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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

28.11.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Muitas obras literárias são geracionais, mas pouco dizem às 'fornadas' subsequentes; outras, no entanto, afirmam-se como verdadeiramente intemporais, logrando entreter, encantar e apaixonar várias gerações de crianças e jovens ao longo de décadas, sem nunca perder a popularidade de que gozou originalmente. É de uma dessas séries que falamos neste 'post' – concretamente, da colecção de livros infantis ilustrados de Dick Bruna, alusivos às aventuras da coelhinha Fifi, hoje conhecida pelo nome original, Miffy.

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Edição moderna de um dos livros da colecção.

Reunindo todos os predicados de um bom livro infantil – histórias quotidianas e intemporais, com lições de moral simples mas importantes, e relatadas de um modo simples, directo e apelativo, apoiado em desenhos estilizados mas repletos de personalidade – a série de livros protagonizados pela coelhinha branca surgiu pela primeira vez nos escaparates portugueses ainda nos anos 80 para, à semelhança do que aconteceu com os livros de Enid Blyton ou as aventuras de Anita, nunca mais os abandonar.

De facto, tal como sucede com a rapariguinha francesa, também a coelhita norte-americana pode, ainda hoje, ser encontrada na maioria das boas livrarias de Norte a Sul de Portugal, em edições praticamente idênticas às lidas e apreciadas pelos membros das Gerações 'X' e 'Alfa', só diferindo mesmo o facto de a protagonista ter 'recuperado' o seu nome original. Significa isso que a qualidade que as referidas ex-crianças (hoje na casa dos trinta a quarenta anos) recordam da sua infância permanece intacta, pronta a ser apresentada a uma nova 'leva' de crianças em idade de alfabetização, e de tornar a coelhinha protagonista (seja sob que nome for) parte das futuras memórias nostálgicas da mesma, tal como o foi para os seus pais.

14.11.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 13 de Novembro de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

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Na última edição desta mesma rubrica, abordámos os 'Atlas' didácticos da Editora Civilização, por direito próprio alguns dos melhores livros didácticos da sua época. No entanto, havia pelo menos uma editora cujo catálogo neste particular rivalizava, senão mesmo superava, até o melhor destes volumes: a Terramar, cujos livros científicos para crianças marcaram época junto da parcela do público infanto-juvenil que gostava de aprender e alargar conhecimentos sobre temas do seu interesse.

Versando sobre todos os temas do costume, como dinossauros ou o espaço, bem como sobre alguns menos comuns ou mais inusitados, estes livros – cujo único ponto em comum era o formato, semelhante ao de um álbum de BD da mesma época – possuíam, invariavelmente, um ou mais pontos de interesse para a demografia-alvo, para além do próprio tema em si. Fossem ilustrações que poderiam figurar numa tirinha de banda desenhada ou actividades interactivas na própria página (como 'janelas' que podiam ser abertas ou rodas que se podiam mesmo rodar), os volumes científicos da Terramar mostravam-se apelativos logo a partir do momento em que eram abertos, conseguindo assim prender o interesse do famosamente volátil grupo a que se destinavam, e justificando várias releituras, quanto mais não fosse para poder novamente 'brincar' com a roda do Sistema Solar ou descobrir o que se escondia por detrás das 'portinholas' cortadas na página.

Infelizmente, apesar da qualidade que demonstravam, estes livros encontram-se, hoje em dia, algo Esquecidos Pela Net, sendo praticamente impossível encontrar imagens dos mesmos sem estar 'armado' com o título ou autor específicos. Também infelizmente, os mesmos perfilam-se, hoje, como produtos do seu tempo, já que os livros didácticos para crianças rapidamente encetariam um processo de extrema simplificação, com maior ênfase na interactividade do que no conhecimento, antes de serem quase totalmente substituídos por meios verdadeiramente interactivos, como o CD-ROM e a Internet. Quem teve a sorte de fazer parte do público-alvo daqueles livros da Terramar de finais dos anos 90 pôde, pois, desfrutar de exemplos do melhor que se fazia no ramo, com um nível de qualidade dificilmente atingível nos dias que correm e que, certamente, lhes terá aguçado ainda mais a vontade de aprender sobre qualquer que fosse o tema em causa.

