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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

24.01.24

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Na última Quarta de Quase Tudo, recordámos a colecção de livros do Jovem Indiana Jones publicada pela Europa-América algures nos anos 90. A associação da editora ao herói criado por Steven Spielberg e George Lucas não se ficou, no entanto, apenas por essa colecção, antes pelo contrário; além da série de histórias com 'Indy' como aventureiro, o catálogo da Europa-América incluía também uma trilogia de livros em que o protagonista aparecia já adulto, tal como os fãs o conheciam da 'outra' trilogia que ancorava, a cinematográfica. Nada mais justo, portanto, do que utilizarmos a rubrica desta semana para nos debruçarmos sobre esse trio de tomos, e concluirmos assim a nossa exploração da bibliografia de Indiana Jones em Portugal.

Presença assídua nas prateleiras de livros das lojas dos 'trezentos', tal como a sua série-irmã – ou não fosse a editora de ambos sinónima com o abastecimento literário de tais estabelecimentos – a referida trilogia de aventuras, assinada por Rob MacGregor e editada em Portugal entre 1989 e 1992, tem, desde logo, a particularidade de não coincidir com a sua congénere cinematográfica. Isto porque, apesar de os dois primeiros tomos serem novelizações dos dois primeiros filmes da saga, o terceiro desvia-se desse padrão, apresentando uma aventura original, 'Indiana Jones e os Perigos em Delfos', no lugar do que deveria ter sido a adaptação em livro de 'Indiana Jones e o Templo Perdido'.

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O terceiro volume da série apresentava uma aventura original, ambientada em Delfos, na Grécia.

As razões para esta escolha são, infelizmente, muito pouco claras, sendo ainda hoje incerto se a referida novelização alguma vez existiu, não tendo simplesmente sido traduzida para Português, ou se existem outras aventuras inéditas nas mesmas condições – até mesmo o 'site' da Livraria Bertrand lista só e apenas estes três volumes como parte da colecção. Assim, iremos tomar a liberdade de considerar esta colecção uma trilogia, com uma inexplicável mudança de rumo no último volume.

Em termos do conteúdo em si, qualquer dos três volumes assinados por MacGregor oferece precisamente aquilo que se poderia esperar de uma publicação da Europa-América deste período: literatura fácil, destinada a um público jovem, e tornada mais difícil e morosa de absorver pelo tipo de tradução quase propositadamente complexa que pautava os títulos de ficção científica e aventura da editora na época em causa. Quem conseguir ultrapassar esse factor, e tiver os dois filmes adaptados como parte da colecção, irá, certamente, apreciar a forma como os seus enredos e cenas-chave foram transpostos para a página, e ainda mais a existência de uma aventura original na qual se embrenhar; no entanto, esta pecha – comum à maioria dos títulos 'menores' da editora – poderá mesmo ser difícil de ultrapassar para leitores cujo grau de exigência é mais alto, mesmo para com títulos 'fáceis' como estes.

Ainda assim, e apesar desta 'pecha' em comum com tantos outros títulos da editora, é de crer que os três livros de Indiana Jones da Europa-América terão chegado a um número suficiente de crianças e jovens portugueses de finais do século XX e inícios do seguinte para justificarem um lugar nas memórias nostálgicas preservadas por este blog, e das quais o aventureiro de Spielberg e Lucas já faz, definitivamente, parte integrante...

10.01.24

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

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(Crédito da foto: CustoJusto)

A chegada a Portugal das chamadas 'lojas dos trezentos', em inícios dos anos 90, levaram, por sua vez, a um significativo influxo de títulos literários de cariz popular e qualidade mediana, invariavelmente encontrados nos icónicos 'escaparates' das sobreditas lojas, e inevitavelmente editados pela Europa-América. De facto, embora fosse já um nome bem reconhecido dentro do panorama editorial português (e responsável pela edição em solo nacional de excelentes títulos policiais e de ficção científica) a editora lisboeta encontrou uma autêntica 'segunda vida' como perpétua fornecedora de literatura barata para lojas deste tipo, grande parte da qual dirigida a um público infanto-juvenil.

