos por excelência do consumidor nacional.

Curiosamente, e ao contrário do que aconteceu com a concorrente (cuja primeira loja abriu num 'shopping' em plena Lisboa) a Worten expandir-se-ia, não a partir das grandes capitais portuguesas, mas da vila de Chaves, tendo só depois 'rumado' a Sul, rumo à capital. Uma vez iniciada, no entanto, essa expansão deu-se de forma por demais célere – apenas alguns anos após a sua fundação, por alturas da viragem do Milénio, a Worten era já parte do 'cenário' em centros comercials e lojas Modelo e Continente de Norte a Sul do País, paradigma que se mantém até hoje.

A forte presença em território nacional incentivou, aliás, Belmiro de Azevedo a expandir a área abrangente do seu negócio até ao país vizinho, tendo a Worten adquirido não uma, mas duas cadeias comerciais espanholas, num total de cerca de meia centena de lojas. Ao contrário do sucedido em Portugal, no entanto, esta 'aventura' não se saldou pelo sucesso, tendo a estadia da Worten como grande cadeia em Espanha durado pouco mais de uma década, e saldando-se a presença actual da loja de Belmiro de Azevedo no outro país ibérico em pouco mais de uma dezena e meia de lojas, a esmagadora maioria das quais situada nas Ilhas Canárias, último grande 'reduto' da rede Sonae em Espanha; curiosamente, grande parte das restantes lojas da franquia foram vendidas a outro grupo comercial bem conhecido dos portugueses, no caso o MediaMarkt.

Em Portugal, no entanto, a Worten continua a somar e seguir, até por o seu nicho de especialização ser um dos poucos em que a procura é constante, e a avaliação física do produto particularmente importante; enquanto este paradigma se mantiver (e enquanto o grupo MC Sonae Continente mativer a sua pujança no panorama comercial português) é de esperar que muitas crianças e jovens portugueses continuem a desfrutar de Saídas de Sábado periódicas à 'loja de electrodomésticos do Continente'.

11.03.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Em inícios da década de 90, o comércio em Portugal era, ainda, de índole sobretudo local; as primeiras grandes superfícies apenas viriam a surgir já em meados da década, e os 'shoppings' perto do final da mesma, sendo a maioria das lojas (excepção feita aos supermercados, claro) ainda especializada e dedicada a apenas uma vertente - fosse ela a venda de discos, livros, brinquedos e artigos do dia-a-dia ou até algo como o aluguer de filmes - e localizada na rua ou em pequenas galerias comerciais de bairro.

No entanto, à medida que os referidos espaços de maiores dimensões iam capturando cada vez mais o coração dos portugueses, algumas destas empresas mais especializadas começaram, também, a vislumbrar uma oportunidade de expandir o seu negócio, não tanto através da diversificação da sua oferta, mas sobretudo mediante a abertura de lojas maiores, muitas das quais situadas nesses mesmos espaços comerciais. A pioneira, neste aspecto, foi a multinacional Virgin, cuja icónica Megastore, localizada em Lisboa, será paulatinamente alvo de 'post' próprio e cujos passos foram, alguns anos depois, seguidos pela Valentim de Carvalho, espécie de 'versão nacional' da companhia inglesa. No entanto, ambas estas companhias operavam em espaços próprios; a primeira a verdadeiramente aproveitar e explorar as potencialidades da localização em 'shoppings' ou hipermercados foi uma empresa francesa, sobre cuja presença em Portugal se celebrou há pouco mais de uma semana e meia um quarto de século.

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Falamos, é claro, da FNAC, cuja primeira loja em território nacional abria com pompa e circunstância (e filas de 'quilómetros' à porta) no Centro Comercial Colombo, onde, aliás, ainda hoje se mantém. A proposta era simples, e não muito distante da da Virgin e Valentim, embora mais abrangente, sendo que aos tradicionais CDs e DVDs musicais vendidos pela concorrência, a 'novata' juntava ainda livros (em edição nacional e estrangeira), jogos de computador e consola, e até algum material tecnológico, sobretudo centrado nas áreas da música e da fotografia. Mais tarde, esta oferta viria a tornar-se ainda mais alargada, sendo que, além dos artigos supracitados, a FNAC oferece hoje em dia também 'merchandise' alusivo a filmes e artistas musicais, e ainda os famigerados bonecos de vinil Funko, afirmando-se como um verdadeiro espaço agregador de produtos da vertente multimédia e voltados à cultura pop.