01.11.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 30 de Outubro de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Os anos 90 ficaram, em Portugal, parcialmente marcados por uma alteração das atitudes dos jovens relativamente ao conhecimento. Embora houvesse ainda muitas crianças e adolescentes com renitência em aprender – postura a que não ajudava a forma burocrática e aborrecida como muitas escolas nacionais veiculavam conhecimentos – uma parcela crescente da referida demografia encontrava, gradualmente, assuntos de interesse que os motivavam a aprofundar a sabedoria; e, felizmente para esses 'exploradores do conhecimento', não faltavam no mercado editorial português materiais e recursos didácticos de qualidade. É o caso da colecção que abordamos esta Quarta-feira, a qual, depois de ter gozado de enorme sucesso a nível internacional, chegava a Portugal algures nos anos 90, pela mão da Editora Civilização.

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Dois dos mais populares títulos da colecção.

Falamos dos diversos 'Atlas' direccionados ao público infanto-juvenil, e que conseguiam, desde logo, captar a atenção do mesmo com as suas temáticas, invariavelmente fascinantes para a demografia em causa. Dos dinossauros (inevitáveis naquele período de 'dinomania' pós-'Parque Jurássico') ao espaço ou aos oceanos, eram diversos os assuntos explorados em cada 'Atlas', sempre com recurso a textos simples e minimalistas, mas ainda assim informativos, e a imagens ou fotografias hiper-detalhadas, que constituíam o principal ponto de interesse de cada livro, e eram, só por si, suficientes para fazer dos mesmos uma prenda apreciada nos anos ou Natal, e para lhes garantir um lugar proeminente na estante do quarto.

Tão elevada era a qualidade destes livros, aliás, que os mesmos continuam, ainda hoje, em circulação nas livrarias portuguesas, embora com as inevitáveis mudanças e actualizações gráficas, a fim de os tornar mais apelativos às crianças de hoje. E se o seu valor relativo é, nos dias que correm, algo discutível – já que os mesmos não oferecem, actualmente, qualquer vantagem relativamente a uma rápida consulta a um 'website' ou motor de pesquisa – a verdade é que as temáticas abordadas continuam a ser tão relevantes quanto fascinantes para a demografia-alvo, e que os livros em si continuam a possuir inegável apelo visual, tanto a nível do formato (um A3 perfeitamente 'gigantesco' para mãos pequenas) como dos próprios conteúdos, fazendo deles – hoje, como há trinta anos – uma boa proposta para a estante de qualquer jovem lusitano.

19.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 17 de Julho de 2024.

NOTA: Por motivos de relevância temporal da próxima Quarta aos Quadradinhos, a mesma será lançada na Quarta-feira, 24 de Julho. O 'post' desta semana será uma Quarta de Quase Tudo.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Embora as férias de Verão sejam, tradicionalmente, um período em que os jovens procuram relaxar e afastar-se das obrigações académicas e escolares, aproveitando o clima ameno, existe sempre quem (por iniciativa própria ou dos pais) procure adiantar-se um pouco nas matérias do ano lectivo vindouro; e se, hoje em dia, esse objectivo é conseguido sobretudo através de portais educativos existentes na Internet, na era pré-digital, em que a referida plataforma era ainda incipiente, esse 'estudo avançado' era feito, maioritariamente, através de colecções de livros didácticos complementares aos utilizados na escola, e especificamente dedicados a serem utilizados durante as férias - os quais continuam, aliás, a existir até aos dias de hoje, como alternativa para quem prefira minimizar ao máximo a exposição digital dos educandos.

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Exemplo de livro de preparação de finais dos anos 90 ou inícios de 2000.

Tão-pouco ficava este tipo de livros restrito a apenas uma editora – antes pelo contrário, quase todas as casas conhecidas pelo enfoque didáctico possuíam uma edição deste tipo, renovada anualmente, de modo a manter os exercícios actualizados com os currículos dos respectivos anos. Apesar da premissa semelhante, no entanto, nem todos estes volumes eram equiparantes, sendo alguns propositalmente mais desafiantes enquanto outros, ao procurarem amenizar a 'carga mental' dos jovens discentes no período estival, acabavam por simplificar em demasia o nível dos exercícios, criando uma imagem ilusória do que seria o ano lectivo seguinte. Havia, pois, que saber escolher a colecção ou série certa, de modo a assegurar o nível adequado e desejado de preparação aquando do regresso às aulas, em Setembro. E apesar de nem toda a gente ter nostalgia por este tipo de actividade ou livro (muito pelo contrário) vale, ainda assim, a pena recordar como era feita a 'preparação de Verão' de um estudante português na época em que a Internet 2.0 era ainda um sonho na cabeça de algum informático norte-americano. 