De facto, entre colecções de fantasia como 'Dragonlance' ou 'Dungeons and Dragons' (esta última, a precursora menos conhecida das lendárias 'Aventuras Fantásticas'), séries como 'Enciclopédia Brown', novelizações de filmes 'da moda' e um ror aparentemente infindável de 'westerns' 'de cordel', uma percentagem significativa do escaparate de livros de qualquer 'loja dos trezentos' tendia a ser formada por obras que tinham em comum a qualidade 'duvidosa' das traduções (e, muitas vezes, da escrita em si) e o facto de serem expressamente dirigidos a leitores ainda sem a maturidade suficiente para desfrutarem dos clássicos de Robert Heinlein ou Phillip K. Dick com os quais estes livros partilhavam espaço. Era também esse o caso com a colecção de que falamos neste 'post', a qual aproveitou o 'embalo' de uma série mais ou menos bem-sucedida para 'regurgitar' para as prateleiras de livros baratos mais de duas dezenas de títulos com pretensões a expandir o 'universo' do programa, à semelhança do que acontecia na mesma época, com 'O Caminho das Estrelas' e, particularmente, 'Guerra nas Estrelas'.

Tratou-se de 'O Jovem Indiana Jones', colecção baseada na série do mesmo nome produzida por Steven Spielberg e George Lucas, e que chegou também a ver ser editada em Portugal a série de banda desenhada oficial, num esforço de 'marketing' inusitado, considerando a reduzida 'pegada' que a série deixou em Portugal; de facto, é perfeitamente credível que a principal referência e memória da mesma para a maioria dos jovens da época venha através destes livros, quase tão prolíficos como 'Dragonlance' nas 'lojas dos trezentos' de meados da década de 90.

Assinados por um sem-número de autores anónimos (dos quais se destaca Megan Stine, quiçá familiar do R. L. Stine de 'Arrepios') os diferentes volumes desta série oferecem precisamente aquilo que se poderia esperar de um título deste tipo: aventuras infanto-juvenis centradas em torno dos personagens criados por Spielberg e Lucas, e obedecendo à premissa temporal e conceptual da série. Assim, ao longo dos vinte e dois números que compõem a colecção, vemos 'Indy' e o pai a braços com fantasmas, labirintos, fenómenos naturais, e até eventos históricos como o naufrágio do Titanic (anos antes de o filme do mesmo nome o trazer de volta à cultura popular), em enredos invariavelmente descritos em linguagem simples e sem grandes 'floreados', como era apanágio, à época dos títulos infanto-juvenis de 'segunda linha' ou baseados em propriedades mediáticas – sendo que 'Jovem Indiana Jones' se insere confortavelmente em ambas as categorias.

Apesar desta relativa 'falta de carácter' (e também de ambição) estes livros não deixam, no entanto, de constituir uma opção de leitura razoável para uma criança ou adolescente com interesse em tramas de aventura e muita acção, ou que já seja fã do arqueólogo aventureiro de Steven Spielberg – especialmente por continuarem amplamente disponíveis, não só em sites como o CustoJusto (de onde foi tirada a foto que ilustra este 'post') mas também em livrarias propriamente ditas, como a Bertrand. Uma boa oportunidade, portanto, para os ex-jovens das gerações 'X' e 'millennial' recuperarem mais esta 'pérola' da sua infância, e a apresentarem aos seus descendentes directos; quem sabe, o 'Jovem Indiana Jones' possa ainda vir a ser tema de um qualquer vídeo no TikTok ou Instagram...

 

07.12.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Durante os anos 90, o nome Majora foi praticamente sinónimo com diversos tipos de produtos infantis, em particular os jogos de tabuleiro, como o Sabichão. No entanto, o que muitas ex-crianças daquela época decerto não recordarão é que a companhia se lançou também, durante esse período, no campo da edição literária para crianças, conseguindo um sucesso nada negligenciável com duas colecções distintas, ambas, curiosamente, de volta às livrarias e bancas portuguesas três décadas depois: a famosa colecção 'recortada' e a sua congénere (literalmente) de bolso, a Colecção Formiiguinha – duas séries de livros com tanto em comum como de diferente.

