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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

29.01.25

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui, em tempos, falámos de 'Lisboa Às Cores', uma colaboração entre António Jorge Gonçalves e Rui Zink lançada pela Câmara Municipal de Lisboa como forma de celebrar o colorido especial da cidade capital de Portugal. Essa não foi, no entanto, a única obra de banda desenhada institucional criada pelo ilustrador, que, apenas um ano mais tarde, voltaria a realizar uma obra por comissão para uma entidade estatal e centrada sobre a cidade de Lisboa, desta feita para o Instituto Português de Museus e em parceria com o seu mais famoso e duradouro parceiro, Nuno Artur Silva.

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Intitulada 'À Procura do F. I. M.', a obra em causa, que comemorou neste ano transacto exactas três décadas sobre a sua publicação (no âmbito do projecto 'Lisboa '94') marca ainda presença nas bibliotecas de algumas escolas primárias e preparatórias do nosso País, pelo menos a julgar pelas informações disponíveis em diversos catálogos bibliográficos 'online'. Já na restante Internet, a sua pegada é bastante mais reduzida, encontrando-se o álbum no limiar de ser Esquecido Pela Net, sendo 'salvo' de tal fado apenas pelos inevitáveis Bazar0 e Bedeteca, bem como pelos supramencionados catálogos.

Ainda assim, além dos dados básicos de publicação, o único elemento disponível após pesquisa é a capa, que mostra um grafismo abstracto e psicadélico (quase ao estilo cubista ou impressionista) e sugere a presença, na história, de uma nave espacial, ou no mínimo um carro voador. O subtítulo, no entanto, sugere que a trama se centra sobre a Lisboa Subterrânea, o famoso conjunto de passagens, catacumbas e aquedutos no subsolo da capital, embora a verdadeira natureza do 'F.I.M' e a razão para a sua busca sejam, infelizmente, impossíveis de discernir.

Apesar da falta de informações que, por vezes, assola certos 'posts' deste nosso 'blog', no entanto, não queríamos deixar de relembrar esta segunda colaboração por parte de dois dos melhores criadores de banda desenhada em Portugal, e certamente os que melhor conseguem transmitir informações didácticas de forma cativante e divertida.

17.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2025.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

O racismo, a xenofobia e o medo do 'outro' têm sido, desde tempos imemoriais, um dos principais males da sociedade ocidental – e o passar do tempo apenas parece, estranhamente, agravar o problema. Assim, não é de estranhar que as instituições das principais nações ocidentais venham, desde há décadas, a tentar mudar as mentalidades, sobretudo no respeitante às camadas populacionais mais jovens e, como tal, mais susceptíveis a uma mudança de mentalidade ou a um 'desvio' para uma forma menos intolerante de ver o Mundo.

Enquanto país acolhedor de elevados volumes de imigrantes dos PALOP, da China, da Ucrânia e – mais recentemente – dos países do Sudoeste Asiático, Portugal jamais poderia ser excepção a qualquer destas regras, pelo que é sem surpresas que verificamos ter existido pelo menos um veículo de promoção da tolerância entre os jovens na História recente de Portugal. Numa altura em que as tensões raciais se fazem, novamente, sentir no nosso País, nada melhor, portanto, do que 'repescar' esse tomo de 1998, em que a Comissão Europeia procurava fazer ver aos jovens das gerações 'X' e 'millennial' que o multi-culturalismo era algo a ser louvado e encorajado, por oposição a temido.

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Sob o nada subtil título de 'Racista, Eu?!', o volume institucional publicado em Junho de 1998 (mesmo a tempo para o início, no nosso País, de um dos maiores eventos celebratórios do multi-culturalismo de finais do século XX) trazia uma série de vinhetas nas quais diferentes grupos de personagens aprendiam a aceitar as suas diferenças e a viver com os aspectos que menos lhes agradavam, tanto em si mesmos como na sociedade, e que procuravam enfatizar o modo como o racismo e a xenofobia se podem entranhar na consciência colectiva, e afectar até mesmo quem não considera ter esses defeitos (daí o título).

