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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

02.02.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Sábado, 1 de Fevereiro de 2025.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A chegada a Portugal das grandes superfícies, em meados da década de 90, veio confinar a uma presença cada vez mais esporádica certos tipos de lojas do chamado comércio local, anteriormente muito mais prolíficas e omnipresentes na vida quotidiana dos cidadãos nacionais. Foi assim com as drogarias e mercearias tradicionais (as segundas das quais aqui terão em breve o seu espaço) com as lojas de brinquedos e discos, com os videoclubes e com o tipo de estabelecimento que abordamos neste 'post' duplo de fim-de-semana: as lojas de desporto de bairro.

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De facto, onde hoje a Decathlon e a Sport Zone são as principais referências no tocante à compra de equipamento desportivo especializado (daquele que dificilmente se encontraria num hipermercado), há cerca de três décadas, esse mesmo nicho era do domínio praticamente exclusivo de lojas mais pequenas, altamente especializadas, e existentes em praticamente todas as localidades e bairros mais urbanos do País, muitas vezes como parte de uma pequena galeria comercial. Ali se podiam comprar desde produtos mais básicos, como ténis, chuteiras, sapatilhas de ginástica, calções, meias ou camisolas de futebol (quer genéricas quer, por vezes, alusivas a clubes específicos) até outros bem mais especializados, como canas de pesca, ou mesmo troféus 'genéricos' para atribuição em competições e eventos de pequenos clubes ou agremiações. E apesar de, por comparação às referidas grandes superfícies, os preços serem, necessariamente, inflacionados, tal diferença acabava por se justificar dado o atendimento personalizado e atencioso, 'à moda antiga', de que cada cliente era alvo.

Tal como sucedeu com os restantes tipos de loja mencionados no início deste texto, no entanto, também as pequenas lojas de desporto de bairro se foram vendo ficar cada vez mais irrelevantes e perder boa parte da sua clientela, para quem os preços mais baixos das novas lojas em cadeia tinham um atractivo irresistível. Assim, embora este tipo de loja não esteja, ainda, totalmente extinto (ainda que seja apenas uma questão de tempo até que tal suceda) os poucos estabelecimentos ainda restantes sobrevivem, acima de tudo, graças a uma capacidade de resistência acima da média, misturada com um pouco de sorte; uma pena, já que os equipamentos desportivos para modalidades e actividades extra-curriculares continuam a ser um dos campos em que o comércio de proximidade não só tem razão de ser como apresenta claras vantagens em relação ao actual paradigma de compras 'online' ou em grandes superfícies.

07.12.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

A aproximação do Natal comportava consigo, no Portugal dos anos 90, o aparecimento de uma série de elementos bem típicos da estação: as tradicionais iluminações (um dos pontos altos do período festivo para muitas crianças) a montagem da árvore de Natal e do presépio, as cartas ao Pai Natal, as festas de Natal da escola ou do trabalho dos pais, a chegada dos inevitáveis circos de Natal a diversas localidades, a gradual abertura de calendários do advento, o aparecimento de inúmeros catálogos de brinquedos na caixa do correio, a transmissão na televisão de 'Sozinho em Casa', 'Mary Poppins' e dos icónicos anúncios do Continente (que aqui terão, em tempo, o seu espaço) ou o tema do nosso 'post' de hoje, as vendas de caridade.

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Tipicamente organizadas por paróquias ou associações beneficentes, as referidas instalações – via de regra situadas em espaços comerciais vazios, mediante aluguer temporário – comportam, geralmente, fins de angariação de fundos, através da venda de uma mistura de objectos novos (a maioria dos quais de pendor sazonal), artesanato feito à mão pelos membros da entidade organizadora e, claro, doações efectuadas pelos mesmos. O resultado é um espaço que permite encontrar um presente ou decoração natalícia diferente, a um preço convidativo, e com o dinheiro gasto a reverter para boas causas - normalmente associadas ao restauro de instalações, organização de actividades ou simples melhoria da qualidade de vida de cidadãos mais carenciados - acabando assim por servir como manifestação física do espírito natalício de solidariedade e entreajuda. Não é, pois, de admirar que estes espaços sejam, durante o seu tempo de existência, bastante concorridos, contando sempre com forte afluência, sobretudo se situados em artérias comerciais de grandes cidades.