 

12.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 10 de Julho de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

No tocante a franquias ou séries de obras literárias destinadas a um público infanto-juvenil, poucas são as que conseguem tracção durante mais do que um par de anos, sendo de louvar sempre que isso acontece. Portugal não é excepção a essa regra, tendo-se tal fenómeno apenas verificado com um número muito restrito de propriedades, de 'gigantes' como 'Harry Potter' a séries como 'Diário de Um Banana' ou 'Uma Aventura' (esta última já quadragenária, e ainda e sempre o porta-estandarte da literatura infanto-juvenil portuguesa). Nos anos 90, juntavam-se ainda a esta lista as várias colecções de Enid Blyton, as quais, apesar de serem, na altura, tão longevas quanto é agora 'Uma Aventura', continuavam a cativar os jovens das gerações 'X' e 'millennial', os quais haviam herdado ou ouvido falar dos livros através dos pais, que os haviam 'devorado' com a mesma idade.

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Alguns dos títulos de cada uma das colecções.

Não é, pois, de surpreender que, perante este sucesso continuado (que motivou mesmo a reedição da colecção original d'Os Cinco' com novas capas 'fotográficas') tenha também havido quem procurasse capitalizar sobre os 'nomes de marca' idealizados pela autora inglesa em inícios do século XX; surpreendente foi, apenas, a proveniência de tais obras, que eram oriundas, não da Grã-Bretanha natal de Blyton, mas da bastante menos previsível França, onde, nos anos 80, eram lançadas duas colecções de 'Novas Aventuras' dos dois grupos de personagens mais famosos e conhecidos da autora – os referidos Cinco e o Clube dos Sete. Essas mesmas colecções viriam, poucos anos depois (concretamente em 1996), a 'aterrar' em solo nacional, pela mão da Editorial Notícias, prontas a serem adquiridas por 'legiões' de jovens insuspeitos, que não imaginavam terem aqueles livros sido escritos por alguém que não Enid Blyton. E, no entanto, era precisamente esse o caso - as Novas Aventuras dos Cinco ficavam a cargo de um tal Claude Voilet, não sendo conhecidos os nomes dos autores dos novos casos do Clube dos Sete, os quais operavam, evidentemente, em regime de 'escrita fantasma', para manter a ilusão de se tratarem de novas obras da autora britânica.

Apesar destes esforços, no entanto (e das traduções a cargo de grandes nomes do ramo, como Adolfo Simões Muller) bastava ler algumas linhas de um destes livros para perceber que os mesmos não constituíam 'artigo genuíno'. Tanto a escrita abaixo da média como as próprias temáticas de cada história eram completamente desfasados do estilo conversacional e antiquado de Blyton, sendo estas 'Novas Aventuras' apenas 'digeríveis' por quem conseguisse abstrair-se do facto de as personagens terem o mesmo nome e personalidades dos livros originais; quem esperasse algo ao nível da colecção principal acabaria, inevitavelmente, desapontado. Não é, assim, de estranhar que ambas as colecções apenas tenham durado alguns (poucos) anos nas bancas antes de caírem no quase esquecimento, dando lugar a ainda mais reedições 'modernizadas' (e, por vezes, actualizadas) das duas dezenas de aventuras originais de Blyton – um facto que não deixa de vincar a diferença entre uma obra verdadeiramente transcendente e intemporal e uma 'imitação barata' com o propósito único de fazer dinheiro. Neste caso, tal como no dos Corn Flakes da Kellogg's, 'o original é sempre o melhor' – e as crianças portuguesas de finais do século XX souberam percebê-lo.