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Uma das vinhetas incluídas no volume.

Essa mensagem era, por sua vez, passada com recurso a desenhos originais e extremamente cuidados – a fazer lembrar o estilo franco-belga, ou não tivesse a Comissão Europeia sede em Estrasburgo – e argumentos que, embora pouco subtis, eram no entanto hábeis na transmissão dos valores em causa, para um resultado final acima da média para um produto de BD institucional, sobretudo da época em causa, e que ainda hoje permanecem perfeitamente actuais, como aliás se pode comprovar neste link, que reproduz a revista na sua íntegra. E se, por si só, esta iniciativa não foi suficiente para mitigar o racismo entre as gerações (então) mais novas de cidadãos portugueses, a mesma deve, ainda assim, ser saudada como uma tentativa perfeitamente válida e legítima de abordar, de forma ao mesmo tempo séria e divertida, um dos maiores flagelos da sociedade ocidental actual.

20.11.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Independentemente do seu posicionamento dentro da geração 'millennial' (quer nascidos nos anos 80, quer já nos 90) todos os portugueses de uma certa idade têm em comum a experiência de ver passar na televisão, em pleno horário nobre, um curto segmento musical animado, cuja única função expressa era assinalar a divisória entre o conteúdo familiar e os programas mais explicitamente dirigidos a um público adulto, mas que muitos pais utilizavam como sinal oficial de que era hora de os mais novos irem para a cama; e embora as duas parcelas da geração em causa tenham conhecido 'canções' bem diferentes, ambas veriam o protagonista da animação em causa extravasar o contexto da mesma, tornando-se parte da cultura popular infantil como um todo, e dando origem a diversos produtos com a sua figura. Para os 'millennials' mais velhos, essa figura foi o Vitinho; para os mais novos, foi o Patinho. E se o menino agricultor de jardineiras surgiria em contextos tão díspares quanto caixas de farinha láctea e autocolantes para o carro, o seu congénere antropomórfico não lhe ficaria atrás, gerando desde CD's de música a bonecos de vinil, e tendo mesmo direito à sua própria tirinha de banda desenhada, algo que o seu antecessor nunca almejara.

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De facto, os últimos meses do século XX viram surgir na então ainda muito popular revista semanal TV Guia um novo segmento de banda desenhada, com o não menos popular patinho de fato de marinheiro como protagonista. Com um estilo muito parecido ao da animação que lhe dera fama, e com argumentos da autoria do próprio criador da mesma, Rui Cardoso (membro da companhia de animação Animanostra) o Patinho encontraria aqui ainda mais uma forma de cativar o seu público-alvo, tendo as tirinhas em causa feito parte integrante da revista durante pelo menos um ano, de 4 de Setembro de 1999 até ao mesmo mês do ano seguinte, sendo possível que a sua publicação se tenha ainda estendido por mais algum tempo.

Mesmo após perder o lugar semanal, no entanto, o referido segmento lograria ainda manter-se 'à tona' do imaginário infantil através de uma edição em álbum de capa dura, lançado ainda nos primeiros meses do Novo Milénio pela própria TV Guia, e no qual eram reunidas quarenta e cinco das histórias criadas por Cardoso ao longo do período em causa. E apesar de a fama e relevância do Patinho não terem perdurado durante muito mais tempo após esse ponto (a BD em causa apenas poderia ter sido criada e editada com sucesso num intervalo de tempo tão específico quanto estreito), há que reconhecer ao personagem em causa (à época bastante divisor de opiniões) a capacidade de cativar a 'sua' audiência, e de aproveitar ao máximo os seus 'quinze minutos de fama', não só no seu formato original no pequeno ecrã mas também, mais inesperadamente, dentro dos painéis de uma tirinha de banda desenhada, numa transição nem sempre fácil, mas que o mesmo efectuou com relativo sucesso.

