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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

11.07.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 9 de Julho de 2025.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

No tocante a autores de vulto da literatura portuguesa contemporânea, o nome de José Saramago é incontornável. Embora pouco consensual, o malogrado escritor continua a ser um dos primeiros em quem se pensa quando o assunto são obras literárias criadas em Portugal, e mesmo quem não é apreciador é obrigado a reconhecer não só o talento como a importância de Saramago para o desenvolvimento da ficção em 'Português europeu'. E um dos principais livros de que imediatamente se fala ao trazer à baila o autor – que teve, inclusivamente, direito a adaptação cinematográfica 'Hollywoodesca', com Julianne Moore – é a obra que completa, este ano, trinta anos de existência: 'Ensaio Sobre A Cegueira'.

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Capa da edição original da obra.

Tão sinónimo com o escritor português como o histórico 'Memorial do Convento', 'Ensaio Sobre A Cegueira' prova que a evolução da prosa de ficção, e dos gostos de quem a lê, pouco ou nenhum efeito tiveram sobre Saramago, que aplica nesta obra de 1995 o mesmo exacto estilo estabelecido nas suas primeiras criações, mais de três décadas antes, e que se tornou algo 'memético' entre os leitores portugueses; estão aqui as longas frases com excesso de vírgulas, as interpelações em discurso directo violadoras das leis gramaticais, e todos os restantes recursos estilísticos que se tornaram quase indistinguíveis da escrita do autor.

É, pois, necessário ultrapassar esta primeira 'barreira' para que se consiga, verdadeiramente, apreciar a trama da obra, uma variação sobre o tema da epidemia pós-apocalíptica (que hoje seria, talvez, chamada de pandemia) neste caso com efeito sobre a visão humana, conforme explicitado no título da obra. Pretexto para Saramago explorar as formas como as suas diversas personagens – todas identificadas, não por nome, mas por características distintivas ou posição social – lidam com a recém-adquirida deficiência, e como esta os afecta psicologicamente. Um conceito bastante interessante, e que se prestou muito bem à filmagem por Fernando Meirelles (de 'Cidade de Deus'), que permitiu que a história se sobrepusesse à linguagem escrita de Saramago.

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Cartaz do filme de 2008.

Foi, pois, com justiça que 'Ensaio Sobre A Cegueira' adquiriu, quase desde logo, estatuto de 'clássico moderno' da literatura portuguesa, não só por virtude de quem assinava a obra, mas também pela qualidade da trama e da escrita da mesma. Não podíamos, pois, deixar de lhe dedicar algumas linhas neste nosso 'blog', no ano em que se celebra o seu trigésimo aniversário.

11.06.25

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

A literatura infantil atravessava, em finais dos anos 80 e inícios dos 90, um dos seus períodos áureos, com séries como 'Uma Aventura' ou 'O Clube das Chaves' e autores como Alice Vieira a fazerem as delícias dos mais jovens. Não é, pois, de admirar que esse período tenha, também, visto surgir no mercado muitos novos escritores de contos para crianças, ansiosos por se mostrar ao público-alvo. E essa tarefa viria a ficar facilitada quando, logo nos primeiros meses da última década do século e Milénio, a Editorial Verbo lançava um prémio literário para, simultaneamente, divulgar autores principiantes e homenagear um icónico nome do meio, falecido pouco antes, em 1989.

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O livro vencedor da primeira edição do Prémio.

Apesar das boas intenções, no entanto, o Prémio Adolfo Simões Muller (ou, pelo menos, a primeira configuração do mesmo) apenas viria a ter quatro edições - ou, pelo menos, assim rezam os registos actualmente disponíveis. As três primeiras teriam lugar em anos consecutivos – 1991, 1992 e 1993 – e a quarta já no dealbar do Novo Milénio, e uma década após a criação do Prémio. Nessa última selecção, o livro vencedor terá sido Rubens e a Companhia do Espanto em O Caso da Mitra Desaparecida de António Garcia Barreto, enquanto que nos outros anos os vencedores foram Ana Maria Meireles, com 'O Mistério dos Cães Desaparecidos' (em 1991), Luís da Silva Pereira com 'A História de Davidim' (em 1992) e 'Este Pinhal Tão Verde' de Graça Matos de Sousa (em 1993, ano em que pela primeira vez se atribuíram menções honrosas, no caso duas, a 'Três Semanas Com a Avó' de Ana Saldanha e 'A Vida É Uma Grande Ideia' de Carla Oliveira.) Estes livros foram, posteriormente, editados pela própria Verbo sob o cabeçalho 'Grande Prémio'.