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Alguns dos títulos de ambas as colecções.

Em comum, ambas as colecções tinham os desenhos 'fofinhos', os quais, no caso da colecção 'recortada', eram transversais a todo o livro, enquanto que na 'Formiguinha' se cingiam apenas a algumas das capas, tendo outras ilustrações mais realistas, semelhantes às encontradas no interior dos livros. Outro ponto em comum era a linguagem rebuscada, por vezes com palavras além da compreensão do público-alvo ou fraseamentos fora do vulgar, que acabavam por formar parte da identidade destas duas séries.

Terminavam aí, no entanto, os pontos em comum - pelo menos se não se contar com o facto de ambas serem dirigidas a um público declaradamente infantil; isto porque, enquanto que a colecção 'recortada' ser destinada a uma demografia extremamente jovem, ainda em fase de alfabetização, a 'Formiguinha' tinha, já, mais 'que ler', sendo apropriada para um sector algo mais 'crescido' do público-alvo. Outra diferença importante prendia-se com o facto de, enquanto que a colecção 'recortada' apresentava, invariavelmente, histórias prazerosas, ao estilo 'slice of life' e sem grandes perigos ou consequências, a 'Formiguinha' basear muitos dos seus volumes em histórias, contos e lendas pré-existentes, fossem tradicionais ou criados por um dos grandes nomes do género – o que significava que, ao contrário do que acontecia com a sua 'prima direita', as histórias nem sempre eram isentas de situações 'fortes' ou tinham finais felizes, antes pelo contrário; de facto, não deixa de ser surpreendente ver a 'Formiguinha' de regresso ao convívio dos jovens portugueses, numa era em que alguns dos seus conteúdos fariam tremer certos sectores da sociedade...

Não deixa também, ainda assim, de ser agradável para quem cresceu com estes livros ver restaurado este elo nostálgico ao final do século passado, mesmo que seja através do equivalente infantil a literatura 'de cordel' (nenhuma das colecções declarava quaisquer autores, como é óbvio); mais, os pais que cresceram com estas histórias de cachorrinhos a tomar banho ou pobres enteadas alimentadas a 'côdeas de pão duro e bolorento' podem, agora, apresentar as mesmas aos seus filhos, fomentando-lhes o gosto pela leitura ao mesmo tempo que mantêm viva a chama nostálgica da sua própria infância – uma situação, portanto, em que todos saem a ganhar...

16.11.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Em edições passadas desta rubrica, passámos em revista alguns dos principais títulos da literatura infanto-juvenil produzida durante os anos 90, tanto em Portugal, como no estrangeiro. No entanto, apesar de termos tentado ser o mais metódicos possível, deixámos, na altura, que um par de obras importantes nos 'escapassem' por debaixo do 'radar'; e se, numa Quarta posterior, corrigimos esse erro em relação à colecção Viagens no Tempo, chega agora o momento de abordar outro dos grandes títulos 'esquecidos' pela nossa quadrilogia de posts, e que fez parte integrante da juventude literária da maioria da geração de 80, 90 e 2000.

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Falamos de 'A Lua de Joana', obra de Maria Teresa Maia Gonzalez (metade do duo responsável pela série ''O Clube das Chaves') editada em Outubro de 1994 e que se afirma, acima de tudo, como a resposta (ou antes, a versão) portuguesa de 'Perguntem À Alice', obra popular durante a década de 1970 e cuja temática e estrutura eram praticamente idênticos ao do livro aqui em análise, cuja única (mas crucial) diferença é a ausência da 'artimanha' que tornou o referido livro famoso à época do lançamento e, mais, tarde, infame. De facto, 'A Lua de Joana' nunca tenta fazer-se passar pelo testemunho real de uma verdadeira adolescente toxicómana; pelo contrário, o nome da autora figura de forma bem proeminente na capa, permitindo a qualquer potencial leitor saber que se trata de uma obra de ficção - ainda que sobre um problema bem real, especialmente à época. De resto, tanto o formato em primeira pessoa (no caso sob o formato de cartas a uma amiga falecida, por oposição a um diário) como o percurso da protagonista rumo a um final inevitavelmente infeliz fazem lembrar o relato da antecessora estrangeira, ainda que devidamente adaptado à realidade portuguesa.