12.10.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Uma edição recente desta mesma rubrica foi dedicada à Quinta Pedagógica dos Olivais, espaço que comemorou há pouco tempo três décadas de existência, durante os quais trouxe às crianças citadinas um 'cheirinho' dos ares do campo, com a sua colecção de animais, plantas e árvores de fruto típicas do cultivo nacional (e não só). O que, nessa ocasião, ficou por referir é que a instalação em causa dividia, até recentemente, o seu espaço com uma outra, de tanto ou maior interesse para o público-alvo: a Bedeteca Nacional, o maior arquivo de banda desenhada (física e digital) do nosso País.

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Concebida pela primeira vez em 1990, por um grupo de jovens de Ramalde, na zona do Grande Porto, a Bedeteca viria, no entanto, a encontrar a sua 'casa' definitiva na capital, concretamente no Palácio do Contador-Mor, edifício ainda hoje da propriedade da família Van Zeller, e que se pensa ter sido a inspiração para a famosa 'Toca', a casa descrita por Eça de Queirós como o 'ninho de amor' de Carlos e Maria Eduarda na obra-prima 'Os Maias'. Haja ou não fundamento para esse rumor, a verdade é que, em finais do século XX, o edifício viria a servir uma função marcadamente diferente, albergando múltiplas salas dedicadas à preservação e divulgação da banda desenhada em todas as suas formas. De facto, a Bedeteca procurava ir além de uma simples biblioteca ou arquivo (não obstante serem estes os seus aspectos primários) e oferecer também recursos digitais e instalações para exposições temporárias, mostras do trabalho de autores independentes e até palestras ou convenções, afirmando-se assim como local de 'romaria' obrigatória para os aficionados de BD lisboetas, senão mesmo de todo o País.

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Infelizmente, após ter feito as delícias dos entusiastas dos 'quadradinhos' durante mais de três décadas, a Bedeteca encontra-se, actualmente, encerrada para remodelações, as quais se estendem já há algum tempo, levando alguns interessados a ponderar se a mesma se encontrará definitivamente extinta. Para já, no entanto, a posição oficial é a de que a Bedeteca voltará, sim, a funcionar, exactamente no mesmo espaço do que anteriormente, podendo o seu acervo ser, nos entrementes, visitado e consultado numa secção especialmente reservada para o efeito, na Biblioteca de Marvila, também em Lisboa. Esperemos, pois, que se trate verdadeiramente de uma situação temporária, e que os 'bedéfilos' portugueses possam, em breve, voltar a desfrutar daquele que tem, desde sempre, sido o 'seu' espaço de eleição para Saídas ao Sábado; até lá, fica a 'homenagem' a uma infra-estrutura mais importante do que possa, à primeira vista, parecer, e que vem, desde há três décadas, dando um contributo importante para o panorama cultural lisboeta, e do País como um todo.

10.04.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Os anos 70, 80 e 90 viram chegar a Portugal um considerável influxo – quase uma 'inundação' – de títulos de banda desenhada oriundos do Brasil, de qualidade variável, mas quase sempre acima da média. Disponíveis em qualquer quiosque – e havia-os em número quase infindável de Norte a Sul do País – as revistas das editoras Abril e Globo deram a conhecer aos jovens portugueses muitos dos mais populares personagens e grupos entre os seus contemporâneos do outro lado do oceano, dos inúmeros heróis da Marvel, DC ou Disney (companhias que, mais tarde, viriam a ser editadas a nível nacional) a colectivos como a Turma da Mônica ou Os Trapalhões, e popularizaram entre esta demografia nomes como os de Mauricio de Sousa ou do criador a quem dedicamos este 'post', e que faleceu este fim-de-semana, com a provecta idade de 91 anos.