À semelhança da maioria das tradições acima elencadas, também este tipo de instalação continua a existir, sensivelmente no mesmo formato em que primeiro surgiu, há já várias décadas, embora em número e com frequência cada vez mais reduzidas, á medida que o comércio transita do modelo comercial para outro mais digital, e baseado nas compras 'online'. Ainda assim, enquanto existirem instituições beneficentes, utentes necessitados, clientes solidários e lojas vazias onde 'montar a banca', é de crer que as vendas beneficentes continuem a formar parte integrante do Natal nacional, permitindo aos membros das gerações 'X', 'millennial' ou até 'boomer' proporcionar aos filhos ou netos a mesma experiência que eles próprios viveram durante inúmeras Saídas ao Sábado de Natal, nos anos anteriores (ou imediatamente seguintes) à viragem do Milénio.

18.10.24

NOTA: Por motivos de relevância, este Sábado será novamente de Saída. Os Saltos voltarão nas duas semanas seguintes.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Tal como acontece com qualquer geração em qualquer parte do Mundo, também os jovens portugueses de finais do século XX tiveram as 'suas' marcas e lojas icónicas, algumas delas já abordadas nestas páginas. E se a maioria destas se incluía na categoria mais tarde conhecida como 'fast fashion' – que ainda hoje engloba lojas como a Zara/Pull & Bear, H&M, Mango, Bershka, Springfield ou Stradivarius, entre outras – havia, ainda assim, certas lojas especializadas numa só marca que capturavam a imaginação dos 'millennials' nacionais pela sua combinação de popularidade e 'designs' apelativos. Era o caso da Benetton, da Gant, da Timberland, da Gap, das incontornáveis Sacoor e Quebramar, ou ainda da loja que abordamos neste post aglutinador de Sexta com Style e Saída ao Sábado, a qual completa neste mês de Outubro vinte e oito anos de existência.

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Popularizada sobretudo pela sua ligação declarada ao movimento e cultura 'surfista', muito em voga durante toda a década de 90, a Ericeira Surf Shop não tardou a disseminar-se bem para além da sua 'base' e demografia-alvo, e a invadir os pátios de escola, sobretudo os frequentados por alunos de classes sociais mais abastadas, os chamados 'betinhos'. Assim, por alturas da viragem do Milénio, ser visto com roupas da loja em causa dava já tanto crédito social como usar qualquer das marcas acima descritas, com o bónus acrescido de as mesmas não serem facilmente encontradas numa qualquer feira, obrigando a um considerável investimento. Por outro lado, como sucedia com algumas das outras marcas populares da época, este factor tirava a Ericeira Surf Shop das possibilidades financeiras de grande parte dos jovens, reforçando a natureza algo elitista da loja e respectivos artigos e criando um sentimento de inferioridade a quem não tinha 'cachet' para os mesmos – o que, bem vistas as coisas, talvez fosse precisamente o objectivo da sua clientela, embora não necessariamente da loja em si.

Tal como a maioria das marcas e lojas que aqui abordamos, no entanto, também a Ericeira Surf Shop acabou por 'passar de moda' entre a população jovem em geral, e regressar ao seu 'reduto' mais especializado, onde permanece até hoje, agora com o nome de Ericeira Surf & Skate e um espectro mais alargado de especializações, onde se inclui também o 'snowboard'. Os portugueses de uma certa idade, no entanto, recordarão para sempre a marca pelo seu nome anterior, que tanta inveja causava ao ser lido num saco de compras ou peça de roupa de um amigo ou colega de escola. Parabéns, e que conte ainda muitos.