 

13.06.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 12 de Junho de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Em finais dos anos 80 e inícios da década seguinte, com o advento e posterior expansão de tecnologias como os leitores de cassettes áudio portáteis, assistiu-se ao aparecimento e difusão de um novo e popular formato de literatura infanto-juvenil, que juntava um livro a uma cassette áudio, por vezes com uma simples narração do texto do livro, em outras com uma adaptação livre e expandida da história ali contida – o chamado, em Inglês, 'read-along'.

Em Portugal, as primeiras tentativas de implementar este novo formato deram-se ainda em finais dos anos 80, com as quadrilogias 'A Aldeia das Amoras' e 'Histórias e Canções em Quatro Estações' – curiosamente, ambas de temática sazonal, e a segunda com textos de autores como Maria Alberta Menéres ou Alice Vieira – cujo sucesso entre a demografia-alvo não tardou a motivar novas edições do mesmo estilo, de entre as quais se destaca uma colecção que fazia uso de uma poderosa licença para chamar a atenção das crianças da época.Falamos da série de livros vulgarmente conhecida apenas como 'Os Clássicos Disney', que a maioria dos jovens 'X' e velhos 'millennials' portugueses conhecerão, não tanto pelo nome, mas pelo distintivo formato quadrangular e com os desenhos da capa emoldurados por um bloco de cor garrida – verde, amarelo, cor de laranja, vermelho ou azul.

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Alguns dos volumes da colecção, com as respectivas cassettes áudio.

De data de edição, infelizmente, perdida no tempo – situando-se algures entre finais da década de 80 e os primeiríssimos anos da seguinte – esta apelativa colecção 'esticava' ao máximo o conceito de 'clássico', emparelhando histórias, sem dúvida, merecedoras desse epíteto – quer retiradas directamente dos filmes da companhia, quer do repertório popular de contos – com outras menos conhecidas, ou até criadas especificamente para a colecção, que conseguia assim chegar às duas mãos-cheias de títulos. Mais ou menos conhecidos, no entanto, todos os contos integrantes da colecção recebiam um tratamento áudio cuidado, com direito a vozes e efeitos sonoros distintos, e com o selo de qualidade outorgado pela licença Disney, criando assim um excelente complemento à vertente escrita, para quando não 'apetecesse' ler. Esta dualidade, aliada ao poderio das personagens criadas por Walt Disney, ajudava ainda a assegurar o interesse por parte do público-alvo, levando a que a colecção em causa marcasse presença nos quartos de muitas crianças da época, sobretudo os das mais adeptas à leitura.

E se, nos dias que correm, o conceito de um 'áudio livro' em formato físico – e acompanhado de um livro propriamente dito – parece quase pitoresco, a verdade é que estes e outros livros do mesmo formato marcaram época, e terão tido a sua parte a cumprir na missão de encorajar todo um conjunto de portugueses de uma certa faixa etária a ler – o que, só por si, já lhes valeria a presença nestas páginas. O facto de se tratar de uma colecção relativamente icónica é apenas a cereja no topo de um 'bolo' que, mesmo totalmente obsoleto, talvez ainda conseguisse, com os devidos ajustes, apelar à juventude de hoje em dia...

01.05.24

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Logo no primeiro ano deste 'blog', dedicámos um par de 'posts' à histórica e icónica 'Rua Sésamo' – um à série em si, e outro à revista complementar da mesma, que chegava às bancas no mesmo período, logo em inícios dos anos 90, e fazia as delícias das primeiras camadas demográficas da geração 'millennial'. No entanto, à época das publicações originais, ficaram por abordar, por descuido ou simples esquecimento, as outras vertentes através das quais o programa da RTP se insinuava na cultura popular; nada melhor, pois, do que corrigir agora essa situação, e dedicar mais uma 'dose dupla' de posts aos restantes produtos alusivos à emissão que moldou a infância de grande parte dos 'putos' dos anos 90, o primeiro dos quais centrado na enorme variedade de livros com os personagens da Rua Sésamo ao dispôr da demografia em causa durante o auge de popularidade do programa, e até alguns anos após o mesmo.

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As diferentes colecções de livros da 'Rua Sésamo' disponíveis durante os anos 90.