Como se pode ver pelo elenco de nomes no parágrafo anterior, este prémio não logrou concretizar o seu objectivo de lançar novos nomes no panorama da escrita infantil em Portugal, sendo Garcia Barreto o único nome conhecido da lista, e já 'famoso' antes de vencer a distinção em causa. Assim, não é de admirar que a Verbo tenha rapidamente desistido da iniciativa – tendo, no entanto, o nome da mesma sido adoptado por um prémio literário muito semelhante atribuído pela Câmara Municipal de Sintra. É através deste que o nome e legado de Adolfo Simões Muller sobrevivem hoje em dia, tendo a primeira tentativa 'falhada' caído no esquecimento...isto é, até termos, com as linhas anteriores, reavivado a memória dos jovens leitores da época, os quais poderão, inclusivamente, ter memórias nostálgicas quanto a algum dos livros premiados durante a efémera vida do prémio da Verbo. Fica a eles dedicada esta breve recordação.

21.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 19 e Quinta-feira, 20 de Fevereiro de 2025.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Podiam vir da livraria ou da tabacaria ou quiosque, e ser mais focados em conteúdos educacionais ou oferecer um pouco mais de diversão pura e dura; em qualquer dos casos, constituíam um ponto alto no dia de qualquer criança, sendo capazes de proporcionar várias horas divertidas após um dia de escola, ou mesmo durante um fim-de-semana. Falamos, claro está, dos livros com autocolantes, uma daquelas diversões intemporais e transversais a, pelo menos, as últimas três gerações, da qual falaremos em mais um 'post' duplo no Anos 90.

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Exemplo moderno do conceito em causa.

Diferentes das tradicionais cadernetas de cromos por não fomentarem o aspecto social ou coleccionista (sendo, na maioria dos casos, auto-contidos) estes livros funcionavam, no entanto, num contexto algo semelhante, oferecendo aos jovens leitores cenários e temas sobre os quais aplicar os autocolantes fornecidos em conjunto com o livro, os quais diziam, por sua vez, respeito a esse tema. Assim, um livro sobre animais teria provavelmente como fundo de página um cenário natural ou um jardim zoológico sobre os quais colar os autocolantes de 'bicharada', outro sobre viagens poderia ter estradas, portos ou aeroportos nos quais colocar carros, barcos ou aviões, ou focar-se em destinos como a praia ou o campo, cada qual com o seu grupo de autocolantes decorativos. As crianças eram, assim, incentivadas a relacionar elementos entre si de modo a que fizessem sentido, dando à experiência um aspecto didáctico que complementava a diversão inerente a um destes tomos – afinal, qual é a criança que não gosta de aplicar autocolantes aos mais diversos sítios?

Talvez por este misto de simplicidade, didatismo e apelo directo aos gostos do público-alvo, os livros com autocolantes mantêm-se 'em alta' entre as camadas mais jovens da população até aos dias de hoje, sendo ainda relativamente fáceis de encontrar nos mesmos meios que os vendiam algures há três décadas – um paradigma que, ao contrário da maioria dos que aqui vimos relembrando, não se prevê que mude num futuro próximo. Afinal, por muito avançado que seja no momento presente, o meio digital não é, ainda, capaz de reproduzir a sensação única de destacar um autocolante da respectiva folha e, com ele, 'embelezar' o cenário proposto na página, e que já há vários minutos vem 'puxando' pela imaginação...