22.10.23

NOTA: Este post é respeitante a Sábado, 21 de Outubro de 2023.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

De entre as Saídas de Sábado que, apesar de frequentes, nunca deixavam de causar alguma antecipação, a ida à tabacaria ou quiosque perde apenas para a ida ao café, jardim ou parque infantil em termos de memórias nostálgicas para a geração nascida e crescida em finais do século XX. De facto, apesar de não parecerem, à primeira vista, particularmente excitantes, estes estabelecimentos contavam com uma série de factores capazes de suscitar o entusiasmo dos mais pequenos durante a 'ronda de compras' diária ou semanal.

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As tabacarias de moldes tradicionais ainda hoje existem um pouco por todo o País.

De facto, entrar num destes estabelecimentos (ou, no caso do quiosque, apenas aproximar-se) revelava de imediato uma verdadeira imensidão de opções, prontas a 'torturar' qualquer jovem munido da semanada ou mesada. Qual escolher – o mais recente número da revista de jogos ou de 'posters', ou a BD do costume? Um chupa-chupa, ou uma mão-cheia de pastilhas elásticas? Talvez umas quantas saquetas de cromos para a caderneta? As possibilidades eram ilimitadas, e o único ponto negativo era mesmo ter de escolher entre elas.

Mesmo para quem não ia 'apetrechado' com trocos no bolso, a ida à tabacaria dava sempre a possibilidade de sair da mesma com um dos referidos artigos, oferecido pelos adultos à laia de prémio de bom comportamento, ou apenas como recordação do passeio – o que, por sua vez, os tornava ainda mais memoráveis e apetecíveis, contribuindo para criar expectativas sobre uma Saída de Sábado que, sem parecer à primeira vista particularmente entusiasmante, acabava sempre por constituir um ponto alto do fim-de-semana comum do jovem noventista.

Hoje em dia, as tabacarias e quiosques, tal como a referida geração os conheceu, estão em vias de extinção, mais parecendo mini-mercados ou lojas de 'souvenirs' com algumas revistas e jornais desportivos à mistura; assim, é duvidoso que a actual geração sinta o mesmo 'frisson' da dos seus pais ao entrar num destes estabelecimentos – até porque, regra geral, possuem acesso digital a quase tudo o que lá se podia adquirir. Para quem viveu aquela época, no entanto, é possível que, ainda hoje, a visita a uma papelaria, tabacaria ou quiosque de moldes tradicionais faça, ainda, vir à tona alegres memórias de infância e adolescência..

13.10.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

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Os anos 90 e 2000 representaram o auge do interesse da juventude portuguesa (e mundial) nos desportos radicais e, por arrasto, de aventura. E se o skate, patins em linha, BMX ou 'surf' eram já quase dados adquiridos no que tocava ao sector infantil e adolescente, já actividades como a escalada, o 'rappel' e o montanhismo poderiam parecer menos imediatamente óbvias, mas a verdade é que não deixaram, ainda assim, de cativar os jovens lusitanos, com alguma ajuda de filmes como 'Assalto Infernal' ou 'Missão: Impossível 2'. Este interesse não tardou, também, a estender-se ao parâmetro da moda, e não demorou muito até os coletes, mochilas, calças e bolsas de cintura ou a tiracolo em tons de caqui e verde-seco ombrearem com as grandes marcas de 'surf' e 'skate' no armário do adolescente português médio.

Parecia, pois, a oportunidade perfeita para estabelecer no nosso País uma nova cadeia de lojas, especificamente dedicada a vestuário deste tipo, e para esta finalidade – e foi precisamente o que fez a espanhola Coronel Tapiocca (com um 'C' a mais, para evitar problemas legais, ainda que a mascote fosse descaradamente idêntica à do militar do mesmo nome da série de BD franco-belga 'Tintim'), que se encontrava precisamente em processo de expansão internacional, após se ter estabelecido como líder de mercado no seu país de origem. Os astros alinhavam-se, assim, para criar as condições perfeitas para aquela que viria a ser uma relação comercial de cerca de duas décadas entre o 'imitador' do coronel amigo de Tintim e os adolescentes portugueses com interesse em desporto-aventura.