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Falamos de Ziraldo Alves Pinto - mais conhecido apenas pelo seu primeiro nome – à época já um dos mais destacados criadores de banda desenhada do Brasil, tendo sido pioneiro na criação de obras de banda desenhada de 'autor único' por terras de Vera-Cruz, feito que logrou almejar logo em inícios dos anos 60 (mais de uma década antes do 'rival' Mauricio) com a criação da revista 'Turma do Pererê', centrada num grupo de criaturas da mata liderado pelo inconfundível saci, um dos principais personagens do folclore brasileiro. Por essa altura, o estilo inconfundivel do autor – quer a nível de desenhos, quer de diálogos – era já bem conhecido de diversos jornais brasileiros, pelo que o sucesso de que o título imediatamente gozou entre o seu público-alvo não foi, de todo, surpreendente; ainda mais do que os referidos trabalhos, no entanto, foi 'Turma do Pererê' (revista que teve duas fases distintas, uma antes e outra depois da ditadura militar ter sido instaurada no Brasil) a responsável por popularizar o nome do desenhista entre as crianças da época.

Não se ficaria por esses anos, no entanto, a fama de Ziraldo – antes pelo contrário, o personagem mais icónico e sinónimo com o desenhista ainda estava para ser criado, surgindo apenas no início da década de 80, já depois de outras duas tentativas menos bem sucedidas por parte do autor. Tratava-se d''O Menino Maluquinho', uma típica criança da época, de imaginação delirante e sempre pronta a criar brincadeiras, planos e esquemas mirabolantes, nos quais não tardava a envolver os restantes jovens do seu prédio: o melhor amigo Bocão, a namoradinha Julieta, a melhor amiga desta, Carolina, o intelectual e sensato Lúcio, o pequeno, tímido e ansioso Junim, e até, por vezes, o 'valentão' Herman e a namorada deste, a bonita e vaidosa Shirley Valéria. O resultado eram histórias e aventuras tão 'mirabolantes' quanto ancoradas na realidade, quase como uma 'Turma da Mônica' mais urbana e contemporânea, ou não vivesse Maluqinho num prédio de apartamentos.

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A revista que popularizaria Ziraldo entre o público infanto-juvenil português.

Mais uma vez, o sucesso desta publicação foi imediato, com a revista de Maluqinho (editada como resultado da boa recepção que o seu álbum de tirinhas havia recebido aquando da sua edição em 1980) a competir com os 'mega-sucessos' de Mauricio ou dos estúdios Disney pelas semanadas do seu público-alvo, e a lograr permanecer nas bancas durante um período inicial de oito anos, de 1988 a 1996. Foi, também, durante esta fase que os leitores portugueses ficaram a conhecer Maluquinho, e que Ziraldo conseguiria maior penetração no mercado nacional – além do periódico de banda desenhada, o autor veria também chegar a solo luso os livros das séries ilustradas 'Corpim', dedicada às diferentes partes do corpo, e 'O Bichinho da Maçã', talvez o seu trabalho mais conhecido a seguir a 'Maluquinho'.

Infelizmente, tal como a maioria dos autores de BD brasileiros à excepção de Mauricio, também Ziraldo não resistiria ao 'colapso' do mercado de banda desenhada periódica português, posteriormente reduzido a meia-dúzia de títulos da Turma da Mônica, Disney, Marvel e DC, por oposição à 'bonança' desfrutada pela geração 'millennial'. Assim, enquanto no seu Brasil natal as suas franquias seguiam de 'vento em popa' (com Maluquinho a ficar nas bancas até inícios da presente década, e a ter inclusivamente direito a títulos de 'crossover' com Mônica e Cebolinha e adaptações cinematográficas) a sua popularidade em Portugal não resistiu à chegada à idade adulta da geração nascida nos anos 80 e 90. Para esses, no entanto, a notícia da morte do autor – pacífica, no seu apartamento – não deixará de gerar uma 'pontada' de dor, saudade e nostalgia por mais um elemento da sua infância que desaparece para sempre, sem retorno... Que descanse em paz.

28.02.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui anteriormente falámos tanto da BD institucional, utilizada pelas mais variadas empresas e instituições como recurso educativo e pedagógico, como dos clubes de jovens, outro conceito corporativo clássico de finais do século XX e inícios do seguinte, e que vinha muitas vezes acompanhado de publicações próprias, exclusivas aos membros do clube. não é, pois, de estranhar que os dois elementos em causa se intersectassem frequentemente, normalmente no contexto das referidas revistas e jornais internos; é, precisamente, de uma dessas ocasiões que falaremos nesta Quarta aos Quadradinhos.