De facto, até pelo menos a meados da década de 90 – já vários anos depois de a 'Rua Sésamo' portuguesa ter saído do ar – era ainda possível encontrar nas bancas e livrarias portuguesas pelo menos quatro colecções centradas nos personagens do programa: uma em formato quadrado e de capa dura, outra idêntica, mas de capa mole, uma terceira em formato mais tradicional e de capa emoldurada, e ainda a série 'Passo A Passo Com A Rua Sésamo', que, mais do que livros de histórias, oferecia conjuntos de actividades tematizadas em torno de um tema central, quase como uma versão em livro da popular revista infantil com o mesmo nome da série. Em comum, as quatro tinham tanto o elevado nível de qualidade, em linha com os padrões estabelecidos pela PBS e pela equipa de educadores responsável pela versão portuguesa, como o foco em temas familiares e que faziam parte do quotidiano da faixa etária alvo, da escolha de profissões e aprendizagem das letras e números a situações e conceitos sociais como as mentiras, os segredos, a perda de um brinquedo favorito, uma situação de doença, ou mesmo algo tão singelo e corriqueiro como uma festa de aniversário, com todas as pequenas preocupações e alegrias que tal evento acarreta – uma abordagem que ajudava a tornar cada volume das diferentes séries ainda mais apelativo para o público infantil.

De referir que, apesar de trazerem maioritariamente o elenco da versão americana – causando uma certa dissonância na jovem demografia-alvo, habituadas ao Poupas de cor laranja e ao Ferrão de pêlo castanho dentro do seu barril, e que aqui se deparava com o Poupas Amarelo e com um 'primo' do Ferrão de cor verde, morador numa lata de lixo e de nome Óscar – chegaram a ser produzidos alguns livros numa das séries com os personagens da variante nacional do programa, como a Gata Tita ou a Avó Chica de Fernanda Montemor, permitindo uma ainda maior aproximação a quem acompanhava semanalmente as aventuras destes e outros protagonistas no então Canal 1.

Mesmo sem este 'chamariz' adicional, no entanto, a mera presença de nomes como Egas, Becas e Gualter nas páginas das diferentes colecções, a viver aventuras e situações com que qualquer um dos leitores se poderia deparar no dia-a-dia, era já suficiente para fazer dos livros da Rua Sésamo um sucesso de vendas; e apesar de o Mundo, a sociedade e mesmo as crianças terem mudado muitíssimo desde então, é de supôr que as referidas premissas continuem a ser suficientemente universais e intemporais para agradarem até mesmo à ultra-digital e hiperactiva 'Geração Alfa'. Porque não, pois, 'desenterrar' do sótão ou do armário os antigos livros de criança, e apresentar os afáveis personagens da infância remota a toda uma nova geração?

28.04.24

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Conforme já várias vezes afirmámos nestas mesmas páginas, não era necessário à criança portuguesa dos anos 80, 90 ou mesmo 2000 nada de muito complexo para garantir um Domingo Divertido. Apesar de as referidas décadas coincidirem com o dealbar das consolas, computadores pessoais, jogos electrónicos portáteis e mesmo telemóveis, os mesmos não eram, ainda, peça obrigatoriamente integrante da vida quotidiana dos jovens lusitanos, abrindo espaço a outros 'entreténs', menos tecnológicos e mais puramente tradicionais, muitas vezes praticamente isentos de quaisquer recursos adicionais. E apesar de o tema do post de hoje não fazer parte desse último lote – eram, afinal, necessários materiais para a sua utilização – a verdade é que o mesmo não deixa de constituir o tipo de diversão simples e tradicional que cada vez mais se vai perdendo na sociedade digital moderna.

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Falamos dos livros para colorir, que ainda hoje continuam a fazer as delícias das crianças mais artisticamente inclinadas nos mais diversos formatos e feitios - mais finos (da grossura aproximada de uma revista) ou com centenas de páginas, licenciados ou 'genéricos', com ou sem autocolantes, passatempos e outros elementos extra, comprados na tabacaria ou na loja 'dos trezentos' ou chinesa. Desde que os desenhos sejam minimamente atraentes (o que nem sempre é garantia, especialmente nos exemplares mais baratos e menos cuidados) e que haja 'à mão' canetas de feltro ou lápis de cor, um volume deste tipo pode garantir não apenas um, mas inúmeros Domingos Divertidos à criança pré-adolescente ou mais nova – pelo menos até se esgotarem os desenhos, ou uma brincadeira mais atractiva lhes captar a atenção. Assim, e tendo em conta que os mesmos se podiam facilmente adquirir até mesmo em lojas generalistas ou viradas para gamas de preços económicas, os livros para colorir ofereciam uma excelente relação preço-qualidade, explicando porque constituíam um dos 'presentes de ocasião' mais comuns durante passeios e saídas de fim-de-semana.