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A primeira loja nacional da marca abriu no Centro Comercial Colombo, em Lisboa.

Nos idos de 1998 e anos subsequentes, no entanto, a reputação da companhia francesa era algo diferente, tornando-se a mesma local de romaria para clientes mais 'intelectuais', pela facilidade em encontrar ou encomendar nas suas lojas artigos raros ou importados, de outra forma inacessíveis aos consumidores nacionais; haverá decerto, entre os nossos leitores, quem tenha tirado partido desta característica para conseguir 'aquele' disco, livro ou filme que não havia em mais lado nenhum...

Este não era, no entanto, o único atractivo da FNAC, que oferecia ainda empregados extremamente versados nas áreas de especialização da loja (muitos deles com carreiras musicais), preços competitivos, promoções ainda melhores que as das concorrentes (sendo possível encontrar discos a cinquenta cêntimos ou um euro, caso os mesmos fossem para 'escoar') e uma estrutura extremamente organizada e fácil de navegar, com secções claramente delimitadas que facilitavam a procura direccionada e reduziam o tempo passado a 'andar às voltas' na loja. Assim, não foi de estranhar que a loja gozasse de sucesso imediato em Portugal, não tardando a surgir em outras localizações um pouco por todo o País, com especial incidência nas grandes cidades.

Hoje em dia, a FNAC tem o mérito de ser a 'última resistente' das lojas de multimédia, resistindo ainda e sempre ao invasor, à boa maneira do seu compatriota Astérix, o Gaulês; no entanto, até mesmo esta cadeia tem vindo a sofrer com a rápida obsolescência dos suportes multimédia fixos, tendo muitas das suas lojas adoptado um modelo menos expansivo e mais contido, por oposição aos verdadeiros repositórios de multimédia que eram nos seus tempos áureos. Quem viveu esse mesmo período, no entanto, recordará sempre a FNAC pelo que ela foi, pela 'pedrada no charco' que representou no sector das vendas de multimédia, e pela experiência única que ir a uma das suas lojas proporcionava. Parabéns atrasados, FNAC, e obrigado por tudo.

25.02.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Qualquer criança ou jovem dos anos 90 apreciava uma boa ida às compras, fosse com familiares ou, quando mais velho, com os amigos. O aparecimento, durante a referida década, de estruturas como os 'shoppings' e os hipermercados ajudava a tornar essa experiência ainda mais entusiasmante, oferecendo uma alternativa aos supermercados, drogarias, centros comerciais de bairro e lojas tradicionais de brinquedos, desporto, roupa ou discos e vídeos que formavam o 'itinerário' da maioria destes passeios. No entanto, qualquer que fosse o destino, havia sempre o problema de o dinheiro – da mesada, semanada, economias, ou simplesmente oferecido pelos pais no próprio dia – raramente chegar para o que se queria comprar; os mais pequenos, em especial, ficavam inevitavelmente 'reféns' das possibilidades e disposição dos pais no que tocava a levar para casa um 'presente' simbólico para recordar a viagem.

Ainda na primeira metade da década de 90, no entanto (bem antes do advento das grandes superfícies) um novo tipo de loja veio ajudar a resolver esse problema, oferecendo uma enorme variedade de produtos a um preço fixo e – mais importante – acessível aos bolsos e carteiras infantis – a princípio, cem ou duzentos escudos, que mais tarde viriam a subir para o valor que 'baptizou' oficialmente este tipo de estabelecimento, os famosos trezentos.

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Configuração típica de um estabelecimento deste tipo. (Crédito da foto: Ainda Sou do Tempo.)