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Divulgadas pelo banco Montepio Geral em cinco fascículos de distribuição exclusiva ao seu clube de jovens assinantes entre 1999 e 2000, 'Tio Pelicas Investiga: A Essência Mutualista' via o pelicano do símbolo do banco – devidamente antropomorfizado e 'cartoonizado', e de aparência algo semelhante a outro 'Tio' com afinidade por assuntos bancários, o da Disney – investigar mistérios relacionados com conceitos da esfera financeira e bancária, os quais eram, assim, transmitidos ao jovem público-alvo de maneira subtil e lúdica. Uma premissa bastante típica para uma banda desenhada institucional, mas que era substancialmente elevada pelo argumento e grafismo cuidados e personalizados; isto porque, onde a maioria das empresas deixariam um projecto desta índole a cargo de um qualquer anónimo com 'jeito' para o desenho, o Montepio Geral não fez por menos, recrutando ninguém menos do que Augusto Trigo (famoso por ter ilustrado a trilogia 'Lendas de Portugal em Banda Desenhada', e também colaborador da efémera mas marcante revista 'Selecções BD') para dar vida ao pelicano detective, em conjunto com a argumentista Paula Guimarães.

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Capa do segundo álbum, lançado em 2004.

O resultado era um trabalho que, deixando de lado a vertente institucional, poderia perfeitamente ter sido editada como álbum individual e independente de qualquer instituição – como os jovens 'millennials' e da 'geração Z' puderam comprovar quando as 'sequelas' de 'Essência Mutualista', produzidas entre 2001 e 2003, foram reunidas em álbum, em 2004. Antes disso, já havia sido lançada em volume a aventura original, a qual completa este ano vinte e cinco anos sobre o seu lançamento original, e terá sem dúvida feito as delícias dos jovens filhos de clientes do banco em causa aquando do mesmo. E apesar de essa primeira história se encontrar algo Esquecida Pela Net, várias outras podem, ainda, ser lidas nas mais diversas fontes (como neste blog, que dedica todo um artigo à série), pelo que quem tenha alguma nostalgia pelo Tio Pelicas (ou se tenha recordado do mesmo ao ler este post) pode facilmente ir 'matar saudades', e regressar à infância por alguns minutos...

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Excerto de uma das histórias da segunda série.

06.12.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Qualquer período hegemónico que se estenda por vários anos, ou até décadas, é praticamente impossível de manter inalterado; por muito poucas mudanças que se procurem fazer num contexto deste tipo, algo acabará, inevitavelmente, por se alterar ou evoluir. É, pois, importante estabelecer, em situações deste tipo, elos de ligação que permitam manter o produto ou criador em causa reconhecível para lá de quaisquer diferenças superfíciais no conteúdo; e uma boa maneira de conseguir este objectivo é estabelecer uma ou mais 'tradições', levadas a cabo em intervalos periódicos ou na época do ano apropriada. Para a Abril-Controljornal, praticamente monopolista do mercado nacional de 'livros aos quadradinhos' de finais do século XX e inícios do XXI – uma dessas tradições prendia-se com o lançamento, todos os meses de Dezembro, de um ou mais títulos de BD Disney dedicados ao Natal. E apesar de ter tido particular expressão até inícios da década de 90, a verdade é que esta tradição se mantinha ainda vigente nos últimos anos do Segundo Milénio, como o prova o título que abordamos nesta primeira de duas Quartas aos Quadradinhos de Natal.

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Lançado há exactos vinte e seis anos, em Dezembro de 1997, 'Disney Natal Especial' insere-se na vasta categoria de títulos de 'número único' lançados pela Abril durante esse período da sua existência, juntando-se a revistas como 'Os Meus Heróis Favoritos', 'Arquivos Secretos do Detective Mickey' ou a edição tematizada em torno do filme 'Titanic', todas lançadas num espaço de dois anos entre 1996 e 1998. Ao contrário destas, no entanto, o propósito desta edição é bem claro, pretendendo a mesma preencher a 'vaga' de 'revista Disney de Natal' daquele ano. Para esse efeito, 'Disney Natal Especial' apresenta onze histórias (mais uma tirinha de página única) espalhadas ao longo das suas cem páginas, fazendo por justificar o preço de 310$00, à época alinhado com o de outras edições 'grossas', como o 'Disney Especial'.