29.01.25

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui, em tempos, falámos de 'Lisboa Às Cores', uma colaboração entre António Jorge Gonçalves e Rui Zink lançada pela Câmara Municipal de Lisboa como forma de celebrar o colorido especial da cidade capital de Portugal. Essa não foi, no entanto, a única obra de banda desenhada institucional criada pelo ilustrador, que, apenas um ano mais tarde, voltaria a realizar uma obra por comissão para uma entidade estatal e centrada sobre a cidade de Lisboa, desta feita para o Instituto Português de Museus e em parceria com o seu mais famoso e duradouro parceiro, Nuno Artur Silva.

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Intitulada 'À Procura do F. I. M.', a obra em causa, que comemorou neste ano transacto exactas três décadas sobre a sua publicação (no âmbito do projecto 'Lisboa '94') marca ainda presença nas bibliotecas de algumas escolas primárias e preparatórias do nosso País, pelo menos a julgar pelas informações disponíveis em diversos catálogos bibliográficos 'online'. Já na restante Internet, a sua pegada é bastante mais reduzida, encontrando-se o álbum no limiar de ser Esquecido Pela Net, sendo 'salvo' de tal fado apenas pelos inevitáveis Bazar0 e Bedeteca, bem como pelos supramencionados catálogos.

Ainda assim, além dos dados básicos de publicação, o único elemento disponível após pesquisa é a capa, que mostra um grafismo abstracto e psicadélico (quase ao estilo cubista ou impressionista) e sugere a presença, na história, de uma nave espacial, ou no mínimo um carro voador. O subtítulo, no entanto, sugere que a trama se centra sobre a Lisboa Subterrânea, o famoso conjunto de passagens, catacumbas e aquedutos no subsolo da capital, embora a verdadeira natureza do 'F.I.M' e a razão para a sua busca sejam, infelizmente, impossíveis de discernir.

Apesar da falta de informações que, por vezes, assola certos 'posts' deste nosso 'blog', no entanto, não queríamos deixar de relembrar esta segunda colaboração por parte de dois dos melhores criadores de banda desenhada em Portugal, e certamente os que melhor conseguem transmitir informações didácticas de forma cativante e divertida.

12.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

A época natalícia é, já de si, farta em momentos e motivos de entusiasmo para os mais pequenos, seja em Portugal ou em qualquer outra parte do Mundo ocidental; entre escolher e decorar a árvore, ir ver as iluminações com a família, abrir diariamente uma das portinholas do Calendário do Advento, marcar no catálogo de Natal os presentes pretendidos (ou, nos dias que correm, escolhê-los na Amazon), escrever a carta ao Pai Natal (e visitá-lo no hipermercado). ver pela centésima vez o 'Sozinho em Casa' e fazer as compras necessárias para a ceia – e isto ainda sem contar com quaisquer potenciais festas da escola ou do trabalho dos pais – o mês de Dezembro afirma-se como um dos mais excitantes (a par dos meses de Verão) para as demografias mais novas. É, pois, de questionar se um livro cujos conteúdos consistem apenas e só de (ainda mais) actividades natalícias se afigura como uma boa ideia; no entanto, foi isso mesmo que a Editora Civilização decidiu lançar, em plena Primavera (o livro saiu em Abril!) de há exactos trinta anos, permitindo aos interessados começar a preparar com absurda antecedência o advento de 1994.

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Da autoria de Angela Wilkes, e parte de uma colecção mais alargada que incluía também volumes sobre cozinha e matemática, entre outros, “O Meu Primeiro Livro de Natal” sugere, no subtítulo, “actividades divertidas para fazeres no Natal”, a maioria das quais centradas nos trabalhos manuais, uma maneira simples, singela e divertida de criar bons momentos em família naquela que é a época dedicada, por excelência, à mesma. Da criação dos habituais enfeites típicos da quadra a actividades algo mais originais, são páginas atrás de páginas de actividades que terão, certamente, feito as delícias das crianças das gerações 'X' e 'millennial' com mais apetência para a criação de objectos decorativos. Assim, até por este volume se encontrar, hoje em dia, algo 'Esquecido Pela Net' – sobrevivendo apenas a capa e o nome da autora – não poderíamos deixar de lhe dedicar algumas linhas nesta nossa rubrica mais 'generalista', como forma de assinalar os trinta Natais desde a sua publicação, naquele que era um País significativamente diferente, mas de tradições natalícias praticamente idênticas às dos dias que correm.