Reside precisamente aí um dos factores do sucesso desta obra: enquanto que Alice vivia na realidade dos anos 70, e personagens como os irmãos Dores (da duologia 'Mania da Saúde') eram 'emigrantes' localizados (no caso, do Reino Unido), Joana e a sua família e amigos são portugueses de raiz e de 'gema', e vivem uma existência bem típica de uma família de classe média-alta nacional de meados dos anos 90 – a mesma que, certamente, muitos dos leitores conheceriam do seu próprio dia-a-dia, embora neste casos sem a presença de drogas. Por sua vez, esse facto torna mais fácil a identificação e empatia com a protagonista, factor essencial para o sucesso do livro.

Com isso em mente, não é de admirar que 'A Lua de Joana' tenha sido, e continue a ser, um sucesso de vendas (a edição mais recente é já a vigésima-sexta!) tendo, inclusivamente, sido alvo de uma adaptação para teatro, quase uma década e meia após o seu lançamento, que foi vista por mais de vinte e cinco mil pessoas durante os seis meses em que percorreu o País, e que, espera-se, continue a ser instrumento importante na sensibilização da nova geração para os perigos das drogas pesadas; afinal, por muito que a sociedade tenha mudado nos quase trinta anos desde a morte de Joana, esse continua, infelizmente, a ser um flagelo bem relevante, e de cariz universal...

02.11.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Quando se fala de literatura infanto-juvenil feita em Portugal – como, aliás, já aqui fizemos – um nome afirma-se como incontornável, tendo já entretido múltiplas gerações de crianças desde a sua criação: o da colecção Uma Aventura.

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O logotipo da série é tão icónico quanto os seus restantes elementos.

Para a geração nascida entre as décadas de 70 e 90, em particular, as aventuras dos cinco jovens criados por Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada representaram aquilo que as séries juvenis de Enid Blyton (que, aliás superaram em vendas) tinham sido para os seus pais, e que a saga de Harry Potter viria a ser para a geração seguinte: um dos primeiros, senão mesmo O primeiro, exemplo de literatura 'a sério' a chegar-lhes às mãos, e companhia continuada no processo de crescimento e adolescência. Mesmo quem não gostava de ler, fazia uma excepção para as 'Aventuras', cujos enredos entusiasmantes e vocabulário relativamente simples (embora não tanto quanto o de certas outras séries) serviam como 'chamariz' para estes leitores mais renitentes. E porque a icónica colecção completa, este ano, uns espantosos quarenta anos de publicação ininterrupta – e sem dar sinais de abrandar! - nada melhor do que dedicarmos algumas linhas a uma retrospectiva da mesma, como, aliás, já fizemos para a sua série-irmã, 'Viagens no Tempo.'

De facto, corria o já longínquo e quase 'perdido' ano de 1982 quando o primeiro volume da série idealizada por Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada – duas professoras do segundo ciclo frustradas com a falta de alternativas de leitura para os seus alunos – 'aterrava' nas bancas portuguesas, após aturadas rondas de 'testes' conduzidas entre os próprios alunos das autoras. Tratava-se de 'Uma Aventura na Cidade', tomo que apresentava aos jovens leitores o icónico grupo e alunos do segundo e terceiro ciclo, e respectivas mascotes; as gémeas Teresa e Luísa e o seu caniche 'Caracol', os 'melhores inimigos' Pedro e Chico – o primeiro o típico 'marrão', o segundo um 'bully' em potência – e o 'minorca' João, dono do pastor-alemão 'Faial', todos devidamente representados e identificados na contracapa, nos icónicos traços de Arlindo Fagundes, ainda hoje responsável pelas capas e ilustrações interiores dos livros da série.

