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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

29.11.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Qualquer criança ou jovem (e mesmo muitos adultos) deseja ser, senão herói ou heroína de uma fascinante aventura, pelo menos protagonista da mesma; e se, hoje em dia, as redes sociais proporcionam, até certo ponto, a possibilidade de viver esse sonho, na era pré-Internet de massas, quem quisesse sentir-se como o 'personagem principal' de uma história que todos queriam ouvir tinha que arranjar outros meios de o fazer. Algures nos anos 90, uma série de companhias aperceberam-se do potencial lucrativo deste tipo de desejo, e dedicaram-se à criação de cópias físicas daquele tipo de narrativa que as crianças contam a si mesmas ao dar azo às suas fantasias; nasciam, assim, os livros personalizados.

livro-personalizado-salvando-o-natal_small.webp25af742506e2cbe16da208707ddcb61b.webpExemplo moderno do produto em causa, antes e depois da personalização

Para um adulto, tanto da época como dos dias de hoje, este tipo de produto (que, aliás, continua a ser disponibilizado, embora o seu interesse para a geração dos 'diários online' seja questionável) mais não passava do que uma forma de 'sacar' dinheiro a pais e educadores com um mínimo de esforço. Isto porque bastava aos criadores destes livros escrever uma única narrativa e ir inserindo o nome e fotografia de cada remetente, conforme necessário – aproximadamente o equivalente a contar uma história a uma criança pequena inserindo o seu nome no lugar do da personagem principal, mas transposto para um formato físico e vendido a 'peso de ouro'. Para o público-alvo, no entanto, a premissa dava asas à imaginação, abrindo na mesma uma série de possibilidades, qual delas mais entusiasmante – a ponto de, acredita-se, o produto final parecer mesmo algo desapontante, numa daquelas situações em que a antecipação se revela, inevitavelmente, mais ambiciosa do que o produto final.

Este apelo à imaginação era, aliás, o principal motivo pelo qual tantas crianças dos 'noventas' queriam um destes livros, quanto mais não fosse para se poderem gabar aos amigos e conhecidos de terem tido um livro escrito 'para eles' - uma afirmação, conforme vimos, incorrecta, mas sobre a qual apenas os adultos sabiam toda a verdade. E apesar de, nos dias que correm, o TikTok e Instagram permitirem moldar qualquer narrativa conforme se deseje, é de crer que haja ainda, por esse Portugal afora, crianças e jovens (sobretudo pré-adolescentes) que se deixem entusiasmar pela ideia de ser protagonista do seu próprio conto; afinal, por muito diferente que as gerações actuais sejam dos 'millennials' e 'X', há coisas que nunca mudam – e o desejo de uma criança de ser o herói ou heroína da sua própria narrativa é, sem dúvida, uma delas...

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