Escusado será dizer que este conceito, por essa altura já presente em países como os EUA ou o Reino Unido, se afirmou absolutamente revolucionário em Portugal, onde o consumidor médio – sobretudo jovem – estava pouco habituado a tal variedade de produtos por tão baixos preços. Isto porque as 'lojas dos trezentos' vendiam desde as previsíveis 'quinquilharias' sem grande serventia até utensílios de cozinha, artigos de casa, livros (normalmente os famosos volumes da editora Europa-América, praticamente monopolista neste sector) e até artigos de vestuário ou plantas decorativas! E se é evidente que a qualidade destes produtos deixava muito a desejar – inclusivé no que toca às traduções dos livros – também não deixa de ser verdade que poder entrar numa loja com a semanada no bolso e sair de lá com QUALQUER produto em exposição era (e provavelmente continua a ser) o sonho de qualquer menor de idade. Assim, não é de estranhar que estas lojas tenham tido enorme adesão aquando do seu aparecimento, multiplicando-se rapidamente e espalhando-se por todo o País no espaço de poucos anos.

Mas como cantava George Harrison, 'tudo deve terminar', e também o 'ciclo' das 'lojas dos trezentos' acabou, eventualmente, por chegar ao fim – embora de forma muito mais lenta do que outros estabelecimentos de que aqui falámos em rubricas passadas, tendo o formato sobrevivido durante tempo suficiente para o nome 'loja dos trezentos' se transformar em 'loja do Euro'. Por essa altura, no entanto, já este tipo de loja enfrentava o adversário que o viria a destronar – a famosa 'loja dos chineses', que 'tomou de assalto' o sector comercial das 'lojas dos trezentos' e, mesmo sem a vantagem do preço fixo, as conseguiu paulatinamente eliminar do léxico dos portugueses. De facto, hoje em dia vai-se 'aos chineses' da mesma forma que, dez ou vinte anos antes, se ia 'aos trezentos', tendo o novo tipo de loja conseguido suplantar o estigma que lhe foi inicialmente associado – exactamente como aconteceu com os 'trezentos' no seu tempo. Para quem viu nascer e florescer esse tipo de loja, no entanto, a memória de um local onde tudo custava pouco mais de uma semanada permanecerá, sem dúvida, bem viva até aos dias de hoje, e remeterá inevitavelmente àqueles anos em que o conceito veio 'agitar' o comércio quotidiano e de bairro em Portugal...

11.02.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Já aqui por várias vezes fizemos referência aos centros comerciais tradicionais, 'residência' habitual de espaços hoje tão ultrapassados como videoclubes, lojas de discos independentes ou pequenas discotecas; estava, no entanto, ainda a faltar um artigo sobre estes espaços em si – falha que procuraremos, hoje, corrigir dedicando algumas linhas àquilo que passava por uma 'grande superfície' antes do advento dos 'shoppings' e hipermercados.

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O Apolo 70, em Lisboa, um dos mais icónicos estabelecimentos deste tipo

Presentes em quase todas as localidades ou povoações de algum tamanho em Portugal (e, ainda hoje, existentes em algumas delas, embora sob uma forma marcadamente mais 'esquelética' do que naqueles tempos) os centros comerciais tradicionais dividiam-se, grosso modo, em dois tipos: as chamadas galerias, que reuniam num mesmo espaço vários tipos de pequenos retalhistas, e aqueles que serviam, principalmente, de apoio a um supermercado. Ambos os tipos eram bastante comuns, não se podendo dizer que qualquer deles se superiorizasse ao outro, e ambos tendiam a oferecer algumas das 'necessidades básicas' do consumidor de bairro: boutiques, tabacarias, pequenos snack-bars, livrarias ou lojas de impressão, brinquedos ou informática (além dos espaços supramencionados) eram apenas alguns dos tipos de estabelecimento mais comummente encontrados em espaços deste tipo.

A ideia era, portanto, que um consumidor conseguisse encontrar num só edifício tudo aquilo de que necessitava, independentemente da sua natureza – daí o nome 'centro comercial'. Um conceito que, mais tarde, seria 'apropriado' e expandido pelas grandes superfícies, fazendo, ironicamente, com que os inovadores originais parecessem ultrapassados e pitorescos por comparação aos novos mega-espaços.