Tal como acima referimos, esta continua também a ser uma ocupação de tempos livres relativamente intemporal, ainda que a era digital tenha vindo trazer algumas mudanças, como o reaproveitamento de imagens do Deviantart ou outros 'websites' virados para a ilustração. Talvez mais significativo, no entanto, seja o facto de a maioria dos pais 'millennial' preferir, talvez, investir em ilustrações digitais (ou, no limite, impressas da net) que permitem obter o mesmo efeito de forma ainda mais simples, e totalmente gratuita. Ainda assim, enquanto as crianças e jovens mostrarem apetência pelo acto de colorir, é de duvidar que este tipo de publicações se extinga completamente, devendo as mesmas continuar a propiciar muitos Domingos Divertidos às gerações vindouras, como o fizeram para as de finais do século XX.

17.04.24

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

A par de Dragon Ball Z, as Tartarugas Ninja terão estado entre as maiores 'febres' de recreio entre as crianças e jovens portugueses. Logo desde a sua chegada ao nosso País, nos primeiros meses da década de 90, os também chamados 'Quatro Jovens Tarta-Heróis' – Miguel Ângelo, Leonardo, Rafael e Donatello – conquistaram os corações do seu público-alvo, não tendo tardado muito mais até a esmagadora maioria das crianças portuguesas possuir pelo menos um artigo alusivo aos super-artistas marciais anfíbios residentes em Nova Iorque.

De facto, o mais difícil era NÃO ter em casa algo estampado com a cara das Tartarugas, tal era o volume e a diversidade da oferta – das habituais peças de roupa, jogos de vídeo, colecções de cromos, cadernos, dispensadores de pastilhas Pez ou figuras de acção a lençóis para a cama, revistas de banda desenhada, carteiras e até artigos tão inusitados como máquinas fotográficas ou protectores de atacadores, não faltavam no mercado peças de 'merchandise' com os quatro personagens, prontos a serem adquiridos pelos sequiosos mini-fãs da série. A esta lista há, ainda, que juntar um outro produto, que se pode considerar inserir-se na categoria dos mais inusitados: uma colecção de livros, editada em Portugal pela editora Terramar e pelo Círculo de Leitores em 1991, durante o auge da popularidade do desenho animado.

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Três dos seis títulos da série.

Conhecida entre os jovens portugueses tanto pelos seus divertidos livros de ciência para crianças como por ter editado no nosso País a colecção 'Onde Está O Wally?', a editora em causa optava, assim, por uma publicação de valor literário consideravelmente mais reduzido, mas de sucesso garantido entre uma faixa demográfica entre a qual era importante fomentar o gosto pela leitura; e que melhor maneira de colocar as crianças a ler do que oferecendo-lhes aventuras protagonizadas pelos seus heróis favoritos, e fartamente ilustradas com imagens inéditas dos mesmos? E o mínimo que se pode dizer é que esta aposta surtiu efeito, tendo-se os livros em causa tornado consideravelmente populares entre os fãs dos 'Tartas' da época.

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Primeira página de um dos volumes.

Ao todo, foram seis os livros publicados como parte desta série, todos escritos pelo britânico Dave Morris e apresentando uma história completa e inédita, com excepção do conhecido como 'As Tartarugas Ninja em BD', que apresenta duas num só volume. Ao longo da colecção, é possível acompanhar os Tarta-Heróis tanto nas suas tradicionais operações de combate ao crime em Nova Iorque como em viagens pelo oceano, pelo espaço sideral e até pelo tempo, vários anos antes de o fazerem no grande ecrã, em 'Tartarugas Ninja III'! E apesar de a linguagem e nível de escrita empregues não transcenderem o esperado dada a natureza da obra, qualquer destas aventuras é suficientemente cativante para prender a atenção do jovem público-alvo, e os motivar a ler a obra na sua íntegra para saber como se conclui a trama – no fundo, a marca de uma criação literária bem-sucedida.