Isto porque a referida loja era, numa fase inicial, um dos poucos locais onde se podiam adquirir produtos de marcas que começavam rapidamente a penetrar no universo da moda juvenil mais 'generalista', nomeadamente a ainda hoje popular Camel Active, além da sua marca própria; assim, e apesar dos preços muitas vezes proibitivos dos referidos produtos, a Tapiocca não tardou a encontrar o 'seu' público, tarefa auxiliada pela localização estratégica das suas lojas, em locais de alguma afluência e com alta percentagem de jovens, como as Avenidas Novas, em Lisboa, a Baixa da mesma cidade, ou ainda a famosamente afluente zona de Cascais.

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A fachada da loja da Baixa de Lisboa manteve o logotipo durante algum tempo depois de fechar.

Apesar deste auspicioso início, no entanto, a história da Coronel Tapiocca em Portugal acaba como tantas outras: com um declínio do interesse do público-alvo na sua área de especialização, consequente redução do volume de negócios, e consequente falência e retirada do mercado nacional, no dealbar da década de 2010. Durante algum tempo, restou ainda um mural na Baixa para servir como testemunho da presença da marca no nosso País; mais de uma década volvida, no entanto, nada resta do legado do Coronel, excepto as memórias de quem por lá passou, admirou os atraentes mas proibitivos produtos expostos na montra, ou chegou mesmo a ser cliente – às quais se juntam, agora, algumas singelas linhas neste nosso 'blog' nostálgico, à laia de contraponto às notícias sobre a falência da cadeia que compunham, até agora, o único registo 'cibernáutico' da mesma...

15.07.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

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Em finais dos anos 80, a moda, e a compra de novas peças de roupa, eram ainda, em larga medida, um processo esporádico. A procura de materiais de qualidade e a aposta na longevidade tornavam a maioria dos itens de vestuário significativamente dispendiosos para a maioria das carteiras, e cada nova peça adquirida vinha com o entendimento de que seria usada até 'acabar' – fosse por deterioração ou, no caso dos mais jovens, simplesmente por deixar de servir, altura em que tendia a ser 'passada' a outra criança, normalmente filha de um familiar, amigo, ou pessoa necessitada.

Este paradigma vir-se-ia, no entanto, a alterar consideravelmente logo em inícios da década seguinte, com o aparecimento e rápida expansão da chamada 'fast fashion' – um conceito comercial baseado em materiais e manufactura baratos (normalmente adquiridos na Ásia) e que tornava, assim, possível reduzir consideravelmente os custos de venda ao público das respectivas peças de roupa, embora a qualidade também sofresse como consequência. A junção destes dois factores com o histórico interesse das gerações mais novas por modas e estilos estéticos resultou no duplicar ou mesmo triplicar, em apenas alguns anos, do número de peças de roupa no armário do adolescente comum, que encontrava agora nas lojas artigos ajustados à sua mesada ou semanada, e cuja menor resistência e qualidade obrigava à substituição mais frequente, ou, em alternativa, à compra de um maior número de peças numa só 'temporada', para efeitos de rotação.

Nasceu, assim, a situação ainda hoje vigente, em que a população mais jovem tem como um dos seus muitos passatempos o simples 'passeio' em lojas de roupa, muitas vezes apenas para apreciação dos saldos; e se, junto da Geração Z, esse processo vem transitando, cada vez mais, para plataformas e lojas online, os seus predecessores 'millennials' ainda fizeram das 'excursões' ao 'shopping' ou ao centro da cidade para 'ver as montras' uma das suas Saídas de Sábado de eleição.