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O já histórico primeiro volume da série, lançado há quase exactos quarenta anos (em cima) e os icónicos 'retratos' dos protagonistas presentes em todas as contra-capas (em baixo)

A proposta, essa, era simples – uma 'versão portuguesa' das aventuras dos Cinco e dos Sete, com enredos talvez menos rebuscados, mas a mesma premissa de um grupo de jovens com diferentes características que se envolvia na resolução dos mais variados crimes e mistérios, fazendo uso dos seus talentos para capturar os vilões antes que os adultos à sua volta sequer se apercebessem do que se passava. Uma premissa intemporal, e que funcionou tão bem para a dupla portuguesa como já o havia feito para Blyton – senão mesmo melhor, dado nenhuma das icónicas séries da escritora britânica ter alguma vez chegado aos 65 volumes ou quatro décadas de publicação!

De facto, a essa primeira aventura, seguiram-se outras sessenta e quatro, que viram o quinteto viajar de Norte a Sul de Portugal e até para o estrangeiro, vivendo experiências que iam de 'Alarmantes' (num volume legitimamente traumatizante) a 'Petigosas', 'Fantásticas', 'Secretas', 'Musicais' e até 'Voadoras' – grande parte das quais foi, além dos livros, também imortalizada em formato televisivo, já no novo milénio, através de uma também super-popular série transmitida pela SIC, (também responsável pela adaptação em filme de longa-metragem de 'Uma Aventura na Casa Assombrada', de 2009) e que ajudou a apresentar os personagens a todo um novo segmento de potenciais fãs.

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Os elencos do filme de 2009 (em cima) e de uma das séries televisivas (em baixo), ambas produções da SIC

Mais espantoso do que a longevidade em si ou do que os sucessos passados, no entanto – ou talvez não – é o facto de, durante esse período que engloba, pelo menos, duas gerações, as 'Aventuras' não terem jamais perdido o seu atractivo nem descido de popularidade entre o público alvo – pelo contrário, a 'geração iPad' continua a gostar tanto destes livros como os seus irmãos mais velhos e pais o haviam feito, justificando a continuada criação de novos imbróglios a serem resolvidos pelos cinco jovens e seus dois cães, agora um pouco mais velhos do que há quarenta anos, mas ainda assim parados naquela 'eterna adolescência' que sempre caracterizou os heróis de séries infanto-juvenis. Numa altura em que tantas das referências das duas gerações anteriores se começam a perder entre jogos casuais, vídeos hiperactivos de YouTube e experiências de realidade virtual, é nada menos do que reconfortante depararmo-nos com uma propriedade intelectual (ainda para mais literária) que não só se mantém 'viva e de saúde', como também continua a ser conhecida, sobretudo, na sua forma original, por oposição a uma qualquer adaptação audio-visual, como é o caso com 'Harry Potter', por exemplo. Parabéns, 'Uma Aventura' – e que contes muitos mais anos como a série favorita da juventude portuguesa!

04.08.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...

…como é o caso da literature infantil.

Sim, hoje voltamos a abordar aquele que tem sido o principal tema destas Quartas de Quase Tudo, desta vez, para recordar uma colecção de cariz mais didático do que de entretenimento, mas que mesmo assim, conseguia acertar na ‘fórmula’ certa para cativar o seu público-alvo.

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Falamos da colecção História Júnior, das Edições Asa, uma série de volumes de capa dura alusivos aos principais acontecimentos da História de Portugal e do Mundo, que muitos certamente recordarão pelas suas características e memoráveis capas cor-de-laranja vivo, que tornavam impossível NÃO ver um dos volumes da colecção na prateleira da livraria ou biblioteca. Quando combinada com os desenhos também bastante apelativos – pelo menos para quem gostava de cenas de acção ou batalhas – esta colorização da capa constituía o primeiro ‘chamariz’ para a demografia a quem a série se destinava.