28.11.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Muitas obras literárias são geracionais, mas pouco dizem às 'fornadas' subsequentes; outras, no entanto, afirmam-se como verdadeiramente intemporais, logrando entreter, encantar e apaixonar várias gerações de crianças e jovens ao longo de décadas, sem nunca perder a popularidade de que gozou originalmente. É de uma dessas séries que falamos neste 'post' – concretamente, da colecção de livros infantis ilustrados de Dick Bruna, alusivos às aventuras da coelhinha Fifi, hoje conhecida pelo nome original, Miffy.

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Edição moderna de um dos livros da colecção.

Reunindo todos os predicados de um bom livro infantil – histórias quotidianas e intemporais, com lições de moral simples mas importantes, e relatadas de um modo simples, directo e apelativo, apoiado em desenhos estilizados mas repletos de personalidade – a série de livros protagonizados pela coelhinha branca surgiu pela primeira vez nos escaparates portugueses ainda nos anos 80 para, à semelhança do que aconteceu com os livros de Enid Blyton ou as aventuras de Anita, nunca mais os abandonar.

De facto, tal como sucede com a rapariguinha francesa, também a coelhita norte-americana pode, ainda hoje, ser encontrada na maioria das boas livrarias de Norte a Sul de Portugal, em edições praticamente idênticas às lidas e apreciadas pelos membros das Gerações 'X' e 'Alfa', só diferindo mesmo o facto de a protagonista ter 'recuperado' o seu nome original. Significa isso que a qualidade que as referidas ex-crianças (hoje na casa dos trinta a quarenta anos) recordam da sua infância permanece intacta, pronta a ser apresentada a uma nova 'leva' de crianças em idade de alfabetização, e de tornar a coelhinha protagonista (seja sob que nome for) parte das futuras memórias nostálgicas da mesma, tal como o foi para os seus pais.

14.11.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 13 de Novembro de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

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Na última edição desta mesma rubrica, abordámos os 'Atlas' didácticos da Editora Civilização, por direito próprio alguns dos melhores livros didácticos da sua época. No entanto, havia pelo menos uma editora cujo catálogo neste particular rivalizava, senão mesmo superava, até o melhor destes volumes: a Terramar, cujos livros científicos para crianças marcaram época junto da parcela do público infanto-juvenil que gostava de aprender e alargar conhecimentos sobre temas do seu interesse.

Versando sobre todos os temas do costume, como dinossauros ou o espaço, bem como sobre alguns menos comuns ou mais inusitados, estes livros – cujo único ponto em comum era o formato, semelhante ao de um álbum de BD da mesma época – possuíam, invariavelmente, um ou mais pontos de interesse para a demografia-alvo, para além do próprio tema em si. Fossem ilustrações que poderiam figurar numa tirinha de banda desenhada ou actividades interactivas na própria página (como 'janelas' que podiam ser abertas ou rodas que se podiam mesmo rodar), os volumes científicos da Terramar mostravam-se apelativos logo a partir do momento em que eram abertos, conseguindo assim prender o interesse do famosamente volátil grupo a que se destinavam, e justificando várias releituras, quanto mais não fosse para poder novamente 'brincar' com a roda do Sistema Solar ou descobrir o que se escondia por detrás das 'portinholas' cortadas na página.