E eram muitas as lojas dirigidas a este público em finais do século XX e inícios do seguinte, com as do grupo Inditex à cabeça: a Zara chegava a Portugal (concretamente, ao Porto) há exactos trinta e cinco anos e a Pull & Bear abria em 1992 a sua primeira loja fora de Espanha, apostando precisamente no seu pais vizinho como primeiro 'mercado externo', onde as suas colecções temáticas marcaram época, e onde continua a ser uma das lojas de referência para vestuário jovem até aos dias de hoje. Nos dez anos subsequentes, seguir-se-lhes-iam novas sub-marcas, como a Bershka (que celebra este ano os vinte e cinco anos da sua chegada ao nosso País) ou Stradivarius. Em 'concorrência' directa com estes nomes estavam, ainda, marcas como a Springfield (a 'loja jovem' do Cortefiel, também inaugurada em 1988) a Mango (que chegava a Portugal quase em simultâneo com a Pull & Bear) e - já no Novo Milénio, há exactos vinte anos - a H&M, além de lojas mais voltadas para os acessórios, como a inglesa Accessorize e a 'resposta' nacional à mesma, a Parfois. Juntas, estas cadeias eram garantia de 'saques' à carteira dos jovens nacionais, cujo guarda-roupa era, à época, constituído em grande medida por peças adquiridas nestas lojas, a par dos hipermercados e de estabelecimentos mais especializados, como a duologia 'desportiva' Sport Zone (surgida em 1997) e Intersport, esta última entretanto desaparecida.

Com tal variedade à disposição (quase sempre com artigos a preços bastante convidativos) não é, portanto, de admirar que a juventude 'millennial' tenha passado tanto do seu tempo livre a 'vaguear' pelas ruas e centros comerciais, em bando, com o simples intuito de ver as 'novidades' em todas estas lojas; e quase faz pena que a nova geração vá, aos poucos, deixando que se perca a experiência de ver, ao vivo e a cores, 'aquele' artigo em super-saldo, e de voltar para casa no autocarro ou Metro com o mesmo dentro do saco, já imaginando o sucesso que se iria fazer com o mesmo vestido – uma experiência que a compra na Amazon, BooHoo ou Shein simplesmente não permite...

25.03.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Na última Saída de Sábado, abordámos a chegada a Portugal da FNAC, uma das poucas cadeias de venda de artigos tecnológicos e multimédia ainda resistentes no País. No próprio dia em que dedicávamos algumas linhas à cadeia francesa, no entanto, faltavam menos de vinte e quatro horas para se celebrar o aniversário de uma outra loja muito semelhante, também ela ainda hoje presente nas grandes superfícies nacionais e que, de facto, é praticamente dois anos mais velha do que a FNAC Portugal; assim, seria omisso da nossa parte não dedicar algumas linhas à grande 'concorrente' da cadeia francesa em solo português, a Worten.

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Inaugurada a 12 de Março de 1996, como subsidiária do poderoso grupo Sonae (hoje Sonae Continente) a Worten pode ser considerada a cadeia-irmã do popular hipermercado, de enfoque menos generalista e mais centrado na electrónica e multimédia (daí as comparações com a FNAC). Ainda que sem a facilidade em obter livros importados da concorrente, a cadeia compensava esta 'falha' oferecendo preços ainda mais competitivos que os da companhia francesa (ou outros concorrentes da época, como as lojas Singer, de que também aqui em tempo falaremos), tornando-se assim, rapidamente, o local de aquisição de electrodomésticos por excelência do consumidor nacional.

Curiosamente, e ao contrário do que aconteceu com a concorrente (cuja primeira loja abriu num 'shopping' em plena Lisboa) a Worten expandir-se-ia, não a partir das grandes capitais portuguesas, mas da vila de Chaves, tendo só depois 'rumado' a Sul, rumo à capital. Uma vez iniciada, no entanto, essa expansão deu-se de forma por demais célere – apenas alguns anos após a sua fundação, por alturas da viragem do Milénio, a Worten era já parte do 'cenário' em centros comercials e lojas Modelo e Continente de Norte a Sul do País, paradigma que se mantém até hoje.

A forte presença em território nacional incentivou, aliás, Belmiro de Azevedo a expandir a área abrangente do seu negócio até ao país vizinho, tendo a Worten adquirido não uma, mas duas cadeias comerciais espanholas, num total de cerca de meia centena de lojas. Ao contrário do sucedido em Portugal, no entanto, esta 'aventura' não se saldou pelo sucesso, tendo a estadia da Worten como grande cadeia em Espanha durado pouco mais de uma década, e saldando-se a presença actual da loja de Belmiro de Azevedo no outro país ibérico em pouco mais de uma dezena e meia de lojas, a esmagadora maioria das quais situada nas Ilhas Canárias, último grande 'reduto' da rede Sonae em Espanha; curiosamente, grande parte das restantes lojas da franquia foram vendidas a outro grupo comercial bem conhecido dos portugueses, no caso o MediaMarkt.