Ainda assim, a persistência do 'comércio de bairro' em muitas localidades portuguesas permitiu à maioria dos centros comerciais 'clássicos' protelar a sua extinção – ainda que, muitas vezes, a mesma se tenha apenas traduzido num modelo de 'morte lenta' tão deprimente quanto prejudicial às companhias que ocupavam o espaço. Na maioria dos casos, era o fecho do supermercado ou de uma das lojas principais (ou ainda a extinção da sala de cinema, outro apanágio deste tipo de espaços) que ditava o fim da galeria, sendo que muitas arriscavam, ainda, numa tentativa de renovação, invariavelmente (e infelizmente) malograda.

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O estado e aparência actual da maioria dos centros comerciais tradicionais portugueses.

Ainda assim, os habitantes das principais cidades do País (bem como de muitas vilas mais pequenas) terão ainda, potencialmente, contacto diário com este tipo de espaço, quanto mais não seja por lhes passarem à porta a caminho de casa, do emprego ou de qualquer outra actividade; e, nessas alturas, é de crer que a mente lhes 'voe' para outros tempos, em que percorriam com regularidade aqueles mesmos corredores, em busca das lojas favoritas e dos 'tesouros' que as mesmas escondiam.

28.01.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

A infância e adolescência das crianças e jovens portugueses nascidos até ao início da década de 90, inclusivé, ficou marcada pela existência de uma série de espaços com os quais a geração pós-Milénio já não teve a oportunidade de conviver. E se, hoje em dia, conceitos como o de uma loja dedicada exclusivamente ao aluguer de vídeos, de uma salinha fumarenta apinhada de máquinas de jogos, ou de um espaço esconso e escuro repleto de lojas e até salas de cinema parecem perfeitamente mirabolante para quem tem menos de vinte e cinco anos, a ideia de um espaço comercial dedicado, única e exclusivamente, à venda de artigos 'das antigas' não fica muito atrás no que toca ao fantasismo. A única diferença é mesmo que estes espaços continuam, em certos pontos do País, a resistir ainda e sempre ao invasor (no caso, as grandes superfícies) afirmando-se como um dos últimos bastiões do verdadeiro comércio tradicional.

Falamos das drogarias – aquelas lojinhas que, via de regra, se 'apertavam' numa frente-loja de área bastante limitada, e onde se podia adquirir de tudo um pouco, desde os expectáveis perfumes e materiais de limpeza até pequenos electrodomésticos, jogos, brinquedos, bolas, equipas de Subbuteo ou mesmo figuras para o Presépio; em suma, autênticos 'supermercados' em ponto pequeno, invariavelmente chefiados por um comerciante sorridente, atencioso e tão 'à moda antiga' quanto os seus produtos, que oferecia garantias de qualidade e fazia valer a (por vezes considerável) diferença de preços em relação ao supermercado.

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Uma drogaria de configuração bem típica.

Para uma criança daquela época – para quem uma visita ao referido supermercado, ou ao café do bairro, constituía por si só toda uma experiência – estas drogarias surtiam o mesmo efeito que as lojas de brinquedos tradicionais, parecendo autênticas 'caixinhas de surpresas' que dava vontade de explorar – mesmo que o único 'tesouro' encontrado fosse uma barra de sabão azul-e-branco. E apesar de ser muito pouco provável que a nova geração se entusiasme com algo tão singelo e mundano, a verdade é que - conforme referimos no início deste post - as drogarias tradicionais continuam a existir em diversos pontos do nosso País, prontos a servir os mesmos clientes que, as visitam com regularidade desde há várias décadas, e constituindo um dos últimos verdadeiros 'elos de ligação' ao Portugal de antigamente ainda existentes nos dias de hoje.