Infelizmente, apesar da qualidade que demonstravam, estes livros encontram-se, hoje em dia, algo Esquecidos Pela Net, sendo praticamente impossível encontrar imagens dos mesmos sem estar 'armado' com o título ou autor específicos. Também infelizmente, os mesmos perfilam-se, hoje, como produtos do seu tempo, já que os livros didácticos para crianças rapidamente encetariam um processo de extrema simplificação, com maior ênfase na interactividade do que no conhecimento, antes de serem quase totalmente substituídos por meios verdadeiramente interactivos, como o CD-ROM e a Internet. Quem teve a sorte de fazer parte do público-alvo daqueles livros da Terramar de finais dos anos 90 pôde, pois, desfrutar de exemplos do melhor que se fazia no ramo, com um nível de qualidade dificilmente atingível nos dias que correm e que, certamente, lhes terá aguçado ainda mais a vontade de aprender sobre qualquer que fosse o tema em causa.

01.11.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 30 de Outubro de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Os anos 90 ficaram, em Portugal, parcialmente marcados por uma alteração das atitudes dos jovens relativamente ao conhecimento. Embora houvesse ainda muitas crianças e adolescentes com renitência em aprender – postura a que não ajudava a forma burocrática e aborrecida como muitas escolas nacionais veiculavam conhecimentos – uma parcela crescente da referida demografia encontrava, gradualmente, assuntos de interesse que os motivavam a aprofundar a sabedoria; e, felizmente para esses 'exploradores do conhecimento', não faltavam no mercado editorial português materiais e recursos didácticos de qualidade. É o caso da colecção que abordamos esta Quarta-feira, a qual, depois de ter gozado de enorme sucesso a nível internacional, chegava a Portugal algures nos anos 90, pela mão da Editora Civilização.

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Dois dos mais populares títulos da colecção.

Falamos dos diversos 'Atlas' direccionados ao público infanto-juvenil, e que conseguiam, desde logo, captar a atenção do mesmo com as suas temáticas, invariavelmente fascinantes para a demografia em causa. Dos dinossauros (inevitáveis naquele período de 'dinomania' pós-'Parque Jurássico') ao espaço ou aos oceanos, eram diversos os assuntos explorados em cada 'Atlas', sempre com recurso a textos simples e minimalistas, mas ainda assim informativos, e a imagens ou fotografias hiper-detalhadas, que constituíam o principal ponto de interesse de cada livro, e eram, só por si, suficientes para fazer dos mesmos uma prenda apreciada nos anos ou Natal, e para lhes garantir um lugar proeminente na estante do quarto.

Tão elevada era a qualidade destes livros, aliás, que os mesmos continuam, ainda hoje, em circulação nas livrarias portuguesas, embora com as inevitáveis mudanças e actualizações gráficas, a fim de os tornar mais apelativos às crianças de hoje. E se o seu valor relativo é, nos dias que correm, algo discutível – já que os mesmos não oferecem, actualmente, qualquer vantagem relativamente a uma rápida consulta a um 'website' ou motor de pesquisa – a verdade é que as temáticas abordadas continuam a ser tão relevantes quanto fascinantes para a demografia-alvo, e que os livros em si continuam a possuir inegável apelo visual, tanto a nível do formato (um A3 perfeitamente 'gigantesco' para mãos pequenas) como dos próprios conteúdos, fazendo deles – hoje, como há trinta anos – uma boa proposta para a estante de qualquer jovem lusitano.

02.10.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

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O livro do programa, única prova visual da existência do mesmo presente na Internet.

O advento da televisão por cabo – com a sua miríade de novos canais, a grande maioria especializados – abriu aos criadores de conteúdos oportunidades que nem mesmo o surgimento dos canais privados, alguns anos antes, havia permitido. Onde, anteriormente, os programas 'de autor' se encontravam confinados a parâmetros culturais ou de 'talk-show' (e sempre dentro de formatos padronizados, que garantissem os mínimos desejáveis em termos de audiências) era, agora, possível 'arriscar' em conceitos mais experimentais, cujo potencial 'falhanço' não resultasse em calamidade. Não é, pois, de admirar que os últimos anos do século XX e primeiros do seguinte tenham visto surgir programas difíceis de imaginar como parte da grelha da RTP, ou mesmo da SIC ou TVI, a não ser em contextos muito particulares. Um destes surgia mesmo nos últimos meses do Segundo Milénio (celebra este mês o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia), no extinto CNL, e talvez mereça a distinção de mais bizarro da grelha da época, pelo menos até a SIC Radical decidir dar Nu-Tícias, alguns anos depois.