Em Portugal, no entanto, a Worten continua a somar e seguir, até por o seu nicho de especialização ser um dos poucos em que a procura é constante, e a avaliação física do produto particularmente importante; enquanto este paradigma se mantiver (e enquanto o grupo MC Sonae Continente mativer a sua pujança no panorama comercial português) é de esperar que muitas crianças e jovens portugueses continuem a desfrutar de Saídas de Sábado periódicas à 'loja de electrodomésticos do Continente'.

11.03.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Em inícios da década de 90, o comércio em Portugal era, ainda, de índole sobretudo local; as primeiras grandes superfícies apenas viriam a surgir já em meados da década, e os 'shoppings' perto do final da mesma, sendo a maioria das lojas (excepção feita aos supermercados, claro) ainda especializada e dedicada a apenas uma vertente - fosse ela a venda de discos, livros, brinquedos e artigos do dia-a-dia ou até algo como o aluguer de filmes - e localizada na rua ou em pequenas galerias comerciais de bairro.

No entanto, à medida que os referidos espaços de maiores dimensões iam capturando cada vez mais o coração dos portugueses, algumas destas empresas mais especializadas começaram, também, a vislumbrar uma oportunidade de expandir o seu negócio, não tanto através da diversificação da sua oferta, mas sobretudo mediante a abertura de lojas maiores, muitas das quais situadas nesses mesmos espaços comerciais. A pioneira, neste aspecto, foi a multinacional Virgin, cuja icónica Megastore, localizada em Lisboa, será paulatinamente alvo de 'post' próprio e cujos passos foram, alguns anos depois, seguidos pela Valentim de Carvalho, espécie de 'versão nacional' da companhia inglesa. No entanto, ambas estas companhias operavam em espaços próprios; a primeira a verdadeiramente aproveitar e explorar as potencialidades da localização em 'shoppings' ou hipermercados foi uma empresa francesa, sobre cuja presença em Portugal se celebrou há pouco mais de uma semana e meia um quarto de século.

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Falamos, é claro, da FNAC, cuja primeira loja em território nacional abria com pompa e circunstância (e filas de 'quilómetros' à porta) no Centro Comercial Colombo, onde, aliás, ainda hoje se mantém. A proposta era simples, e não muito distante da da Virgin e Valentim, embora mais abrangente, sendo que aos tradicionais CDs e DVDs musicais vendidos pela concorrência, a 'novata' juntava ainda livros (em edição nacional e estrangeira), jogos de computador e consola, e até algum material tecnológico, sobretudo centrado nas áreas da música e da fotografia. Mais tarde, esta oferta viria a tornar-se ainda mais alargada, sendo que, além dos artigos supracitados, a FNAC oferece hoje em dia também 'merchandise' alusivo a filmes e artistas musicais, e ainda os famigerados bonecos de vinil Funko, afirmando-se como um verdadeiro espaço agregador de produtos da vertente multimédia e voltados à cultura pop.

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A primeira loja nacional da marca abriu no Centro Comercial Colombo, em Lisboa.

Nos idos de 1998 e anos subsequentes, no entanto, a reputação da companhia francesa era algo diferente, tornando-se a mesma local de romaria para clientes mais 'intelectuais', pela facilidade em encontrar ou encomendar nas suas lojas artigos raros ou importados, de outra forma inacessíveis aos consumidores nacionais; haverá decerto, entre os nossos leitores, quem tenha tirado partido desta característica para conseguir 'aquele' disco, livro ou filme que não havia em mais lado nenhum...