Previsivelmente, todas e cada uma das BD's incluídas no volume tem um tema em comum – no caso, a quadra natalícia, e todas as celebrações em torno da mesma. Esta é, no entanto, mesmo a única linha condutora entre as histórias da revista, já que, apesar de a maioria das mesmas ter sido produzida poucos anos antes do lançamento do título, chega a haver em 'Disney Natal Especial' histórias de finais dos anos 70 e inícios da década seguinte, cujo estilo e atmosfera são marcadamente diferentes dos das mais 'actuais' produções italianas. De igual modo, outro aspecto que poderia ter ajudado a unificar a selecção, mas que acaba por não ser 'levado a termo' é o foco no núcleo dos patos, que monopoliza oito das doze histórias incluídas, sendo as restantes três protagonizadas por Mickey e Pateta (em dois casos) e pelo elenco da série animada 'TaleSpin' (ou 'Aventuras do Balu'), que tinha, à época, título próprio, mas que não viria a passar em Portugal ainda durante alguns anos, sendo os seus personagens conhecidos das crianças portuguesas apenas através da inclusão de algumas das suas aventuras em títulos deste tipo.

Ainda assim, e apesar destas idiossincrasias, 'Disney Natal Especial' terá acabado por cumprir a sua função de 'dar que ler' aos fãs de quadradinhos Disney na quadra natalícia de 1997. E por não termos tido conhecimento da sua existência aquando do seu vigésimo-quinto aniversário – altura em que lhe teríamos dedicado um 'post' celebratório dessa efeméride – procuramos agora, um ano depois, corrigir esse deslize, e falar daquela que viria a dar o mote para muitas mais edições 'isoladas' de Natal no século e Milénio seguintes, mas que à época de publicação se afirmava, passe a expressão, como artigo único no panorama da BD Disney em Portugal.

25.10.23

NOTA: Este post foi sugerido pelo leitor Pedro Serra, a quem também devemos as fotos que acompanham o texto. Obrigado, Pedro!

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já é situação recorrente nesta rubrica falar da hegemonia que a Abril Jovem (mais tarde Abril/Controljornal) detinha sobre o mercado de 'livros aos quadradinhos' nacional, e a oportunidade que essa posição lhe oferecia para levar a cabo 'experiências' sem grandes consequências em caso de 'falhanço', já que até as piores de entre as suas revistas da Disney, DC e Marvel tinham volume de vendas garantido. Ainda assim, e apesar dessa total falta de necessidade de apostar em estratégias de 'marketing' e publicidade, a editora não se mostrava, de todo, aversa a esse tipo de medida, como bem o comprova a série de livros que examinamos nesta Quarta aos Quadradinhos.

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Três dos quatro livros da colecção, parte do acervo pessoal do Pedro Serra.

Lançada algures durante o ano de 1992, esta série de quatro edições especiais da colecção 'As Melhores Histórias Disney' trazia como principal diferencial o facto de as referidas melhores histórias serem (alegadamente) escolhidas a dedo por celebridades de 'primeira linha' na vivência infanto-juvenil da altura, com José Jorge Duarte (por essa altura já no auge da sua fase como apresentador de concursos infantis, mas ainda apresentado sob o nome da personagem com a qual se celebrizara, 'Lecas') à cabeça. Além do 'ídolo' infantil, marcavam presença nas capas destes livros Herman José e Maria Vieira (também em alta após o sucesso de 'Hermanias', no fim-de-ano anterior, além da sempre popular 'Roda da Sorte') e ainda Marco Paulo, que muitas crianças conheciam (e ouviam) por intermédio dos pais. Cada livro vinha, mesmo, acompanhado de um frontispício supostamente escrito (e definitivamente assinado) pela própria personalidade, e que exaltava o contributo da mesma para o seu conteúdo – o qual, de outra forma, pouco se distinguia de um número perfeitamente 'normal' da colecção.