No entanto, nem só de capas vive uma colecção de sucesso, e as Edições Asa sabiam-no; felizmente, a colecção História Júnior não deixava nada a desejar em termos de conteúdo, sendo exímia a transmitir factos e informações de cariz educacional sem, por isso, deixar de apelar aos gostos dos jovens. Teria sido muito fácil para a Asa replicar a abordagem dos livros de História que esses mesmos jovens estudavam na escola, mas tal não teria, decerto, rendido à colecção em causa o sucesso (ainda que relativo) de que conseguiu gozar. A estratégia da Asa – assente em mapas de página inteira, ilustrações, actividades e outros complementos ‘divertidos’ à informação veiculada – rendeu bem mais dividendos, e terá certamente havido quem usasse estes livros como auxiliares de estudo por altura dos testes de História – e com bons resultados!

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Exemplo do conteúdo típico de um livro da colecção

Hoje em dia, com (literalmente) toda a informação do Mundo à distância de uns cliques e uma pesquisa, deixou de haver lugar na sociedade ocidental para este tipo de livros - quem quer estudar História, fá-lo com recurso às fontes quase ilimitadas do Google. Ainda assim, vale a pena recordar esta instância em que uma editora portuguesa conseguiu ensinar ‘a brincar’, ganhando assim o seu lugar no coração nostálgico dos ex-jovens portugueses apaixonados pela História.

21.07.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...

…como é o caso da literature infantil.

Quando, há tempos, aqui falámos de séries de livros clássicas da nossa juventude, deixámos criminalmente de fora uma, que divertiu e entreteve tantas crianças como qualquer uma das então faladas, com o atrativo extra de também ter servido de companheira de estudos, devido às secções educativas, recheadas de factos e notas, que cada livro trazia como apêndice, depois do fim da aventura ficcionada. Hoje, procuraremos rectificar esse erro, dedicando algumas linhas àquela que começou por ser a ‘segunda série’ das autoras da famosíssima colecção ‘Uma Aventura’, e acabou por se tornar ela própria um marco da literatura infanto-juvenil, por direito próprio.

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Alguns dos títulos da colecção

Falamos de ‘Viagens no Tempo’, a série que ajudou muitos jovens dos anos 90 a ter boa nota na disciplina de História, ao mesmo tempo que constituía também uma excelente opção para fãs de histórias de mistério e aventura.

Tal como a sua congénere ‘aventureira’, esta colecção ainda hoje figura nos escaparates das melhores livrarias; no entanto, tal como a outra série das mesmas autoras, é inegável que a época áurea desta série se deu no início dos anos 90. Foi neste período que foram editados volumes tão icónicos como ‘Mistérios na Flandres’, ‘O Sabor da Liberdade’, e talvez o título mais famoso de toda a série – e o que mais crianças ajudou na escola – ‘Brasil! Brasil!’. Antes, nos anos 80, já tinha havido ‘O Ano da Peste Negra’ e ‘O Dia do Terramoto’, dois outros titulos memoráveis da colecção.

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Talvez o volume mais famoso de toda a série, e auxiliar precioso para as aulas de História do 8º ano

Depois, ainda viriam a sair volumes como ‘Um Trono Para Dois Irmãos’ e ‘No Coração da África Misteriosa’, este último o derradeiro da ‘série clássica’, ou seja, antes do hiato em que a série entrou em 1998, e do qual só viria a sair por duas vezes desde então - primeiro em 2003, e mais tarde em 2012, para aquele que é, até agora, o verdadeiro último volume da colecção. Sinal dos tempos, talvez....mas quase apostamos que se alguém transformasse esta história de dois jovens ‘aos saltos’ pelo tempo na companhia de um cientista ermitão numa série televisiva, a mesma encontraria o seu público – afinal, uma outra série com um conceito extremamente semelhante (só que com um extraterrestre numa cabine telefónica azul da Polícia britânica) conseguiu manter-se no ar desde os anos 60…

Enfim, oportunidades perdidas à parte, o certo é que – mesmo com alguns aspectos, hoje em dia, questionáveis, como a relação inicial de Orlando com os dois protagonistas – esta colecção é bem merecedora de uma nota aqui no blog, e devia mesmo ter sido incluída na compilação original de séries literárias marcantes daquela época. Falha nossa – mas, pelo menos, conseguimos corrigi-la a tempo, e fazer justiça a mais uma colecção de livros memorável, de uma época que teve muitas…

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