Este não era, no entanto, o único atractivo da FNAC, que oferecia ainda empregados extremamente versados nas áreas de especialização da loja (muitos deles com carreiras musicais), preços competitivos, promoções ainda melhores que as das concorrentes (sendo possível encontrar discos a cinquenta cêntimos ou um euro, caso os mesmos fossem para 'escoar') e uma estrutura extremamente organizada e fácil de navegar, com secções claramente delimitadas que facilitavam a procura direccionada e reduziam o tempo passado a 'andar às voltas' na loja. Assim, não foi de estranhar que a loja gozasse de sucesso imediato em Portugal, não tardando a surgir em outras localizações um pouco por todo o País, com especial incidência nas grandes cidades.

Hoje em dia, a FNAC tem o mérito de ser a 'última resistente' das lojas de multimédia, resistindo ainda e sempre ao invasor, à boa maneira do seu compatriota Astérix, o Gaulês; no entanto, até mesmo esta cadeia tem vindo a sofrer com a rápida obsolescência dos suportes multimédia fixos, tendo muitas das suas lojas adoptado um modelo menos expansivo e mais contido, por oposição aos verdadeiros repositórios de multimédia que eram nos seus tempos áureos. Quem viveu esse mesmo período, no entanto, recordará sempre a FNAC pelo que ela foi, pela 'pedrada no charco' que representou no sector das vendas de multimédia, e pela experiência única que ir a uma das suas lojas proporcionava. Parabéns atrasados, FNAC, e obrigado por tudo.

25.02.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Qualquer criança ou jovem dos anos 90 apreciava uma boa ida às compras, fosse com familiares ou, quando mais velho, com os amigos. O aparecimento, durante a referida década, de estruturas como os 'shoppings' e os hipermercados ajudava a tornar essa experiência ainda mais entusiasmante, oferecendo uma alternativa aos supermercados, drogarias, centros comerciais de bairro e lojas tradicionais de brinquedos, desporto, roupa ou discos e vídeos que formavam o 'itinerário' da maioria destes passeios. No entanto, qualquer que fosse o destino, havia sempre o problema de o dinheiro – da mesada, semanada, economias, ou simplesmente oferecido pelos pais no próprio dia – raramente chegar para o que se queria comprar; os mais pequenos, em especial, ficavam inevitavelmente 'reféns' das possibilidades e disposição dos pais no que tocava a levar para casa um 'presente' simbólico para recordar a viagem.

Ainda na primeira metade da década de 90, no entanto (bem antes do advento das grandes superfícies) um novo tipo de loja veio ajudar a resolver esse problema, oferecendo uma enorme variedade de produtos a um preço fixo e – mais importante – acessível aos bolsos e carteiras infantis – a princípio, cem ou duzentos escudos, que mais tarde viriam a subir para o valor que 'baptizou' oficialmente este tipo de estabelecimento, os famosos trezentos.

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Configuração típica de um estabelecimento deste tipo. (Crédito da foto: Ainda Sou do Tempo.)

Escusado será dizer que este conceito, por essa altura já presente em países como os EUA ou o Reino Unido, se afirmou absolutamente revolucionário em Portugal, onde o consumidor médio – sobretudo jovem – estava pouco habituado a tal variedade de produtos por tão baixos preços. Isto porque as 'lojas dos trezentos' vendiam desde as previsíveis 'quinquilharias' sem grande serventia até utensílios de cozinha, artigos de casa, livros (normalmente os famosos volumes da editora Europa-América, praticamente monopolista neste sector) e até artigos de vestuário ou plantas decorativas! E se é evidente que a qualidade destes produtos deixava muito a desejar – inclusivé no que toca às traduções dos livros – também não deixa de ser verdade que poder entrar numa loja com a semanada no bolso e sair de lá com QUALQUER produto em exposição era (e provavelmente continua a ser) o sonho de qualquer menor de idade. Assim, não é de estranhar que estas lojas tenham tido enorme adesão aquando do seu aparecimento, multiplicando-se rapidamente e espalhando-se por todo o País no espaço de poucos anos.