22.12.22

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

No mundo dos negócios - como, aliás, em muitos outros - a marca de trinta anos é tão respeitável quanto rara. Àparte os grandes conglomerados e as marcas já bem estabelecidas no mercado internacional, é pouco frequente ver uma loja ou serviço manter-se não só 'viva' como 'bem de saúde' do ponto de vista financeiro durante um período de tal forma alargado - o que faz com que seja ainda mais de louvar quando tal facto se verifica, e duplamente em tratando-se de um negócio de moldes mais 'locais'.

Serve este preâmbulo para justificar o desvio momentâneo dos assuntos natalícios, a fim de aproveitar esta última oportunidade para celebrar os trinta anos de uma companhia que marcou a infância e adolescência de toda uma geração de portugueses - a Telepizza, que completou este ano, precisamente, três décadas de existência no mercado alimentar e de 'fast food' português.

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Foi, de facto, em 1992 (um par de anos antes do McDonald's e depois da grande rival Pizza Hut) que a pizzaria cujo 'segredo está na massa' 'saltou a fronteira' da vizinha Espanha, onde surgira cinco anos antes, para fazer concorrência à 'monopolista' 'Cabana das Pizzas', e se tornar sinónima com a entrega ao domicílio deste tipo de alimento em território nacional. Com a sua 'receita secreta' de base para a massa (cujo resultado final era tão bom ou melhor que o da concorrente), o seu delicioso pão de alho e os preços bem mais 'simpáticos' que os da 'Cabana', a companhia ibérica não tardou a 'cair no gosto' dos portugueses, assumindo-se como líder na entrega ao domicílio (posto de que ainda hoje goza) e tornando-se tão omnipresente nas principais localidades do nosso país, que muita gente erroneamente acreditou tratar-se de um negócio fundado em Portugal.

O passo seguinte passou, naturalmente, pela internacionalização, ainda que tenha levado à pizzaria ibérica mais de duas décadas a extravasar as fronteiras ibéricas, e a abrir novas lojas, primeiro na América Central e do Sul, e mais tarde em países da Europa (nomeadamente o Reino Unido e a Polónia) e do Médio Oriente e Ásia do Sul. Para muitas ex-crianças portuguesas dos anos 90 e 2000, no entanto, esta companhia continuará a ser, ainda e sempre, aquela que trazia a casa, ao fim de semana, o tão esperado e apreciado disco de massa de pão com 'toppings', pronto a ser 'devorado' em família. Parabéns, Telepizza - e que contes ainda muitos mais!

12.03.22

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

Comprar ou receber brinquedos é um dos pontos altos da vida quotidiana de qualquer criança, independentemente da época em que viva. Seja algo mais pequeno e simbólico, como uma boneca ou uma figura de acção, ou um presente 'grande' – normalmente de anos ou Natal – este é daqueles momentos que, por muito que a sociedade mude, nunca deixa de perder o impacto para as gerações mais novas.

O que muitos destes actualmente jovens nunca saberão, no entanto – ou saberão apenas em 'segunda mão', através dos relatos dos pais – é que, nas últimas décadas do século XX, o acto de adquirir um brinquedo tinha, ainda, mais UM aspecto memorável e que adicionava (e muito) à experiência – nomeadamente, o próprio acto de ir à loja escolher o que se queria comprar.

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Sim, a Saída de hoje tem como destino um bastião da cultura e vida quotidiana infanto-juvenil do século XX, que não sobreviveu à 'viragem' digital do novo milénio: as lojas de brinquedos, na sua concepção tradicional. E por mais difícil que seja às crianças de hoje em dia conceber a existência de um ou mais destes estabelecimentos na maioria dos pequenos centros comerciais situados em bairros urbanos – ou mesmo a existência de brinquedos fora das prateleiras dos supermercados e hipermercados – a verdade é que a geração que tem hoje idade para ser progenitor dessas mesmas crianças passou muito tempo em lojas deste tipo, de boca aberta e olhos a brilhar, a tentar assimilar as possibilidades contidas naquilo que os rodeava.