Isto porque 'Morfina' – cujo nome não é inspirado na substância narcótica, mas antes no deus grego do sono, Morfeu – era um programa de dez minutos cujo objectivo era, tão simplesmente, contar uma história para adormecer. Não um conto de fadas ou aventura medieval para crianças, mas uma história (ou apenas um texto) que ajudasse os espectadores a adormecer, independentemente da idade; no fundo, uma versão adulta das músicas do Vitinho e dos Patinhos ou, se preferirmos, um precursor televisionado do estilo de vídeo hoje conhecido como ASMR, embora sem as conotações semi-sexuais do mesmo. A dar voz (e autoria) a estes textos estava a jornalista Clara Pinto Correia, que as relatava a um sempre atento Quim Leitão, sendo os dois as únicas figuras presentes no cenário, cuja meia-luz e adereços remetiam a um quarto de cama. Quando a história acabava, o mesmo sucedia com a própria emissão do CNL, que se 'despedia' diariamente ao som da canção titular do programa, como que a 'mandar' os espectadores para a cama, ao melhor estilo Vitinho.

Embora possa parecer que um programa deste tipo nunca conseguiria audiência, e rapidamente desapareceria da grelha televisiva, a verdade é que foram praticamente quatro dezenas os episódios emitidos pelo CNL nos oito meses que o programa se manteve no ar, cada um com uma história diferente, tendo as mesmas sido, mais tarde, reunidas num livro que levava o mesmo nome do programa, lançado pouco depois do fim do mesmo, no Verão de 2000; ainda um pouco mais tarde, 'Morfina' chegava também ao formato VHS, naquela que será uma das mais bizarras edições do mercado do vídeo e DVD em Portugal. Ainda assim, enquanto experiência declarada por parte de um canal 'recém-nascido' e ainda à procura da identidade, 'Morfina' foi uma ideia perfeitamente válida, ainda que talvez demasiado rebuscada para garantir audiência num Portugal ainda muito 'formatado' para programas de consumo fácil, que merece bem ser lembrada no mês em que se celebra um exacto quarto de século desde a sua estreia.

08.08.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 5 de Agosto de 2024.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Apesar de menos populares do que os campeonatos internacionais de futebol, os Jogos Olímpicos não deixam, ainda assim, de cativar a imaginação da população a ponto de motivarem não só linhas de 'merchandising' com as respectivas mascotes, mas também obras relativas à sua História e evolução, quer sejam dirigidas a um público jovem e apresentadas em formato de banda desenhada, quer se destinem a uma demografia verdadeiramente interessada na temática em causa, como no caso do volume de que falamos nesta publicação.

 

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(Crédito das fotos: CustoJusto)

Intitulado '100 Anos de Jogos Olímpicos 1896-1996', o luxuoso livro encadernado publicado pela Temas & Debates por altura dos Jogos de Atlanta tem como propósito, como o próprio título indica, oferecer uma retrospectiva histórica das Olimpíadas modernas, do seu surgimento em finais do século XIX, até à actualidade de então, com recurso a fotografias de arquivo (tanto a preto e branco como a cores) que serviam como complemento do texto. Uma obra bem típica do seu género – que pode facilmente ser comparada ao contemporâneo 'Glória e Vida de Três Gigantes', publicado pelo jornal 'A Bola' - mas que nem por isso deixava de ter interesse para fãs do tema que abordava, e de constituir uma adição meritória à colecção de livros de tipo enciclopédico dos mesmos – ainda que, hoje em dia, se encontre bastante desactualizado. ou não tivessem passado quase três décadas desde a sua edição... Ainda assim, para quem gosta de conhecer um pouco mais a fundo a História das competições desportivas modernas, ou simplesmente deseja alimentar um pouco a nostalgia por tempos mais simples, este não deixa de ser um tomo interessante a procurar, até por ser de relativamente fácil aquisição em sites de leilões na Internet.

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