Assim, e apesar de estes livros serem, por defeito, produtos do seu tempo – destinados a cair no esquecimento assim que a sua licença-base perder o interesse do público-alvo – os mesmos não terão, ainda assim, deixado de criar agradáveis memórias nostálgicas a quem era da idade certa para ter interesse nas aventuras rocambolescas de um grupo de tartarugas antropomórficas praticantes de 'ninjutsu' – motivo mais que suficiente para, volvidas mais de três décadas, reavivarmos a memória desses agora adultos com umas breves linhas sobre a colecção.

07.02.24

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Já aqui em ocasiões passadas abordámos a popularidade da BD franco-belga no Portugal de finais do século XX, onde os álbuns editados (sobretudo) pela Meribérica-Liber perdiam apenas para os 'quadradinhos' da Disney e Turma da Mônica no coração das crianças e jovens; e, de todos os heróis francófonos a marcar presença nas livrarias do nosso País, o mais popular talvez fosse Astérix, o intrépido e corajoso herói gaulês que, com a ajuda da poção mágica do seu druida, assume a linha da frente na defesa da sua aldeia contra a ameaça de invasão romana. De facto, mesmo em finais da década de 90, o 'baixinho' de bigode de Goscinny e Uderzo continuava a justificar não só a criação de novos álbuns, filmes e videojogos alusivos às suas aventuras, como também de um parque temático (no seu Norte de França natal) de produtos licenciados mais insólitos, como o jogo de tabuleiro lançado pela Majora, a colecção de figuras em cartão disponibilizada numa promoção da Longa Vida, o sumo da Libby's ou o livro de culinária que serve como tema do 'post' 'quase duplo' desta Quarta-feira.

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Capa e contra-capa do livro.

Não, não nos enganámos – Astérix viu mesmo ser lançado sob o seu nome, no ano de 1991, um livro de culinária para crianças, com o próprio e os seus conterrâneos da irredutível aldeia gaulesa presentes e em grande destaque não só na capa como em todas as páginas, prontos a servir de chamariz às crianças e jovens que avistassem o volume na prateleira da livraria do bairro. E a verdade é que, ao contrário de muitos produtos da época, o uso da licença é, neste caso, mais do que apenas superficial: 'A Cozinha Com Astérix' não se limita a utilizar os desenhos de Goscinny e Uderzo para se vender, havendo um claro esforço para capturar a atmosfera dos álbuns de Astérix nas suas páginas – cada uma das quais contém não só a receita (com o nome devidamente tematizado ao universo dos irredutíveis gauleses) como também cenas exclusivas com os personagens, e até painéis de banda desenhada que poderiam ter sido retirados directamente dos álbuns! O resultado é um livro visualmente espectacular, que até quem não tenha qualquer interesse em aprender a cozinhar quererá sem dúvida desfolhar.

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Exemplos das receitas e grafismo do livro (Crédito das fotos: Mercado Livre)

Infelizmente, e apesar de todo este esforço, 'A Cozinha Com Astérix' não utiliza todo o potencial de uma licença com cariz (pseudo)-histórico. Isto porque, apesar de os seus nomes e modos de apresentação evocarem o universo do personagem titular, as receitas contidas no livro são apenas pratos normais, fáceis de confeccionar e adequados à faixa etária alvo, mas sem qualquer relevância quer para o mundo em que Astérix habita, quer para a França de finais do século XX. Fica, assim, por aproveitar a oportunidade de apresentar aos jovens leitores pratos tradicionais da zona de França onde supostamente fica a aldeia gaulesa, juntando assim uma vertente histórica ao aspecto lúdico proporcionado pelo guerreiro loiro e seus amigos.

Ainda assim, e apesar desta 'falha', 'A Cozinha Com Astérix' é um volume bem merecedor de ser lido, que transcende o rótulo de simples curiosidade e apresenta conteúdos cuidados, com receitas que qualquer criança ou jovem com apetência para a cozinha se divertirá, sem dúvida, a fazer, e painéis de banda desenhada que o manterão interessado em meio às instruções de confecção; só é pena que o aspecto acima mencionado tenha sido negligenciado (ou, simplesmente, esquecido) ou poderíamos estar diante de um candidato ainda mais sério ao rótulo de melhor livro de receitas dos anos 90...

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