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O frontispício de uma das edições.

E a verdade é que, apesar de, aos olhos dos adultos que entretanto nos tornámos, esta jogada de 'marketing' ser transparente ao ponto de parecer um pouco desesperada, a mesma resultou em cheio junto das crianças que então éramos – lá por casa, por exemplo, existia com cem por cento de certeza o número do 'Lecas' – rendendo à Abril ainda mais um triunfo a juntar à sua já invejável lista naqueles inícios da década de 90. Prova de que, mesmo não sendo necessária, uma boa estratégia de 'marketing' e publicidade nunca cai mal, e rende sempre pelo menos alguns dividendos; aliás, se a mesma estratégia fosse repetida, hoje em dia, com Cristiano Ronaldo ou algum influenciador do Instagram no lugar das celebridades noventistas, talvez se verificasse um renascer (ainda que temporário) do interesse dos jovens por este tipo de banda desenhada...

28.06.23

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Nos quase cem anos desde a sua criação, o Rato Mickey tornou-se não apenas o símbolo e mascote da companhia que o concebeu, mas um dos mais populares e instantaneamente reconhecíveis personagens da cultura popular moderna. Tendo feito história desde a sua primeira aparição (o seu desenho animado de estreia, 'Steamboat Willy', assinalaria a primeira tentativa de sincronização de som e imagem neste tipo de conteúdo), o rato que originalmente seria um coelho viria, ao longo ds décadas, a tornar-se protagonista de inúmeros programas televisivos, obras cinematográficas e, claro, de um número astronómico de artigos de merchandising e tiras e histórias de banda desenhada. Assim, não é de admirar que a editora oficial das revistas Disney em solo lusitano tenha querido marcar as efemérides dos sessenta, sessenta e cinco e setenta anos da criação do mais ilustre de todos os ratos com edições especiais comemorativas da ilustre trajectória do personagem no campo da BD.

Mas se 'Mickey 60 Anos', lançado em 1988, foi a verdadeira definição de uma edição de luxo – com três volumes encadernados, cada um deles respeitante a duas das então seis décadas de vida do personagem, oferecendo uma visão verdadeiramente global da sua evolução – o mesmo não se pode, infelizmente, dizer a respeito da edição lançada seis anos depois, que pouco mais foi do que um lançamento perfeitamente normal com uma capa mais 'bonita', não tendo a Abril tido, sequer, o cuidado de a lançar no ano correcto!

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De facto, enquanto que as seis décadas e meia da criação de Mickey se haviam celebrado em 1993, a revista alusiva aos mesmos seria lançada apenas a 28 de Junho do ano seguinte (há exactos vinte e nove anos), vários meses após a comemoração da efeméride! Mais: apesar de contar com o mesmo tratamento 'encadernado' do seu antecessor, este lançamento não contava com qualquer do material informativo típico deste tipo de publicação, e as histórias de que se compunha eram maioritariamente modernas, sendo a mais antiga de 1979, e a maioria de entre 1980 e 1986. E, claro, muitas delas com os horríveis traços italianos que começavam, cada vez mais, a 'infestar' as publicações Disney portuguesas daquela época.

Ainda assim, nem tudo é negativo: além de ter muito que ler (são 260 páginas e nada menos que vinte e quatro histórias), este livro é um 'prato cheio' para fãs das aventuras mais detectivescas de Mickey e do seu inseparável amigo Pateta, que constituem a grande maioria do conteúdo desta publicação. Fica, no entanto, a sensação de 'oportunidade perdida' por parte da Abril Jovem, que já havia demonstrado ser capaz de editar algo verdadeiramente especial, mas que, nesta instância, não apresenta nada que o leitor comum da época não pudesse encontrar num qualquer volume da série Hiper Disney, e que justificasse os quase setecentos escudos (quase três semanadas ou dois-terços de uma mesada da maioria do público alvo!) que custava. De relevo, portanto, apenas a própria natureza comemorativa do livro, bem como a coincidência de ter sido lançado há precisamente vinte e nove anos aquando da escrita deste 'post'.