De facto, as lojas de brinquedos, tal como eram entendidas à época, eram verdadeiros 'baús do tesouro', repletos de sonhos e potenciais brincadeiras, e cujas prateleiras – normalmente apenas meia dúzia, em duas ou três secções – pareciam não ter fim. Nas mais pequenas, este efeito era ainda exacerbado pela disposição anárquica do inventário, normalmente exposto onde havia espaço, independentemente de qualquer lógica – o que resultava, inevitavelmente, em 'pilhas' de brinquedos apenas vagamente relacionados uns com os outros, exactamente como se de um tesouro se tratasse; já as lojas maiores colmatavam a disposição mais organizada dos seus produtos com a presença de consolas, muitas vezes disponíveis para jogos de teste, embora a presença de comandos desligados ou escondidos atrás de um vidro protector fosse também frequente.

Fosse qual fosse a configuração, no entanto, o efeito no público-alvo era o mesmo – algo equivalente ao consumo de açúcar em excesso, que fazia a criança querer comprar tudo o que via, independentemente do preço. E apesar de o produto adquirido ser, na maioria das vezes, de índole menos extravagante (por aqui, por exemplo, era normalmente um conjunto de veículo e mini-figura da LEGO, embora, numa ocasião memorável, se tenha regressado de uma das lojas do nosso bairro com um Game Boy edição especial, verde, e o então novíssimo jogo 'Pokémon Blue') a verdade é que, ao sair de uma loja de brinquedos, a criança deixava intactas todas as possibilidades da mesma, com a promessa mental de voltar muito em breve - e quiçá com mais disponibilidade monetária - para novamente as explorar...

Este efeito foi, aliás, exacerbado a partir de 1993, quando os jovens portugueses ficaram a conhecer esse verdadeiro 'hipermercado dos brinquedos' que os seus congéneres americanos conheciam há já várias décadas: o Toys'R'Us. As primeiras lojas da multi-nacional especializada norte-americana a abrir em Portugal, situadas em Lisboa, e em Vila Nova de Gaia, tiveram sobre o seu público-alvo o previsível impacto, tornando uma 'romaria' periódica a esse mesmo espaço algo obrigatório para quem morava na área - o autor deste blog, por exemplo, visitou várias vezes a loja de Lisboa, situada no espaço do supermercado Carrefour (hoje Continente) na zona de Telheiras.

Isto porque, embora o Toys'R'Us não tivesse o charme e ambiente de 'caixinha de surpresas' das lojas a que a juventude daquele tempo estava habituada, este factor era mais do que compensado por uma loja do tamanho de um hipermercado, mas em que os brinquedos e outros produtos de interesse directo para as crianças, como as bicicletas, não ficavam confinados a apenas uma secção, dominando antes, pelo contrário, todo o espaço; onde o Carrefour, mesmo ali ao lado, tinha roupa, electrodomésticos ou produtos alimentares, o Toys'R'Us tinha brinquedos, bicicletas, jogos de tabuleiro, consolas e respectivos jogos, e muitos outros produtos altamente desejáveis para a demografia que procurava aliciar; e quem visitou este espaço na idade certa, certamente se lembrará da sensação que tal visita provocava, tornando ainda mais deprimente a realidade do desaparecimento da companhia, por motivos de insolvência, em 2019.

Qualquer que fosse o tipo de loja de brinquedos visitado, no entanto, a experiência saldava-se, invariavelmente, como extremamente positiva, e até memorável – afinal, qual a criança que não gosta de ter brinquedos novos, especialmente por si escolhidos? Infelizmente, e como já referimos no início deste texto, esta é, à semelhança de outras Saídas de que aqui falamos, uma visita irrepetível; a loja de brinquedos 'de bairro', como conceito, desapareceu, 'esmagada' pelos hipermercados e pelo vertiginoso crescimento dos retalhistas 'online', como a Amazon. Os poucos estabelecimentos deste tipo que ainda restam têm a tradicionalidade como parte do seu conceito distintivo, ou seja, são especificamente concebidos para evocarem uma loja de brinquedos tradicional, por oposição a serem apenas um negócio de venda de brinquedos, igual a tantos outros, que alguém montou numa loja de segunda-cave de um centro comercial 'à moda antiga'; essas, onde tantos jovens de fins do século XX passaram tantos bons momentos na infância e adolescência, são hoje do domínio exclusivo do 'álbum de retratos' mental que a maioria de nós ainda retém daquele tempo...