Mas como cantava George Harrison, 'tudo deve terminar', e também o 'ciclo' das 'lojas dos trezentos' acabou, eventualmente, por chegar ao fim – embora de forma muito mais lenta do que outros estabelecimentos de que aqui falámos em rubricas passadas, tendo o formato sobrevivido durante tempo suficiente para o nome 'loja dos trezentos' se transformar em 'loja do Euro'. Por essa altura, no entanto, já este tipo de loja enfrentava o adversário que o viria a destronar – a famosa 'loja dos chineses', que 'tomou de assalto' o sector comercial das 'lojas dos trezentos' e, mesmo sem a vantagem do preço fixo, as conseguiu paulatinamente eliminar do léxico dos portugueses. De facto, hoje em dia vai-se 'aos chineses' da mesma forma que, dez ou vinte anos antes, se ia 'aos trezentos', tendo o novo tipo de loja conseguido suplantar o estigma que lhe foi inicialmente associado – exactamente como aconteceu com os 'trezentos' no seu tempo. Para quem viu nascer e florescer esse tipo de loja, no entanto, a memória de um local onde tudo custava pouco mais de uma semanada permanecerá, sem dúvida, bem viva até aos dias de hoje, e remeterá inevitavelmente àqueles anos em que o conceito veio 'agitar' o comércio quotidiano e de bairro em Portugal...

11.02.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Já aqui por várias vezes fizemos referência aos centros comerciais tradicionais, 'residência' habitual de espaços hoje tão ultrapassados como videoclubes, lojas de discos independentes ou pequenas discotecas; estava, no entanto, ainda a faltar um artigo sobre estes espaços em si – falha que procuraremos, hoje, corrigir dedicando algumas linhas àquilo que passava por uma 'grande superfície' antes do advento dos 'shoppings' e hipermercados.

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O Apolo 70, em Lisboa, um dos mais icónicos estabelecimentos deste tipo

Presentes em quase todas as localidades ou povoações de algum tamanho em Portugal (e, ainda hoje, existentes em algumas delas, embora sob uma forma marcadamente mais 'esquelética' do que naqueles tempos) os centros comerciais tradicionais dividiam-se, grosso modo, em dois tipos: as chamadas galerias, que reuniam num mesmo espaço vários tipos de pequenos retalhistas, e aqueles que serviam, principalmente, de apoio a um supermercado. Ambos os tipos eram bastante comuns, não se podendo dizer que qualquer deles se superiorizasse ao outro, e ambos tendiam a oferecer algumas das 'necessidades básicas' do consumidor de bairro: boutiques, tabacarias, pequenos snack-bars, livrarias ou lojas de impressão, brinquedos ou informática (além dos espaços supramencionados) eram apenas alguns dos tipos de estabelecimento mais comummente encontrados em espaços deste tipo.

A ideia era, portanto, que um consumidor conseguisse encontrar num só edifício tudo aquilo de que necessitava, independentemente da sua natureza – daí o nome 'centro comercial'. Um conceito que, mais tarde, seria 'apropriado' e expandido pelas grandes superfícies, fazendo, ironicamente, com que os inovadores originais parecessem ultrapassados e pitorescos por comparação aos novos mega-espaços.

Ainda assim, a persistência do 'comércio de bairro' em muitas localidades portuguesas permitiu à maioria dos centros comerciais 'clássicos' protelar a sua extinção – ainda que, muitas vezes, a mesma se tenha apenas traduzido num modelo de 'morte lenta' tão deprimente quanto prejudicial às companhias que ocupavam o espaço. Na maioria dos casos, era o fecho do supermercado ou de uma das lojas principais (ou ainda a extinção da sala de cinema, outro apanágio deste tipo de espaços) que ditava o fim da galeria, sendo que muitas arriscavam, ainda, numa tentativa de renovação, invariavelmente (e infelizmente) malograda.

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O estado e aparência actual da maioria dos centros comerciais tradicionais portugueses.

Ainda assim, os habitantes das principais cidades do País (bem como de muitas vilas mais pequenas) terão ainda, potencialmente, contacto diário com este tipo de espaço, quanto mais não seja por lhes passarem à porta a caminho de casa, do emprego ou de qualquer outra actividade; e, nessas alturas, é de crer que a mente lhes 'voe' para outros tempos, em que percorriam com regularidade aqueles mesmos corredores, em busca das lojas favoritas e dos 'tesouros' que as mesmas escondiam.

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