Felizmente, a Abril 'emendaria a mão' (ainda que apenas parcialmente) com o lançamento comemorativo dos setenta anos da 'cara' da Walt Disney, que seria dividida em dois volumes e contaria com secções informativas e até tiras antigas do personagem. Desse lançamento, no entanto, falaremos no próximo ano, aquando do quarto de século da sua edição...

12.10.22

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Numa semana que temos vindo a dedicar exclusivamente ao mais popular herói de BD franco-belga em Portugal, Astérix, seria quase insultuoso deixarmos de analisar as adições feitas durante a 'nossa' década ao meio que o tornou conhecido; como tal, e porque a popularidade do pequeno gaulês durante a referida década não foi apenas retroactiva, dedicaremos as próximas linhas a uma breve visão geral dos dois álbuns alusivos ao mesmo lançados durante a última década do século XX.

Da autoria exclusiva de Albert Uderzo (que havia acumulado funções desde a morte do seu parceiro de criação, René Goscinny, uma década antes) qualquer destes álbuns constitui uma adição honrosa à colecção de aventuras do guerreiro gaulês e do seu rechonchudo melhor amigo, Obélix – ainda que o segundo dos dois volumes assinale, também, os primeiros vestígios do ligeiro decréscimo de qualidade que se faria sentir nos últimos dois álbuns assinados pelo ilustrador.

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Antes, porém, havia ainda tempo para um último clássico, sob a forma de 'A Rosa e o Gládio', de 1991, que vê Astérix a braços com uma admiradora furiosamente feminista, e a ter que rever os seus conceitos sobre o lugar da mulher na sociedade, enquanto procura adaptar a sua linguagem e personalidade para não ofender ninguém. Uma premissa, ao mesmo tempo, divertida e relevante, que antecipa o movimento 'woke' com cerca de três décadas de antecedência, e cuja mensagem é transmitida de forma suficientemente caricatural para nunca parecer forçada ou piegas, tornando o álbum digno de figurar ao lado de outros clássicos da era pós-Goscinny, como o também excelente 'O Filho de Astérix', de 1983.

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O mesmo não se pode, infelizmente, dizer de 'O Pesadelo de Obélix', lançado cinco anos depois e que, longe de ser mau, é no entanto menos memorável do que os seus antecessores directos. A trama não deixa de ser interessante, permitindo descobrir quão nefastos podem ser os efeitos da poção mágica de Panoramix sobre o perpetuamente 'super-poderoso 'Obélix, mas não chega, infelizmente, para elevar o álbum além daquele contingente de títulos de Astérix que tendem a ficar esquecidos por entre os clássicos absolutos, a exemplo de 'Astérix e o Caldeirão', 'Astérix e os Godos' ou 'O Grande Fosso'. Ainda assim, uma aventura bem divertida (embora se sinta a falta do sarcástico e inocente Obélix) e que vale a pena ter na colecção, quanto mais não seja em nome do completismo.

Infelizmente, e como já acima indicámos, estes dois álbuns representam o fim da 'época áurea' de Astérix; os dois primeiros livros do novo milénio (e últimos dois da 'era Uderzo', antes de a série ser 'cedida' a dois perfeitos desconhecidos), embora ainda de qualidade acima de qualquer suspeita, já revelam alguma falta de inspiração e ideias, ficando bem abaixo do que o universo cinematográfico do herói gaulês vinha produzindo ('Astérix e Obélix: Missão Cleópatra' é tão bom ou melhor do que qualquer álbum da fase clássica, e altamente recomendado a qualquer fã dos personagens de Goscinny e Uderzo). Quem deixou de ler a série nos anos 90, no entanto (fosse por decréscimo de interesse ou simplesmente pela entrada na idade adulta) teve a sorte de ainda se conseguir 'despedir' da série com a mesma em alta, através de dois bons livros que, ainda hoje, vale bem a pena tentar adicionar à colecção.

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