21.03.21

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(NOTA: Este post é referente a Sábado, 20 de Março de 2021.)

Aos Sábados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais excitantes locais para se visitar naquela época.

E nada melhor para começar esta rubrica do que falar num conceito que – pelo menos em Portugal – teve início em meados dos anos 80, e que revolucionou para muitas famílias o conceito de ‘ir às compras’: os hipermercados, um conceito já existente em muitos países estrangeiros, mas que apenas se popularizou no nosso país em finais do século passado, com o Continente na linha da frente, tanto no Norte (o Continente de Matosinhos, inaugurado em 1985, foi o pioneiro deste conceito no nosso país) como mais a Sul, onde o Continente da Amadora, aberto em 1987, se afirmou como o primeiro espaço deste tipo na capital.

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O Continente de Matosinhos, o primeiro hipermercado em Portugal, inaugurado em 1985.

Hoje em dia, este tipo de superfície é comum ao ponto de constituir só mais uma parte da vida quotidiana dos portugueses; nos anos 90, no entanto, não era assim. À época, os supermercados (a grande maioria de pequena dimensão, e localizados nos próprios bairros residenciais) eram lojas como quaisquer outras - sítios até algo aborrecidos, uma espécie de mercearia da esquina em ponto grande, onde a melhor perspetiva que uma criança tinha era a de ir para casa com uma caixa dos seus cereais favoritos, ou quanto muito, uma BD ou um chupa-chupa comprados na caixa.

Os hipermercados vieram mudar tudo isso, oferecendo não só um local para fazer as compras, como toda uma experiência, que passou a atrair milhares de famílias todos os fins-de-semana, criando uma nova espécie de ‘ritual’ para os Sábados e Domingos. Tanto assim é que, aquando da sua abertura, o Continente de Matosinhos chegou a dar azo a excursões organizadas, apenas para conhecer o espaço!

Escusado será dizer que, se os adultos não ficavam incólumes aos encantos destas superfícies, as crianças ainda menos lhes resistiam. Ir ao hipermercado, sobretudo na altura do Natal ou dos anos, correspondia a ter todo um mundo de possibilidades ao alcance da mão (e do dinheiro dos pais), desde t-shirts ou ténis a discos, vídeos, livros, brinquedos, aparelhos eletrónicos e até bicicletas – tudo isto num espaço suficientemente grande para tornar até a compra do tal pacote de cereais numa experiência memorável e excitante, e que obrigava a atenção redobrada para nunca perder de vista a família.

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Aproximação mais ou menos fiel da experiência de uma criança dos anos 90 ao entrar num hipermercado.

Como se isto não bastasse, os hipermercados de maior dimensão tinham, à sua volta, uma espécie de mini-centro-comercial, o que – numa época em que os ‘shoppings’ propriamente ditos eram também eles locais quase mitológicos – tornava ainda mais atrativa aquela ‘romaria’ às compras, e dava às crianças ainda mais que ver e antecipar. No entanto, mesmo que estas lojas extra não existissem, a experiência de visitar um hipermercado não seria, para um ‘puto’ dos 90s, muito menos excitante; pelo contrário, o simples ato de subir a escada rolante já causava um ‘frisson’ de antecipação para aquilo que aí vinha, justificando plenamente a inclusão destes espaços como primeira Saída de Sábado deste blog.

E vocês? Que memórias têm de ir ao hipermercado naquela época? Deste lado, fica a memória de ter visto, pela primeira vez, uma Sega Saturn (e respetivo jogo Virtua Fighter) na ‘praceta’ do Carrefour de Telheiras, ali em meados da década, e de ficar ‘especado’ a babar nos gráficos 3D, rudimentares pelos padrões de hoje em dia mas, à época, revolucionários. Têm alguma experiência semelhante, ou igualmente marcante? Partilhem-na nos comentários!

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